Medo Do Escuro escrita por Reira chan


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

É o meu primeiro terror, portanto, peguem MUITO no pé para eu poder melhorar.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/220675/chapter/1

Ei, criança, o que aconteceu? Seus olhos estão lacrimejados e seu rosto expõe olhos arregalados... Venha, sente-se no meu colo, o que é que houve com você? Por que está acordada a essa hora da noite?

Medo do escuro? Mas por que você tem medo do escuro?

Hã? Isso é normal na sua idade?

Venha cá, eu vou limpar as suas lágrimas, sente-se mais para perto, apoie o rosto em meu peito, isso... Só deixe essa mão livre aqui, mas com a outra acaricio seus cabelos... Isso, venha cá... Agora... Pra quê o medo do escuro?

Um brilho um tanto sádico surgiu em seus olhos, um brilho claro como o dia. A mão livre estendeu-se em direção ao criado-mudo, mas isso a criança não podia ver, e tampouco a importava.

Venha cá. Eu vou te contar uma história que vai fazer o seu medo passar...

E novamente a criança não viu, nem de relance, o sorriso nem um pouco terno que se formou em seus lábios...

Todos temem a noite, criança, porque ela é escura e mostra exatamente o seu lado sombrio...

Ao fundo, o vento uivava em silêncio, a lua brilhava fraca não iluminando nem metade das atrocidades que eram cometidas a todo canto. A pequena criança tremia contra o peito da adorável mulher e contra o sofá, preto e quente, aconchegante... Seu peito começou a se normalizar.

A noite é sincera, minha criança, confie na noite.

Ela balançou a cabeça negativamente, afirmando que tinha medo, que não era capaz, que a noite era assustadora, o escuro a atacava a cada segundo.

A mulher sorriu, dessa vez terna, brilhante. Seus olhos radiavam. E sua mão, lentamente, deslizava em direção à gaveta do criado-mudo.

Eu vou te contar uma história que vai fazer passar o seu medo dela.

Os dedos finos da mulher se enrolaram em seus cabelos, ao fundo um trovão soou e foi possível ver claramente os seus ossos ensanguentados brilharem pela duração do clarão. Mas não era possível para a criança, que ainda ouvia sua doce voz, atenta.

Ao fundo, a tempestade continuava tão noturna quanto antes, escura, melancólica.

Havia sol, havia brilho. Era um dia de outono, com algumas nuvens, nem quente nem frio, exatamente como a maior parte dos dias. O sol brilhava sobre tudo, e eu estava sentada na piscina de minha casa, lendo um livro sob a luz natural.

A criança sorriu. A imagem da bela mulher sob a luz adorável do sol lhe parecia magnífica.

Um dos meus mordomos, então, se aproximou. Perguntou se eu estava me sentindo bem. Me lembro claramente de estar, com o tempo agradável.

Um sorriso melancólico surgiu agora.

A noite parecia estar chegando ao ápice.

E foi isso o que eu respondi; eu estava. Mas ele me encarou assustado, e eu vi em seus olhos, medo, desespero, e uma sensação esmagadora e gelada começou a subir pelo meu corpo.

Ele me disse: você não parece bem, senhorita.

E eu percebi que não estava.

O pequeno ser humano em seu colo se apertou mais à ela, como se tentasse aconchegá-la pelos maus passados. Ela sorriu docemente enquanto penetrava sua mão no fecho da gaveta e a abria em completo silêncio.

Não, eu não estava bem. Estava com medo. E isso fez o mordomo sorrir calmo, me abraçando e confortando.

O pequeno a encarou de soslaio; o que havia de errado nisso? Perguntou se o medo tinha passado, e ela novamente sorriu tenra e afirmou.

Depois disso, eu me tornei uma grande amiga daquele mordomo; eu costumava encontrá-lo de dia e conversar com ele. Mas eu nunca o via de noite. Ele tinha que ir pra casa à noite, e eu sentia sua falta. Mas não me importava, porque todos os dias, na manhã seguinte, eu podia correr e vê-lo.

A criança teve que interrompê-la para afirmar que aquela era a melhor sensação do mundo.

Na janela, as estrelas e a lua calmamente perdiam parte de seu brilho, enquanto o céu começava a ganhar um pouco dele.

E assim se seguiu por alguns dias. Ele sempre me ajudava, era ótimo. Estava sempre comigo e eu o adorava.

Eu nunca, em todo esse tempo, me perguntei como ele tinha tempo para ficar comigo sempre se ele trabalhava ali.

A criança estremeceu, seu olhar pareceu surpreendentemente melancólico.

Até que um dia, animada, eu fui conversar com meu pai sobre isso. Falei do meu grande amigo. Mas ele apenas me encarou de olhos arregalados? Que amigo? O mordomo, pai. Como assim mordomo? Filha...

Sua voz de repente assumiu um tom metálico, amargo, e sua respiração descompassou, saindo em baforadas muito rápidas e fortes, que transmitiam puro ódio.

Nós não temos dinheiro para pagar um mordomo.

A criança tremeu; a mudança na mulher era assustadora. Seu olhar brilhou calmo, até que ela olhou para a janela.

E foi então que eu me lembrei. É verdade, eu era pobre. Eu também não tinha uma piscina. E... Eu nunca tinha visto aquele homem na vida, até aquele dia.

A criança olhou-a nos olhos, os olhos que avermelhados continuavam encarando a janela. Através dela, era possível ver um tom levemente mais claro surgindo, apesar de ainda ser escuro como breu.

A voz da mulher, parecia a cada instante menos melodiosa...

E no dia seguinte, eu estava com medo dele. Mas ele se aproximou de mim e me abraçou calmo, sorrindo e ajeitando meus cabelos. E eu não senti mais medo. Estava tudo bem. Ele era um bom homem, e essa era minha única certeza no mundo.

O pequeno sentia medo; o homem era, então, um mágico?

E então...

Ele olhou em seus olhos, calmos e tenros que ele tanto amava. Até que de repente ele se fez uma pergunta:

De onde conhecia seu rosto?

Eu senti uma dor excruciante me dominar, e um ponto em minhas costas começou a arder, bem como todo o meu corpo. Fiquei assustada, o que era aquilo? E quando olhei para frente, vi que meu mordomo estava segurando uma faca, e essa faca tinha me apunhalado. Meus olhos se encheram de lágrimas.

Os olhos da criança fizeram o mesmo, mas por um motivo diferente: ele havia percebido que não conseguia se desvencilhar do abraço da mulher, pois sua mão o prendia como ferro e ele estava completamente imobilizado em seu colo. E agora ele tinha certeza: nunca tinha visto aquela mulher antes.

Nunca tinha sentido medo do escuro antes também.

E na janela, uma pequena bola amarelada começava a subir em direção ao azul, competindo com as estrelas ainda presentes.

Eu não sei explicar o que aconteceu depois. Ele me apunhalou milhares e milhares de vezes seguidas. Não adianta tentar descrever a dor que senti, ou o medo. Só sei que tudo ardia e girava. Também não adianta nada explicar o quanto eu gritei, o nível dos meus berros, como eles retumbavam e mesmo assim ninguém viera me ajudar. É claro que não; era dia, e ninguém assassina alguém de dia, não é mesmo, meu pequeno?

A mão da mulher finalmente deslizou para dentro da gaveta, agarrando algo, e então o homem que estava em seu colo se lembrou.

Ele não era uma criança.

Mas não fazia a diferença, porque no fim e o dia e a noite, assim como suas criaturas, são a mesma coisa. A diferença é que a noite mostra o quão sombria é; a noite é confiável, ela se deixa ver. Enquanto o dia se esconde em um falso aconchego, brilhante, brilhante... Brilhante.

Sua voz, naquele instante, assumiu um tom diabólico que reverberava, porém ele era assustadoramente agudo e feminino; a palavra brilhante se repetia em sua boca milhares e milhares de vezes, sem parar, como maluquice.

Os gritos dela eram exatamente os mesmos de quando ela fora morta.

O homem tentou se afastar, mas não pôde. A mulher agora observava a janela, e satisfeita, finalmente sacou a faca que estava guardada e o apunhalou, começando então o lento trabalho de tortura repetidamente em sua pele, em seu rosto, em seus órgãos...

Em cada pequeno órgão, cada pedaço de seu corpo que pudesse soltar sangue...

Até que enfim, ele se acabou, e o homem, caído no chão, encolhido, ensanguentado, como uma criança pequena, morreu com os olhos vidrados de forma assustadora, enquanto um sorriso triunfante escorreu lentamente pelos lábios da senhora.

Atrás dela, um homem com um sorriso idêntico surgiu, de terno, e juntos, a uma só voz, mordomo e mulher disseram:

Nós somos o dia, minha criança, nós somos o falso brilho. Diga-me, prefere nossa ilusão ou o medo claro e puro?

O mordomo encarou o monstro igual que tinha criado, orgulhoso. E a mulher, logo após olhá-lo e sorrir-lhe, murmurou, acariciando os cabelos da criança:

Espero que isso tenha feito o seu medo do escuro passar, meu pequeno.

Pela janela, era possível ver um sol brilhante no centro do céu, com grande glória e esplendor, quente.

E ambos, mordomo, mulher e cadáver, sumiram de onde estavam.

O que?

Você realmente acreditou que eles estavam lá?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Consegui dar medo em alguém?