Everybody Loves The Marauders III escrita por N_blackie


Capítulo 17
Episode II. “A Volta dos que Não Foram”


Notas iniciais do capítulo

Demorei, mas apareci! Segundo episódio on! Ainda hoje respondo comentários no primeiro ep :)



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Narrado por: Remus Lupin

Camiseta do dia: “Poe e Finn: eu acredito!”

Ouvindo: Barulhos de cafeteria e tap tap do notebook

            Percebe-se, portanto, uma recorrência da temática nacionalista na formação literária do período, correspondendo ao processo de formação de um conceito de nação britânica não visto antes nos projetos literários.

Literário

Projetos literários

            Suspirei e olhei no relógio, batendo os pés no chão de madeira inconscientemente. Olhei para aquele pedaço de texto que eu teria de martelar até virar algo decente para  um artigo que estava para submeter, e uma voz chata e conhecida sussurrou dentro da minha cabeça: você é burro, Lupin, por isso este texto está uma porcaria.

            Tomei um gole comprido de café para calar a boca dessa voz, mas mesmo assim suspirei desanimado. Parecia que a maior parte do meu mestrado era ficar dizendo para mim mesmo que eu conseguia fazer o que precisava fazer. Que eu não estava lá por generosidade do meu orientador. Olhei em volta, e invejei por um segundo os empresários entrando na correria, pedindo seus cafés entre as conversas mundanas com os seus colegas igualmente apressados, as mães que entravam batendo papo no celular e arrastando carrinhos equipados que nem naves intergalácticas. Tomei outro gole.

“Remie? “uma voz tão conhecida quanto a outra, mas dessa vez real, me despertou dos meus devaneios de autoflagelação acadêmica, e levantei sorrindo. Emmeline chegava perto da minha mesa, tão bonita quanto eu me lembrava dela, tantos anos antes, partindo para o aeroporto com uma mala cor de rosa. Seus cabelos loiros estavam curtos, ondulados de um jeito que eu via algumas blogueiras usando por aí, e ela usava óculos agora, uma armação imensa e com pontas em cima que podiam matar um homem.

“Emme, quanto tempo. “comecei a estender a mão, sem saber o protocolo para “encontros com amigos que foram muito próximos muitos anos antes e agora estavam sumidos mas não estavam brigados nem nada, somente afastados”.  Ela, como sempre, me ensinou o dito procedimento: se jogou em mim. Ela cheirava inteira a perfume caro e pasta de dente, e quando se enroscou em mim me apertou contra si com força que eu não esperava dos seus braços malhados, mas finos. Ela se afastou de mim do mesmo jeito que se aproximou, e me lançou um olhar de cima a baixo.

“Você ainda usa essas camisetas! “

“É, quando eu posso...” fiz menção ao notebook aberto em cima da mesa, e ela fez uma cara impressionada.

“Verdade, agora você é o senhor acadêmico, né.” Ela sorriu. “Eu sempre soube que você ia ser assim, sabia? Professor Lupin. Soa bem.”

Fiquei sem jeito, e comecei a tirar minhas coisas da frente para esconder meu rosto vermelho. Ela correu comprar um chá, e quando voltou me encarou por um segundo, aparentemente esperando que eu contasse tudo o que estava rolando na minha muito glamorosa vida de meter o nariz em livros antigos e discutir por horas intermináveis em volta de mesas antigas. Contei o que contava para todo mundo. A pesquisa. O laboratório. James voltou (“Ele parece gatíssimo no instagram, confere na realidade?” “Não sei, Em, não reparei”). Minha mãe queria se aposentar (“mas já? Ela é novíssima!”). Meu pai negociou um contrato com a Netflix para um especial (“AAAAAAAAA!”).

“E você?” perguntei, finalmente. Emme tomou um pouco do chá gelado dela e deu de ombros.

“Estou livre, soltíssima em Londres. Mamãe me deu um apartamento pequeninho aqui por perto, lógico. Não sei o que vou fazer, estava com tudo acertado em Milão mas precisava voltar. Senti falta da chuva, acho.

Rimos juntos. Ela piscou os cílios postiços um pouco. “Está com alguém, Remie? Parece solitário, só você e esse notebook. “

Dei um sorrisinho, mas fiquei quieto. De fato a minha vida sentimental não andava muito empolgante, mas era normal, acho? Quer dizer, depois da escola, depois de tudo, só sobrava você e o trabalho. Claro, eu tinha amigos. E amigas. Da faculdade.

E havia Nymphadora.

Me surpreendi com a direção que aquela linha de pensamento estava tomando. Nymphadora era minha amiga, só isso. Éramos uma dupla bem engraçada, inclusive. Ela, tatuada, policial e de cabelos coloridos, e, bem, eu. Saíamos juntos, íamos ao cinema quando Sirius estava ocupado e Peter estava na Irlanda e James nos Estados Unidos. Ela me vira chorando com o final de Rogue One. Nós enchemos a cara e assistimos todas as sequências de Sharknado juntos porque, bem, ela adora filmes assim. Quanto mais esdrúxulo melhor. Ela me ligava todo dia, e quando não conseguia, mandava mensagem. Os pais dela me chamavam para almoçar. Minha mãe achava tudo aquilo um absurdo, eu andando um uma “moça rabiscada”. Meu pai gostava dela e aproveitava os dias de plantão para chamar Dora para jantar lá em casa. Snuffles não podia olhar para ela que saia correndo pular em cima dela.

Claro, eu não era cego. Dora era linda, tatuada e cabelos coloridos e tudo. O anel que ela colocara no septo, e que a deixava com cara de roadie dos Sex Pistols, combinava com a postura descontraída dela. Seu cheiro era sempre de café fresco. Um dia, os dois super cansados e meio bêbados de um vinho que ela ganhara de aniversário, eu disse a ela que a achava bonita, e ela escorregou da cadeira, sentou comigo no chão, e me beijou de leve.

Talvez eu gostasse dela, afinal.

“Não tenho ninguém. “disse, finalmente. Meu celular tocou de leve, e ri de leve quando vi a foto que Dora tinha colocado como avatar no whatsapp. Nós dois surtando na frente da entrada da Disney de Paris, eu usando um chapéu ridículo que imitava as orelhas do Mickey, ela com os cabelos cor de chiclete amarrados num coque, presos com um lacinho vermelho com bolinhas brancas.

Tonks: Tá pelo café do Tom?

Olhei para cima, e Emme estava mexendo no próprio celular rapidinho.

Remus Lupin: Sim e você?

Tonks: Folga. TLJ? Tem sessão as 7.

“Quem é? “ Emme perguntou, espiando por cima da mesa.

“Você ainda fala com Edgar Bones? “ cortei, e ela ficou roxa. Por baixo da mesa, enquanto ouvia Emme lembrar do seu caso com Bones, digitei “ok”. E sorri por dentro. Talvez eu tivesse alguém, só precisasse falar para ela.

Minha mãe não ia gostar nada disso.

Narrado por: Sirius Black

Filme do Momento: Stranger Things (é série mas conta, acho)

Ouvindo: Gritos

“Isso é realista demais!” Daisy, colega de trabalho, gritava enquanto se chacoalhava freneticamente na cadeira. Girei de leve, espiando o que estava acontecendo, e rolei os olhos. Algum imbecil tinha deixado um par de óculos de VR para a gente experimentar, e ela estava usando para ver como que era. Diante de mim, na mesma mesa, vi Marlene erguer as sobrancelhas para o surto que ela estava tendo. Por um segundo nos olhamos, mas ela desviou o olhar e voltou a programar.

Me ajeitei na cadeira, e senti nossos pés roçarem. Imediatamente foi como se uma corrente elétrica tivesse subido pela minha perna, e bebi um pouco d’água para me acalmar. Não conseguia explicar a atração que sentia por Marlene. Brigávamos o tempo todo por besteira, e quando eu via estava agarrando ela em algum armário. Ou cozinha. Ou quarto. Ou banheiro. Ou carro.

Pete chamava de “tensão sexual contida”. Quando contei a James ele riu e disse que era “descontrole hormonal”.  Remus disse que eram questões mal resolvidas com a morte da minha mãe e que se manifestavam numa incapacidade crônica de me comprometer com alguém, por um medo constante de que ela me abandone e eu volte a ficar sozinho, sem apoio emocional ou presença feminina na minha vida.

É, acho que é só tesão contido mesmo.

“Olha isso: escolha sua pizza preferida e te dizemos com qual personagem de Stranger Things você se parece” Marlene riu, e cerrou os olhos com concentração para fazer o dito teste. Me peguei olhando para ela, pensando se devia chegar na honestidade e dizer que precisávamos mesmo era dormir juntos. Que não conseguíamos parar de brigar porque na verdade queríamos experimentar algo juntos.

Abri a boca para falar, mas ela gritou e jogou os braços para cima, apertando a barriga e rindo. “Ah, mas você tá de BRINCADEIRA COMIGO, BUZZFEED!”

“Quem? Quem?” Daisy perguntou, o VR ignorado num canto. Lene riu.

“Nancy. Eu queria ser a ELEVEN!”

“Ou a Mad Max. “ comentei, deixando para lá o papo sério. “Me manda o link!”

“Você vai acabar sendo o Dustin, vai ver.” Ela apostou, mas logo recebi a notificação e comecei a fazer o teste.

Trabalhamos até tarde nesse dia, e quando terminamos, fomos em silêncio até o metrô. Não estávamos indo juntos, exatamente, porque não rolou convite e nem trocávamos palavras. Parei na plataforma atrás dela, e já ia tirando o celular quando ela virou.  

“Você precisa parar de me seguir, quase virei e soquei a sua cara. “ela comentou.

“Não estou te seguindo. “falei, sério. Ela sorriu.

“Eu sei, babaca. “e prendeu o cabelo. Senti a mesma eletricidade de mais cedo percorrer meu corpo, e parando nos meus jeans. Eu a conhecia há quanto tempo, mesmo? Oito anos? Sete? Que diferença fazia? Ela me viu chorando em Toy Story 3. Ela fora comigo, no dia da formatura, até o cemitério ver a minha mãe. Ela e Bellatrix saíram na porrada numa festa ridícula de Natal que meu pai me obrigara a ir e tivemos que escutar babaquice atrás de babaquice de parentes bêbados. Ela me abraçou e me deixou dormir no colo dela no dia em que James fora embora. Era como ter uma irmã. Não, eca. Acho que eu não teria os pensamentos que tinha sobre Marlene a respeito de uma irmã minha não. Para mim ela era a mulher mais forte, bonita e assustadora do mundo.

“Tá tudo bem?” ela quebrou o contato visual, parecendo preocupada. “Você tá com cara de quem engoliu um mosquito.”

Precisava falar alguma coisa, qualquer coisa, mas só conseguia pensar que realmente devia estar com uma cara estúpida. O trem chegou, e entramos em silêncio de novo, correndo. Ela continuou me olhando tensa, e continuei pensando em como diria a ela que aquela enrolação realmente era idiota, e que precisava ficar com ela.

Lene, eu diria, precisamos dormir juntos.

É, e ela iria dar na minha cara e me deixar no trilho do metrô.

Marlene. Precisamos conversar.

Péssimo, só péssimo. Ela já disse que odeia gente que não vai direto ao ponto.

Leninha. Eu preciso de você.

Nah, dramático demais. Não somos mais adolescentes, né. As coisas eram muito mais simples naquela época, aliás. Eu podia simplesmente falar para ela que queria beijá-la. E pronto. Ela podia reclamar de Summer. Ela podia inclusive berrar com Summer quando descobrimos que ela estava espalhando boatos sobre todo mundo na internet. Summer Fields, SF. Aquele dia foi engraçado. Marlene segurando o notebook dela, completamente indignada, lendo os posts na cara dela enquanto a pobre da menina só conseguia olhar, pálida, enquanto os outros balançavam a cabeça.

A cara de Edgar Bones quando Marlene, na véspera da peça de final de ano, apontou o dedo no peito dele e fez o ultimato: ou ele parava de fazer Remus e Emmeline sofrer ou ela iria contar para todo mundo, com direito a faixas e e-mails para todos. A cara revoltada dela quando ele, tenso e amedrontado, parou a peça na metade para gritar para a escola inteira que ele era o responsável pelas cartas de admirador secreto.

“Siri.” Marle me chamou, e subi o olhar do chão para seus olhos. Ela deu um sorrisinho, e eu já sabia o que ela queria. Era o nosso código.

Subi.

Narrado por: Peter Pettigrew

Primeira Impressão: Que eu não sirvo para absolutamente nada

Ouvindo: The Beatles – I’m Down

            Nem percebi quando cai direto no sono em cima do livro sobre contabilidade, e quando acordei o sol já estava quase se pondo. Levantei assustado, uma dor incrível na minha bochecha e um ronco insuportável de fome na barriga. Por um segundo, atordoado, pensei em chamar Zoe para um sorvete, e senti o familiar calafrio no peito de quando eu escorregava e voltava a pensar nela.

            Preciso de um ar, pensei.

            Puxei a cadeira pra trás e puxei o violão, dedilhando pensativo enquanto olhava para aquelas páginas e páginas de papel cheio de esquemas e gráficos, pensando se queria mesmo fazer contabilidade para conseguir ganhar um dinheiro. Foi fácil fazer a faculdade de música na Irlanda, mas agora que eu voltei parece que meus pais só querem que eu largue do que eles chamam de “hobby divertido” e querem que eu faça algo sério, tipo contabilidade.

            Só tem um problema: eu não quero contabilidade. Eu fiz faculdade de música porque queria trabalhar com música, po. Sem pensar muito, catei minha carteira e meu celular, avisei que ia sair e fui.

            Tem um barzinho bacana perto da casa da minha mãe e que eu nunca podia entrar quando era adolescente. Lugar com música ao vivo, essas coisas. Não era muito chique, mas quando entrei fiquei imediatamente feliz, e sentei para beber alguma coisa. Não sei o que fazer da vida, e por algum motivo não sentia vontade de contar a ninguém, nem para os caras.

            Talvez eles entendessem, mas talvez não. James ficou tanto tempo fora, e ele sabe o que quer, foi lá e fez. Sirius podia entender melhor, mas ele se encontrou na computação, e agora estava totalmente mergulhado nesse mundo. Remus, então, melhor nem contar. Um nerd de história até o último segundo. Vai virar professor.

            Suspirei. Talvez fosse imaturidade minha, e eu fosse um adulto problemático, querendo ser músico nesse mundo. Talvez eu precisasse amadurecer, esquecer essa história, deixar tudo isso na Irlanda junto com Zoe.

            A garçonete colocou um pint na minha frente, agradeci e comecei a bebericar, me concentrando no som para distrair a cabeça. Estava batucando com os dedos quando alguém me cutucou.

            “Pettigrew?”

            Olhei procurando a fonte da voz, e notei que um cara magricelo e alto, de calça apertada e camiseta bege, sorria para mim. Forcei um pouco a memória, tentando lembrar de onde já tinha visto a cara dele, mas ele foi mais rápido.

            “Jon, da banda! Porra, não lembra de mim?”

            “Jonsy?” gaguejei, sem conseguir acreditar que era mesmo ele. Jonsy e eu tocamos na banda até o final do ensino médio, ele nos pratos e eu no trombone, já no final de tudo. Não éramos muito próximos (claro que não. Se você é amigo de James, Sirius e Remus, não dá pra ser amigo de mais ninguém. Nunca.) mas conversamos muito uma época, e ele foi um dos primeiros a me parabenizar pela entrada na faculdade na Irlanda. “Caramba, cara, você tá alto!”

            Ele sorriu, e nos abraçamos. Percebi que Jon olhava para uma mesa um pouco distante, onde outro cara parecido com ele esperava. “E aí, cara, você anda tocando?”

            “Não, “ confessei, um pouco envergonhado, e nem sabia por que, “minha mãe quer que eu vire contador.”

 Jon xingou, indignado. “Mas você é o melhor baterista que eu conheço! Melhor que muitos por aí. “ e indicou a banda que tocava. Sorri amarelo.

            “Está tocando também, então?”

            “Podemos dizer assim. “ ele riu. “eu e Lance estamos com um projeto, não sei se você conhece, é meio indie. Chamamos de Room Service.”

            “Nome legal mesmo...” uma pontada de inveja me fez forçar um sorriso, “só vocês dois?”

            “Tínhamos um terceiro, mas ele largou... Ei, se você estiver interessado, temos vaga para baterista. Mas precisa estar desempregado, né. Vamos viajar próximo mês. “

            A inveja instantaneamente se transformou em ansiedade. E em medo. Mas bom, medo eu sempre tinha de várias coisas. Tive medo de ir pra Irlanda, e fui. Era o que eu queria, não era?

            “Hm, “ disse, e olhei para Lance. Parecia um cara legal, “estou inclinado a aceitar. Precisa usar calça apertada?”

            Jon riu. “Não, cara. Pode usar o que você quiser.”

Narrado por: James Potter

Meta Atual: Arrumar um carregador novo pro MacBook

Ouvindo: Tears for Fears – Mad World

            Depois de uma viagem transatlântica, quase quatro anos de uso intensivo na faculdade, e um pequeno acidente envolvendo uma tentativa frustrada de estudar na grama, meu Macbook guerreiro faleceu. Ok, o carregador quebrou, mas logo a bateria se foi e lá estava eu sem notebook, um milhão de meio de entrevistas marcadas por ai para tentar arrumar um emprego. Resolvi, depois de muito enrolar achando que conseguiria consertar sozinho, comprar outro. Beleza.

            Só que não. Tirando Nova York, que eu visitei algumas vezes nos últimos anos, eu não frequentava mais cidades grandes. E lotadas. E fedidas. E infelizmente, para meu desespero, era exatamente isso que Londres era, especialmente na Victoria Station. Grande, lotada e fedorenta. Ainda assim, consegui trocar as peças que precisava, então estava contente. Um pouco solitário, verdade seja dita, mas não se pode ter tudo nesse mundo.

            Puxei o celular, encarando a mensagem que enviara a Sirius algumas horas antes. Ele tinha me dito, e Roger confirmou, que ele saia do trabalho às cinco. Quando eu liguei e mandei mensagem perguntando se ele queria sair, cinco horas, não tive resposta. Depois, liguei de novo, e nada. Ou ele estava me ignorando, ou estava ocupado com alguma coisa.

            Fui sozinho, então.

            Andei pelo shopping, absorvendo a agitada vida londrina por alguns minutos até decidir tomar um café. Achei um canto perto do balcão, e enquanto sentia o cheiro maravilhoso do lugar me peguei pensando na vida.

            Era muito mais fácil estar no MIT. Eu sei, parece maluquice dizer isso, mas era mesmo. As provas tinham resposta, e eu sabia o que era esperado de mim. Meu pai e Chris são ocupados, não tem tempo para pegar no meu pé. Mamãe e Roger estavam em Londres, longe. Agora, era como se eu estivesse eternamente preocupado, pensando no que fazer. Quando fui embora, uma parte de mim pensou, obviamente de forma ingênua, que eu iria voltar um dia e encontrar tudo do mesmo jeito. Sirius ainda seria asmático e mexeria em químicos perigosos o tempo todo. Peter ainda seria gordinho, beatlemaníaco e agitado. Remus ainda andaria de toga e soltaria frases aleatórias de algum livro.

            Fui burro, óbvio. Sirius agora era programador. Ri um pouco quando meu café chegou, e o garçom deve ter achado que era pra ele, pois sorriu meio assustado de volta, mas estava só pensando no que o velho Sirius diria se visse o novo Sirius com aquela argola no meio no nariz. Ou com as tatuagens. Roger achava o máximo, especialmente uma no braço direito, onde ele fizera um coração trespassado com uma flecha, escrito “Mãe” no meio. Era o jeito dele de dizer que ainda a amava, acho, mesmo que fosse com uma tatuagem propositalmente irônica como se ele fosse um tipo de marinheiro sem noção estética nenhuma.

            Remus, o mais previsível, era historiador. Era uma pena que as pessoas não usassem togas ali (para a tristeza dele) e agora ele fazia uma voz empostada sempre que alguém perguntava o que ele fazia. Eram termos que eu jamais entenderia, e problemas que eu nunca teria. Ele ainda era o Remus, claro, mas ao mesmo tempo era outra pessoa. Peter, lógico, mudara totalmente. Viver fora fazia isso com você. Ter seu coração esmagado por uma irlandesa depois de anos de namoro também. Fiz uma anotação mental de ajuda-lo com isso, talvez uma viagem ou algo assim fizesse ele esquecer a dor um pouco.

            Passei as mãos no cabelo e puxei o celular, pensativo. Nada de resposta. Pessoas felizes no instagram. Nenhum email. Ergui os olhos. Pisquei uma, duas vezes. Pensei em esfregar os olhos, mas achei que seria muito caricato. Me levantei, e sem pensar caminhei até o balcão, encarando a cliente que pedia um café latte para o barista sorridente. O cheiro, familiar, arrepiou até o último fio de cabelo que eu tinha no corpo, como se algo estivesse sempre ali, mas esperando por aquele gatilho para voltar. Tentei lembrar de todas as roupas que estava usando, montando uma imagem mental de mim para sentir que estava apresentável.

            Abri a boca, fechei.  Era como se eu estivesse grudado no chão, meus sentidos no máximo, e quando ela pagou e virou, ouvi minha própria voz falando seu nome, como se nunca tivesse parado de dizer, como se todos aqueles anos fora fossem um sonho e nós ainda fossemos adolescentes. Como se eu nunca tivesse partido.

            ‘Lily.’

            Ela pareceu surpresa, mas logo sorriu. Só percebi que queria ouvi-la dizer o meu nome quando sorriu e disse:

            ‘James.’


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