Touched By Hell escrita por raquelsouza, milacavalcante


Capítulo 12
Capítulo 11


Notas iniciais do capítulo

Oi, aqui é a Kamila, como vão?
Gostaram da nova capa? Raquel que fez.
Certo, sem enrolações, o capítulo...



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Infelizmente a sexta-feira havia chegado. A escola estava um silencio só. A maioria dos alunos já haviam ido embora, a única companhia boa que me restava era Thalia.

– Porque toda vez que chega sexta feira você assume essa expressão doentia? – ela perguntou fechando a sua mala.

– Não sei, deve ser porque eu vou ter que aguentar Percy todos os finais de semanas. – menti.

– Contra outra, Annabeth! Eu sei que você gosta do meu querido primo.

Escondi um sorriso torto.

– Ah claro, quem não gostaria dele?

– Tirando eu? Ninguém. – respondeu ela puxando a sua mala até a porta. – Vou indo, minha carona chegou. Boa “sorte” com o Percy esse fim de semana. – ela disse maliciando a palavra sorte.

Thalia me deu um abraço rápido e saiu.

– Acho que vou precisar de sorte com outra coisa. – resmunguei pra mim mesma.

Deitei-me na cama e fechei os olhos tentando não pensar no que iria acontecer mais tarde. Eu estava quase dormindo quando três batidas me fizeram praticamente pular da cama.

– Quem é? – perguntei com medo de ser Gabe.

– Sou eu, Percy, vamos embora. – suspirei. Não seja tão paranoica Annabeth.

– Um momento. – respondi carregando a minha própria mala até a porta, abri e puxei a mala alguns centímetros a frente.

– Deixa que eu levo. – disse Percy colocando a mala dele em sua costa e puxando a minha pela alça.

Agradeci com um sorriso pequeno. Vesti o agasalho que trazia na mão e abracei o meu corpo para me proteger do vento gelado. Andamos em silêncio pela escola quase vazia. Não tínhamos falado mais que um Oi desde o dia da detenção então foi meio estranho. Passamos pelo portão e atravessamos o estacionamento.

Andamos até o carro preto e entrei no carro enquanto Percy guardava as malas. Olhei de relance para Gabe e vi que ele segurava o volante com força. Sentei no banco atrás dele sem falar nada. Ele também não disse nada, só me encarava pelo retrovisor com puro ódio.

Fiquei me perguntando o que tinha causado isso. Será que algo tinha acontecido? Minhas mãos começaram a suar, não queria que ele descontasse em mim. Mordi minha bochecha até sentir o gosto de sangue.

Percy entrou no carro e a expressão de Gabe mudou inteiramente. Ele sorriu afetado para Percy.

– Filho. – ele o cumprimentou com falsa alegria.

Percy olhou com admiração pra ele e deu um abraço rápido. Fiz uma careta. Se Percy soubesse... Reprimi esse pensamento. Percy nunca saberia. Se ele soubesse sofreria muito com isso, além de ser um perigo pra ele saber das coisas horríveis que Gabe faz. Esse monstro pode chama-lo de filho, mas eu sei o que ele pode fazer se sentir-se ameaçado...

Passei a viagem até a casa dele em silêncio, Gabes não conseguiu esconder a expressão raivosa por muito tempo.

Gabes estacionou o carro na frente de casa e saiu do carro praticamente marchando.

– O que deu nele? – sussurrei pra mim mesma.

– Deve ser algum problema no trabalho. – Percy respondeu me sobressaltando. – Ele sempre fica assim.

Preferi concordar do que dizer que deveria ser abstinência sexual.

Sai do carro e peguei minha mala com dificuldade. Percy ofereceu ajuda mas eu neguei.

Ele revirou os olhos e pegou-a de mim.

– Você é um chato, sabia? – indaguei batendo no ombro dele.

– Cala a boca. – ele rebateu entrando na casa.

Entrei atrás dele e quase gritei com quem vi.

– Mãe? – perguntei com lágrimas nos olhos.

– Annabeth. – ela respondeu sorrindo.

Corri e dei um abraço apertado nela. Meu coração batia rápido demais e minhas mãos tremiam.

Ela ia me levar embora. Ela veio me levar pra casa. Sim. Sim. Sim.

– Você está aqui. – disse sorrindo.

– Eu estou aqui. – ela disse parecendo surpresa comigo. – Você está bem?

– Agora estou. – disse sorrindo e repeti. – Você está aqui.

Ela sorriu, a alegria estampada na sua expressão e olhou pra Sally com os olhos marejados.

– O que você fez com a minha filha rebelde? – ela perguntou rindo.

Sally riu e deu uma piscadela pra ela.

– Não sei do que você está falando. – ela disse e foi abraçar Percy.

– Meu Deus, Percy, como você cresceu. – minha mãe disse impressionada. – E está muito bonito. – ela disse isso olhando pra mim.

Revirei os olhos.

Voltei a sorrir para Atena.

– Não acredito que você esteja tão feliz em me ver. – comentou Atena com os olhos semicerrados.

– Eu estava com saudades, mãe.

Os olhos de Atena ficaram marejados e eu sorri. Voltei a abraçá-la fortemente. Finalmente eu ia embora, finalmente eu ia me livrar disso.

Eu sabia que Atena não aguentaria ficar longe de mim, mesmo com todos os problemas que eu causei, eu sabia que ela me amava. Ela era a única pessoa que me amava de verdade.

Depois de eu e Atena termos nos abraçado tanto, finalmente eu a deixei ir descansar.

Entrei no meu quarto e desatei a chorar, mas não era um choro de tristeza, e sim de alegria. Desde quando eu havia chegado aqui, era a primeira vez que eu me sentia segura.

Demorei no banho, dei-me até a liberdade de cantar debaixo do chuveiro.

Passado algumas horas, todos nós nos encontrávamos na sala de estar novamente. Gabe ainda continuava raivoso, mas fazia de tudo para não demonstrar isso.

– Tudo bem. – disse Sally com o sorriso de orelha a orelha. – Eu e Atena vamos sair, aproveitem o resto da noite!

– Posso ir junto? – perguntei com uma certa esperança na voz.

– Hum... Annabeth, querida. – disse minha mãe. – Sabe, faz tempo que eu e a Sally não nos vemos. A gente tinha planejado de fazer um programa de amigas, entende?

Tentei esconder a decepção. Eu não iria ficar com Gabe dentro dessa casa, mas tinha o Percy, Gabe com certeza não tentaria nada com ele aqui dentro.

Mas todas as minhas esperanças desapareceram quando Percy apareceu na escada todo arrumado. Gabe olhou para mim com um desejo disfarçado. O canto da sua boa se contraiu em um leve sorriso.

Estremeci.

– Pra onde você vai? – perguntei de imediato.

Percy me lançou um olhar de desdém.

– Não é da sua conta. – retrucou.

– PERCY! – Sally chamou a sua atenção.

Percy revirou os olhos e suspirou.

– Vou passar a noite com os amigos, Annabeth. – ele pronunciou o meu nome com desgosto. Atena continuou olhando duro para Percy. Ele suspirou de novo. – Quer vir?

– Quero! – disse sem pensar.

Atena deixou soltar uma risada cheia de insinuações. Limitei-me a olhar para ela.

– Espera um pouquinho, já volto. – disse eu já correndo as escadas.

Vesti um short rasgado com uma blusa vermelha de manga comprida, coloquei uma bota com cano curto em menos de 10 minutos e desci.

– Bati o meu recorde. – disse quando todos me olharam espantados.

– Sally, me diga qual é o seu segredo. – sussurrou Atena. – Tudo bem, divirtam-se!

Esperamos minha mãe e Sally saírem pra podermos ir embora.

Gabe me olhava com mais raiva. Ignorei-o e sai correndo da casa com um sorriso aliviado no rosto.

Entrei no carro de Percy que ligou o carro e saiu dirigindo com a cara fechada. Tentei puxar assunto.

– Desculpe por ter me auto convidado. – comecei. – Você pode me deixar em algum bar por aí, só queria ter uma desculpa pra sair.

– Ok. – ele disse inexpressivo.

Estranhei a sua frieza.

– Você está bem? – perguntei colocando a mão na sua coxa. Olhei deu um olhar de relance para a perna e eu tirei a mão. Eu hein.

– Sim e você? – ele perguntou.

– Estou ótima. – respondi aliviada. – Quero muito voltar pra casa.

– Hum. – ele respondeu. Fechei a cara.

– Qual é a sua, Percy? – indaguei. – Uma hora você está todo legal comigo e aí você fica agindo como um merda? Você tem problemas?

Percy bufou.

– Cala a boca. – ele disse. – Onde quer ficar?

Fiquei desapontada. Não esperava que ele fosse deixar eu ficar num bar sozinha.

– Qualquer lugar no seu caminho. – disse cabisbaixa e fiquei em silêncio depois disso.

Percy suspirou.

– Porque você quer tanto ir embora? – ele perguntou subitamente.

Pensei no que dizer antes de responder.

– Eu sinto falta do calor. – menti.

Percy levantou uma sobrancelha com ceticismo.

– Se você usasse roupas decentes não sentiria frio. – ele respondeu parecendo um pai chato que eu nunca tive.

– Está dizendo que eu me visto de forma indecente? – disse fingindo estar ofendida.

Percy esboçou um sorriso.

– Esse short tem menos de um palmo, meu bem. – ele disse e eu fechei a cara.

– Não me chame de meu bem, Cabeça de Alga. – disse batendo no seu ombro. – E em minha defesa, eu peguei as primeiras roupas que vi.

– Amhan, sei. – ele rebateu revirando os olhos.

– Babaca. – disse cruzando os braços na altura do peito.

Ele sorriu e voltou a olhar para frente.

– Sabe, você pode ir comigo se quiser. – ele disse me lançando um olhar rápido.

Apertei os lábios.

– Não quero atrapalhar seus planos só porque não tenho pra onde ir. – disse e corei. Como eu soava patética.

– Porque você está vermelha? – ele perguntou rindo.

– Eu soei como uma idiota. – disse gesticulando com as mãos.

– Não faz diferença. – ele disse. – Você soa como uma idiota pra mim o tempo todo.

– Outch! – disse ofendida e forcei um sotaque britânico. – Não diga isso para uma dama.

– Você? Uma dama? – ele perguntou cético. – E esse sotaque foi horrível.

– Ok, eu forcei um pouquinho. – disse revirando os olhos. – Sério, não quero ficar igual uma cachorrinha atrás de você. Além do que, tenho certeza que você quer ficar com uma garota hoje.

Percy desviou os olhos o que só deu certeza ao que eu disse.

– Viu? Eu disse. – falei dando de ombros.

– Eu poderia ficar com você. – ele disse me olhando maliciosamente.

Eu gargalhei.

– Seu safado. – disse revirando os olhos.

– Não diga que não gostou dos nossos beijos. – ele disse levantando as sobrancelhas com malícia.

– Você não quer só um beijo Percy. – disse séria.

– Você também não. – ele rebateu.

– Está perto de ultrapassar os limites, cabeça de alga. – disse ficando contrariada.

– Eu gosto de ultrapassar limites. – ele disse colocando a mão na minha coxa.

– Ugh, tira essa mão daqui, seu tarado. – eu disse dando um pulo. Ele gargalhou.

– É brincadeira, Annie. – Percy disse. – Relaxa.

Enrubesci e olhei pra fora da janela.

– Você pode me deixar ali. – disse apontando para um bar.

– Aquele ali não. – ele disse sério.

– Porque não? – indaguei curiosa.

– Galera da pesada. – ele disse. – Não é legal.

Bufei e me recostei no banco.

– Pra onde você está indo? – perguntei.

Ele não respondeu de imediato.

– Casa da Rachel. – ele disse. Fiquei surpresa.

– Ai meus deuses, você pega a Rachel? Credo Perseu. – respondi enojada. Ugh.

Ele revirou os olhos.

– Ela não é fresca como você. – ele respondeu.

– Ai que nojo Percy. – disse fazendo barulhos de vômito.

Ele riu.

– Você vai ficar aqui. – ele estacionou na frente de um bar. – Cuide da sua vida.

– Sua vida sexual deve estar horrível. – disse para perturbá-lo. – Você está obviamente sem opções.

– Tchau Annabeth. – ele disse e eu sorri pra ele. Saí do carro. Ele abaixou o vidro. – Quando quiser ir pra casa, pode me ligar.

– Você vai estar ocupado, meu bem. – eu disse sorrindo. Ele bufou.

– Só ligue que eu venho, ok? –ele disse.

– Divirta-se. – acenei e entrei no bar.

O bar era relativamente grande e tocava um rock leve ao fundo, porém o barulho de pessoas falando cobria parte da música. Sentei no bar e pedi uma vodca pra começar.

– Você tem idade pra beber? – o barman perguntou.

– Não. – respondi simplesmente. Ele deu de ombros e me deu a bebida.

Bebi de uma vez e minha garganta pegou fogo. Pedi bebidas mais fortes e bebi até ficar tonta. Dancei um pouquinho com um cara muito gato e dei meu telefone pra ele. Tinha certeza que ele não ia me ligar, mas quem se importa? Eu não.

Senti meu celular vibrar no meu bolso traseiro. Era uma mensagem de texto do Percy.

Tudo bem aí? – ela dizia.

Encontrei um cara muito gostoso. E aí? – digitei e mandei.

Sexo selvagem. – a mensagem chegou segundos depois.

Nojento. Eca. – mandei.

Haha. - chegou. Enfiei o celular no bolso e encontrei o cara de novo.


–Oi. – sorri maliciosamente pra ele.

– Olá. – ele disse educadamente. – Annabeth, certo?

Assenti. Engatamos uma conversa descontraída. Como estava meio bêbada nem sabia o que estava falando.

– Quer ir pra um lugar mais reservado? – ele perguntou subitamente.

– O que? – perguntei sem ouvir.

– Quer ir pra um lugar mais calmo? – ele perguntou de novo.

Sorri.

– Se você acha que eu sou do tipo que fica com caras desconhecidos, você se enganou companheiro. – eu disse. Ele sorriu e passou a mão no cabelo.

– Eu quis dizer pra conversar. – ele disse gesticulando com as mãos. – Tem uns bancos aqui na frente que devem servir.

Não parecia uma coisa ruim então aceitei.

Sai com ele e procurei o tal banco que ele falou. Ficava do outro lado da rua, atravessamos a rua e sentamos.

Ateamos uma conversa empolgante. Ele me fazia rir e eu estava me divertindo.

– Então, quantos anos você tem, Annabeth? – ele perguntou mudando o assunto que estávamos conversando.

– Isso é meio pessoal. – disse brincando.

– Menor de 18 então. – ele adivinhou com um sorriso misterioso. – E quando começou a... – ele não terminou.

– O que? – indaguei confusa.

– Você sabe... – ele disse sorrindo torto.

– Não sei do que está falando. – disse pegando discretamente o celular no bolso e tentando digitar as cegas uma mensagem pra Percy.

– Porque você está pegando o celular? – ele indagou. – Não está gostando da nossa conversa?

Levantei subitamente dando um passo pra trás.

– Eu preciso ir, meu amigo está vindo me buscar. – disse. – Foi legal conhecer você.

Seu celular começou a tocar e ele sorriu pra mim pedindo desculpas. Comecei a me afastar dele.

– Ela está comigo. – ele disse. Senti um frio percorrer a minha espinha e sem pensar duas vezes comecei a correr.

Enquanto corria, peguei o celular no bolso novamente e digitei sos pra Percy mas antes que conseguisse apertar em enviar, fui empurrada ao chão.

O cara que conheci no bar estava em cima de mim, segurando a minha cabeça no chão. Senti que machuquei um lado do meu rosto ao cair.

Ele colocou um pano grosso na minha boca, me impedindo de gritar e pegou o meu celular.

– Eu fico com isso. – ele disse. Nesse instante um carro parou ao nosso lado. Gemi de raiva e tentei gritar, porém sem sucesso.

O cara me carregou até o carro e me colocou no banco de trás. Ele sentou ao meu lado e fechou a porta.

– Você machucou-a. – ouvi a voz de Gabes no banco da frente.

– Ela correu muito rápido, não tive outra alternativa a não ser derrubá-la. – ele disse temeroso.

– Depois teremos uma conversa. – ele disse encerrando o assunto. Tirei o pano da minha boca.

O motorista começou a dirigir o carro rapidamente entre as ruas vazias e entrou pelo mesmo caminho cercado por florestas que eu já tinha visto.

Não. Não. Não. Como eu pude ser tão estúpida. Droga. O lado esquerdo do meu rosto ardia. Estava desconcertada. Não acredito no que estava acontecendo. Ele tinha me seguido, viu que eu tinha ficado sozinha. Merda. Eu deveria ter ido com o Percy.

Continuei calada. Não adiantaria falar, implorar ou mesmo gritar. Ele conseguiria o que queria, sempre consegue. Tentei reprimir as lágrimas de pânico mas não consegui.

Chegamos na mesma cabana de antes, ela estava do mesmo jeito de antes porém tinha mais um carro ali.

– Que carro é aquele? – perguntei sem conseguir me conter.

– Não se preocupe com ele. – Gabe disse inexpressivo. – Não tem nada haver com você.

Tiraram-me do carro pelos cabelos. Gritei de dor. Nesse momento, um dos capachos de Gabes saiu com uma sacola nos ombros. Senti minha cabeça girar, em parte pela bebida, mas a maior parte por reconhecer o que tinha naquele saco.

Havia um corpo lá dentro. O saco era transparente e as lâmpadas fluorescentes cintilavam no saco, refletindo o cabelo ruivo de uma menina. Ela devia ser da minha idade. Seus braços balançavam mole atrás do cara que a carregava.

– Ela... está... está...? – não consegui terminar.

– Uma pena. – Gabe disse dando de ombros. – Ela era uma das minhas favoritas.

Senti as minhas pernas ficarem bambas e cai de joelhos no chão. Alguém me segurou pelos cotovelos e me pôs novamente em pé. Vomitei nos seus sapatos e levei um tapa por isso.

– Não ouse bater nela novamente. – Gabe gritou para o cara que me segurava.

O cara me soltou confuso.

– Sinto muito por isso querida, eles não sabem quem é você e a sua importância. – ele disse segurando o meu queixo. Dei um passo pra longe dele.

Olhei para o corpo da garota que estava sendo colocado dentro do carro.

– O que aconteceu com ela? – perguntei temerosa. Não queria ter o mesmo destino.

– Um acidente. – Gabe respondeu sorrindo. - Ela conseguia me irritar mais do que você e era bem mais insignificante. No final das contas, tive que mata-la.

Cuspi na sua cara.

– Babaca. – gritei. – Pedófilo maldito.

Ele fez questão de me dar outro tapa e limpou o rosto com um lenço de seda.

– Leve-a para dentro e prepare-a. – ele disse para o capacho. Ele me carregou para dentro do chalé. Esperneando e gritando, entrei em pânico.

Ele tirou a minha roupa e amarrou meus braços na cabeceira da cama. Chutei-lhe o máximo que podia mas ele só riu e me apalpou.

Ele limpou o meu rosto com um pano com água fria e saiu do quarto sem dizer mais nada. Estava me sentindo como um rato preso numa ratoeira. Tentei livrar as minhas mãos mas foi em vão. Me sentia mais debilitada do que já tinha me sentido antes. Gritei inconsolável e solucei deploravelmente.

Logo, Gabe entrou no quarto e sem falar nada tirou a roupa.

– Achou mesmo que eu não daria um jeito? – ele disse pegando o meu rosto com as duas mãos, me obrigando a olhar pra ele.

– Porco. – gritei.

Ele riu e alisou meu corpo com suas mãos imundas. Senti meu estômago se revirar.

– Você está mais histérica que o normal hoje. – ele comentou alisando as minhas partes. – Adoraria saber o motivo.

Ignorei-o e foquei em olhar pra lâmpada no teto.

– Responda. – ele gritou ao pé do meu ouvido. – Eu adoro suas respostas ignorantes.

Continuei calada. Não perca a cabeça Annabeth, não perca.

Gabe rosnou irritado e me virou de costas quase torcendo meus ombros.

– É melhor assim. – ele disse. – Seu rosto está arruinado com esse machucado.

Senti o desespero passar por todo o meu corpo. Gritei o mais alto que pude e não consegui reprimir o choro. Eu tinha certeza que estaria segura com a minha mãe na cidade. Onde ela estava agora? Porque isso tinha que acontecer comigo? O que eu fiz pra merecer isso?

Meu desespero parecia dar mais prazer ao monstro. Fechei os olhos com força quando começou e gritei pedidos de socorro que nunca seriam atendidos. Senti a dor invadir a minha carne com intensidade e era insuportável.

Senti que estava perdendo a consciência. Não podia desmaiar. Não sei o que ele pode fazer comigo enquanto eu estivesse apagada. Tentei lutar contra a escuridão mas era praticamente impossível. E a dor era tanta. A cada estocada eu me sentia mais próxima da escuridão.

Até que finalmente parou. Senti as mãos do monstro no meu corpo novamente e me virando de barriga pra cima. Ele olhou pro meu rosto e sorriu de prazer.

– Eu mato qualquer um que se atreva a tocar em você como eu toco, entendeu? – ele disse segurando meu rosto entre o indicador e o polegar. – Eu mato.

– Chega. – implorei soluçando. – Chega, por favor.

– De jeito nenhum. – ele disse e recomeçou novamente. Continuei implorando baixinho, delirando com a dor e o pânico. Implorando para que acabasse...

Acabei apagando. Não sabia se havia passado segundos, minutos ou horas, mas havia acabado. Minhas mãos haviam sido soltas.Enterrei meu rosto nas mãos, ignorando a dor no lado esquerdo do meu rosto.

– Limpe-a e vista-a novamente. – o monstro disse.

Senti mãos me carregando novamente e em seguida, água fria na minha cabeça. O cara saiu sem dizer nada e voltou com as minhas roupas. Me esfreguei até ficar com a pele vermelha, querendo tirar qualquer vestígio dele em mim. Cambaleei até as minhas roupas e me vesti meio grogue. O cara veio me buscar novamente e me empurrou até o carro que eu tinha vindo antes. Gabe estava no banco do motorista e fumava um cigarro. Ele jogou o meu celular no banco de trás.

Peguei o celular com os dedos tremendo e vi que havia 3 ligações do Percy e 5 mensagens de texto.

– Porque ele ligou tantas vezes pra você? – Gabe perguntou inexpressivo.

– Tínhamos combinado que ele ia me levar pra casa. – eu disse com a voz rouca.

Gabe rosnou alto.

– Ele o que? – disse acelerando o carro ainda mais. – E você não me disse isso?

– Não. – respondi inexpressiva.

– Recomponha-se então. – ele disse dirigindo rapidamente e voltando pelo caminho que viemos. – Mande uma mensagem pra ele.

Olhei para fora. Tínhamos voltado à cidade. Minha mente estava vazia. Ouvia apenas um zumbido no fundo dos meus ouvidos.

Pode vir me buscar? – digitei e mandei.

Eu estou a caminho. Porque não respondeu antes? – chegou logo em seguida.

Botei o celular no bolso sem responder a última mensagem e mordi os lábios segurando as lágrimas. Milhares de perguntas passando pela minha cabeça. Porque eu? Por quê?

Gabe parou uma rua atrás do bar onde eu estava. Sai do carro correndo sem dar a chance dele dizer alguma coisa. Corri até estar na frente do bar. Abracei os meus braços. Estava com tanto frio.

Alguns minutos depois, vi o carro de Percy parar do outro lado da rua. Ele saiu do carro e atravessou a rua, procurando por mim. Quando me viu, franziu a sobrancelha preocupado.

– O que aconteceu com o seu rosto? – perguntou. Abracei-o sem dizer nada e chorei no seu peito.

Ele retribuiu o meu abraço meio confuso, mas não falou nada.

– Vamos para o carro, você está congelando. – ele disse passando o braço pelos meus ombros e me conduzindo até o carro.

Entramos no carro e Percy ligou o aquecedor.

– O que aconteceu com você? – ele perguntou segurando o meu queixo e olhando o ferimento.

– Eu caí. – menti. Ele me olhou com raiva.

– Porque você não me diz a verdade? – ele perguntou. – Eu posso arranjar um jeito de ajudar.

– Eu não posso falar. – gritei e enterrei a mão nos meus cabelos. Sussurrei. – Eu não posso...

– Por quê? – ele indagou. – Quem te fez isso?

– Eu não posso falar. – sussurrei novamente. – Só me leve pra casa, por favor.

– Mas Annabeth... – ele tentou de novo.

– Eu quero ir pra casa! – gritei e desatei a chorar. – Que droga.

Percy dirigiu até a sua casa em silêncio. Estacionou na frente de casa. Não havia nenhum carro ali, ou seja, assim como Atena e Sally não tinham chegado, Gabe também não.

Entrei em casa e corri para o meu quarto largando as minhas roupas e indo pra debaixo do chuveiro. Chorei mais um pouco e me flagelei por ter permitido isso.

Sai do banheiro e vesti a blusa mais grossa que tinha e uma calça de moletom, além de meias e luvas grossas. Me enrosquei como uma bola embaixo do lençol grosso e gritei contra o travesseiro. Gritei até não ter mais voz.

– Annabeth. – ouvi Percy me chamar da porta do quarto. Dei um pulo e limpei as lágrimas com a costa da mão. – Posso entrar?

Assenti envergonhada. Ele não podia me ver assim. Percy sentou ao meu lado na cama e segurou a minha mão. Olhei para a sua mão na minha e em seguida para o seu rosto.

– O que está acontecendo com você? – ele perguntou.

Desviei os olhos para as nossas mãos novamente e não respondi.

– Eu posso te ajudar. – ele disse. – Só me diga como.

– Me ajude não questionando. – respondi com a voz rouca.

Percy suspirou.

– Eu me importo com você, sabia? – ele disse apertando a minha mão. Estremeci quando seu polegar tocou o meu pulso.

– O que foi? – ele disse olhando para minhas mãos e viu a marca vermelha das cordas em que eu fui amarrada. Ele arregalou os olhos e ia perguntar novamente.

– Não pergunte. – implorei. – Por favor Percy, não pergunte, não questione, não deixe as coisas mais complicadas.

– Eu posso... – ele tentou novamente.

– Não Percy. – chorei. – Você não pode me ajudar e as únicas pessoas que poderiam me ajudar não podem mais, eu estou sozinha.

Percy me puxou para o seu colo e me abraçou. Sabia que ele estava confuso, mas não fez mais nenhuma pergunta.

– Espere um momento. – ele disse e saiu correndo do quarto. Esperei confusa. Minha mente estava muito confusa. Em relação a tudo.

Percy voltou rapidamente com uma caixa de primeiros socorros na mão. Ele cuidou dos meus machucados sem dizer nada.

– Obrigada. – disse quando ele terminou.

– De nada. – ele respondeu. Ficamos em silêncio por um momento.

– Percy... – comecei sem saber o que dizer. Ele olhou pra mim ansioso. Coloquei a mão no seu rosto e me aproximei. Encostei meu lábios nos seus por um momento e fechei os olhos. Percy retribuiu lentamente.

Meu coração batia forte. Eu precisava daquilo. Precisava de algo real. Algo que não fosse forçado. Que não me fazia ter medo. Mas eu ainda sentia medo. O medo nunca iria me deixar, não importa o que aconteça. Afastei-me de Percy e coloquei uma mecha de cabelo atrás da orelha.

– Você pode dormir aqui? – perguntei sem olhar pra ele.

Percy assentiu.

– Vou pegar minhas coisas. – ele disse saindo do quarto e voltando logo depois com um travesseiro e um lençol grosso. Ele colocou no chão ao pé da minha cama e deitou. Deitei na cama e abaixei a minha mão, ele a pegou e entrelaçou na dele. A sensação de que eu não estava sozinha era aconchegante e convidativa.

– Boa noite Percy. – disse fechando os olhos.

– Durma bem, Annie. – ele respondeu.

Caí no sono no mesmo instante.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado porque eu virei a madrugada escrevendo o capítulo e agora vou passar o sábado com cara de zumbi. kkk
Viram o trailer que saiu de O Mar de Monstros? Demais né? Já tava na hora.

É isso, me digam nos reviews se curtiram, críticas também são bem vindas. Beijos da mila.

Recado da quel: obrigada Nenraug pela recomendação.