Olho a arena em minha volta.  A área inicial é plana e descampada, com as 24 plataformas que contém os tributos, vejo a cornucópia, o chifre de ouro, perto dele há uma tenda cheia de objetos, armas, mochilas, colchonetes, comida e outras coisas. Mais a frente há uma nascente de água, que se transforma em 3 filetes que vão engrossando e seguem  direções diferentes, todos  indo  ao encontro de uma vegetação que parece sem fim e preenche toda a região em  volta dessa área plana.

Um banho de sangue deverá acontecer em pouco tempo. O nosso plano é tomar conta da área onde ficam os suprimentos e matar qualquer um que estiver lá. Depois que assegurarmos os objetos, poderemos manter um certo conforto e sair para  matar os outros. È frio, eu sei. Mas penso que será melhor para alguns morrer logo do que sofrer vários dias na arena. Sei que pode ser somente uma desculpa para minha cabeça. Mas tenho que pensar em algo para me aliviar. A verdade é que eu luto por minha vida também.

O tempo de espera acaba, me atenho ao plano e corro em direção a tenda. Muitos fazem isso, entretanto uns simplesmente fogem, pegando o caminho em volta dos filetes d´água, sumindo na mata. Vou em direção as armas e já vejo umas brigas lá. Tristan, o tributo do 7, está com a única lança da arena. Isso não pode acontecer,  aquela lança é minha. Consigo pegar uma faca e jogo nele. Ela acerta o seu braço. Arremesso outra e essa é mais certeira, no abdómen, depois disso, é fácil tirar a lança das suas mãos.   

Vejo-o ainda se mexer um pouco, mas depois ele para. É assustador, minha primeira morte.  Mas tenho que prosseguir. Antes de me levantar, pego algumas facas e as guardo em meus bolsos. Vou andando, quando percebo um barulho e vejo Kinsey próximo de uma mochila. Ele me olha assustado. E não sei por que, não penso direito, ele não era uma ameaça real, mas quando dou por mim, me vejo segurando a  lança, movimentando-a e atravessando o coração de Kinsey, Ver sua vida saindo dos seus olhos é devastador. Não sei o que pensar. Eu matei o garotinho, o mesmo que  ajudei a levantar aquele peso, e  que me deixou feliz quando vi que estava fazendo progresso.  Ele era só uma criança indefesa. Sou um monstro.

Não penso direito e me sento catatônico. Há muita luta em minha volta. Star briga com Argos, o garoto do 10. Ela já esta quase o finalizando. Juno e  Jurgen juntam os objetos que estão espalhados na área. Ele, com sua força, consegue jogar as coisas em um monte só. Ela o ajuda a empilhar. Isso pode diminuir as chances de que  outro tributo venha e as leve de forma sorrateira. Cammis os guarda nessa tarefa. Eu devia ter me juntado a eles. Assim, não teria me tornado esse monstro assassino.

Sinto minha roupa sendo puxada. Ruby, a garota que eu ajudei a mexer com as facas, consegue pegar uma do meu bolso. Por um momento eu penso se ela irá me atacar, e não tenho dúvidas, pulo em cima dela para evitar o seu ataque. Lutamos, consigo tomar a sua faca, e corto o seu braço, ela se livra de mim, e corre um pouco, de repente para, se abaixa e vejo que ela conseguiu outra faca, acho que durante a luta uma das minhas facas caíram. Ela está prestes a jogá-la em mim. Mas sou mais rápido, minha faca acerta a sua garganta, e muito sangue começa a sair, ela cai quieta, mais uma para minha lista de mortos.

Me levanto apoiando em minha lança e olho em volta novamente. Vejo Cruiser,  aos seus pés observo  Synesthesia, com um ferimento no estômago, não há mais vida em seu corpo. Ela era tão engraçadinha!  E eu penso no que meu pai havia dito. Matar alguém ia me devastar. Eu não tinha matado Synesthesia, mas aquela visão me perturbou.  Lembro do olhar assustado de Kinsey, isso era pior, era o que mais doía. Mais do que Tristan e Ruby e seus ferimentos gravados em minha mente.

 Cruiser estava procurando outro oponente, e se deparou com Marshall, o rapaz do 8. Uma luta começa entre eles.  Alexander matava Coraline, a menina do 5. As coisas aconteciam muito rápido, mas para mim pareciam um pouco borradas e em câmera lenta. Era muito barulho, mas eu não escutava, meu ouvido parecia estar em outra frequência. Nesse cenário eu avistei Tulip, ela estava próxima de mim. Tentando pegar uma mochila. Finquei minha lança forte no chão para evitar que qualquer reação minha, causasse a morte dela. Ela se moveu assustada, eu chutei a mochila na sua direção. E falei:

- Vá. Corra!

Ela pegou a mochila e saiu em disparada. Nossa, ela era tão rápida! Cammis como guardiã dos suprimentos foi atrás dela.  Não, eu não queria isso. Por que não a deixaram em paz?  Eu não estava bem, e não me movia com muita rapidez, mas fui atrás delas.  Tulip pegou um dos caminhos que iam para uma das áreas da floresta, seguindo o curso da água. O lugar era inclinado e cheio de pedras, então eu tomei cuidado para não tropeçar e cair. Cammis também tomava cuidado, e Tulip conseguiu distanciar um pouco dela, mas na verdade ambas estavam indo mais rápido do que eu e quando elas entraram numa curva,  não as avistei mais, mas continuei  seguindo através dos marcas de passos que elas deixaram.  

Depois de um tempo, escutei um grito e  barulho  alto. Continuei correndo e dessa vez mais rápido. Não podia ser! Será que Cammis havia alcançado Tulip?  Então escutei os tiros de canhão. O banho de sangue já deveria ter acabado. Eram 7 tiros.  Mais mortos do que eu havia pensado. Será que um desses era de Tulip. Não podia ser, os olhos de Kinsey vieram a minha mente. Ele já tinha ido embora, não queria que Tulip tivesse o mesmo destino. Falei sozinho, não muito alto, mas em tom audível:

- Não! Ela não.

Continuei correndo, para ver o tinha acontecido, mas sem muita esperança.