O enorme espelho do meu quarto me dava uma visão privilegiada de todo o meu corpo. E eu, analisava minuciosamente o vestido branco e rodado que eu ganhara de presente de minha tia Jenna. Eu não estava satisfeita com o que via.

Meus cabelos lisos estavam um pouco ressecados naquela noite e meu rosto estava sem vida. Eu parecia uma morta-viva. E acredite: Eu NÃO estava exagerando. Suspirei derrotada em frente ao espelho, calçando um sapato de salto agulha e eu temi que meu pouco equilíbrio me deixasse na mão a qualquer momento.

Coloquei uma maquiagem bem pesada para que ao menos pudesse disfarçar minha palidez e minhas olheiras horríveis. Não adiantou muito mas pelo menos dava para disfarçar.

Eu estava frustrada, e foi por isso que me perguntei onde estava aquela Elena confiante de antes que não precisava de muita maquiagem para se sentir bonita e que não tinha medo de andar de salto agulha.

Aquela Elena parecia não existir mais.

Despertei dos meus devaneios quando ouvi a buzina do carro de Caroline soar estridente. Desci as escadas cautelosamente, me despedindo de Jenna e Alaric.

Entrei no carro saudando minhas duas melhores amigas. Caroline estava animada como sempre já Bonnie, parecia estar bem desanimada até mais desanimada que eu, devo ressaltar.

Forcei um sorriso tentando me convencer de que tudo estava bem, mas eu sentia um vazio enorme em meu peito que eu achava que jamais poderia ser preenchido.

Chegamos ao Mystic Grill que estava lotado. Um d'j animava a galera ao som de Good girls go bad e eu me lembrei de como eu amava dançar aquela música.

Olhei para as minhas amigas: Caroline sorria animada. Já Bonnie, parecia se perguntar o tempo todo o que ela fazia ali, especialmente no meio da semana.

– Meninas, vocês estão parecendo zumbis. Animação! - Caroline chacoalhou as duas mãos tentando nos animar. - Precisamos de diversão. Precisamos dançar e esquecer os problemas. - Talvez dançar fosse mesmo me fazer esquecer das coisas (pelo menos temporariamente).

Eu estava tão angustiada que a qualquer momento era capaz de que eu começasse a chorar. O que estava acontecendo comigo?

– Talvez dançar seja uma boa idéia! - Sugeri para Bonnie que parecia concordar com a idéia.

– Então vamos dançar! - A morena disse por fim.

Fomos para a pista de dança decididas a não pensar em nada além da música que tocava.

Eu mexia meus quadris para lá e para cá conforme as batidas da música se emolduravam ao meu corpo. As meninas também dançavam animadas e foi aí que Matt abordou Caroline que o olhou surpresa e confusa. Ele falou algo em seu ouvido e ela sorriu, segurando sua mão e o puxando. Ela se virou para nós e deu uma piscadela enquanto eu e Bonnie trocávamos olhares cúmplices.

Logo, Jeremy aparecera também, então, cutuquei Bonnie apontando na direção do meu irmão logo em seguida.

– Vai lá falar com ele! - Incentivei-a.

– Mas você vai ficar sozinha, Elena.

– Eu estou bem, vou ficar dançando por aqui mesmo. Vá tranquila.

– Tudo bem. Qualquer coisa me chame.

– Pode deixar! - Fiz sinal positivo com o dedo polegar enquanto via Bonnie ir conversar com meu irmão, que sorria abertamente para ela.

Voltei a dançar mais empolgada que antes quando ouvi a música "You make me feel" preencher meus ouvidos.

Nem percebi que estava sorrindo enquanto as batidas da música me deixavam cada vez mais contagiada pelo seu ritmo. Eu fazia passos, rodava, mexia meus quadris constantemente. Quando dei uma outra rodada, encontrei um par de olhos azuis que eu conhecia muito bem. Eram os mesmos olhos que perseguiam meus sonhos mais profundos.

Damon estava parado, me fitando com um copo de whisky na mão. Acho que ele percebera que eu o tinha visto, pois ele vinha em minha direção lenta e sorrateiramente e logo, uma nova música começara a tocar.

Bleeding love.

– O que faz aqui Damon? - Perguntei um pouco confusa levando em conta de que ele nunca fora gentil comigo. Nem em meus sonhos, onde ele me atacava sem remorsso ou pena.

– O mesmo que você, me divertindo. - Ele deu um passo a frente, deslizando uma de suas mãos pelo meu braço, me puxando pela mão e com a outra, ele me puxava pela cintura, diminuindo a distância de nossos corpos, iniciando uma dança lenta.

As luzes coloridas se misturavam entre nós e olhar dentro de seus olhos novamente foi o meu maior erro. Me fazia querer mergulhar dentro deles e desvendar seus mistérios.

– Você dança bem... - Dei um meio sorriso tentando controlar a minha respiração.

– Eu sei. Sou muito experiente, Elena. - Ele deu seu famoso sorriso torto.

– E modesto também. - Brinquei. - Porque está me tratando bem?

– Não sei, talvez eu seja bipolar, ou talvez não, quem sabe...

– Se você não sabe, quem irá saber?

– Talvez não haja uma resposta para isso. Já pensou nessa possibilidade, Elena? - Ainda estávamos falando da bipolaridade do Damon ou não?

– Eu não concordo! Sempre tem uma resposta, Damon. Sempre. - Ficamos calados por alguns segundos enquanto Damon me rodava pela pista de dança e pela primeira vez eu me sentia bem. Eu sorria enquanto Damon me conduzia pela dança.

Eu nem parecia aquela Elena desanimada e angustiada de antes. O vazio que eu sentia tinha evaporado totalmente.

– Posso interromper a dança um instante? - Stefan apareceu em nossa frente com um meio sorriso no rosto e pelo canto do olho, pude ver Damon revirar os olhos.

– Você já interrompeu, irmãozinho. - Damon respondeu totalmente debochado.

– Eu só queria me apresentar formalmente para você. - O olhar do loiro pousou em mim. Tá, ele era bonito mas olhando Damon e Stefan lado a lado nem preciso dizer quem ganha no quesito beleza não é?

– Ah eu sou Elena Gilbert.

– Prazer, Elena. Sou Stefan Salvatore. - Ele estendeu a mão e eu a apertei em um leve cumprimento.

– Sou Stefan Salvatore. - Damon fez uma vozinha ridícula, debochando do irmão descaradamente.

– Não ligue para o meu irmão. Ele adora piadas. - Os dois trocaram um olhar nada gentil.

– É, eu percebi. - Dei uma risadinha.

Então, de repente, as luzes do lugar se apagaram totalmente e a música parou de tocar. Dei um grito assustado que se misturou com os gritos de outras pessoas.

Subitamente, senti um cheiro forte de fumaça e percebi tarde demais, que o Mystic Grill pegava fogo. Uma explosão aconteceu e com o baque, fui atingida, sendo arremessada longe.

– Elena! - Pude ouvir a voz de Damon chamar por mim mas eu não tinha forças para responder. Minhas costas doíam pois me choquei contra uma parede e pude sentir minha cabeça latejar.

Logo, vi o sangue escorrer pela minha testa.

Damon narrando:

Elena estava ferida e precisada da minha ajuda. Eu tinha que cuidar dela e protege-la com a minha vida.

– Stefan, procure o maldito que fez isso. - Meu irmãozinho prontamente atendeu-me, correndo para fora do Grill.

As pessoas estavam desesperadas, querendo sair e dificultavam a minha busca pela Elena.

Quando eu estava chegando perto de encontra-la, um homem me puxa pelo braço bruscamente. Era um vampiro. Ele usava um casaco de capuz azul escuro em sua cabeça.

– Junte-se a nós para destruir esta raça maldita! - Gritou o vampiro. Eu sabia exatamente do que ele estava falando e que ele se referia a Elena.

– NUNCA! - O peguei pelo colarinho de seu casaco.

– Então você verá Elena sangrar até a morte. - Esse comentário me fez perder totalmente o controle e quando dei por mim, o atirava em cima de uma mesa. Quebrei um pedaço de uma cadeira de madeira, quase igual a uma estaca. Saltei sobre o maldito enfiando a estaca em seu coração.

Percorri meus olhos pelo lugar em chamas que se encontrava quase vazio e vi Elena, quase desmaiada e sangrando em um canto qualquer.

Sem mais delongas, corri até ela segurando seu rosto com minhas mãos, tentando fazê-la permanecer acordada.

– Elena, Elena. Você está bem? - Os lindos olhos amendoados de Elena abriram-se um pouco, revelando que ela estava prestes a chorar e isso apertou meu coração de uma forma que aflorou meu lado humano.

Elena narrando:

Olhei para os lindos olhos azuis preocupados de Damon e por um momento me esqueci completamente da dor que eu sentia. O cheiro de fumaça ficava cada vez mais insuportável.

– Não muito, mas vou ficar se você me tirar daqui. - Formular esta frase foi mais difícil do que eu pensei.

Olhei novamente nos olhos de Damon e quase me lembrei de algo do meu passado mas antes que eu pudesse de fato visualizar a lembrança, a voz de Damon me desperta, me trazendo de volta ao Grill.

– Ah, é claro. - Ele me pegou no colo de forma delicada e eu me senti confortável em seus braços. Ele me colocou em seu carro, me tirando dali com certa pressa.

Meu celular tocara logo em seguida mas Damon o tirou de mim antes que eu pudesse protestar. Ele colocou um pano sobre a minha cabeça ensanguentada.

– Celular da Elena. - Damon atendeu meu celular e eu pude ouvir a voz de Caroline soar histérica do outro lado da linha. - Ela se machucou mas estou a levando para casa. - Ele me deu uma breve olhada sorrindo de canto. - Não se preocupem, ela vai ficar bem. Beijinhos. - Caroline e Bonnie estavam juntas. Consegui constatar isso pois Damon se dirigiu a Caroline no plural antes de desligar o telefone.

– Quer que eu te leve a um hospital? - Ele me olhava preocupado novamente.

– Não, não precisa! Jenna pode cuidar de mim, não se preocupe. - Dei um meio sorriso.

– Damon, essa explosão... Porque só eu fui atingida? Quero dizer, pode ser só coincidência mas eu podia jurar que ouvi alguém dizendo: "Elena tem que morrer". - Tirei o pano ensanguentado de minha cabeça percebendo que parara o sangramento. Damon me fitou surpreso por um tempo antes de responder.

– Você pode ter delirado. Inalou muita fumaça, bateu a cabeça...

– Eu nem estava inconsciente Damon! - Me remexi no banco do carro e percebi que as minhas costas não doíam mais. - Que estranho... Minhas costas não doem mais e minha cabeça parou de sangrar. - Franzi o cenho.

– Elena, isso é um milagre! - O idiota não perdia a chance de debochar.

– Não seja idiota! Sei que você esconde muitos segredos, Damon e eu vou descobri-los. - Olhei-o desafiadoramente.

– Um "obrigada Damon" seria suficiente.

– Obrigada, Damon. Estou de olho! - Ele deu uma gargalhada com minha frase final. Saí do carro um pouco atordoada.

Cheguei em casa encontrando Jenna e Jeremy aflitos.

– Oh, que bom que você chegou! - Jenna respirou aliviada ao me ver e Jeremy também.

– É, foi um longo dia. - Eu estava frustrada. - Se não se importam, eu vou dormir. O dia hoje foi frustrante. - Os dois deram gargalhadas e eu subi para o meu quarto, indo tomar banho e pensando na voz em minha cabeça, do Damon me salvando e eu quase me lembrando de coisas que estavam esquecidas em minha mente.

O que será que eu não me lembrava? Seja lá o que for, sei que o Damon está envolvido nisso. Muito envolvido.

Damon narrando:

– Alô, Stefan? Conseguiu farejar o vampiro?

- Não, eu consegui farejar um mas ele já tinha ido.

– DROGA! Eu matei um amiguinho dele que entrou no meu caminho.

– Eles atacaram rápido demais. Como está a Elena?

- A levei para casa agora pouco. A transformação está começando. Seus machucados se curaram rapidamente e ela está muito desconfiada. Tive medo de que ela se lembrasse de algo.

– Você sabe que não pode contar nada a ela agora não sabe?

– Mas é claro que eu sei Stefan! Sou eu que devo protegê-la.

– Eu sei Damon. Olha, vou desligar. Tchau.

– Tchau.

Cheguei em casa com a certeza de que seria difícil manter a Elena longe da verdade por muito tempo.