Eu já tinha deitado há três horas, mas ainda não conseguia dormir. Não que o sofá não fosse confortável - ele era bem melhor que o colchão de ar. Mas eu estava me sentindo muito pior por morar ali do que antes. Quando a mãe de Edward não sabia, eu não era um problema, um incômodo. Mas agora, sou a razão de mais uma dor de cabeça pra ela. 

Decidi que daria todo o dinheiro que ganhasse com a entrega de jornal e com os passeios com cachorros pra ela. Não vai fazer diferença nenhuma, ela tem dinheiro até demais. É só pra ela saber que eu não estou tentando tirar proveito da família dela. Já fazia um mês que eu tinha dois empregos, então já tinha 500 reais.

Acordei um pouco antes da entrega de jornais no dia seguinte, tentando ignorar o sono, coloquei o dinheiro em um envelope e fui procurar a mãe de Edward. Ela estava na cozinha, arrumada pra ir trabalhar, tomando uma xícara enorme de café. Pelo visto a licença dela havia acabado. Olhei no relógio - cinco horas. Ela acordava cedo mesmo.

- Bom dia. - disse. Ela respondeu com um aceno de cabeça, sem muito entusiasmo. 

- Eu não sei se Edward te disse - continuei. - mas eu tenho um trabalho. Dois, na verdade. Não é nada, eu entrego jornais e passeio com cachorros. Enfim, eu queria te dar isso. Pra cobrir quaisquer gastos que eu tenha causado.

Ela pegou o envelope e tirou o dinheiro de dentro. Olhou por um segundo, guardou de novo e jogou o envelope na mesa.

- Guarde. Comece a economizar. Você sabe que você não vai ficar aqui pra sempre, não sabe?

- Sei.

- Bom.

Ela se levantou, pegou sua bolsa e saiu pela porta. Eu fiquei ali parada, olhando pro envelope. Troquei de roupa e fui entregar os jornais. Quando estava voltando pra casa, decidi dar mais uma volta com a bicicleta. Passei na frente da fábrica, da praça 654. Parei em frente a um pequeno lago, encostei a bicicleta e sentei em uma pedra na margem.

Não posso depender de Edward pra sempre. Não tenho idade ou dinheiro pra morar sozinha. O que eu vou fazer?