Queria eu acreditar que Frederick me mandara para um internato só para me proteger, mas é claro que ele não tinha feito isso, aquele cara me odeia.

Entrei no banheiro e lavei o meu rosto que estava vermelho. Encarei-me no espelho e prometi para mim mesma que ia superar aquilo, que a insanidade nunca tomaria conta de mim.

Depois de secar o rosto, sentei-me na cama novamente e respirei fundo umas duas vezes antes de ouvir uma batida na porta.

- Oi – disse Bianca jogando as suas coisas no chão – eu estou morta de cansada.

Ela se joga em sua cama e em seguida olha para mim.

- Você está bem? – Bianca senta-se na cama com cuidado – Parece pálida.

- Eu estou bem – respondi levantando-me. - Só preciso de um pouco de ar.

Saí do quarto e andei aleatoriamente pela escola, passei por várias pessoas, inclusive por meninos bonitos que me olhavam com interesse, mas agora eu não estava nem aí pra isso. Logo o fim de semana chegaria e...

As lembranças invadiram minha mente com tamanha força que fez minha visão rodar. Senti meu corpo inclinando-se a frente com a tontura e me segurei em uma coluna fechando os olhos. Os gritos de desespero circulavam minha mente me fazendo querer tapar os ouvidos, todos os segredos que eu escondia de todos, o ódio por meu pai, o desapontamento por minha mãe nunca ter percebido, todas as vezes em que eu chorei, uma vida destruída por dinheiro.

Pare! Disse a mim mesma em pensamento. Todas essas lembranças ficaram no passado, separadas por um muro criado para defender-me da loucura.

Continuei apoiada na coluna até minha cabeça parar de rodar.

Maldita hora em que a minha mãe resolve me mandar pra Nothingan.

Quando me certifiquei que tudo estava certo, abri os olhos e olhei para o campus que se estendia a minha frente. Uma brisa fraca e gelada soprou por trás de mim, fazendo-me sentir-se abraçada pelo vento. A sensação foi tão boa que resolvi ficar ali e relaxar um pouco.

Não tinha reparado antes mas à uns poucos metros dali, Ethan estava sentado com os fones de ouvido encostado em uma arvore. Eu até que iria atrás dele, mas Thalia tinha sido tão séria em relação que eu não me envolvesse com ele que resolvi seguir o conselho dela.

Elevei o meu olhar para o seu nublado e sorri, aquela cidade poderia me trazer péssimas lembranças, mas eu já fui feliz aqui. Muito feliz.

Eu estava tão absorta em meus pensamentos que não percebi que algo se aproximava de atrás de mim.

Quando eu ia me virar, uma aranha apareceu em minha frente. Soltei um grito agudo e tentei correr na direção contrária a daquele bicho saído das profundezas do Tártaro, mas deparei-me com braços fortes agarrando a minha cintura para que eu não caísse com o confronto. Uma sensação de conforto me preencheu. Olhei para cima e vi quePercy tentava segurar o riso. Soltei-me dele e o encarei furiosa, sentindo minhas bochechas esquentarem.

- Você precisava ver a sua cara Annabeth, foi hilária - Disse ele rindo histericamente.

- Idiota! – disse dando um soco nele e virando-me para o outro lado.

- Calma Annabeth, é só uma aranha de borracha. – Percy abriu a mão e sorriu divertido para mim.

Levantei a mão para lhe desferi outro tapa, só que ele foi mais rápido e segurou os meus pulsos com força.

- Você só sabe bater?  - Percy soltou a minha mão e se apoiou na grade de proteção. – Eu só queria conversar com você.

O olhei desconfiada, porque ele iria querer conversar comigo?

- Porque diabos você quer conversar justo comigo? Você tem seus amigos idiotas.

- Olha, eu sei que não fui muito simpático com você, por isso vim te pedir desculpas.

Acabei me engasgando com o próprio ar.

- Você pedindo desculpas? Ai meus deuses, o céu vai desabar. – eu disse de modo sarcástico.

- Annabeth, não dá pra você ser compreensível pelo menos uma vez? – ele disse fazendo careta.

Ri baixo e me juntei a ele na grade de proteção.

- Porque você está falando comigo? Nós nunca nos demos bem, porque agora?

Percy soltou um suspiro longo.

- Eu cansei das nossas brigas, poderíamos ser bons amigos.

Ri sem emoção.

- Percy, não seria a mesma coisa se a gente parasse de brigar.

- Então você gosta de brigar comigo? – Olhei para Percy e um sorriso pequeno atravessava o seu rosto. – Lembra daquela vez no lago onde apareceu aquela aranha enorme?

- lembro. – disse rindo com a tal lembrança.

- Você ficou pendurada na arvore feito uma macaca e só saiu de lá quando Gabe matou a aranha. – Percy balançou a cabeça e soltou uma risada rouca.

Devo admitir, Percy está muito sexy. Como foi que ele conseguiu ficar sexy desse jeito meus deuses?

- Lembra daquela vez em que eu joguei aquele jarro em você só que o vaso acabou quebrando a janela de vidro da sua casa? – Perguntei.

- Se lembro, a mamãe ficou furiosa com a gente.

- É.

Ficamos em silêncio por um tempo.

- Você mudou Annabeth. – Percy disse com a testa franzida. – Porque?

A pergunta me pegou de surpresa, eu tinha quase esquecido do meu problema. Mas é claro, Percy sempre tem que estragar tudo.

Bufei com raiva e me afastei da grade.

- Não é do seu interesse. – disse ríspida.

- Sua estúpida. – disse ele.

- Seu idiota. – rebati.

Andei em passos largos e pesados de volta para o alojamento. A raiva me consumia, lágrimas ameaçavam descer.

Acabei esbarrando em alguém, quase ia pedir desculpa se não tivesse visto aquela menina da cabeleira ruiva que tinha visto no refeitório.

- Presta atenção por onde anda, sua vadia. – disse ela passando a mão na sua roupa.

- Morre garota. – disse já estressada.

Andei com mais rapidez até o quarto, abri a porta e vi a cena mais estranha da minha vida.

Bianca se pegava com um garoto de modo feroz. Não fiz barulho algum, apenas fiquei olhando chocada para aquela cena. Logo alguém se juntou a mim na porta e prendeu a respiração.

 - AI MEU DEUS! – gritou Thalia. – Sério que eu estou vendo isso?

Bianca e o garoto se separam rapidamente ofegante. Bianca abotoou a sua blusa de cabeça baixa. Fiquei mais surpresa ainda quando vi que o garoto com quem ela estava se agarrando era Ethan Nakamura.

Tentei me manter séria mas a expressão de vergonha da Bianca não ajudou em nada.

Logo eu e Thalia estávamos rindo histericamente. Ethan passou por mim com naturalidade.

Bianca tentou arrumar o cabelo mas desistiu.

- Huh, oi meninas. – ela disse com o rosto muito vermelho.

- Oi? – Thalia grita invadindo o quarto. – A gente te pega no maior quase-sexo selvagem e tu diz Oi?

Tenho certeza de que se fosse possível Bianca ficar mais vermelha, ela teria ficado.

- Vocês não podem comentar sobre isso com ninguém, entenderam? – ela disse sentando na beira da cama.

- Tá mas... Ethan? Sério? – Thalia perguntou.

Bianca a ignorou.

- Vou me arrumar pra festa. – ela disse e correu pro banheiro.

Thalia e eu nos entreolhamos.

- Bem, isso foi interessante. – comentei me jogando na cama novamente.

- Bizarro eu diria. – Thalia disse tirando os sapatos.

Logo Bianca saiu do banheiro e eu entrei. Quando deu onze e meia todas estávamos pronta. Bianca usava um vestido discreto cinza e meia-calças pretas, além de saltos altos. Thalia estava com uma calça jeans escuras,uma blusa larga preta e nos pés usava coturnos.

Eu optei por uma minissaia clara com uma meia calça grossa pra não morrer de frio e uma blusa de renda preta, além dos meus inseparáveis all star.

Thalia olhava pela fresta da porta se tinha alguém por perto.

- Tudo limpo. – ela disse e saímos.

Esgueiramos-nos por corredores, descemos escadas e passamos por túneis bizarros até pararmos num portão de ferro antigo em forma de arco.

- Como passamos por aqui? – perguntei apontando para o gigante cadeado que envolvia as extremidades do portão.

Thalia enfiou a mão num dos ferros e o retirou com astúcia. Fez novamente em outros dois até ter uma fenda de 40 centímetros onde nos esgueirariamos.

- Não somos os primeiros a passar por aqui. – Thalia disse se esgueirando pela fenda. – Essas festas existem desde o início da escola.

Sorri com ironia.

Seguimos por um corredor mal iluminado e com cheiro de esgoto. O único som vinha do ruído da nossa respiração e o toc toc dos saltos da Bianca.

- Então, andaremos até morrer? – disse já cansando de tanto andar. Sedentarismo me domina.

- Estamos chegando... – Bianca disse.

Logo o túnel escuro deu lugar ao verde da floresta e a luz da lua. Entramos mata adentro seguindo uma trilha de pedras quase invisível pela escuridão. Comecei a ouvir a batida frenética da música antes da trilha se abrir numa grande clareira.

Havia diversas pessoas dançando como se estivessem completamente bêbados mesmo ainda sendo cedo. Tinha uma grande fogueira no meio o que fazia todo o resto ficar iluminado.

Thalia me apresentou a diversas pessoas. Decorei poucos nomes: Lee Fletcher, Katie e outros aí.

O DJ parecia ser novo, mas ele era muito bom. Logo eu estava dançando feito louca. Vários garotos me acompanhavam, mas nem um me interessavam.

Senti mãos fortes e masculas segurarem a minha cintura e controlarem os meus movimentos.

- Posso te acompanhar, bela dama? – Ethan falou proximo ao meu ouvido.

- Claro – disse de modo provocativo.

Dançamos por um longo tempo, eu tentava não me deixar ser seduzida por ele, mas isso era quase impossivel. Várias vezes eu encontrava o olhar reprovador de Thalia, mas tentava ignora-lo.

Afinal, que mal faria apenas uma dança.

- Você dança muito bem. – Ethan sussurou ao meu ouvindo passando a mão em minha barriga.

- É assim que se dança nos Estados Unidos, querido. – Comecei a dançar um pouco sensualmente.

- Adoro as danças das Americadas. – Ethan ficou a minha frente.

Soltei uma risada fraca e continuei dançando mesmo sabendo o que aconteceria dali em diante.

Pov. Percy

-  A Annabeth? Sério? – indaguei surpresso.

- Qual é Percy? A menina parece ser legalzinha. – disse Luke colocando os braços em meus ombros.

- Mas ela mora comigo cara, não é legal.

- Vai amarelar agora? Você sabe que não pode recusar.

Pensei por um estante. Sei que o que tinham me proposto agora era ariscado e poderia trazer emoções antigas, mas ia ser só por um tempo.

- Tudo bem. – disse por fim.

- Esse é o meu garoto! – comemorou Luke.

- E pra você, Luke, a Thalia. – Rachel disse sorrindo.

-Ei cara, isso é golpe baixo. – Luke não conseguia esconder o sorriso – Vocês sabem que eu já tive um lance com a morena.

- Ué, tradição é tradição, querido. – Rachel andou até Luke e beijou-lhe o rosto. – Aposto que você não recusaria, afinal, você adora desafios, e a Grace é um ótimo desafio.

Um sorriso safado cresceu no rosto de Luke.

- Charlie, você está gravando tudo, né? – perguntou Rachel.

Charlie assentidiu sorrindo.

- Otimo. Vocês estão de acordo?

- Quanto tempo nós temos? – perguntei.

- 1 mês é o suficiente pra vocês.

- Otimo, estou de acordo – concordei.

- Eu também.

Pov. Annabeth

Ethan e eu agora dançavamos um pouco mais longe de todos, quase nos limites da floresta.

- Já disse que você é linda? – Ethan perguntou passando o nariz e distribuindo beijos pelo o meu pescoço.

- Ainda não, mas você pode dizer quantas vezes você quiser, não me importo. – arranhei a nuca dele de modo bem provocativo.

- Você é tão sexy. – Ethan elevou o seu olhar até o meu  – Você vai acabar me matando desse jeito.

Sorri baixo e o encarei. Foi  aí que eu vi: os olhos dele estavam como os olhos de um predador. Ele tinha a mesma expressão de Gabe quando entrava em meu quarto.

Ethan começou a beijar o meu pescoço e a passar a mão exploradoramente em meu corpo.

- Ethan, para. – disse ofegante.

Mas parece que ele não me ouvida.

- Ethan, por favor, pare agora.

- Você é tão gostosa.

- Ethan, eu já mandei você parar.

- Qual o problema? Está ficando tão bom.

Ethan me pressionava contra uma arvore e bloqueava qualquer passagem que pudesse existir.

Fechei os olhos com força e tentei empurrar Ethan para longe de mim, mas alguém fez isso por mim.

- A garota disse pra você parar, Ethan.

Reconheci a voz com pouca dificuldade, senti um pequeno alivio.

- Qual é Percy? Deixa eu aproveitar a noite.

- Aproveite com alguém que queira.

- Sai daqui Percy.

Ethan tentou empurrar Percy, mas ele vou rápido e desviou a mão de Ethan com um tapa.

- E ai meu irmão, cai fora daqui. – Ethan deu um empurrão em Percy.

- Você é surdo ou o que? Annabeth não quer ficar com você. – Percy revidou o empurrão.

- Agora você quer dar uma de héroizinho?

Percy cerrou os punhos e desferiu um soco na cara de Ethan.

- Olha como você fala comigo.

- Percy, para, vamos embora. – disse quando vi várias pessoas se aglomerando.

- Quer brigar, Percy? Vem pra cima então. – Ethan provocou novamente.

- BRIGA, BRIGA, BRIGA, BRIGA! – Começou um menino, logo todos os estavam o acompanhando.

Passei a mão no cabelo nervosamente.

Percy e Ethan começaram a se bater. Um filete de sangue escorria pela boca de Ethan e Percy estava com um corte na sobrancelha.

Logo ao longe, apitos e lantenas dançavam.

Todos começaram a se dissipar rapidamente, senti alguém puxando o meu braço. Corri aos tropeços pela trilha.

- Falei pra você não se meter com Ethan, o que você tem na cabeça Annabeth? – brigou-me Thalia.

- Eu...

- Cala a boca e corre, loirinha.

Corremos mais um pouco e eu já estava ofegante quando chegamos ao portão  por onde tinhamos passado horas antes.

Percy segurava a porta enquando todos passavam por ela.

- Obrigada – agradeci quando passei.

- De nada.