Desta vez, eu não estava mais me sentindo desesperada enquanto caía em um abismo infinito, onde a completa escuridão era tudo que meus olhos eram capazes de enxergar.

Apenas fechei meus olhos, esperando pela cena se materializar em minha frente.

Afinal, ultimamente, a única coisa que me fazia ser forte o suficiente, era ter que ser obrigada a suportar, mesmo quando tudo estava desabando ao meu redor.

Assim que meus pés finalmente firmarem-se em algo sólido, abri meus olhos enquanto a escuridão era contemplada com um monte de cores vivas, que se misturavam e ganhavam forma. Tentei me mexer, só que o esforço foi totalmente em vão já que cada músculo de meu corpo se recusava a obedecer meus comandos.

Em menos de segundos, o cenário ganhou vida diante de meus olhos e uma mulher estava ajoelhada próxima aos meus pés, enquanto chorava desesperadamente. Só me era permitido ver são seus cabelos castanhos ondulados caídos por todo o rosto. Ela estava usando um vestido muito simples, branco, que estava todo manchado do que me pareceu terra. Não medi esforços para tentar acalmá-la, apenas observei o seu total sofrimento.

Olhei ao meu redor e percebi que eu estava em um imenso jardim. As folhas das árvores estavam se balançando por todos os lados e o barulho violento do vento fez meus ouvidos zunirem. Pequenas gotas de água começaram a cair sobre os cabelos castanhos da mulher encolhida na grama e não foi preciso muito para que eu concluísse que está chovendo.

O barulho de seu choro era agonizante e a cena estava um pouco borrada diante de meus olhos.

– Eu posso te ajudar? - Momentaneamente, olhei para o lado assim que escutei a voz.

A voz vinha de um homem que recém tinha chegado ali. Ele era alto, estava usando apenas uma calça rasgada, exibindo toda a sua musculatura do abdômen e braços. Seus cabelos eram do mesmo tom castanho do que o da mulher. Percebi devido ao seu traje que a cena que eu estava vivenciando estava se passando no período medieval.

Olhei para os olhos do homem e imediatamente reconheci aquele tom castanho.

Era Jacob.

Meus olhos foram de seu rosto para a mulher que estava caída ali. Ela levantou seu rosto banhado pelas lágrimas e encontrei seus olhos do mesmo verde que os meus. Eu já havia visto aquele corpo de minha antiga reencarnação, na vez em que fui até o quarto de Edward e o beijei.

Edward. Meu coração imediatamente se apertou dentro do peito.

Concluí que aquela tinha sido a primeira vez que vim ao mundo. Entretanto, se eu havia vivido em um século mais antigo que aquele, obviamente conheci Cristo.

– Está tudo bem comigo. – Ela se apressa em responder, limpando as lágrimas do rosto com o dorso da mão.

O homem deixou transparecer a mais pura pena. O antigo Jacob se agachou no chão, ficando na mesma altura que ela. Seus olhos se encontraram e percebi a quantidade de esforço que minha antiga eu estava fazendo para não chorar mais.

Algo que eu faria.

Sempre evitando chorar, não querendo parecer fraca.

– Não fiques triste. – A voz do homem tinha uma incrível semelhança com a de Jacob. – Sabes que pode fugir. Sou o jardineiro desta fera que tanto lhe maltrata, dama. – Ele levou o dedo até a bochecha dela e limpou uma recente lágrima que acidentalmente tinha caído. – Seria tudo mais simples se escolhesse fugir, pois poderia lhe ajudar. Não aguento mais vê-lo lhe maltratando. Afinal, o que ainda vos prende aqui?

Minha antiga eu demorou a responder. Em todo o tempo que ficou se passando, tive uma breve intuição que ela estava demorando a achar a razão, da qual eu sabia muito bem.

Eu soube o que ela ia responder antes mesmo das palavras saírem de sua boca.

– Eu o amo. – E então, mais lagrimas transbordaram de seus olhos.

De repente, uma explosão de luz simplesmente aconteceu ao meu redor e então duas crianças apareceram em minha frente, ambas com as mesmas cores dos meus olhos e os de Jacob. Elas começaram a brincar ao meu redor, e tudo foi passando com um flash diante de meus olhos: Tanto o menino quanto a menina, foram vivenciando um monte de momentos, entre eles havia brigas, brincadeiras, risos, choros. Tudo isso acontecendo em diversos lugares, meus olhos não ganharam tempo para reconhecer algum. Até que a aparência dos dois mudou e os outros momentos novos foram sendo vivenciados.

A aparência das crianças sempre mudava e a cena acabava quando eu me via pequena chorando aos prantos ao lado do corpo ensanguentado de um menino.

Inesperadamente, senti lágrimas se formarem em meus olhos.

– Não entendo por que não nos conhecemos desde pequenos nesta reencarnação. – Escutei a voz de Jacob ao meu lado e arfei de surpresa.

– Como você está aqui? – Perguntei, olhando para seu rosto, percebi que havia lágrimas caindo de seus olhos também.

Passei minha mão em minha bochecha, onde as lágrimas insistiam em inundar cada vez mais.

– Sempre morro quando completo 10 anos. O motivo é que tenho câncer, doença que ninguém consegue diagnosticar na época. Teve somente uma vez que diagnosticaram. Você era uma modelo, que pousava praticamente nua para Edward. – Jacob ignorou minha pergunta e continuo falando – Só que era tarde demais quando descobriram. Bem, já fiz todos os testes nesta encarnação e descobri que não tenho câncer. Motivo de superação.

Como Jacob sabia de tanta coisa?

Fiquei surpresa quando senti culpa dentro de mim. Eu não era a única que sofria sempre, então. Jacob sempre sofria ainda mais que eu, a diferença era que sua vida acabava antes.

A morte... Fácil.

De repente, tudo começou a desaparecer diante de meus olhos e fui praticamente sugada de volta pelo mesmo abismo que eu havia caído minutos atrás.

Como se eu fosse jogada em uma piscina repleta de gelo, recebi uma onda de frio imenso em minha pele e meus pulmões quase congelaram. Abri meus olhos e me encontrei novamente no Alasca.

A neve castigava meu rosto e estava encolhida no casaco de Edward, onde posso inspirar seu cheiro.

Quando minha visão finalmente desembaraça, encontrei Jacob se levantando, seus lábios finalmente longes dos meus. Percebi que minhas mãos estavam apertadas ao redor de algo afiado e instantaneamente me lembrei de que eu havia alcançado a faca de Jacob antes de seus lábios finalmente encostarem-se nos meus.

Tentando ser o mais discreta possível, levei minhas mãos até o cabo da faca e comecei a raspar a ponta afiada pelas cordas que estavam ao redor de meu pulso.

Olhei para cima e encontrei Jacob, olhando-me, ávido.

– Finalmente te contei tudo. – Ele falou, depois de soltar um longo suspiro.

– E o que pretende fazer agora? – Perguntei, em tentativa de desviar sua atenção para que não percebesse que sua faca havia sumido.

– Bem, eu realmente não sei. Falhei, e quem me mandou até aqui, não aceita falhas. – Jacob olhou para mais distante, seus olhos focando em um ponto especifico.

Eu continuava a cerrar a corda, sentindo meus pulsos menos apertados a cada instante, a liberdade praticamente ansiando de vontade dentro de mim. Só ousei parar de fazer tal coisa quando senti um formigamento já familiar tomar conta de meu corpo, depois, continuei a cerrar, sabendo que era Edward se aproximando. Minhas mãos estavam trêmulas e fracas, deduzi que levaria uma eternidade para que eu pudesse me libertar.

– Tem que me contar quem está fazendo isso, Jacob! É a única forma de tudo isso acabar, será que você não entende? – Tentei emitir incredulidade através de minha voz. Eu estava interpretando bem, afinal.

– É á única forma de ficarmos juntos! Será que você não entende? – Ele gritou, aproximando-se perigosamente de mim. Devido ao susto de sua mudança de humor repentina, a faca escorregou de minhas mãos e involuntariamente, impulsionei meu corpo para trás. Minhas costas instantaneamente bateram contra a árvore e aproveitando a oportunidade, Jacob se agachou, ficando na mesma altura que eu.

Arfei.

– Se afaste, Jake! Você não está agindo racionalmente. – Ameacei, aflita.

Ele aproximou seu rosto do meu.

– Sei exatamente o que estou fazendo, Bella. Afinal, não posso nunca ter o meu final feliz? – Jacob aumentou sua voz em duas oitavas quando pronunciou o pronome meu.

Novamente, senti um formigamento, só que dessa vez mais forte que das outras vezes. Tive que suspirar e inspirar várias vezes para que meu coração voltasse a bater no ritmo normal.

Edward estava se aproximando, concluí.

Só tive tempo de piscar e quando eu estava pronta para afastar meu rosto do de Jacob, algo inesperado aconteceu.

Um vulto negro passou praticamente voando diante de meus olhos e o corpo de Jacob foi arremessado a mais de metros para longe de mim. Tentei me afastar o mais distante possível daquilo e finalmente a parte de trás do tecido de meu vestido cedeu as lascas de madeira que havia no tronco, agora quase perfurando minha pele. Um amontoado de neve caiu por de cima de minha cabeça e inundou ainda mais meu corpo.

Meus olhos focalizaram no vulto que estava parado em minha frente.

Ele estava agachado em posição de ataque. Seu rosto estava coberto pela toca de um conjunto de moletom todo negro, assim com sua calça e seus sapatos.

Seus olhos não estavam fixos nos meus e sim para frente, em direção à Jacob.

Foi quando tive total certeza que eu estava cara a cara com o verdadeiro assassino.

Jacob se levantou do amontoado de neve e correu a passos largos em minha direção. Quer dizer, do assassino.

Falhei, e quem me mandou até aqui, não aceita falhas. As palavras de Jacob ecoaram dentro de minha cabeça, enquanto a luta entre ambos finalmente começava.

A única certeza que tive foi que eu precisava me livrar o mais rápido das cordas. A vida de Jacob estava com os minutos contados.

Eu soube que se me concentrasse o suficiente nas rosas, eu poderia ser útil em algo, mesmo estando tão fraca.

O assassino estava a poucos metros de mim.

O ângulo era perfeito para um ataque surpresa.

Eu precisava agir.