Era manhã. O telefone tocava violentamente, como se estivesse gritando por atenção. Hinata estava deitada no sofá de mal jeito, quase babando na almofada vermelha, deixando uma mancha temporária mais escura. O cômodo estava bagunçado, com algumas peças de roupa jogadas no chão, uma blusa social na cabeça da morena e embalagens de ramén espalhados pela mesa de centro. Hinata esticou um braço com dificuldade, tentando alcançar o telefone em cima da mesa. Atendeu com uma voz sonolenta.

– Moshi-moshi... - sem nem abrir os olhos, levou sorrateiramente o telefone até a orelha.

– Hinata ! Aonde você está ? Nem saiu de casa ainda, morena ? Corre ! Está atrasada ! - gritava uma voz estérica do outro lado do telefone.

– Ino... ? - Hinata enrugou a testa com estranheza - Ino ! - arregalou os olhos e levantou-se num pulo só - Kami-sama ! Esqueci de programar o despertador ! Estou indo ! - desligou o telefone e o jogou no sofá.

Hinata correu para o banheiro, sacando a escova de dente e passando a pasta. Com a escova ainda na boca, voltou as pressas para a sala, pegou a blusa social e a vestiu. Estava muito atrasada para seu novo emprego, que acabara de conseguir com muito esforço e não estava nem um pouco afim de perde-lo no primeiro dia por causa de um atraso. Pegou sua bolsa e os sapatos, correu até a porta com eles em mão.

– Mãe ? - seu filho a chamou confuso, saindo do quarto esfregando os olhos.

– Endo ! - Hinata atropeçou em uma bola de futebol, derrubando sua bolsa e sapatos no chão.

– Okaa-chan ! Está bem ? - Endo correu até a mãe, pegando seus pertences.

– Endo... - a morena levantou-se com as mãos na cabeça, sentindo uma leve dor - Filho ! Escuta a mãe. A mamãe está atrasada pro trabalho, preciso correr e não vai dar tempo de preparar seu almoço, está bem ? Por isso hoje você terá de vir comigo e eu compro um ramen para você lá perto. Corre, Endo ! Pega oque você tem que pegar e vem correndo para o carro !

– Es-es-está bem ! - O garoto sai correndo para o quarto, agarrando um boneco e sua mochila. Ele corre para o carro e fica um pouco assustado com a velocidade atingida pela mãe, que ao mesmo tempo conversava ao telefone.

– Ino ! Eu sei que ele precisa de mim e eu já estou chegando ! Aguenta aí ! - repetia algumas vezes em voz alta.

Hinata mal conseguia se concentrar na estrada com Ino gritando na orelha dela. Ela acabou passando o sinal vermelho sem notar.

– Mãe ! - Endo olhou para trás desesperado - Você passou o sinal vermelho !

– Nani ? - se inclinou para olhar o espelho retrovisor quando um carro quase a atingiu, buzinando estrondosamente e a fazendo desviar bruscamente.

Endo soltou um berro rápido ao ver o carro quase encostando na sua porta e colocou as mãos na cabeça, achando que seria atingido.

– Kami ! - Hinata gritou jogando o telefone no banco traseiro, sem responder a loira no telefone, que ficou a chamando ao ouvir as buzinas e o grito de Endo.

Ela dirigiu com mais calma e atenção. Seus olhos fixaram na rua e ela parecia em choque, como se sua vida tivesse passado pelos seus olhos e a vida de seu filho, que é a pessoa mais importante na vida de Hinata.

– Você está bem ? - Hinata perguntou ao filho sem olhá-lo.

– Hai... - o garoto estava ofegante e assustado - Cuidado, mãe. Onegai.

– Gomen. Terei mais cuidado, prometo.

O carro foi estacionado na frente do apartamento onde Hinata iria começar a trabalhar. Desceram do carro, a morena quase atropeçava nas próprias pernas quando arrastava Endo, que tentava segurar seus pertences.

– Kami-sama ! Estou sem sapatos. - pegou seu salto alto e o colocou no estacionamento mesmo e subiu as escadas ligeiramente.

Finalmente, chegou ao andar onde localizava sua sala. Ela passou pelas várias cabines de atendentes, seus colegas de trabalho. Ino correu em sua direção, eufórica.

– Hyuuga Hinata ! Já sei o que vou te dar no seu aniversário. Um rádio com auto falantes bem alto para te acordar no horário certo !

– Gomen, Ino. Mas já cheguei, acalme-se - Hinata jogou sua bolsa em cima da mesa de escritório e começou a organizar seus papéis.

Ino cruzou os braços, fitando a amiga impaciente. Se distraiu um pouco e começou a fitar Endo que colocava sua mochila no canto da sala, tirando seus bonecos da Marvel de dentro.

– Hina... - caminhou até o lado da amiga e cochichou - O que ele faz aqui ?

– Está brincando com os bonecos, não está vendo ? - a mãe preocupada mas porém atrapalhada, falava com sua amiga sem olhá-la, apenas fitava seus pertences e os papéis da empresa.

– Isso eu estou vendo, baka ! Por que trouxe ele no seu primeiro dia de trabalho ? O chefe não vai gostar disso e despedi-la logo hoje ! Tá afim ? - sussurrou mas suas expressão mostravam como estava desesperada e brava com os tais atos da amiga.

– Relaxa, você está muito estressada, loira. Seja um anjo e traz um leite e um pão de queijo para o Endo. E café.

– O Endo gosta de café ?

– Quem disse que é para ele ? Eu gosto de café. - sorriu doce e colocou as mãos na cintura.

Ino bufou e foi buscar o que foi pedido pela morena. Hinata suspirou, emitindo um fio de voz fino e fitou seu filho, que brincava com os bonecos, fingindo que a cidade estava sendo atacada por um homem furioso que planejava destruir a humanidade. Ela riu baixo, sentindo-se emocionada com a inocência do garoto.

– Hyuuga Hinata, não é ? - um homem alto de cabelo grisalho entrou na sala, batendo levemente na porta.

– Hai ! - virou-se rapidamente - Prazer. - andou para o homem com a mão estendida.

– É bom te ver ! Ino me falou muito bem de você. Espero contar com sua determinação nessa empresa - sorriu de orelha a orelha.

– Hai ! Com certeza ! Minha determinação... Pode deixar. - balançou a cabeça.

– Como pode ver, deixei alguns papéis em cima de sua mesa. Quero que faça a ficha de algumas pessoas e liga para elas, confirmando a compra. Posso contar com você ?

– Pode sim ! Vou fazer.

– Ótimo. - sorriu de canto - Seu filho ?

– Ah... é. Espero que não tenha problema - Hinata falou um pouco apreensiva com medo da rejeição do chefe.

– Não se preocupe. Hoje, por ser seu primeiro dia está tudo bem. E considerando tambem, que confio na Ino, estou contando com sua evolução.

– Hai. Arigatô, chefe - Hinata sorriu, observando o homem sair de sua sala. Sentou-se em sua mesa, começando seu trabalho.

– Okaa-chan. - Endo chamou docemente.

– Hai ? - respondeu sem olhá-lo.

– Preciso fazer xixi.

Hinata virou para fitar seu filho. Ela não sabia ao certo onde era o banheiro, afinal tinha acabado de chegar ao lugar.

– Espera só um pouco, Endo. A Ino te leva ao banheiro. - virou de volta para o computador, começando a digitar.

O garoto baixou a cabeça e olhou para o chão. Estava muito apertado, pois tinha acabado de se levantar da cama e sua mãe não deu tempo para ir ao banheiro em casa. Levantou-se, segurando seu boneco e caminhou para fora da sala. Fitou um pouco o local tentando descobrir aonde se localizava o banheiro. Com calma, caminhou pelos corredores afim de achar uma porta. Entrou na primeira que viu, dando de cara com uma sala cheia de pessoas. Voltou com pressa, deixando todos confusos e curiosos. Caminhou mais um pouco e entrou em outra porta. A sala estava vazia e não parecia ter banheiro algum. Endo fechou a porta com cuidado e tentou voltar a sala de sua mãe. Mas não conseguiu encontrar e não sabia mais aonde estava. Parou de andar e se sentou no chão, fitou seu boneco.

– Capitão América ! Me ajude a achar o banheiro ! - sussurrou.

– Endo ! - uma voz ecoou do fundo de corredor, aparecendo uma sombra correndo na direção do garoto.

Endo ficou olhando confuso para a figura correndo, não conseguia identificar o rosto.

– Endo... - Ino agachou na altura dele - Porque está aqui ?

– Xixi...

– Precisa ir ao banheiro, é ? - Endo responde balançando a cabeça - Oh. Vamos então. - a loira se levanta segurando a mão da criança. Ela leva o menino ao banheiro enquanto busca uns petiscos. Entrega devolta a Hinata, que estava concentrada no trabalho. Ino entra na sala, atrás de Endo, que comia um pão de queijo. Hinata olha para o filho e com os olhos arregalados olha para o canto aonde ela achava que ele estava, a poucos minutos atrás.

– Como... ?

– É, Endo. Sua mãe é muito distraída - a loira ri, colocando o copo de leite em cima da mesa.

A morena pisca algumas vezes.

– Preciso saber ?

– Ele foi procurar o banheiro. Achei-o no corredor da sala de reuniões.

– Endo... - a mãe o olha, apreensiva. Ele não devia sair sem sua autorização.

– Mas já o levei e agora está tudo bem - ela vai saindo do escritório - Estou indo para minha sala, qualquer coisa é só me chamar. Ja ne.

– Arigatô ! Ja ne ! - Hinata fala alto e volta a fitar o garotinho. - Querido. Não saia sem me avisar, ok ?

– Hai.... - Endo senta no seu canto e toma um gole do leite.

**

Ele encheu seu copo de vidro com café e tomou um gole, sorridente como se houvesse ganhado muito dinheiro na loteria. Sem notar, deixou um ovo na frigideira, que estava cheirando a queimado. Ele deu uma fungada quando notou o cheiro diferente no ar, virou-se para olhar o fogão.

– Kami-sama ! - correu até a frigideira e desligou o fogo mas isso não faria o ovo voltar a ser cru. - Merda.

– Ohayo Kuso ! - Sasuke desceu as escadas e caminhou para a cozinha. Estranhou o odor e deu umas fungadas no ar - Cheirinho de queimado. Oque... - parou de falar quando notou o ovo queimado - Gaara... como consegue ser tão kuso ?

– Me destraí, beleza ? Isso é completamente normal. - Gaara tomou mais um gole de café, sentindo-se despreocupado.

– Sei. Deixa eu fritar dessa vez. - empurrou o ruivo e pegou três ovos na geladeira, bateu na pia e os jogou na frigideira.

– Eu teria fritado melhor, se não estivesse tão vidrado na Matsuri - Gaara sorri maliciosamente.

– Hum - Sasuke fica pervertido - A noite foi boa então ?

– Hai... - suspirou - Ela é safada.

– Kuso ! Me poupe dos detalhes, onegai. - Sasuke pede, interrompendo os pensamentos maliciosos do amigo.

– Gomen. Naruto passou a noite fora hoje ?

– Hai - dá um sorriso de canto, pensando que o amigo loiro teria se dado bem.

O ruivo dá uma risada de deboche - Esse Naruto ! Só arrumando confusão. - caminha até a sala, se sentando no sofá para ligar a televisão.

– Acho bom ele saber oque está fazendo, ele anda muito radical ultimamente. - Sasuke pega seu ovo e joga em um prato pequeno.

– Sasuke... - Gaara o olha com desprezo - Cadê o bacon ?

– Bacon ? - o moreno encara a pergunta com expressão séria.

– É. Ovos com bacon. Tem que ter bacon, sem bacon não é ovos com bacon - brinca com o amigo.

– Então não são ovos com bacon. Apenas ovos - sobe as escadas do quarto com o prato e o café na mão.

– Kuso... - sussurra mesmo sabendo que Sasuke tenha escutado. Era sua intenção fazê-lo escutar, a falta de bacon o irritou bastante.

Gaara assiste atentamente a televisão, que a esta hora estava passando jornal, mostrando como seria o clima da cidade nos próximos dias. Ele não parecia estar mostrando interesse, mas a previsão do tempo era a única coisa que assistia do jornal. Preferia assistir desenhos animados, séries de comédia e filmes com alienigenas. A moça do programa dizia que faria muito frio. O ruivo sorriu, gostava do frio. Escutou um barulho vindo da rua, de um carro estacionando. Depois o som das chaves abrindo a porta da sala. Naruto abriu a porta devagar, carregando algumas sacolas.

– Chegou cedo, brow ! - Gaara zombou de sua virada de noite fora de casa.

– Hai - Naruto riu charmosamente - Tive alguns... imprevistos.

– Imprevistos. Sei. Quem é a da vez ? - abaixou o som da Tv e virou-se para conversar.

– Naruto... - uma jovem de cabelos róseos entra na casa, carregando mais sacolas - Deixei algumas sacolas no carro, estavam um pouco pesadas então... - ela se virou dando de cara com a expressão espantada do ruivo sentado no sofá, que a fitava - Bom...

– Pode deixar que eu pego. Gaara, leva as sacolas para a cozinha, onegai ?

O ruivinho apenas os fitaram com a boca aberta.

– Gaara ? Onegai ? - falou as palavras com ênfase em cada sílaba entre dentes, aumentando o tom de voz.

– Hai ! - pulou do sofá e ajudou a carregar as sacolas.

Ao ouvir o barulho das sacolas e a voz feminina e doce de Sakura, Sasuke desceu as escadas a uma alta velocidade. Andou rápido até a cozinha, fitando a rosada e o ruivo, que guardavam as compras em seu devido lugar. Ele começou a encarar Gaara, a espera de respostas a suas perguntas sobre a garota.

– Onde o Naruto está ? - perguntou, ao notarem sua presença.

– Lá... fora... - o amigo respondeu, sorrindo de um jeito pervertido.

– Sakura. Ohayo. - caminhou até a rosada, sorrindo com charme.

– Ohayo, Uchiha. - sorriu com timidez - Não precisam se preocupar.

– Do que está falando ? - o moreno se finge de inocente, sabendo que ela estava falando sobre Naruto.

– Não houve nada entre mim e Naruto, se é oque estão pensando.

– Aonde ele passou a noite toda, então ? - Gaara se virou com um pacote de sucrilhos em mãos.

– Depois da festa de ontem, ficamos na casa de Neji. Acabou tarde, então ele nos convidou para passar a noite.

– E não rolou nada entre vocês ?

– Lie - ela sorri com doçura.

– Que decepção. Achei que ele era um verdadeiro galinha. - Sasuke começa a desempacotar as compras.

– Hai. Trabalha com uma jovem linda e nem tenta praticar o coito - Gaara ri, maliciosamente e debochando ao mesmo tempo.

– Kusos ! - Sakura ri, um pouco corada - Já disse várias vezes para vocês, que nossa relação é apenas profissional e amigável.

– Mas não acreditamos. - os dois falam em sincrônia.

– Porque ?

– O Naruto não tem amigas - Sasuke caminha até a Tv para desligá-la.

– Ele transa com todas as amigas dele. E acaba ficando sem amigas. Amizade colorida é só oque ele tem com garotas. - Gaara tira um produto da sacola, que o deixa muito alegre e animado - Kami-sama ! Kami ! Kami !

– Nani ? - Sasuke vem correndo, preocupado.

– O Naruto trouxe bacon ! Ah, obrigado, kami-sama ! - o ruivo corre para o armário, tirando a frigideira limpa e derrubando as outras panelas.

– Baka.. - o moreno joga o controle no sofá. Seu amigo ruivo faz muito escândalo quando vê bacon.