Eu estava na praia. O vento soprava forte bagunçando meu cabelo e meus pezinhos de criança podiam sentir os grãos de areia muito clara entre os dedos. O mar, um pouco a minha frente era muito verde e o sol estava se pondo, tingindo o céu em um tom acobreado.

– Bella? – minha mãe chamou – É hora de irmos, querida.

– Ah mãe! – reclamei com minha voz infantil. – Vamos ficar só mais um pouquinho! – pedi fazendo bico.

– Um último mergulho! – ela avisou séria, mas logo sorriu deixando claro que estava tudo bem.

Saí correndo para o mar. No caminho abri os braços. Em minha mente de criança eu imaginava poder voar para aquele céu e só depois cair, mergulhando naquele mar.

Eu pulei de olhos fechados para onde as ondas batiam.

A sensação fresca, mas não era água me envolvendo. Eu estava sendo abraçada. Abri os olhos e a cor cobre já não vinha mais do céu e o verde já não vinha mais do mar. Era cabelo e olhos. Era Edward.

– Olá, linda. – ele disse sorrindo pra mim.

– Senti saudades. – falei envolvendo meus braços de adulta em volta dele.

– Não tinha necessidade. – ele disse passando suas mãos por mim de forma consoladora – Eu estava aqui o tempo inteiro.

Abri os olhos e me vi na nossa cama, no nosso quarto. Fora apenas um sonho. Ao me virar de lado vi Edward sentado na beirada da cama com uma bandeja cheia de guloseimas em sua frente. Em suas mãos estava um delicado ramo de flores cor de rosa.

– Bom dia. – falei, mas minha voz saiu estranha.

– Me perdoa? – ele falou de forma direta.

Com isso, eu comecei a chorar.

– Bella? – eu o tinha assustado, isso era óbvio. – Por favor, não fica assim. Eu faço qualquer coisa para não te ver assim, só por favor, não chore.

Com isso eu me joguei em seus braços, chorando copiosamente.

– Meu amor, por favor, não chore. Por favor, eu faço qualquer coisa para não te ver chorar, qualquer coisa para você me perdoar. Qualquer coisa! – ele falava.

– Eu queria que você não tivesse motivo para pedir perdão. – falei e o senti enrijecer.

Ele respirou fundo e ficou apenas acariciando meu cabelo enquanto eu continuava soluçando em seu peito.

– Eu também, meu amor. – ele falou.

– Eu queria que nós estivéssemos bem, mas nós não estamos, estamos? – perguntei.

– Nós vamos ficar bem. Eu prometo. – ele beijou o topo da minha cabeça – Você me perdoa?

– Não sei...  – minha intenção era fazer charminho, mas ao ver sua expressão, logo desmenti – É claro que te perdoo.

– Ah! Graças a Deus! – ele me abraçou mais apertado – Eu te amo, Bella. Mais do que você pode imaginar.

– Eu também te amo, Edward. Mais do que eu já pude um dia imaginar amar alguém. – e com isso, nós estávamos bem.

Ali mesmo tomamos nosso café da manhã entre beijos, carícias e declarações.

Ele me entregara as flores que trouxera me explicando que costumavam ser minhas preferidas. De fato, eu adorei, mas cheguei à conclusão de que teria adorado qualquer coisa que ele trouxesse.

– Então, o que quer fazer hoje? – ele perguntou.

Eu queria conversar sobre ontem à noite. Eu queria perguntar sobre o jantar, sobre aquelas pessoas e, principalmente sobre a atitude dele, mas escolhi não estragar o clima, optando pelo segundo tópico em minha lista de prioridades.

– Eu queria ir a um lugar. – falei já ansiosa por aquilo há algum tempo.

– É só falar. Qualquer lugar que você quiser! – ele disse já animado com a ideia de realizar alguma vontade minha.

– Eu queria conhecer o lugar onde trabalho. – falei.

Novamente, vi sua alegria vacilar, mas ele não disse nada a respeito.

– Certo. Se arrume e vamos para lá. – ele falou depois de respirar fundo.

Assim que me levantei da cama ele me puxou, fazendo com que eu caísse em seu colo e me beijou de forma muito intensa.

– Você é a minha vida, Bella. – ele falou me olhando nos olhos – Mantenha isso em mente, certo?

– Manterei. – respondi sorrindo e selando minha promessa com um beijinho em seus lábios.

Depois disso, fui me arrumar.

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Ali estávamos nós. Em frente àquele prédio enorme e, ao mesmo tempo em que eu queria entrar e conhecer, eu queria sair correndo.

– Pronta? – perguntou Edward.

– Não, mas vamos lá. – ele riu e apertou minha mão.

Eu me sentia como uma criança indo para a escola no primeiro dia de aula.

Assim que entramos fiquei impressionada com as pessoas. Andavam de um lado para o outro, bem agitadas. De certa forma, eu gostei daquilo.

– Bella! – ouvi meu nome ser chamado – Fico tão feliz que você esteja bem!

Uma moça baixinha veio em minha direção. Sua pele bem clara, contrastando com seus olhos e cabelos muito escuros.

– Obrigada. – respondi um tanto sem jeito.

– Bella, essa é Bree. Vocês trabalham juntas. – Edward falou.

– Sim, eu sou sua assistente. – ela falou sorridente.

– Oh! – foi o que eu pude dizer.

– Venha, você não quer conhecer o jornal? – ela perguntou.

– Sim! – respondi instantaneamente.

Com isso ela foi me puxando e fomos em direção aos elevadores. Corremos para conseguir pegar o que ainda estava no térreo, quase cheio. Nós duas entramos, mas Edward ficou para trás.

– Eu espero aqui embaixo. – ele falou e eu já ia contestar, quando as portas começaram a se fechar e ainda pude ouvi-lo dizer – Não tenha pressa! 

Bree me levou primeiro à minha sala. Não era enorme, mas era bem espaçosa, bem decorada e bem dotada. As cores branco e roxo se sobressaíam, mas havia post its coloridos por todo lado.

Ela me deu um minuto para me sentar em minha cadeira e olhar minhas coisas. Estava muito bagunçado e não pude deixar de sorrir com aquilo.

Depois andamos pelo prédio inteiro e ela me levava à salas e mesas de pessoas conhecidas. Tentei prestar atenção em todas as curvas, portas e escadas. E tentei, principalmente, não me perder de Bree, pois seria extremamente vergonhoso ter que perguntar a um conhecido desconhecido onde ficava minha sala.

Todas as pessoas às quais Bree me levou sabiam do meu acidente eforam muito gentis em se apresentar para mim novamente.

Fomos inclusive à sala da minha chefe e, por um momento, me peguei com muito medo de falar com ela.

– Bella! Seja bem vinda, querida! – falou minha chefe assim que entramos na sala dela – Você não sabe o quanto faz falta!

Ela se levantou e veio me abraçar. Correspondi um tanto sem jeito.

Quando nos soltamos pude observá-la. Ela parecia ter uns quarenta anos. Tinha um rosto muito bonito, com lábios bem destacados. Cabelos na altura dos ombros, cheios e com brilho lindo.

A decoração de sua sala tendia para o vermelho e, por algum motivo, isso me fez enxergá-la como uma pessoa de personalidade forte.

– Ah! Quase me esqueci, eu me chamo Steph. – ela falou sorrindo.

Percebi que nossa relação era boa. Não parecíamos ter intimidade, mas provavelmente nos dávamos bem.

– Oi! – falei – Obrigada por me receberem aqui hoje. Sei que devo ter atrapalhado muita coisa.

– É claro que não, querida! É bom você estar aqui. Quanto mais cedo você se recuperar por completo, melhor será. – ela falou.

– Bella, você não gostaria de voltar mais vezes? Você poderia passar o dia aqui, assim você tenta lembrar do ritmo das coisas no trabalho... Não sei, talvez possa ajudar. – Bree opinou.

– Não sei... Eu poderia? – perguntei olhando para Steph.

– Mas é claro! Eu tenho uma proposta! E se você viesse como estagiária? Nós te ensinaríamos tudo o que você deve fazer. Assim, você vai reaprendendo. – ela propôs.

– Isso seria fantástico! – falei realmente muito feliz.

– Ah, que bom, então. – ela falou com um sorriso muito grande – Seja muito bem vinda de volta.

– Obrigada. – agora meu sorriso de retorno era mais sincero e mais tranquilo.

– Pronta para irmos? – perguntou Bree.

– Sim. – respondi.

– Eu acompanho vocês. – Steph falou e abriu a porta para sairmos.

– Ah! Esqueci meu celular na sua sala, Bella. – Bree falou quando estávamos perto do elevador.

– Tudo bem, eu desço sozinha. – falei.

– Vamos passar lá, depois nós todas descemos. – Steph falou.

Fomos então para minha sala. Dessa vez eu já sabia me guiar melhor para onde era o que.

Ouvi diversas vozes gritarem em uníssono assim que abrimos a porta.

– SEJA BEM VINDA DE VOLTA, BELLA! – ao passar o susto, vi todos os que eu havia cumprimentado mais cedo reunidos ali.

Havia uma mesa improvisada com vários tipos de salgadinhos e refrigerantes em cima. Havia um bolo também e, na parede logo atrás, uma grande faixa onde estava escrito “Bem vinda de volta, Bella. Trabalho dobrado te espera!”

Ri com eles e celebramos juntos. Eu havia sido apresentada para eles há menos de uma hora e já me sentia a vontade ali. De alguma forma, bem lá no fundo, eu sabia que estava no lugar certo.

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Mais tarde, quando descemos, encontrei Edward sentado em uma poltrona na recepção. Ele parecia entediado, mas levantou-se assim que me viu.

Corri para ele e ele me recebeu de braços abertos.

– Você deveria ter subido! – falei com ele.

– Não queria ficar de penetra. – ele riu. – Então, foi tudo bem?

– Foi maravilhoso! – respondi animada.

– Então, te vemos segunda? – ouvi Bree perguntando logo atrás de nós, com Steph ao seu lado.

– Com certeza! – respondi.

Nos despedimos delas e Edward, como sempre, muito educado, esperou elas estarem longe para perguntar.

– Você pretende mesmo voltar segunda? – ele claramente não estava alegre com a ideia.

– Sim, vou aprender de novo tudo o que faço aqui. – respondi tentando mostrar a ele como seria bom para mim.

– Você não prefere esperar? Quando lembrar de tudo isso terá sido desnecessário. – ele falou.

– Vai ser bom para eu lembrar. Vai ser bom para mim. – falei tentando convencê-lo.

– Certo. – ele concordou e não pude evitar saltar e abraçá-lo.

Rimos juntos e fomos andando de mãos dadas em direção à porta.

– Almoço? – ele perguntou.

– Sim! Quero lasanha! – falei animada.

Estávamos quase na porta quando um homem parou em minha frente.

– Meu Deus! Bella, eu não acredito! – a animação dele ao me ver era palpável.

Olhei para Edward, buscando alguma dica de quem era aquele homem, mas Edward não olhava para mim, e sim para ele.

Eu não tinha ideia do que estava acontecendo, mas julgando pela postura rígida que Edward adotou e pelo modo como ele me envolveu com seus braços, eu sabia que não era algo bom.