Pov. Caspian.

O Rei passou o resto do dia preparando tudo para sua viagem repentina, o que levou todos de volta a um dia comum, às suas atividades normais. Rabadash estava por aí com seu general puxa-saco, o que me deixa tranquilo sabendo que ele estava bem longe de Susana, até por que ela estava com Pedro, ambos na biblioteca com Dr. Cornélius. Agora Edmundo e eu estávamos fazendo uma ronda pela cidade.

–Como vão as coisas com Lúcia? - perguntei para quebrar o silêncio enquanto andávamos por uma das ruas. Edmundo abriu um sorriso largo.

–Não podia ser mais perfeito. - disse ele, meio encabulado. - Ela é a mulher da minha vida, Caspian. - ele riu. - E pensar que eu tirava sarro da sua cara quando você começou a cair de amores pela Su.

Nós rimos.

–É, eu lembro disso. - falei acusadoramente.

–Lúcia brigou comigo quando soube que fazia isso. Quase desencorajo você, estaria estragando algo muito bonito, mas como eu ia imaginar que ela correspondia?!

–Muito menos que o doido do Pedro armaria para que Susana e eu ficássemos presos a noite toda nos estábulos. - completei. Nós rimos de novo.

–Foi então que...

–Segurem ele! - um grito veio de uma rua próxima. Dobrando a esquina, e correndo pela rua em que andávamos, um homem corria atrás dele.

Edmundo e eu corremos na mesma direção. Quando os alcançamos, os comerciantes haviam encurralado o ladrão. Nós o capturamos e os levamos a prisão, devolvendo a mercadoria aos seus devidos donos. Levamos o meliante para as masmorras do castelo, usando a força bruta para contê-lo quando necessário.

–Qual o seu nome? - perguntou Edmundo, gentil como uma pedra.

–Gerald. - respondeu o ladrão rispidamente.

–Por que estava roubando? - perguntei no mesmo tom.

Ele tentou correr de novo, mas nós o contemos. Dei-lhe uma gravata para segurá-lo e ele, automaticamente, tentou puxar meu braço para livrar seu pescoço, foi quando vi em seus dedos da mão esquerda, um anel de prata com um brasão muito familiar, porém não consegui lembrar de onde o tinha visto.

O deixamos em uma das diversas celas das masmorras e eu saí ainda intrigado com o anel. Dei ordem para que mais soldados fossem para a cidade e que ficassem de olhos e ouvidos abertos. Em seguida, após conferir se toda a guarda do castelo estava em ordem, fui em busca de Susana.

POV. Edmundo.

Caspian me “liberou” até segunda ordem pouco antes de ir atrás de Susana. Eu disse que já era tarde, que ele se ausentara tempo suficiente para que ela fugisse com Rabadash para a Calormânia. Caspian me mandou pastar antes de chegar às escadas. Eu ri e segui no caminho contrário, mas antes que eu desse mais que alguns passos, ouvi alguém me chamar. Virei e dei de cara com um Pedro sorridente que caminhava em minha direção.

–Nossa – brinquei. - O que o glorioso Príncipe de Nárnia deseja comigo?

–Deixe de graça. Venha logo, papai quer falar com você. - disse ele. Sem questionar o assunto caminhei com ele na direção da sala do trono em silêncio. Até que eu falei, não resistindo à vontade de falar o que me veio em mente.

–Pedro?

–O que?

–Você fica uma gracinha chamando “papai”.

Ele me deu um tapa na parte de trás da cabeça pouco antes de chegarmos à sala do trono onde o Rei Franco nos aguardava. Sobre o que ele queria falar? Não sei, mas tenho uma leve impressão do que possa ser.

POV. Rabadash.

Não pude deixar de ficar intrigado com essa decisão repentina do rei em viajar até a Arquelândia, nem sua mudança brusca de humor, mas não consegui chegar a nenhuma conclusão que merecesse minha preocupação. Talvez ele só queira visitar um velho amigo, mesmo.

Mas esse assunto não é relevante. Agora tenho coisas mais importantes a fazer. O baile de noivado? Claro! Estou doido para ver o General se roer de ciúmes, nesse caso, é até bom ele ser o guarda-costas da minha futura esposa, assim ele estará por perto para nos ver trabalhar juntos no nosso futuro não tão distante. Susana seria minha e não dele e eu farei questão de deixar isso bem claro para aquele soldadinho.

Porém, no futuro imediato, há outra coisa que tenho que fazer. Andei pelos corredores como quem não quer nada, cumprimentando a todos com um sorriso enorme, como o noivo feliz que sou, até encontrar quem eu procurava. Não demorei muito a encontrá-la.

Quando ela me viu, reprimiu o susto, reverenciou-me e perguntou o que eu desejava. Olhei nos olhos claros da serva por alguns segundos antes de falar.

–Você fará uma coisa para mim.

POV. Lúcia.

Pouco antes do almoço, Huin, eu e algumas outras servas estávamos nos tanques do castelo, lavando roupas e colocando-as para secar. Eu chegara há pouco com trazendo o cesto com roupas sujas de Edmundo e me posicionara no tanque ao lado do que Huin lavava as roupas do Rei, começando meu serviço. Haviam mais umas cinco servas além de nós ali e elas conversavam sobre algum assunto aos cochichos.

–É verdade o que estão dizendo? - Huin puxou assunto comigo de um jeito apreensivo e preocupado.

–Depende. - falei descontraída. - A quê você se refere? - perguntei, mergulhando as roupas na água.

–Não se faça de boba. - ralhou. Ela realmente não estava para brincadeiras. - Estou falando dos boatos que correm pelo castelo... - engoliu. - Sobre a Princesa e o General.

–Bem... Não sei – evitei olhá-la. - O que está dizendo?

–Que os dois... Têm um romance secreto...

–Se estão rolando boatos, não é mais tão secreto assim. - falei. Eu devia ter desmentido tudo, mas confiava em Huin e sabia que ela era boa em guardar segredos. - Mas me prometa que não dirá nada a ninguém. - falei séria. Huin perdeu a cor da face.

–Oh, Aslam... Oh, Aslam, isso não poderia acontecer...! - ela parecia apavorada e isso começava a me preocupar muito.

–O que você tem? Huin, me prometa que não dirá nada a ninguém! Prometa! - comecei a me arrepender de ter dito alguma coisa.

–Por Aslam, isso não pode estar acontecendo! Não pode! - e ela saiu correndo, como se estivesse apavorada.

–Huin! - chamei, mas ela não parou. - Huin! Oh, Aslam! - larguei as roupas e corri atrás dela.

Segui Huin por um bom tempo, mas a perdi de vista quando a mesma dobrou em um corredor. Parei de correr recuperando o fôlego e tentando entender a reação de Huin. Não há motivo para ficar desse jeito, Susana e Caspian se amam! Aslam, ajude que ela não conte nada a ninguém, senão me arrependerei eternamente por ter aberto a boca.

POV. Edmundo.

Deixei a sala do trono quase dando cambalhotas. Meu sorriso estava deixando minhas bochechas, mas eu não conseguia contê-lo. Andei como um raio por todo o castelo até encontrar Lúcia em um corredor próximo ao que ficava meu, ou melhor, nosso, quarto. Não pensei duas vezes antes de abraçá-la de surpresa, forte, e gritá-la no ar.

–Ed, aqui não! - ela riu. Coloquei-a de volta ao chão, só então percebendo que sua face estava avermelhada, como se tivesse corrido. Ela parecia preocupada.

–O que houve? - perguntei.

–É Huin.

–Que tem ela?

–Bem, é que... Ah, esqueça, não era nada importante. - deu de ombros. - Mas o que aconteceu com você, Ed? Não para de sorrir.

–Aconteceu a melhor coisa que poderia ter acontecido! - sorriu largamente, tocando seu rosto. - Eu conheci você...

Lúcia me encarou, de uma forma estranha que só a gente entendia, ela sabia que eu não estava dizendo o que realmente queria lhe dizer. Sorri mais.

–Vem comigo. - e puxei-a pela mão até nosso quarto para lhe contar a novidade.

POV. Caspian.

Passei primeiro na biblioteca e logo a encontrei, Susana ainda estava com Dr. Cornélius quando cheguei, ambos mergulhados numa conversa viva e animada.

–Como vai, general? - cumprimentou Dr. Cornélius, sorrindo.

–Bem, e o senhor?

–Excelente! Vossa Alteza é uma ótima companhia. - disse ele amável para Susana, mas, olhando para mim, confidenciou: - Agora entendo porque quer ficar o tempo todo na companhia dela.

Susana riu, corou e eu pigarreei. Mal sabia ele.

–Isso será por pouco tempo. - Rabadash entrou ali. - Logo, logo o general manterá muita distância de Susana.