654 escrita por Dodi


Capítulo 50
Capítulo 50


Notas iniciais do capítulo

Capítulo 50! YAY



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No segundo em que a mãe de Edward atendeu a porta, eu percebi que ele nunca me falou o nome dela.

– Oi, ahm...

– Susan.

– Susan! Oi.

– Oi. Eva. - ela respondeu, sem muito entusiasmo, olhando pra minha roupa. Pela expressão de total indiferença, eu pelo menos posso dizer que ela não odiou. - Entre.

Fiz força pra não rir, considerando que eu tinha acabado de sair pela janela de Edward, dado a volta na casa e batido na porta da frente.

A casa estava um pouco mais arrumada que o normal - um tapete na porta da frente, um vaso de flores na mesa de canto, sem revistas no sofá na frente da TV. Vi na mesa um frango assado com batatas, arroz com ervilhas e feijão preto. Ela estava usando aqueles pratos chiques que só são usados para natal e ano novo.

Ela estava usando maquiagem em cima das olheiras, um vestido vinho e andando com um salto enorme, como se nada nunca tivesse acontecido, como se ela nunca tivesse ido para o hospital. Edward estava parado ao lado da mesa, usando um blazer - sem gravata. Eu não tenho muito pra comparar, mas supus que a família dele era bem... Clássica. Formal. Não vi sinal do pai dele, pelo visto ele é ainda mais indiferente que a mãe quando se trata do filho.

Ele puxou uma cadeira para que eu me sentasse na mesa, e quando estávamos todos sentados, o silêncio constragedor impregnou o ar novamente.

– Então. Eva. - ela começou, enquanto se servia um copo d'água. - Já que vocês não estudam juntos, como se conheceram? Aula de violão? Aula de culinária?

Olhei para Edward, pedindo ajuda. Ele acenou pra mim com a cabeça, como dizendo que ele tomava conta disso.

– Na verdade, eu a conheci aquele dia que eu fui visitar a fábrica. - ele começou, e vi ela erguer as sombrancelhas enquanto tomava um gole de água. - Ela era um dos funcionários do tio Pedro.

E ela engasgou. Colocou o copo na mesa, limpou a boca com um guardanapo e olhou pra mim, surpresa.

– Como é? Funcionária?

– Basicamente. - respondi.

– Quantos anos exatamente você tem?

– Quatorze.

Ela colocou os cotovelos na mesa e apoiou a cabeça nas mãos.

– Como... Você começou a trabalhar pra ele?

– Longa história.

– Eu tenho tempo.

Contei como eu tinha trabalhado lá desde pequena, como meu pai morreu e me deixou nos cuidados de Pedro, como ele nunca me colocou em um centro de adoção, como eu nunca fui pra escola, como conheci Edward e como ele me convenceu a sair de lá. Quando eu terminei, ela estava boquiaberta, custando a acreditar.

– Então onde você está morando agora? - ela perguntou, já estando certa da resposta.

– Aqui. - ele respondeu. - No quarto de hóspedes.

– Quanto... Tempo?

– Dois meses. - ele disse, com a mesma frieza que ela tinha no rosto quando me recebeu.

– Dois meses. - ela repetiu. - Dois meses. E você só me conta isso agora?

– Eu achei que a essa altura você já teria percebido. Mas como poderia? Você nunca para em casa. Você percebeu que eu só te vejo uma vez por semana? Aos domingos, na hora do almoço. Porque o seu chefe disse que você devia passar mais tempo com a família.

– Não vire isso contra mim. Foi você que escondeu uma garota na minha casa

– E o que eu deveria ter feito? Deixar ela dormir na rua? Isso funcionaria pra você?

Naquele momento, era como se eu não estivesse ali. Eu era o assunto da conversa, mas não participava dela. Melhor assim, eu nunca saberia o que dizer.

– Eu não falei isso. Eu só estou dizendo que seria bom se você tivesse me falado!

– E se você não tivesse deixado? O que você sugere que fizesse?

– Que escondesse ela no quarto de hóspedes! Pelo visto foi bem fácil pra você!

– Foi sim, não é como se meus pais se importassem com o que eu faço.

E mais uma dose de silêncio constragedor. Ficou assim por um tempo. Ela olhando pro copo de água. Ele olhando pro cadarço do all star que, com certeza, não fazia parte do terno. Eu olhando para as minhas próprias mãos, sem me atrever a olhar pra cima.

– Eu sinto muito se não estive muito presente, mas isso não te dá o direito de agir pelas minhas costas.

– Eu sei. - ele respondeu. - Mas eu pensei que você não fosse deixar. E que ela teria que voltar pra fábrica.

Pela primeira vez desde que eu terminei de contar minha história, ela olhou pra mim.

– Eu nunca faria isso. - ela disse. - Você pode ficar no quarto de hóspedes. Por agora. Até decidir o que fazer. Minha irmã vai voltar pro Rio de Janeiro amanhã. Você pode dormir no sofá esta noite.

Ela se levantou e subiu pro quarto, deixando nós dois sozinhos na mesa, com o jantar intacto.


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