Arredores de Magnólia,aproximadamente meio-dia.Em meio ao calor agradável do início do verão e às belas e vivas paisagens,se aproximava lenta e ritmadamente uma carroça de carga,guiada por um mercante de 25 anos com cabelos cor de prata e que sorria pela expectativa dos negócios que poderia fazer ali.Atrás de si,estavam seus mantimentos,sua mercadoria que mantinha sua profissão de mascate e,o mais surpreendente de tudo,uma garota.Ela estava calmamente adormecida,os longos cabelos ruivo alarajados espalhados em cima das peles e temperos,e ele já cogitava jogar um pouco de água em seu rosto para despertá-la.Quanta folga!

-Hmmmnn... - A garota se encolheu mais em cima das peles na carroça,e depois se espreguiçou um pouco,elevando os quadris e bocejando de forma comicamente parecida com um cachorro,imagem essa acentuada pela presença de raras orelhas e cauda lupinas.O mascate,Lawrence,deu um sorriso de escanteio;sabia que se lhe dissesse aquilo certamente receberia retaliação. - ...nós já chegamos?

-Quem sabe se você se dispuser a acordar um pouco e se dar ao trabalho de abrir os olhos,descubra!

Ela fez uma expressão de raiva infantil,e bufou.Esfregou os olhos e sentiu a queimação do sol do meio-dia.

-E quem se daria ao trabalho de abrir os olhos com um sol como este?Ah,Lawrence,você forcaria mesmo uma dama tão sábia quanto eu a um martírio tão grande?

-O vinho também queima a sua garganta,e nem por isso você deixa de tomá-lo.

-Nossa,como você está atrevido esta manhã! - Ela pulou no assento ao lado dele,e deitou a cabeça em seu colo,ronronando.Mas não obteve o constrangimento que esperava e ficou frustrada. - Quando você deixou de ser tão divertido?

-Hm?Ah,quer dizer submisso?Era preciso,ou eu seria devorado por você,estou errado?

-Não de todo... - ela espreguiçou mais uma vez,a cauda balançando alegremente de um lado para o outro,e as orelhas dobradas para trás em um sinal de extremo relaxamento. - Onde estamos indo?

-Não ouviu nada do que eu te disse noite passada,não foi?

-Hmm...acho que a torta de maçã era mais interessante do que a sua conversa! - Ela deu uma dentada em uma das frutas,em sinal de desinteresse.

-Então,espere chegarmos pra saber,já que minha conversa a entendia tanto,minha deusa!

-Ahhh,não,não guarde as informações só pra você!

Ela pulava na carroça,desequilibrando-o e quase fazendo com que perdesse o controle das rédeas.

-Horo,fique quieta!Tá bom,tá bom,eu conto,satisfeita?

-Claro que sim! - Sorriu vitoriosa,e ele perguntou se sobreviveria caso puxasse a sua cauda;provavelmente não.

-Ah! - Suspirou,passando uma das mãos pelos cabelos.Ela ainda iria matá-lo um dia desses! - Estamos indo até Magnólia.Essa é uma região pagã,fora dos domínios da Igreja,e a magia é um item quase indispensável para o cotidiano.

-Fala de magia negra?Ah,esses humanos são tão estranhos!

-Não exatamente,é um tipo de magia diferente da que vimos no distrito de Kumerson,apesar de ser mais impressionante do que a dos alquimistas e até mesmo a de Rubens-san.Mesmo que nem ela seja uma humana.

-Ehh?Então como seria?

-Hmm,achei que já tivesse visto magia em toda a sua longa vida de sábia,estou errado?

Ela bufou mais uma vez e,ante a aproximação da entrada da cidade,escondeu as orelhas com o capuz.

-Eu sou Horo,a Sabia!Mas não é porque eu já vivi mais do que você pode sonhar que eu já tenha visto de tudo nesse mundo.Esqueceu que estive quase sempre naquela vila? - Ela não parecia contente com as lembranças.Lawrence percebeu,e lhe afagou a cabeça,tirando o seu capuz. - O que está fazendo?

-Aqui você não precisa se esconder.Quando chegarmos vai entender.

Ela ficou levemente confusa,mas assentiu.Prosseguiram em silêncio por mais alguns metros,até que Horo não se aguentou:

-Já esteve aqui antes?

-Algumas vezes.A cidade em si é apenas um ponto de passagem,mas a região é ótima pro comércio de especiarias!Só vamos passar por aqui porque tenho negócios a resolver.

-Negócios?

-Sim. - Ele pegou uma pera na carroça,e a mordeu. - Os arredores são cheios de ladrões,já perdi toda a minha carga uma vez por causa deles.Precisaremos de escolta.

-Posso dar conta deles sozinha,não confia na minha capacidade de apavorar humanos?

O sorriso sombrio dela quase o fez estremecer,mas ele não a temia naquele estado.

-Claro que sim,mas como eu te disse,aqui a magia é recorrente.E combatemos fogo com fogo,ou magia com magia.Desde aquele incidente eu firmei laços com uma guilda de magos,contratando um ou dois acompanhantes qualificados pra me proteger...pelo preço justo,é claro!Sei que pode dar um jeito neles sozinha,mas deixar o serviço pra terceiros é bem mais cômodo,não acha?

Ele sabia como convemcê-la,e Horo aceitou aquele argumento de bom grado.

-Não vai ferir o seu bolso?

-Você não liga pra isso quando come todo o suprimento de doces e carnes de uma taverna!Não se preocupe,sempre guardo uma parte do meu dinheiro justamente pra isso,não fará falta.

-Não estou preocupada,só quero comer alguma coisa melhor do que mingau de aveia essa noite!Bleargh!

Ele riu mais alto,mas não respondeu.Já estavam se aproximando da estalagem onde costumava se hospedar,e o dono o cumprimentou alegremente,resolvendo rapidamente a parte burocrática e guardando seu cavalo e sua carroça.Após se instalarem,ele se dirigiu a ela,que bebia um copo de suco sentada em sua cama.

-Vou até a guilda,quer me acompanhar ou ficar dormindo aí mais um pouco?

A cauda abanou alegremente.

-Claro que vou!Se uma guilda de mercantes já é divertida,mal posso esperar pra conhecer uma guilda de magos!Deve ser sombria e excitante!

Lawrence riu do entusiasmo errôneo da companheira,e estava curioso pra ver como seria a reação dela ao presenciar uma verdadeira guilda mágica.Ou melhor,aquela guilda em especial.

Caminharam pelas ruas alegres da cidade,e Horo não parava de farejar,excitada.Comentou pelo menos meia dúzia de vezes sobre comidas que ela iria provar,e ele se perguntou se seu bolso estava MESMO a salvo.

-Olhe,Horo.ISSO é uma guilda de magos!

Horo soltou um "ohhh" de admiração.Realmente,não era o que ela esperava,mas parecia muito divertido!Era barulhenta,e colorida,e os cheiros...os cheiros!

-Ahhh,parece ótima!

-Não se parece em nada com uma guilda de mascates,não é? - Ele ria da cauda abanando inconsciente. - Vamos lá,Lawrence! - E ela correu pra dentro do prédio,ignorando os gritos de "espere!" do companheiro.

Dentro da guilda...

Natsu estava no meio de um duelo com Elfman,após este ter dito que tratar a Lucy como ele tratava não era coisa de homem.Ele acabara de atacar com um Karyuu no Kenkaku que fez com que Juvia tivesse de intervir para salvar a construção de madeira,quando parou e farejou o ar,interessado.

-O que foi,Natsu?

O mago de fogo abriu um sorriso,e respondeu ao gato:

-Lawrence.Ele está aqui!

-Aye! - Happy respondeu,empolgado!