Duas semanas se passaram e eu já estava saudável. Contava os minutos para que aquele maldito jatinho chegasse, esperava junto com os demais integrantes da banda, claro que eles não o esperavam da mesma forma como eu. Quando chegou, meu coração disparou quando o vi sair. Ao nos ver, acenou e abriu aquele sorriso radiante. Enquanto voltávamos do aeroporto ele contava animadamente sobre a viagem, falava que tínhamos perdido a diversão.

Então quando chegamos ao estúdio reparei o quão diferente estava, parecia que só eu havia reparado então ignorei.

Passaram-se dois dias e ele continuava a falar o quão atarefado estava, que ainda não daria para me encontrar a sós.

Quinta-feira.

 Nao era o único que não havia chegado ainda ao ensaio. Tora falou então que iria ligar para ver se havia acontecido algo. Eu conseguia ouvir a voz trêmula do Nao através do telefone.

- De-desculpe por não ter conseguido avisar antes, mas é que...minha avó faleceu ontem a noite e me avisaram hoje de manhã.

Tora empalideceu e sem esperar muito disse numa voz séria e decidida.

- Onde você está?...certo. Estou indo agora.

Ele desligou o celular, olhou para nós três, disse a tragédia rapidamente e disse que iria socorrer o pequeno Nao.

Sexta-feira.

Estávamos no enterro da avó do Nao. Ele chorava no ombro do Tora, eu apenas observava, entendia toda a situação... mas eles estavam tão próximos que fiquei enciumado, sabia que era egoísmo da minha parte, mas não podia conter esse sentimento. Claro que Tora havia percebido isso, então me encarou, eu desviei o olhar e fui em direção ao banheiro.

Minutos depois lá estava ele, me esperando fora do banheiro. Ele respirou fundo e começou a falar.

- Tenho que te contar, isso está me atormentando já. Porque eu nunca tenho coragem, mas se continuar vai ser pior... é que eu e o Nao ficamos juntos e...

Afirmei uma vez com a cabeça, então segundos depois me via correndo pelo cemitério, havia começado a chover, quando senti os pingos caírem sobre meu rosto, parei de correr. Andava até a saída, mas parecia tão distante naquele momento. Um turbilhão de emoções passou por mim e era como se eu soubesse desde o princípio, tava na cara.

Saga parecia que tinha um detector, era incrível como ele sempre aparecia nas horas em que mais precisava. Ele sem dizer nada, simplesmente me abraçou. Eu deixava as lágrimas escorrerem pelo rosto junto com as gotas que caiam do céu, era como se estivesse chorando comigo.

Sábado.

Parecia que já não tivesse sofrido o suficiente, quando cheguei ao estúdio me deparei com Tora beijando o Nao. Segurei para não chorar e então entrei. Durante o dia, quando via que Tora vinha falar comigo, eu tentava fugir. Só que em um momento, Nao resolveu vir falar comigo sobre alguma coisa, que nem me lembro agora. Só sei que ele começou a falar animadamente o que havia acontecido há algumas horas atrás com Tora, que ele o amava e nunca imaginaria que era recíproco. Meu coração parecia ter parado, sorri forçadamente, não conseguiria sentir felicidade por isso, mas ele não sabia, não o culpo por isso. Falei então que precisava urgente ir ao banheiro para conseguir escapar dali, aquilo me sufocava de uma forma inexplicável.

Quando reparei, já estava em meu quarto, abraçando as minhas pernas e chorando como nunca havia chorado. E aqui permaneci até agora.

Domingo.

Ouvi um estrondo, alguém batia na porta do meu quarto, cansado de tanto barulho resolvi abrir.