654 escrita por Dodi
Uma semana se passou. Os dias andaram em câmera lenta, como sempre. Às vezes me pegava pensando naqueles olhos azuis, naquele sorriso, no modo como ele me defendeu e se interessou por mim... Isso nunca tinha acontecido comigo antes.
Enfim, desde o começo eu já sabia que o máximo que iria acontecer seria ele não me demitir quando assumir a fábrica, então eu tentei não pensar muito no assunto. Mas o fato dele voltar a visitar não ajudou muito.
Eu tinha acabado de acordar e colocar uma roupa, que é claro que não era o uniforme. Era uma das minhas favoritas: uma blusa bege de ombro a ombro, um corpete marrom com suspensórios, um short preto e uma bota marrom. Abri a porta e me virei em direção ao salão de tijolos, e esbarrei em alguém que estava segurando uma xícara de café. É claro que caiu tudo em cima de mim.
– Ótimo. - disse pra mim mesma, olhando pra minha roupa.
– Ah, não. Foi mal, foi mal mesmo.
– Não, tá tudo... - parei de falar quando vi em quem eu tinha esbarrado. Ele desamarrou o casaco da cintura e me entregou pra que eu secasse minha blusa.
– Não precisa, sério, esse casaco deve ter custado dez vezes mais que minha roupa toda.
– Tem certeza?
– Tenho.
– Então você não me deixa escolha se não lhe comprar roupas novas.
– Você não precisa...
– Preciso sim. - e abriu um sorriso quando viu que eu tinha cedido. - É só me falar qual loja você gosta que eu compro a coleção inteira pra você.
Me deu branco. Como eu iria saber o nome de uma loja? Eu mal saio da fábrica, e todas as minhas roupas são feitas com tecidos velhos e uniformes rejeitados. Ele percebeu que eu não estava falando.
– Claro. Desculpe. Eu só pensei que meu tio comprasse roupas pra você, já que não está usando uniforme.
– Pedro? Ele não me daria uma meia que não fizesse parte do uniforme da fábrica. Eu... Fiz essas roupas.
– Impressionante... - ele me fitou por um segundo e logo desviou o olhar. - E eu manchei elas de café.
– Esquece, tá tudo bem!
– Não. E se você não for me falar uma loja, então vai ter que vir comigo escolher.
– Ah, eu não sei se...
– Vai por mim, eu convenço meu tio a te dar um dia de folga. E depois a gente poderia tomar um café. Acredite, é muito melhor quando não está nas suas roupas. Amanhã? Por favor?
– Está bem.
– Então eu passo aqui às três. E desculpe de novo pelas roupas.
– Imagina... - e vi ele se afastar em direção à saída, mas ele se virou e gritou:
– Eu sou Edward!
– Eva! - vi ele dar um último sorriso e desaparecer na distância. Fui pro meu quarto, fechei a porta e falei sozinha:
– O que acabou de acontecer?
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