Fomos embora logo depois da música, sem dizer muita coisa. Eu, pelo menos, não sabia o que dizer. Enquantos estávamos cantando, eu me senti como na primeira vez que olhei nos olhos dele, quando ele me salvou de quebrar um braço ao cair da escada.

Eu estava com medo. Medo de voltar a agir antes do nosso primeiro encontro. Medo de voltar a ficar sem fala quando ele chega perto. Me abrir, conversar tranquila com ele é tão bom, eu não queria perder isso.

Chegamos à fábrica, e fiquei parada do lado de fora.

- Então... Te vejo amanhã? - ele perguntou.

- Am... Eu não sei se amanhã é um bom dia, eu estou faltando muito no trabalho, Pedro não vai gostar. Acho melhor eu ficar um tempo sem sair.

Então houve aquele minuto constrangedor de silêncio, em que uma pessoa está tentando interpretar o que ouviu e a outra está esperando por uma resposta.

- Ah. Então... A gente se vê. Um dia. - ele disse.

- Um dia. Boa noite.

Dessa vez, ele não me respondeu. Talvez eu não tenha dado uma chance, já que entrei assim que terminei de falar.

Ele estava triste comigo. Eu tenho certeza. Ele acha que eu não gosto dele. Se ao menos ele soubesse...