Alma Gêmea escrita por Joy


Capítulo 2
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Olá queridas Estrelas!
Pois é, quem é minha leitora sabe: eu dou nomes aos leitores. E esse é o de vocês! Até agora vocês são 3, e 1 anonimo...
Marina,maninha,não sei se percebeu mas essa fic é dedicada a você!
Boa leitura e até o próximo!



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Suspirei quando o carro entrou na estrada que levava a pequena cidade da casa da tia Mariah. Como eu não estava falando com mamãe quando saímos de Magdeburg, não sabia para onde ela ia despachar o meu corpo. Até agora.

Julgando pelo seu mau humor desgraçado, era bem capaz que ela comprasse uma passagem só de ida para algum desses acampamentos militares em que você usa um uniforme verde e fedorento e fica repetindo “Sim, senhor!” “Não, Senhor!”.

-Não posso ficar com você, Marina- disse minha mãe com frieza, enquanto abria o porta-malas do carro cinza e colocava minhas malas na calçada- Seu irmão fica com medo quando passo muito tempo fora.

Mal bufei. Eu não estava disposta a quebrar meu voto de silêncio. Estava furiosa com mamãe. Ela sempre se preocupava mais com meu irmão de vinte anos, que por sinal era uma criança completa! Fiz cara de zangada e continuei no carro, enquanto ela e dirigia para a casa de tia Mariah.

De costas, minha mãe parecia uma garota da minha idade. Ficava maravilhada com isto. Seus cabelos estavam presos em um rabo de cavalo, e ela usava sandálias de salto baixo. Mas de frente era outra coisa. Seu rosto era uma carranca permanente. E tudo minha culpa. Ela me disse que meu comportamento nos últimos meses a envelhecera dez anos!

Acho que ela devia achar que tem sorte. Quando a mãe da Anne Rot descobriu que ela se reprovou de proposito ficou com os cabelos brancos da noite para o dia. O que eu tinha feito era mil vezes pior que ser reprovada, mas os cabelos castanhos escuros da minha mãe continuavam intactos.

Antes de nos deixarmos de nos falar, tudo o que minha mãe dizia eram coisas do tipo:

-Marina, como você pôde... - ou o clássico:

-Quando eu tinha sua idade... - seguido da típica reclamação dos “pais modernos”:

-Você tem ideia de como foi difícil conseguir vaga para você na escola Neuss Schuler? Precisei comprar uma casa num local estranho só porque fica perto da escola!

Eu me sentia muito culpada por isso. É difícil conseguir matricula nas escolas boas de Magdeburg.

Mamãe começava a resmungar que talvez precisasse me colocar em alguma escola privada...

-Se é que alguma vai aceitar você!

Toda vez que ela dizia, pela centésima vez:

-Marina, quando eu tinha sua idade...

Eu estourava:

-Mamãe, isso foi há muuuuuuuuuito tempo atrás, quando garotas de dezesseis anos usavam aqueles calções cheios de babados até os joelhos e eram loucas por cantores esquisitos de pop e cabelos enormes!

Aí rolava uma briga feia e a gente parava de se falar.

Que mais eu poderia fazer? Eu prometi a Jesse que não contaria nada. Mamãe não vivia enfiando na minha cabeça que era mal educado romper promessas? Pronto, aprendi.

Ao sair de casa, percebi que Jesse olhava para mim da janelado seu quarto. Estava pronta para ir à escola e me olhava tensa. Desviei o olhar.

***

Pela janela do carro eu não tirava os olhos de mamãe enquanto ela conversava com tia Mariah. As duas se viraram e olharam para mim. Eu as encarei fixamente. Mamãe fechou a cara carrancuda de sempre e titia deu um sorriso amarelo. Claro que estava contando, com detalhes terríveis, a proeza de sua única filha ter conseguido ser expulsa de uma escola “tão boa”.

Na verdade, eu não fui expulsa. Para todos os defeitos eu estava saindo duas semanas antes do fim do semestre, para “dar um tempo”. Mas a diretora e a Professora Mia, já deixaram bem claro que eu nunca mais voltaria a ser aceita na Neuss Schuler.

A lembrança sombria das reuniões constrangedoras na sala da direção me dava calafrios tremendos. Então me afundei no meu assento, pois pelo menos ali, naquele momento, tudo era seguro e quentinho, como se eu estivesse sendo abraçada por alguém que me protegesse.

Olhei pelo espelho retrovisor e me imaginei participando de um drama policial, diante de um oficial lendo minha descrição: “Solteira, branca, 1,60 m de altura, cabelos compridos pretos, olhos castanhos escuros, nariz fino e lábios carnudos. Recusa-se a falar. É uma garota má”.

Claro que a história da garota má tinha outro lado. Parte de mim queria ceder e contar tudo a mamãe.  Ah bem da verdade, ela tentara me fazer falar. Meu estomago revirava só de pensar no que eu fizera. Para ser franca, a desavença com mamãe não passava de uma cortina de fumaça. Significava que eu não precisaria falar com ela sobre aquilo. Ela chegou até a telefonar para papai e contar tudo a ele e a sua mulher.  Várias vezes pensei em dizer a verdade, mas não podia, Jesse estava no rolo e eu não podia dedurá-la.

Mamãe vivia perguntando:

- Foi Jesse quem a meteu nisto?- e repetia a mesma pergunta de mil e uma maneiras diferentes.

Eu odiava o fato de ela pensar que só outra criança podia ser culpada de um comportamento tão inesperado.

-Não sou mais criança. Sei muito bem tomar minhas próprias decisões- respondi nem sei quantas vezes. Eu tinha o direito de ter meus segredos. Além do mais, ela estava chegando perto da verdade.

Perdida nos meus pensamentos, levei um susto quando de súbito mamãe abriu a porta do carro e gritou:

- Vamos Marina, desça.

Desci o mais devagar que pude, enquanto ela e Mariah se despediam com um abraço.

Mariah era a irmã mais velha de mamãe, mas ainda assim parecia mais jovem que a mesma.

-Ela não tem de trabalhar, nem tem filhos para envelhecê-la- ouvi mamãe dizer certa vez, com uma pontinha de ressentimento na voz.

- Não quer mesmo ficar para um chá?- perguntou Mariah com seu jeito simples e doce.

Minha mãe fez com não com a cabeça e completou:

-Estou cheia de coisas para fazer. Marina-disse sem olhar pra mim- deixei dinheiro com Mariah para os seus gastos.

Enfiei as mãos nos bolsos e dei de ombros de dei de ombros. Quando o carro tomou a estrada novamente, dei um tchau irônico para a mamãe e disse:

- Tchau mãe, também te amo!

E foi assim que me vi exilada na casa da tia Sarah. A partir de agora só tinha duas coisas pela frente: passar um verão de cão e me mostrar profundamente grata quando vossa majestade me permitisse voltar para outra escola em Magdeburg.

Mas algo me dizia que isso não iria acontecer tão cedo.


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