Voltamos para o quarto escondidas.

 - É isso? – perguntei me jogando na cama frustrada e preciso admitir meio confusa.

- Isso o que? – Thalia perguntou amarrando o cabelo.

- Isso foi ‘’a festa’’? – indaguei. – Só isso?

- O que mais você queria? – Thalia perguntou.

- Tudo. – disse sorrindo maliciosamente.

Thalia e Bianca se entreolharam.

- Você é louca Annabeth. – Bianca disse sorrindo.

- Completamente. – concordei sentando na cama. – Então?

Thalia sorriu maliciosamente.

- Vamos continuar a nossa festa. – ela disse abrindo o seu guarda-roupa e mostrando diversas bebidas.

Eram quase 3 da manhã e estávamos bebendo no chão do dormitório. Bianca colocara seu Ipod na caixa de som e no momento estava tão bêbada que não parava de vomitar no banheiro. Thalia estava jogada no chão rindo de algo que Luke disse.

Ah sim, em algum momento outras pessoas se juntaram a nós com mais bebidas. Percy, Luke, Nico e Ethan pra ser mais exato.

Ethan não olhara mais para mim desde que Percy tinha lhe batido. Agora ele estava no banheiro com Bianca e se ela parar de vomitar eu nem quero imaginar o que vai acontecer.

Estava bebendo num canto do quarto com Nico e por incrível que pareça, com Percy. Nico lançava olhares furtivos para onde Thalia e Luke estavam deitados.

Eu estava na sexta garrafa de vodca esperando entrar em coma alcoólico, mas claro, isso não aconteceria.

Percy bebericava a garrafa de vez em quando fingindo que bebia e eu fingia que não notava. Nico parecia deprimido a cada segundo que passava.

- Dance comigo, Nico. – disse levantando e o puxando.

- Annabeth, eu não sei se... – ele começou olhando para Percy e depois pra Thalia.

- Não seja um chato como o Percy. – disse pegando suas mãos e colocando na minha cintura. Comecei a dançar de acordo com a batida da música.

- Quem você está chamando de chato? – Percy disse levantando e me puxando pra ele.

Não, eu não estou bêbada e inventando coisas, ele fez isso mesmo.

Levantei uma sobrancelha e dei de ombros. Dancei perto dele, nossos corpos se roçando eventualmente. As mãos dele deslizavam da minha cintura para o meu quadril me causando arrepios.

Coloquei meus braços ao redor do seu pescoço e fiquei dançando enquanto encarava seus olhos verdes. Ficamos dançando por segundos ou horas, mas eu não saberia dizer, pois tudo o que eu conseguia pensar era no quão boa e no quão bizarra era essa situação.

Percy apertou minha cintura com força antes de desviar os olhos dos meus e pegar a garrafa do chão.

E assim aquele momento acabou.

Olhei ao redor do quarto pra ver se alguém tinha percebido mas tudo estava do mesmo jeito. Limpei a garganta e deitei na minha cama ao lado do Nico que mexia no celular.

- Agora quer dançar comigo? – perguntei depois que deitei. Nico olhou pros meus seios por um momento e desviou os olhos.

- Estou legal, obrigado. – ele respondeu.

- Você é um fofo Nico. – disse deitando de costas pra ele e fechando os olhos. – Thalia devia notar isso.

- Mas o que você está...? – ouvi-o sussurrar mas adormeci antes que ele terminasse de falar.

Um barulho irritante me trouxe de volta a realidade. Achei que era alguma música que estava tocando mas era o despertador indicando 7 horas.

Abri os olhos e senti que eles iam derreter e escorrer como água pelo meu rosto. Maldita ressaca.

Me espreguicei e abri os olhos o suficiente pra ver. Thalia e Luke continuavam no mesmo lugar do chão que antes, Nico dormira na cama de Thalia, Bianca e Ethan estavam dormindo agarrados na cama dela e o pé de Percy estava na minha cara.

- O que você está fazendo aqui? – gritei empurrando-o sem sucesso.

- O que vocês estão fazendo aqui? – Thalia gemeu levantando. – Já são 7 horas.

- Merda. – Percy disse levantando e acordando Nico e Ethan. Luke já estava de pé.

Os meninos olharam pela fresta da porta por um momento e então saíram correndo sem dizer nada.

 - Tchau garotos. – murmurei pegando as garrafas vazias do chão.

Thalia correu para o banheiro pra vomitar e se aprontar para a aula. Fui logo em seguida.

Bianca que ainda estava dormindo acordou por volta das sete e meia.

- Porque vocês não me acordaram? – ela perguntou mal humorada.

- Estávamos ocupada. – Thalia respondeu vestindo o uniforme.

Bianca bufou e foi pro banheiro. Ajeitei o nó da minha gravata e coloquei meias 5/8 pra não morrer de frio. Fiz um coque meio folgado e escondi a cara da ressaca com maquiagem.

Notei três envelopes no chão perto da porta e os peguei.

- O que é isso? – indaguei pra mim mesma.

- Nossos horários, finalmente. – Thalia disse pegando o envelope endereçado a ela.

O primeiro sinal indicando que era hora do café ressoou. Peguei minha mochila e segui Thalia até o refeitório. Sentamos na mesma mesa e esperamos o segundo sinal. Pelo o que eu pude perceber, não fomos às únicas a beber até tarde da noite. Muitos ao nosso redor estavam com sinais de ressaca estampados no rosto.

Peguei Percy me olhando e retribui o seu olhar. Ele parecia cansado e deu um sorriso mínimo, acenei com a cabeça.

Será que a gente tinha se resolvido ontem à noite? Eu gostaria de lembrar.

- Eu falei com Percy ontem? – perguntei a Thalia que estava bocejando.

- Você está brincando, não é? – ela perguntou olhando sarcasticamente para mim. – Você não lembra?

Ah Deus.

- O que eu fiz dessa vez? – suspirei massageando as têmporas. – Por favor, diga que eu não transei com ninguém.

Thalia me olhou meio assustada.

- Isso já aconteceu antes? – ela perguntou gargalhando. – Você é pior do que imaginei.

- O que aconteceu então? – perguntei secretamente aliviada.

- Você se agarrou com o Ethan, Percy deu umas porradas nele, voltamos pro quarto, bebemos, provavelmente você ia se pegar com o Nico... – Thalia fechou a cara. – Mas Percy interviu e vocês começaram a dançar e ficaram se encarando por séculos aí eu apaguei...

Olhei pra ela cética.

- Você dormiu antes de algo acontecer. – eu disse. – O que será que aconteceu?

- Não sei. – ela respondeu. – Ele deve lembrar, ele lembra tudo sobre você.

- O que você disse? – disse sem prestar atenção. Ainda estava tentando lembrar o que tinha acontecido...

- Eu? – Thalia disse piscando inocentemente. – Não falei nada.

O sinal do café da manhã finalmente tocou e começamos a comer.

Depois de comer, peguei meu horário e vi que o primeiro tempo seria cálculo na sala 35. Perguntei a Thalia onde ficavam as salas.

- No prédio grande. – ela respondeu. – Vamos, tenho História na sala 40 e fica no mesmo corredor.

O prédio grande consistia num prédio de sete andares com diversas salas e escadas.

Subimos escadas e andamos por vários corredores até pararmos na frente de uma sala com o número 35 na frente.

- Obrigada. – disse para Thalia antes de entrar na sala.

Sentei na cadeira da frente e esperei tediosamente o sinal de início das aulas ressoar. Aos poucos a sala foi enchendo de desconhecidos. Alguns Thalia havia me apresentado e outros eram completos nerds.

O sinal tocou e logo um professor muito bonito entrou na sala. Ele deveria ter por volta dos 25 anos, era moreno, alto e tinha músculos, além de usar óculos. Era um Clark Kent na minha frente só que – eu espero – ele não deveria usar cueca por cima da calça.

Ele deu uma olhada na sala e seus olhos pararam em mim por um segundo a mais. Ele deu um sorriso mínimo que é claro, eu retribui.

Muito interessante.

- Bom dia turma, eu sou o professor Arthur, abram o livro no capítulo 1. – ele disse com um sotaque francês.

Abri o livro que estava posto sob a mesa e comecei a estudar. Eventualmente, eu e o professor trocávamos olhares.

Comecei a enrolar o meu cabelo no meu dedo e coloquei um sorriso no meu rosto.

Posso ter mudado de cidade, mas os antigos hábitos nunca mudaram. Às vezes eu fazia isso apenas para ganhar nota, ou para garantir.

Mais quinze minutos se passaram e o professor se levantou da mesa.

- Muito bem turma, vamos começar a aula.

Ele começou a dar uma longa e tediosa explicação sobre trigonometria, mas eu não estava nem um pouco atenta à aula.

Quer dizer, eu poderia estar prestando atenção na aula se o professor não tivesse uma bunda tão chamativa. Pelos deuses.

Não sei quanto tempo eu fiquei admirando as nádegas do professor, mas parece que foi por muito tempo porque o sino tocou.

Era hora de trocar de sala.

Levantei da mesa e coloquei a bolsa no ombro, parei no batente da porta e virei-me para o professor.

- Sua aula foi ótima professor, parabéns. – disse sorrindo para o professor.

- Faço o melhor para entreter os meus alunos. – Professor Arthur retribuiu o sorriso.

- Prazer, Annabeth Chase.  – Estendi a mão e o professor apertou a mesma.

- Prazer em conhecê-la, Annabeth. Vejo que será uma das minhas melhores alunas. – Ele correu o olhar pelo o meu corpo e depois voltou a me olhar com puro interesse.

- Sou melhor em várias coisas, professor. – Dei uma piscadela e sai de sala.

Andei mais um pouco e encontrei Thalia conversando com Nico e Grover.

- Oi. – disse forçando um sorriso.

- E ai, novata. – cumprimentou-me Grover.

Nico lançou-me um olhar rápido, depois voltou a encarar os seus tênis.

- Seus tênis devem ser bem interessantes, né? – disse sarcástica.

Nico soltou uma risada nervosa.

- Oi, Annabeth. – Disse ele por fim.

- Só pra deixar claro, você está me devendo uma dança. – disse dando um soco de leve em seu ombro.

Thalia olhou para mim com a cara fechada e rolou os olhos de modo discreto.

O sinal soou novamente e todos se apressaram em entrar em suas respectivas salas.

- Vem Nico. – Chamou Grover. – Até mais, meninas.

- Até. – Eu e Thalia dissemos em uníssono.

Ficamos olhando os meninos até eles desaparecerem pelo mar de pessoas. Dei uma olhava rápida em Thalia e ela estava com o maxilar travado.

- Se acalma morena, eu não vou ficar com o seu homem.

- O que? – Thalia se fez de desentendida.

- Você sabe de quem eu estou falando. – sorri e puxei o meu horário da minha bolsa. – Ah, que ótimo. Matemática.

- O seu também? – ela ainda me olhava cautelosa. – Vamos logo para a sala.

Andamos até entrarmos na sala 26. Thalia bufou e entrou na sala. Entrei logo depois, sentando-me bem no meio, ao lado de Thalia.

Ao contrário do professor Arthur, o professor de matemática era um velho careca de meia idade e corcunda.

- Bom dia turma, eu sou o professor Durbin e não estou nada feliz de estar com vocês nesse terrível dia. – ele jogou a sua bolsa em cima da mesa e lançou um olhar pesado para todos nós.

Afundei-me na mesa e revirei os olhos sabendo que a aula seria tão chata quanto o normal.

- Porque ele é tão amargo assim? – Perguntei baixo para Thalia.

- Isso é falta de sexo. – disse ela dando os ombros .

As pessoas que ouviram o que Thalia tinha dito soltaram uma risada.

- Tá certo. – disse segurando o riso.

O professor começou a administrar a aula e eu abaixei a cabeça, como sempre, e dei um cochilo rápido.

As aulas se seguiram em um ritmo lento e chato, e quanto mais eu rezava pra que as aulas acabassem, mas longas elas se tornavam.

O sinal para o lanche tocou e todos saíram alvoroçados das salas. Eu e Thalia seguíamos para o refeitório de modo lento por conta na nossa ressaca.

- Nada como um primeiro dia de aula para animar as coisas, hein? – Thalia disse passando a mão no rosto.

- Ah sim, que feliz. – disse balançando as mãos para o alto preguiçosamente.

Chegamos ao refeitório e nos sentamos à mesa esperando o segundo sinal soar.

- Eu não to com fome, vou dá uma volta, ok? – disse levantando-me.

- Vai lá. – Thalia se debruçou sobre a mesa.

Andei pelos corredores da escola até cansar. Encostei-me na grade de proteção que separava o campus a frente das salas. Passei a mão no meu cabelo desfazendo o meu coque.

Alguém se juntou e quando olhei, era Percy outra vez.

- Quer uma bala de menta? – ele estendeu a mão com um bombom.

- Percy, isso é um chocolate. – disse eu arrumando o meu coque novamente.

 Percy olhou para a sua mão e soltou uma risada.

- Vai querer ou não?

Peguei o chocolate da mão dele e sorri. Depois de ter comido o chocolate, virei para Percy e perguntei:

- Percy, eu queria te fazer uma pergunta.

- Faça. – disse ele com a testa franzida.

- Você sabe se aconteceu alguma coisa entre a gente ontem? – perguntei baixo.

- Você não se lembra? – ele perguntou sério.

Balancei a cabeça em negação já preocupada.

- A gente transou. – Percy passando a mão em sua cabeça confuso.

Arregalei os olhos. 

Eu e Percy nos encaramos por um tempo, até que um sorriso brincalhão brotou no canto da boca dele.

- É brincadeira, Annabeth. – ele soltou uma risada alta – Não aconteceu nada demais.

Dei um murro no peito de Percy seguido por um suspiro de alivio.

- Seu idiota! – disse rindo.

- É tão fácil te enganar Annabeth. Você ainda continua a mesma garota boba de quando era criança.

Mostrei-lhe a língua.

- Ta vendo? Ainda continua a mesma Annabeth pirralha.

Ficamos rindo por um tempo até que nos cansamos e nos encaramos de novo.

Ouvi o sinal tocar, mas mesmo assim não desviei o olhar.

Várias pessoas passavam por nós, mas nem eu e nem ele se atrevia a dizer algo.

- Eu vou pra sala. – disse eu enfim.

- É, eu também vou pra sala. – Percy balançou a cabeça e seguimos para lados diferentes.

Procurei pela sala 41 e quando a achei, entrei seguida pelo professor.

Tentei prestar atenção na aula, mas não estava conseguindo.

O resto da semana seguiu normalmente, fui para todas as aulas, conheci várias pessoas e por um milagre não aprontei nada de tão errado. Na sexta- feira a noite estava sozinha no dormitório, Thalia e Bianca já tinham ido pra casa, até que alguém bateu a porta do dormitório.

- Entra. – gritei tirando os fones de ouvido.

Percy colocou a cabeça pra dentro e acenou me chamando.

 - Vamos, Gabe já chegou. – ele disse pegando a minha mala. Que cavalheiro.

Lentamente, peguei a minha mochila e me dirigi para fora do quarto.

- Tenham um bom final de semana. – disse-nos o porteiro quando saímos da escola.

 Não precisava ninguém me dizer que esse final de semana não seria nada bom.