– Pronto. Agora vê se toma mais cuidado com esse braço. Ainda precisa fazer quase tudo com o outro.

O médico deveria ter uns 30 anos, mas era lindo e super simpático. Via uma aliança de casamento em sua mão esquerda.

– Mas com o tempo voce se acostuma. Que idéia foi essa de tomar banho de chuva?

– Eu não resisti.

– poderia ter estragado o gesso. Ainda bem que já tava no ponto de tirar.

– Obrigada doutor. Vamos Isa. – Cebola disse quando saímos do consultório.

– Por que voce ficou sério? Agora a pouco tava fazendo gracinha comigo.

– Voce ficou babando pelo médico, só isso.

– hahahahahahahaha. Voce com ciúmes, Senhor Cebolinha?

Ele me puxou pra perto dele, com sua mão em minha cintura e a outra tocando meu rosto. Foi muito rápido – Eu estou com ciúmes, por que voce é minha, e de mais ninguém.- ele me deu um beijo ardente no corredor do hospital. Eu me afastei dele, e saí andando de vergonha das pessoas que estavam nos encarando.

– O que foi?

– Não precisava ter me beijado daquele jeito no meio do hospital, todo mundo ficou olhando.

– Eu só queria mostrar o quanto te amo.

– O medico é casado.

– E como sabe disso?

– Pelo anel de casamento enorme na mão dele, só por isso.

Continuamos conversando mais um tempo e depois fui na casa da Monica, tinha que conversar com ela. Entrei no seu quarto e comecei a contar tudo o que sentia pelo Cebola, desde o primeiro dia que o vi, até o dia que ele se declarou pra mim, contei também pra ela tudo o que ele me dissera sobre ela, que não queria magoá-la, mas que não podia ficar com ela gostando de mim.

– Isa, eu entendo. O Cebola foi um amor de infância, agora eu entendo o que ele sente por voce.

– Me desculpa por não ter te contado antes como ele mexia comigo?

– É claro que sim, amiga. E foi graças a voce que agora eu to com o Do Contra.

– Que bom que voces estão juntos, ele me disse que gostava de voce desde criança.

– Sério? Que fofo!

– Ai, pra que que eu fui falar isso? – via a Monica rolando na cama abraçada a um travesseiro, sonhando com o DC.

– Vamos na Magali, ela queria nossa ajuda pra arrumar as malas, lembra?

– Ah, claro, vamos.

Ficamos o domingo todo ajudando a Magá a arrumar as coisas pra ela levar pro hospital, já que ela tava perto de ganhar o neném. Depois de algumas semanas o bebê nasceu: era uma linda menina de cabelos castanhos, como o do pai, e o rostinho pequeno como a mãe. Linda.

O fim do ano estava próximo e eu tinha que ir pra minha cidade fazer vestibular. Eu queria entrar na Universidade Federal de Minas Gerais, em Belo Horizonte e as provas estavam perto. Percebi como o clima no colégio tinha mudado: todos ficavam na biblioteca estudando e revendo as matérias, nos intervalos pouca gente fazia as brincadeiras de sempre, e nós do segundo ano e o pessoal do terceiro estudávamos o tempo inteiro.

Já estávamos no final de novembro e a diretora tinha decidido fazer um Festival de Talentos. Parece que era pra desestressar os alunos da rotina puxada de estudos de fim de ano. Eu só sei que foi muito divertido. O Cas fez uma apresentação de Le Pakour* no pátio em ritmo de rap, o Franja mostrou uma nova maquina que ele tinha feito (e que explodiu), a Carminha, Maria Melo e a Denise fizeram um desfile de moda com suas novas seguidoras, o Nimbus fez um show de mágica e ganhou o primeiro premio. Tiveram uns alunos do primeiro ano que cantaram musicas bem legais.

– Parabéns, cara. – Disse o Cê quando o Cascão veio nos cumprimentar, ele tinha ganhado o segundo lugar.

– Valeu, careca. E Voce, Isa curtiu o show?

– Adorei. Não sabia que voce fazia essas coisas. Sua praia são esportes radicais mesmo né?

– Sim, sim. Me amarro desde criança. Devo dizer que se não fossem nossas aventuras fugindo da Monica e os planos mirabolantes do Cebola, eu não iria curtir muito não.

Todos caímos na gargalhada e fomos pra sorveteria, comemorar a vitória do Cas. A Maria Cascuda, a Monica e o DC chegaram depois e ficamos a tarde inteira conversando, contando casos antigos da infância e rindo muito.

– Mas que curso voce quer fazer, Isa?

– Ah, eu penso de fazer engenharia ambiental, na UFMG.

– Sério? Tem muitas faculdades aqui em Sampa que tem esse curso, por que voce quer ir pra BH? – Cebola me perguntou, sério.

– Eu sempre sonhei de entrar lá, a estrutura do campus é linda. E eu ficaria mais perto da minha cidade.

– Voce quer dizer mais perto de Marcelo né?

– Por que voce tá falando isso Cê?

– Aê galera, acho que já deu pra mim, vamos, Maria, mostrar o premio que ganhei pros meus sogrinhos.

– Eu vou lá em casa, sabe, tinha que fazer umas coisas pra mãe, vem comigo, DC?

– Ah eu não, to de boa aqui, nem terminei meu sorvete de pistache com menta.

– Eu não to pedindo. – vi a Monica arrastando o DC pelos braços, e me virei, vendo um Cebola zangado e com os braços cruzados.

– Precisava fazer isso? Todo mundo foi embora por que voce começou a dizer essas coisas.

– Eu to bravo com voce. Por que nunca me disse sobre voltar pra Minas?

– Ainda tenho um ano pra terminar o colégio, Cê. Talvez eu mude de idéia e fique aqui, não sei, mas por enquanto é isso que eu quero fazer.

– E como fica a gente? Vamos terminar quando acabar o colégio?

– Claro que não. Por que isso agora? Voce tá inseguro com nosso namoro, por que?

– Tenho medo de te perder, demorou tempo demais pra ficarmos juntos. – ele disse isso segurando minhas mãos. Eu olhei em seus olhos e via uma expressão de medo e percebi.

– Eu também tenho medo de te perder, voce não percebe? É muito mais fácil voce encontrar alguém mais bonita, magra, inteligente e confiante. Eu não sou assim e sinceramente ainda não consigo acreditar que voce tá aqui comigo. Se tem alguém aqui que se sente inseguro quanto a nosso namoro sou eu.Tenho medo de acordar desse sonho e perceber que nada disso é real.

Eu me levantei e saí da sorveteria, indo em direção ao clubinho dos meninos, que agora é só uma cabaninha de madeira velha e desgastada. Me sentei no chão do clubinho e chorei, durante poucos minutos sozinha, pois sabia que ele vinha em minha direção. Ele ajoelhou na minha frente e me puxou pros seus braços.

– Eu nunca trocaria voce por modelo magricela nenhuma. Pra mim voce é linda. Inteligente. Esperta. Prendada. Gentil. Doce. Meu docinho.

– Eu tenho o garoto mais lindo do colégio como namorado. Como poderia trocar isso?

– hehehehehehehe, obrigado, mas se voce namora o garoto mais lindo do colégio, eu sou o que? Seu amante?

– Bobo.

– Vem, vou te levar pra casa, se não seus pais podem falar que eu te seqüestrei.

Bem, no final desse ano, não houve mais novidades: Eu consegui uma boa pontuação no processo seletivo do vestibular e no terceiro ano eu conseguiria uma boa nota, e talvez conseguisse mesmo entrar na universidade, a Carminha tava namorando com o Luca, eles se acertaram e até que ela me tolera quando eu converso com ele, mas sei que ela me roga praga toda vez que eu saio de perto do Luca, a filha da Magá e do Quim é linda e muito saudável, todos ficam paparicando a coitadinha e a madrinha dela é a Monica.

Falando nela, o relacionamento com o DC vai firme e forte, eles dão super certo juntos. A minha amiga Karol veio me visitar nessas férias e continua namorando com o Nimbus, que até já deu a ela uma aliança de compromisso. Tão romântico! A diretora Beatriz, depois que descobriu a carta do seu pai, se tornou outra pessoa, mais alegre, sorridente... se bem que de vez em quando dá umas broncas e castigos dignos de um sargento militar.

E eu to cada vez mais apaixonada pelo Cebola, aquele garoto bonito e atlético que me conquistou de um jeito diferente. Falando nisso vou me encontrar com ele agora. Vamos assistir o ultimo filme da saga “ Crepúsculo”. Ele odeia, mas fazer o que? Quem mandou ele querer namorar com uma garota da roça que adora filmes românticos?