Commentarius Angeli - Um Testemunho escrita por Francisco Lima


Capítulo 1
Capítulo 1 Diário


Notas iniciais do capítulo

Agradeceria se postassem suas opiniões sobre a historia, comentando aquilo que gostaram ou não para que a história possa evoluir atendendo expectativas criadas sobre ela.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/220992/chapter/1

Capítulo I – Diário

26 de Agosto de 2011.

O trovão ensurdecedor surgiu logo depois do raio cortar o céu como uma gigantesca lança de luz, e o dragão curvou-se em queda livre, dissipando-se como uma nuvem, quando a chuva acaba.

Até hoje eu nunca havia escrito um diário – A respiração já não parecia bem – quando criança não entendia porque as pessoas faziam isso. Acho até que hoje em dia eles estejam sumindo.

O que é a loucura? Acredito que um louco não percebe o mundo como nós, mas será mesmo que nós não percebemos que estamos enlouquecendo? Talvez escrevendo neste diário, eu consiga me convencer de que o que vi foi uma ilusão, e isto pode manter minha sanidade, já que se acreditasse realmente naquela imagem, provavelmente eu já estivesse louco – Um folego profundo acompanhou a passagem de um paragrafo para o outro.

Bom, embora a data de hoje seja 26 de agosto de 2011, o que desejo descrever realmente foi o que vi na chuva de ontem.

Ontem à tarde as nuvens de chuva se formaram e a água começou a cair em poucos minutos. O vento tornava a chuva cada vez mais intensa, para mim que estava na rua, assim como para os outros pedestres ficava quase impossível continuar seguindo para nossos destinos, ao invés disso, invadimos as lojas. Será que os índios ensinaram aos vendedores de lojas a dança da chuva? Certamente uma tempestade atrai muitos clientes em potencial – Risadas de seu próprio pensamento surgiram aqui, e foram interrompidas por uma tosse acompanhada por aquela já conhecida dor no peito.

A asma é uma doença inflamatória pulmonar crônica, causada por vários agentes incluindo fatores alérgicos, infecções e estresse e se acompanha de episódios recorrentes de sintomas respiratórios. – É tão interessante conhecer as doenças do nosso próprio corpo- disse Wagner a si mesmo em tom irônico. – Da uma sensação de controle – falou sorrindo – e minha mãe ainda me diz que graças à asma, Tom Jobim se tornou musico, ora, tenho certeza de que ele também preferia ter tido só o incentivo dos amigos.

Voltando ao diário, há tempos eu não via uma chuva como aquela, uma verdadeira tempestade, guarda chuvas quebrando, pessoas correndo e se contorcendo com o impacto do granizo nas costas, as lâmpadas piscando por rápidas quedas de energia. Por ali em Jabaquara existe uma rota aérea, certamente aquele não era o tempo ideal para voo.

Foi então que notei uma espécie de vulto, talvez um reflexo, bem algo mais para um delírio. Tive a impressão, de por alguns segundos ter visto um cavaleiro, com uma armadura que refletia o sol, o que era muito estranho já que não se via nem sinal dele. Pra dizer a verdade à chuva estava tão forte que quase fez parecer que seu surgimento havia feito anoitecer. Asas enormes e um movimento que pareceu ter provocado um raio que passou de uma nuvem para outra. E então um pássaro gigante, negro, com asas amedrontadoras caiu por entre as nuvens. Parecia uma ave gigante com um pescoço longo e de aparência totalmente horripilante. Na queda o corpo enorme da ave pareceu se tornar mais leve e rarefeito, ate se tornar uma nuvem de chuva que deixou a sua forma e se dissipou. A chuva enfraqueceu e acabou quase uma hora depois. A primeira criatura que descrevi talvez fosse um anjo, mas embora seu corpo parecesse, era bem maior e não tinha exatamente a mesma forma de um corpo humano. – A respiração difícil o interrompeu neste momento.

–Deixe-me voltar para minha sanidade, mundo real, mundo real. Bem recapitulando, eu sei que não seria possível aquilo que vi ter sido um anjo, mas foi ao que associei.

Pelo que pude perceber, parece que só eu tinha visto aquilo, bem talvez três bebês que pareciam muito entretidos com a chuva, bom, dois, um estava bem assustado, mas não tinha como ter certeza. Bom mesmo que só eu tenha enlouquecido na tarde de ontem, aquela tempestade foi o assunto no trem de volta para casa.

“Acredita que tem gente que estuda pra dizer que a temperatura mínima será de doze graus em São Paulo e máxima de trinta com possibilidade de chover... ou não? Parece piada, mas foi isso que eu vi no jornal de manhã, eu não estudei nada e podia fazer isso.”

Bom, olhando o tipo do cara que fez este comentário eu nem pude discordar totalmente dele, acho ate que ele não teria capacidade de pensar em usar diferentes valores de temperatura todos os dias, mas prefiro acreditar nas pessoas e achar que ele conseguiria ter essa ideia com um tempo de pratica. – Wagner estava ficando mais ofegante.

Tirando este comentário, não prestei mais atenção em nada que aconteceu ao meu redor. Talvez se eu fosse um jogador de RPG eu não estivesse tão chocado, talvez eu pensasse que lançaram um novo livro 3D em alta definição, sei lá, com tudo isso que tem vindo da China. Bom, talvez eu devesse estar mais preocupado, mas talvez enquanto eu ainda consigo fazer piadas, isso também me prenda à realidade.

Não sei o que vi, mas foi muito estranho...

–Estranho? Sinto-me decepcionado, ate compreendo, mas preferia ouvir um elogio.

O som daquela voz não era exatamente desconhecido, mas havia surgido do nada, pelas costas, e o reflexo disto foi um susto que derrubou Wagner da cadeira, deixando seu diário cair no chão. A falta de ar e o pânico começaram a crescer. A mão direita procurou a bombinha sobre a mesa.

–Desculpe, não quis te assustar Micael.

O alivio trazido por aquela bombinha era como livrar-se do abraço sufocante de um urso tão selvagem, que só poderia existir em um filme. Micael, incrível como este nome pareceu-lhe familiar. Wagner sentou-se no chão e recuperando-se do susto, ainda olhando para baixo reconheceu seu amigo pela ponta de sua bengala articulada.

– Quando você chegou Allan? Minha mãe nem disse nada. E o que é isso de estranho? Desde quando você consegue ler? Ai – ele levou a mão na testa onde havia batido no chão.

– Não consigo ler com essa iluminação do seu quarto - brincou o amigo - você não perde a mania de murmurar o que escreve, eu disse pra sua mãe que não precisava te chamar, conheço bem as riscas do piso do seu chão. Vamos, ele quer falar com você!

– Ele quem Allan?

– Gabriel.



Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!