Havia se passado um mês desde que Ray tinha voltado, e tudo estava perfeitamente bem. Meus pais não ligaram, quer dizer minha mãe, já que meu pai nem deve ter percebido a presença de mais alguém.

A palmeira me contou que no dia que apareceu na lojinha, foi o dia que ele havia contado aos pais sobre a decisão. Bom, ele foi expulso de casa. Óbvio. Até que o meu pai não é tão rigoroso. O mesmo conseguiu arrumar trabalho na mesma loja de doce onde estou. Então imagine, brincamos mais que trabalhamos.

Mikey e Frank, como sempre estavam inseparaveis. Minto, ultimamente eles andam mais juntos e consequentemente sempre encontro o ser pequeno perambulando aqui em casa. 

- Mikey você vai chegar atrasado - berrei 

- Pode ir indo, eu vou com o Frank.

Oi? Ouvi direito? Ele vai com o anão de jardim? 

Eu sai de casa fechando a porta em um estrondo e fui para a loja. Chegando lá, nem ao menos dei bom dia direito. Minha cara era notável, estava morrendo de ciúmes.

- Way que cara é essa? - perguntou Ray que havia ido mais cedo trabalhar.

- Nada, nada. 

- Aham, e eu sou o coelhinho do natal.

Bufei e fui para o balcão com ele no meu encalço.

- Não tem mais nada pra fazer não?!

- Tenho, mas meu amigão aqui precisa de ajuda.

- Eu nem sei por onde começar...

Suspirei passando a mão pelo rosto.

- Eu sei, começou quando o Mikey ficou amigo do todo popularzinho Frank Iero, por quem você sempre caiu de quatro desde sempre.

Olhei incrédulo e ele deu de ombros.

- Sou seu melhor amigo, achou mesmo que eu nunca teria percebido algo tão óbvio pra mim? Vamos, eu sei que você é apaixonado por ele.

- Ray, eu não deveria gostar dele. Digo é errado, ele nem sabe que eu existo. Ele é o garoto briguento, marrento revoltado e popular enquanto eu sou o anti-social que tem apenas dois amigos que trabalha pra poder pagar a faculdade que quer e ainda não tem coragem suficiente pra nada.

- Você sabe que o Iero não é assim, quer dizer, é. Porém se ele é amigo do teu irmão deve ser porque não é todo popularzinho assim, já que o Mikey é um nerd.

- Mesmo que ele não seja o senhor sou popular, ele não é gay, bi ou o escambal. 

Ele ficou em silêncio como se estivesse sem respostas, pois é. Não tinha argumento contra aquilo. 

Claro, a última conversa com o Iero me fez ver que ele não é tão diferente de mim. No fundo ele só queria alguém em quem confiar, eu sempre tive Ray e meu irmão, enquanto ele teve que tentar ser alguém respeitado. Ah, tá. Ele não precisou, sempre foi. Sendo filho do cara mais rico de Newark, qualquer um respeita o moleque. 

- Vamos princesa, acorde. 

Tenho uma vontade imensa de mandar meu amigo tomar lá naquele lugar, mas ele pelo menos me coloca no chão, às vezes.

[...]

 Era noite - madrugada -  e Ray roncava no colchão ao meu lado. Eu estava tendo uma das piores insônias que já tive em toda minha vida. Virei de um lado para o outro e nada do sono me fazer uma visitinha agradável.

Sai da cama e fui beber um pouco de água. Quem sabe não ajudava.

Tudo estava silêncioso, desci devagar as escadas para não fazer barulho e fui para a cozinha.

Peguei um copo no balcão e abri a geladeira.

- Também não consegui dormir?

Aquilo foi o suficiente para eu quase ter um ataque cardíaco.

- Porra, Iero o que faz aqui? - falei me recuperando do susto e ele parecia achar graça.

- Desculpe, mas você que não me viu.

Ele estava sentado na mesa com um copo na mão. Tenho culpa se sou meio desligado? Não? Okay, eu tenho.

 Sentei-me a mesa, tinha até perdido a sede depois de um susto desses. 

Frank me olhava de soslaio e com um sorriso indescritivel. Cara, porque é tão perfeito?

- Ah, eu não te respondi. Bom, Mikey me chamou pra dormir aqui.

- Sério mesmo? 

Ironia mode on.

- Sério, e eu senti seu sarcasmo.

- Nossa, desculpe senhor popular, não sei onde foi parar minha educação. - a minha eu não sabia onde estava naquele momento, deveria está junto com o meu sono.

- Você é sempre bipolar ou eu nunca percebi? - ele virou-se para mim estreitando os olhos.

- Nunca percebeu porque nunca conversou comigo, ou já se esqueceu que eu sou o Gerard Way O excluído e você Frank Iero O popular? Vivemos em mundo diferente, literalmente e figuramente. 

- Cara, você não bate bem. - ele soltou um leve riso.

Ficamos em silêncio, eu não sabia o que fazer. Senti-me um verdadeiro idiota por ter dito aquelas coisas, tá eu sou, mas deu pra entender. 

- Porque você é tão amigo do Mikey? Sabe garotos como você deveriam perseguir ele, bater, xingar e humilhar.

- Você já se esqueceu da nossa última conversa? 

- Não, mas... - eu interrompi.

- Todos me olham como se eu fosse o garoto perfeito, nunca vão contra ao que eu digo. Parece que tudo que eu falo ou penso é lei, é o correto. Mikey não, na nossa primeira conversa foi no laboratório de química, eu fui totalmente grosseiro com ele e de resposta ele me jogou verdades, não me humilhou e xingou, apenas falou coisas que eu nunca quis ouvir. Ele foi meu amigo quando todos aqueles que sempre viveram comigo apenas dizia que eu estava certo. Sabe, amigos te dizem a verdade, mesmo que doa. Ele me conhece como ninguém mais, sabe meus defeitos e qualidades, gostos e desgostos. Realmente conheço o meu eu interior e não o que eu tento demonstrar por aí. Deve ser por isso que sou amigo do seu irmão. 

Depois de ouvi isso fiquei sem reação. 

- Eu sei que você deve me achar um completo playboy, e que não vai com a minha cara, mas eu queria apenas que não me visse como um monstro, somente sou um garoto meio perdido. - ele falou a última parte como um sussurro.