O Despertar de Um Anjo: Pesadelo escrita por Mara S, Kelly S Cabrera


Capítulo 10
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Dante parou a moto em uma ruela suja.

               - Acho melhor escondermos nossas armas – disse olhando ao seu redor.

               Lara tirou seu coldre e guardou em sua mochila enquanto Dante cobria a Rebellion embaixo de seu sobretudo.

               - Espero que isso dê certo.

               - Claro que vai. É nossa única chance. – Dante disse enquanto guardava sua moto no beco.

               Os dois continuaram em uma rua movimentada, ambos os lados com diversos arranha-céus. Homens de terno passeavam pela rua. Parecia muito com o centro financeiro de alguma cidade de seu mundo, Lara pensou.

               - Ali está nossa salvação. – apontou para um dos prédios mais altos da rua, a poucos metros deles, com uma arquitetura moderna.

               - A cada dia que passo nesse lugar, me surpreendo mais. – Lara disse admirada. Não imagina encontrar um centro financeiro naquele lugar. Era tudo tão parecido com o que ela convivia, tirando os demônios.

               - Vamos logo. Depois você se deslumbra com a paisagem. - A empresa de Ishyros. Quem diria. Ele realmente queria ser visto como humano. Será que foi por esse motivo que ele perdeu sua força? – Lara perguntou.

               - Ele queria ser visto como humano pelo fato das coisas se tornarem mais fáceis pra ele - Explicou - O fato dele ter perdido o poder dele não tem muito a ver com isso.

               Chegaram à entrada da empresa. Dante virou-se para Lara e começou:

               - Você, obviamente, parece mais normal que eu, então eu acredito que seja melhor você perguntar.

               - Perguntar o que?

               - Pergunte se você pode falar com o secretário de Ishyros, ou algo assim. Fale que é assunto...

               - Você não sabe o nome dele? – Lara disse interrompendo Dante. – Como ele é?

               - É o cara que nós encontramos na cobertura do Ishyros, o careca.

               - Claro, o mensageiro. – Lara disse sombriamente virando-se para entrar nas portas de vidro.

               - Exatamente. Seja boazinha e simpática.

               Lara entrou e seguiu calmamente pelo saguão amplo até a recepção. Havia bastante movimento dentro do prédio, tanto que apenas Dante notou quando Lara roubou uma maleta escura ao lado de seu dono.

               - Por favor – Lara disse para uma mulher sorridente. – Boa Tarde. Ontem pela tarde encontrei essa maleta no parque aqui perto, infelizmente não havia identificação, fui forçada abri-la para saber a quem devolver. Havia uma pequena nota dizendo que deveria ser entregue ao senhor Ishyros. Eu não o conheço, mas devo acreditar que ele esteja preocupado. Gostaria de entregá-la, para o responsável, o secretário talvez se encarregue disso?

               - Qual seu nome?

               - Amelia Rosebaun.

               - Senhorita Rosebaun, o senhor Ishyros quase não fica aqui nesse prédio, mas o senhor Vizard sim. Ele é o responsável por tudo relacionado à Ishyros. Vou ligar avisando que você irá subir com a mala. Talvez nem ele saiba disso.

               - Agradeço. Qual andar?

               - 60°

               Lara sorriu para a mulher uma última vez, Piscou para Dante que estava a poucos metros. Respirou aliviada. Se o dono estivesse lá, tudo seria mais difícil. Maior segurança e conseqüentemente maior dificuldade. Rezou para que Vizard fosse a mesma pessoa da cobertura.

               - Achei que seria mais difícil. – Dante disse ao entrar no elevador.

               - Você não foi o único.

               - Você é pior que imaginei.

               - Perdão?

               - Esquece.

               Lara olhou desconfiada para Dante, enquanto subiam rapidamente pelo elevador, uma música irritando vinha até seus ouvidos, fazendo Dante andar nervoso pelo elevador enquanto pessoas entravam e saíam apressadas.

               - Você não está acostumado a usar elevadores? – Lara disse sorrindo.

               - Não, nem um pouco!

               - É bom, pra você sentir um pouco mais humano, infelizmente nós não podemos voar.

               - Isso é um tédio! Bem que podia ser do meu jeito.

                 Pararam no andar solicitado e encontram um hall vazio. Em sua frente se encontrava uma porta de vidro branco.

               - Eu não vou precisar mais disso. – Lara colocou a maleta em um sofá.

                Dante tirou sua espada e armas, dessa vez ele arrancaria toda informação possível

              - Esta na hora da diversão, Larinha!

               Lara tirou seu coldre da mochila e colocou em volta das coxas ajeitando o cinto também.

               - Eu ainda acho que você vai matá-los do coração.

               - Quieto. Vamos acabar logo com isso.

               Lara abriu a porta lentamente. Vendo uma moça de longos cabelos escuros sentada em uma mesa, sua reação foi:

               - Dante, dá um jeito nela – disse impaciente. - Ela não pode descer, mas também não pode ficar aqui.

               - O que posso... – a jovem parou de falar quando viu os visitantes armados. Ela ameaçou pegar o telefone quando Dante com um pulo parou na frente da moça assustada e disse:

               - Desculpe. Você não tem nada a ver com isso. – nocauteou a moça e a levou pra uma salinha que estava entreaberta e que levava a um pequeno banheiro. Depois que saiu trancou a porta.

               - Lara, eu odeio fazer isso. Apesar de ser necessário.

               - Dante, não se preocupe, ela sai inteira disso – falou enquanto trancava a porta da recepção. – Agora sim. Vamos.

               Lara abre a porta do escritório já com as pistolas em punho, seguida de Dante.

               O demônio já estava em pé e olhava fixamente para os dois.

               - Vocês não têm noção do perigo. Sabia que eram vocês no minuto que entraram na recepção. Creio que devem ter matado minha secretária.

               - Errou – Lara disse seriamente. – Se sabia que estávamos aqui, por que não fugiu como o demônio covarde que é?

               -Não, não, ele queria mostrar que pode com a gente, como todo demônio idiota que se encontra por ai.

               - Onde está Ishyros? Pensei que estivesse com vocês.

               - E ele está. – Lara sorriu misteriosamente. – Mas infelizmente creio que ele não possa responder seu chamado de ajuda.

              - A não ser que você vire poeira também.

               O demônio não pôde esconder seu espanto.

               - Certo, vamos conversar “civilizadamente” como vocês dizem. Você e seu chefe eram bem íntimos, então creio que ele deve ter te posto a par de tudo que ele planejava. – Dante parou a poucos centímetros do demônio.

               - Supostamente.

               - Supostamente? Não me irrite! Não quero muita coisa de você. Só duas perguntinhas.

               - Não sei se poderei ajudá-lo – o demônio afastou-se de Dante o mais longe possível.

               - Resposta errada. – Dante sacou uma de suas pistolas na direção do demônio covarde.

               - O que vocês querem? – ele gaguejou.

               - Um demônio covarde. Essa é nova – Lara riu baixinho.

               - Onde encontro Agla?

               - Vocês não vão conseguir derrotá-la! Sema a ajuda de outro demônio forte o bastante.

               - Eu não perguntei isso. Vamos! – Dante atirou a poucos centímetros do demônio.

               - Certo! Você conhece O Abismo?

               - Ela está lá? Pensei que não tivesse atividade demoníaca naquele lugar a séculos!

               - Sim... Ela sabe manter as aparências. Eu nunca fui lá. Demônios como eu não são bem vindos. Você sabe, a hierarquia e tudo mais. Eles me matariam antes de chegar ao portão principal. – o demônio disse isso com certo desconforto.

               - Certo. Estou convencido. Eu não preciso saber como chegar lá – Dante fez uma pausa. – Como derrotá-la?

               - Há! Isso Ishyros nunca me disse! Vocês terão que descobrir sozinhos! – o demônio olhou para o relógio no pulso e rapidamente, antes que Dante pudesse feri-lo, quebrou a janela de seu escritório. Uma rajada forte entrou no recinto e vidros voaram pela sala. Lara e Dante protegeram seus olhos, enquanto o demônio disse sorridente:

               - Te vejo no Inferno! – e pulou pela janela.

               - Covarde! – os dois correram para a direção da janela. Dante começou a atirar desesperadamente em direção ao pequeno ponto que era o demônio na vastidão do céu.

              - Droga! – Dante gritou.

               - Acho melhor irmos. Estou com um mau pressentimento. – Lara olhou para a porta.

               - Por que você... – Dante foi impedido de completar a frase, pois uma legião de demônios surgiu voando no horizonte.

               - Você está certa. – Dante agarrou Lara sem muita cerimônia e pulou a janela. Dante voou em direção contrária aos demônios que pareciam não desistir da luta.

               - Você quer um pouco de ação? – Dante gritou enquanto pousava em cima de um prédio. – Eles vão nos encontrar, não adianta fugir. É melhor matá-los. Vai ser fácil.

             - Eu não duvido disso.

             - Você está bem? Tive que agir rápido. Geralmente sou mais cavalheiro quando faço isso. Pra impressionar as mulheres. – Dante disse a última frase arrumando o cabelo de forma arrogante.

               - Você e seu ego.

               Depois de poucos segundos os demônios chegaram. Todos com aparência medonha. Alguns pareciam estar em estado avançado de decomposição. A maioria carregava lanças ou objetos pontiagudos.

               - O Vizard só mandou isso pra nos matar? Realmente a lista de contatos do cara está pequena.

               O primeiro grupo saltou em direção dos dois. Com alguns desvios e ataques certeiros a maioria foi vencida rapidamente. Todos os demônios foram exterminados em poucos minutos.

              O último tentou fugir saltando do prédio, mas foi impedido por Lara que com uma das lanças que estava no chão atravessou o corpo do demônio o fazendo tombar imediatamente.

               - Só isso? Achei que o braço direito do Ishyros seria mais difícil de ser subjugado.

               - Mas ele não morreu. Voou desesperado. – Lara disse enquanto limpava suas pistolas.

                -Mas olhe só o que ele deixou pra nós - olhou em volta mostrando o que sobrara dos demônios. - Ele então deve ser bem ruim, fora que é covarde.

     - Isso é bem evidente – disse meio distraída. – Agora podemos voltar para a loja? Precisamos de um plano. Não existe mais nada pra ser feito aqui em cima.

               - Você quer do jeito mais fácil ou do seu jeito humano de ser? – sorriu olhando para baixo.

               - Devido às circunstâncias. Acredito que seja melhor do seu jeito.

               - Ótimo! - Dante não pensou duas vezes na hora de pegar Lara e pular do prédio.

               Chegaram até a moto estacionada em pouquíssimo tempo.

               - Infelizmente, não posso deixar essa coisa linda aqui! – Dante pegou a chave, mas logo foi impedido por Lara que a roubou de suas mãos e sentou ligando a moto. - Olha esse barulho – disse fechando os olhos. – Eu nunca me perdoaria se não dirigisse essa moto.

               - O que você pensa que está fazendo? – perguntou irritado.

               - Você é cego? Vou te dar duas alternativas: ou você monta nessa moto ou você vai voando pra casa. Mas quem vai dirigir sou eu. E você sabe que costumo fazer as coisas do jeito que quero.

                - E eu pensando que a gente já tinha resolvido isso – resmungou.

                - Resolvido o que? – Lara disse levantando uma das sobrancelhas enquanto acelerava a moto.

 

               - Esqueça, nem adianta falar mais nada. – disse rolando os olhos.

               - Até que você aprende direitinho. – disse acelerando a moto e desaparecendo da vista do demônio que levantou vôo.

                 Lara chegou à frente da loja e encontrou um Dante visivelmente irritado a esperando. - Ótima moto, como havia pensado. – disse provocando.                - Você demorou, pensei que tinha acontecido alguma coisa. Claro, obviamente não com você porque sei que sabe se cuidar.

               - Não é a primeira vez que dirijo uma moto. – disse cruzando os braços enquanto Dante olhava para sua moto.

               - Não me diga! – fingiu surpresa.

               - Você não vai encontrar nada fora do lugar – falou se afastando. Abriu a porta da loja e desapareceu de vista.

                - Eu sei disso - Disse assim que Lara entrou, mais pra si do que pra ela e a seguiu. - Temos que ir atrás de Agla – lembrou. - Antes que ALGUÉM faça isso antes!

 

               - Seria interessante se você me explicasse o que é O Abismo.

               - É um antigo refúgio de demônios. Eu acreditava que não existia mais nada lá, muitos caçadores de demônios exterminaram qualquer fonte de vida. Mas parece que me enganei. É um lugar perigoso, e quando digo perigoso, eu quero dizer que não foi feito para humanos.

               - Eu acho que não entendi a última parte – Lara fingiu desentendimento.

               - Lara, eu acredito que seja melhor você ficar aqui. Até eu encontrar esse demônio. Você não tem idéia o que Agla pode fazer para me atingir. Esses demônios são sábios. E parece-me que Agla não é diferente. Você viu o que Ishyros disse sobre ela – ele suspirou. – Eu não quero perder mais ninguém... Além do mais não é só Agla que vai estar lá, tem o meu irmão também. É muita coisa para uma noite só. Quando tudo isso terminar você pode me ajudar a encontrar os portais, te prometo que isso não será entediante.

               Lara encarou Dante demoradamente.

               - Por que você está me pedindo isso? Você me pede o impossível.

               - Eu já te disse o motivo. Esse demônio pode te matar em poucos segundos, e ele faria isso como forma de me atingir e se isso acontecer eu nunca me perdoaria. Esse não é seu mundo Lara. Aqui as coisas são um pouco diferentes. Eu não quero que você vá. Por favor, é a primeira vez que te peço algo desse tipo.

               Lara começou a andar impaciente pela sala, tentando pensar em algo.

               - Deus! – ela disse mordendo os lábios desesperada. – Eu não posso ficar aqui, me sentirei inútil, além de ficar desesperada pensando...

               - Que eu morri? – ele completou.

               - Sim... Que você morreu – ela disse contrariada. – Eu odeio me sentir impotente.

               -Nunca pensei em escutar uma coisa dessas, pelo menos até agora - Sorriu - Lara, por favor, fique.

               Lara quase sussurrou:

               - Certo. Eu fico.

               - É melhor assim, não se preocupe.

               - Eu espero.

               Era visível que Lara não havia gostado de ficar esperando Dante e ela não disfarçava sua opinião contrária, um misto de raiva e tristeza.

               - Até mais tarde – disse acenando com a mão e fechando a porta antes que ela mudasse de idéia. Lara subiu para o quarto, uma ducha a ajudaria a se acalmar. Era melhor ela cumprir o que Dante pediu. Pelo menos dessa vez.

 

 

 


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