A Bella E A Fera escrita por Ruan


Capítulo 69
2ª Fase: Capítulo 26


Notas iniciais do capítulo

Olá leitoras (es)! Adivinhem quem voltou?
Segue um capítulo caprichado. Leiam as notas finais.
Boa leitura!



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— Alô? — Disse a voz do outro lado da linha.

— Tyler? — Chamei.

— Mel?

Por um breve momento, senti-me insegura com o que estava fazendo. Afinal, se caso o meu plano não funcionasse corretamente, provavelmente Tyler iria desconfiar de alguma coisa. Entretanto, valia o risco, já que retomei a lembrança em que eu e ele, nos encontrávamos em algum lugar no meio do nada, em uma casinha, nos protegendo de algo, ou melhor: de alguém. Ou seja, provavelmente a pessoa que recentemente me chantageava, já o fazia há algum tempo. Além do mais, eu e Tyler namorávamos, pelo visto. Será que terminamos? Quanto tempo se passou desde aquela vez na cabana?

Não queira perder a memória. É uma droga.

— Eu mesma. - Tentei soar descontraída. - Então, o que você acha de sairmos hoje?

Fui direto ao ponto. Eu não gostava de enrolação.

Em resposta, recebi o completo silêncio. Nesse tempo, escutei o som da respiração dele. Merda. Não me parecia um bom sinal.

— Tudo bem. - Ele respondeu, finalmente.- Aonde?

Ah, droga. Como eu iria saber? Mal conhecia a minha casa!

— No lugar de sempre. - Soltei, esboçando um sorriso amarelo, embora soubesse que ele não poderia me ver.

— Passo te buscar as oito. - Tyler avisou e após, desligou. 

Escutei o som do "tum,tum,tum" emanando do meu aparelho celular. Aliviada, o tirei do ouvido, jogando-o na cama ao meu lado. Essa tinha sido rápida. A primeira parte do plano estava completa, sendo que a segunda teria que ser muito mais planejada, visto que consistia em tirar informações de Tyler sem que ele desconfiasse que eu fiquei... Bem, louca.

Bom, eu tinha um encontro.

Por isso, ocupei o pouco tempo que me restava para arrumar uma roupa decente. A tarefa exigiu muita paciência, tendo em vista que a moda não era uma das minhas paixões. Bastava uma calça jeans e uma camiseta para me sentir satisfeita. Porém, não se trava de me satisfazer, e sim a Tyler. Argh. Tudo bem que eu havia perdido a memória, mas não a esperteza. Um homem não resiste a uma mulher bem arrumada e resolvida. 

Demorou algum tempo, pois não me lembrava da localização exata das minhas coisas. Que estranho. Eu me sentia como se tivesse vindo de outra época. Fiquei muito assustada quando entrei no banheiro e descobri que poderia regular a temperatura da água do chuveiro com um simples comando de voz. O boxe consistia em um vidro escuro que formava uma fortaleza ao meu redor, desenhando o formato de um circulo. Lá dentro, permaneci em silêncio, até que meu insisto me fez questionar se eu não deveria fazer algo, uma vez que não encontrava botão em lugar nenhum.

— Ligar? - Foi mais uma pergunta do que um comando.

E então eu gritei quando saiu aguá por todos os lados, inclusive do chão. 

Ao sair do meu banho, descobri que em um canto do meu quarto, havia uma pequena tecla que ao ser acionada, fazia emergir um espelho enorme de sua superfície, cobrindo todo o parâmetro da parede. 

— Maneiro. - Murmurei, impressionada.

Depois de muita procura, troca de roupas, tropeços e maquiagens retiradas por não ficarem boas o suficiente, eu finalmente encarei a minha imagem refletida no espelho. 

Eu trajava um vestido preto que terminava na altura dos meus joelhos. As alças pendiam em meus ombros, cobertas por uma renda de pequenas flores de cor escura, revestindo todo o tecido das minhas vestes. Optei por deixar o meu cabelo jogado para o lado, orgulhando-me dos cachos avermelhados perfeitamente penteados. Meus pés calçavam uma sapatilha dourada. No rosto, escolhi por passar base, pó e delineador nos olhos, finalizando com um belo batom vermelho nos lábios, acentuando-os.

Definitivamente, eu estava vestida para arrancar informações de um jeito doce.

O som do meu celular tocando me fez pular no lugar. Pelo visto, Tyler havia chegado.

A noite só estava começando.

***

Estávamos em um restaurante.

O lugar era fascinante, pois ficava posicionado em uma superfície que flutuava sobre o rio, sendo que para chegar até a entrada do local, tornava-se preciso caminhar sobre uma larga ponte que vez ou outra, balançava.  

Tyler estava sentado na minha frente. A mesa redonda encontrava-se coberta por uma toalha de seda branca. Pelo canto do olho, fitei o prato e os diversos talheres ao seu redor. Para que servia tudo aquilo? Parecia-me mais um arsenal de guerra do que utensílios usados para uma janta.

Um robô que exercia a função de garçom pediu que escolhêssemos o nosso prato. Instantaneamente, optei por frutos do mar, como se a resposta já estivesse na ponta da língua. Dispensei a salada. Não gostava. 

O que mais me chamou atenção foi que o robô era exatamente como um humano, exceto pelos olhos prateados e a voz um tanto estranha, cheia de pausas. Tyler me informou que a função de garçom não poderia ser exercida por humanos, pois uma lei foi criada para coibir profissões inferiores uma as outras. Todos deveriam ser tratados com respeito, sem serem servidos um pelos outros.

— Então, você queria falar comigo. - Ele finalmente disse, dando de ombros.

Forcei um sorriso. Seja simpática. 

— Isso mesmo. - Confirmei. - Vou direto ao assunto: Você se lembra do dia em que eu cheguei na delegacia um tanto.. Confusa? Bem, como você mesmo sabe, eu estava drogada.

— Lembro. - Afirmou, soltando um riso.  - A gente teve uma briga naquele dia.

Por um instante, fiquei surpresa. Mas logo tratei de deixar a minha expressão neutra.

— Eu lembro de alguns detalhes... Mas muito poucos. - Suspirei, aflita. - Pelo o que brigamos, exatamente?

Tyler passou a mão na cabeça, jogando alguns fios de cabelo para trás.

— Você me ligou naquele tarde e estava um pouco assustada pelo celular. - Ele olhava para um ponto fixo ao além, como se estivesse vivenciando o momento novamente em sua cabeça. - Mas disse que precisava de um favor. Basicamente, você queria que eu investigasse os laudos periciais de uma morte que ocorreu.

— De quem? - A pergunta saltou dos meus lábios antes que me desse conta.

— Não sei. - Tyler mordeu os lábios, voltando sua atenção em minha direção. - Eu respondi que não poderia te ajudar porque infringiria um dever funcional meu, além de estar colocando o meu cargo em risco. Sua mãe me demitiria em um piscar de olhos se eu te ajudasse.

Fiquei desapontada com ele. Provavelmente, descobri algo muito importante. Mesmo sendo filha da delegada - fato do qual facilitava a minha entrada na delegacia  - insisti em pedir a ajuda dele. No mínimo, eu sabia que precisava de amparo, pois sozinha não conseguiria obter êxito. E se eu soubesse de mais e com isso, tivessem me drogado para esquecer de tudo?

Argh. Droga.

— Mel. - A voz dele me tirou dos devaneios. - Me perdoa por não te ajudar naquele dia.- Ele pousou a mão em cima da minha. - É só que... você andava descontrolada nos últimos dias naquela semana.

— Descontrolada? - Indaguei.

— Sim. - Seus olhos escuros me fitavam com certa preocupação. - Você simplesmente se afastou de todos a sua volta e andava matando algumas aulas para ficar no museu. Te segui alguns dias, mas você insistiu em permanecer em segredo. Não quis me contar nada.

Meu cérebro parecia queimar dentro da cabeça. Por mais que eu tentasse me recordar, não conseguia. Era como se tivesse um buraco em minha mente.

Rapidamente, tirei minha mão de baixo dos dedos largos de Tyler e peguei a taça de vinho em cima da mesa, tomando o liquido transparente em seguida. A bebida desceu como gelo por minha garganta.

Que grande enrascada.

Inesperadamente, um garçom aproximou-se de nossa mesa e depositou uma garrafa de champanhe entre os pratos. Tyler ergueu uma das sobrancelhas, encarando o robô.

— Eu não pedi por essa garrafa. - Ele avisou.

— Eu sei – Em contrapartida, o garçom respondeu. - Mas me pagaram para entregar a vocês. E pediram para desejar um bom jantar.

Em seguida, deu as costas, levando a bandeja consigo.

Por puro instinto, olhei por sobre os ombros e ao longe, avistei um homem que me encarava com certa diversão estampada no rosto. Ele estava de pé na entrada do restaurante, trajando um terno de cetim cinza. Mesmo em meio a multidão, ele se destacava com aquele par de olhos cor de âmbar e os dentes perfeitos. Anthony. Será que aquele crápula estava me seguindo? Bem, eu que não iria deixar a oportunidade passar.

— Eu já volto. - Avisei para a minha companhia. Em seguida, levantei-me e caminhei apressada em direção de Anthony, que por sua vez, deu-me as costas e andou para fora a passos lentos. O suficiente para que eu o seguisse. 

Em meu peito, senti uma queimação que se espalhou rapidamente por todo o meu corpo, fazendo com que minhas mãos ficassem trêmulas. Maldito! Quem ele pensava que era parar aparecer do nada e atrapalhar o meu momento com o meu suposto namorado? Uma maldita entrevista de emprego não poderia justificar os recentes acontecimentos. Por alguma razão, senti como se já tivesse histórias com Mason há muito tempo. 

Lá fora, a lua pairava sobre minha cabeça e lançava um luz prateada que preenchia toda a água em minha volta, deixando-a praticamente cristalina. O vento agradável despenteou-me um pouco, mas não dei muita atenção. 

Quando cheguei perto o suficiente de Anthony, ele virou-se em minha direção e deu de ombros. Notei que ele segurava um envelope grande e marrom entre os dedos. Tive que olhar para cima para que pudêssemos ficar cara a cara.

— O que você está fazendo aqui? - Perguntei. Não consegui esconder a raiva em meu tom de voz.

— Tomando uma fresca. - Ele respondeu, sarcasticamente. 

Lancei um olhar furioso para o crápula.

— Eu já te disse que não quero você perto de mim. - Momentaneamente, lembrei do recado que o meu perseguidor havia deixado, aquela que dizia para matar o homem em minha frente. -  Me deixe em paz!

Anthony soltou um riso baixo e aproximou-se perigosamente, cortando o espaço seguro que havia entre nós. Por alguns instantes, senti o calor do corpo dele expulsando a rajada de vento fria. Dei um passo para trás.

— Eu só vim lhe dar um recado. - Sua voz assumiu um tom um tanto desconcertante. - Na verdade, estou aqui para te dar duas opções: A primeira, consiste em você aceitar a maldita proposta de emprego e lidar com o fato de que você é uma mulher desprezável que deve me servir. Basta assinar o contrato. - Em seguida, ele jogou o envelope em minhas mãos em um ato de brutalidade. Eu arfei quando agarrei o papel marrom. 

Não consegui falar nada. Apenas o encarei, como se aquele mar dourado dos olhos dele tivesse o poder de me prender.

— Ou você recusa e eu acabo com a sua família e com todos que você ama. Simples assim. - Ele amaçou, praticamente cuspindo as palavras no meu rosto. - Sei muitos podres da sua mãe. Poderia descartá-la num piscar de olhos. Eu posso tirar aquele distintivo daquele vagabunda. E o seu pai? Acredite, aquele tem a ficha mais suja do que um porco. - Rapidamente, ele levou o dedo até o meu queixo e o apertou, aproximando ainda mais o seu rosto do meu. - Acredite, você não vai querer recusar. Enfim, você tem até o final do dia de amanhã.

Em seguida, ele depositou um beijo na minha bochecha e quase vomitei quando senti seus lábios molhados em contato com a minha pele. Não demorou muito para que ele me desse as costas, atravessando a pequena ponte que o direcionaria até o estacionamento.

Minhas pernas estavam trêmulas. Se algum dia na vida eu havia me sentido tão humilhada, não saberia dizer se foi pior que aquilo. O pior de tudo, era que meu instinto apitava em mensagens que afirmavam não se tratar de brincadeiras as ameças feita por Mason. Eu estava me acostumando com aquela vida, embora tudo não passasse de confusão e incertezas. Mas, pelo menos, havia uma família pela qual eu pudesse lutar. Afinal, o abraço e a até mesmo a bronca de Regina me fizeram sentir tão acolhida. 

Eu poderia colocar tudo por água a baixo caso fosse precipitada. 

No fundo, eu não estava sendo movida pelas minhas certezas, mas sim pelas dúvidas. 

As lagrimas ameaçavam cair e eu fiz de tudo para contê-las. Não iria chorar por aquele maldito. Por alguns segundos, fiquei parada no lugar com o peso do envelope em minhas mãos. Eu queria jogá-lo na água e nunca mais vê-lo. Mas eu não poderia me dar ao luxo.

E eu também não poderia continuar sozinha. Afinal, seria um processo muito árduo o de ter que lembrar de todos os detalhes de minha vida, descobrir quem estava me mandando mensagens (e com isso, solicitando a morte de Mason) e ainda desvendar o que havia acontecido naquela noite em que liguei para Tyler. 

Seria necessário da ajuda de alguém que soubesse dos pequenos detalhes da minha vida. Meu instinto já sabia a resposta.

Rapidamente, caminhei de volta até a mesa onde Tyler me esperava pacientemente. Inventei uma desculpa qualquer para ele e ignorando o seu olhar preocupado, peguei o meu celular que encontrava-se dentro da bolsinha que achei no meu closet. A passos largos, fui até o banheiro e procurei pelo nome na lista de contatos, enquanto isso, o envelope de Anthony jazia parado em cima da pia. Esperei por alguns minutos até que a ligação fosse completada e um pouco mais até que finalmente atenderam.

— Alô?

— Nora? Sou eu, Melanie. - suspirei. - Preciso te contar uma coisa.


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Notas finais do capítulo

Primeiramente, me desculpem por estar sumido, definitivamente. A faculdade estava tomando muito tempo, além do trabalho. Como estou de férias, consegui arrumar um bom tempo para escrever. Eu estava com muita saudades de vocês e acima de tudo, de escrever, acho que por essa razão, o capítulo ficou grande.
Enfim, não deixem de comentar! Gosto de ver os reviews de vocês. Demais.
A princípio, vou postar certinho os capítulos esses mês, porque não vou abandonar a história. Além do mais, se preparem para NOVIDADES! Isso mesmo.
Até semana que vem e um grande abraço!
R.