Ours Secret escrita por Princess


Capítulo 14
Capítulo 14 - O outro lado da moeda




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/217698/chapter/14

O hangar estava vazio, com exceção de um senhor extremamente loiro em um terno caro e um piloto checando o avião. Draco Malfoy nunca foi o tipo de homem que aceita ultimatos de ninguém, mas ao ouvir a forma como sua esposa falava ao telefone, sabia que não tinha escolha a não ser desmarcar sua viagem e fazer aquilo que fazia de melhor: ouvir a única mulher que foi capaz de muda-lo.

E é claro que Astória havia compartilhado sua suspeita sobre Maximillian, filho de Rose Weasley e – sabe-se lá, Deus – seu filho. Sabia que sua esposa iria encontrar a filha de seu antigo inimigo de negócios para descobrir a verdade sobre o garoto. Ele poderia sentir que o rapaz carregava o mesmo sangue que ele. Ele era um Malfoy, sem sombras de dúvida. E mesmo um Malfoy deve saber elogiar o trabalho de outro homem. Draco não poderia negar que Thomas Everdenn havia feito um trabalho maravilhoso criando seu neto e quando soube de sua prematura morte... Não poderia deixar um jovem e sua mãe sozinhos em um momento como esse.

Apesar do sobrenome Weasley, eles agora faziam parte da família Malfoy e os Malfoy cuidavam um do outro. Estava pensando nisso quando dois carros adentraram o hangar. Do primeiro SUV preto desceram Astória, Scorpius, Rose Weasley e seu filho, Maximillian. Os passageiros do segundo carro se demoraram um pouco mais. Draco continuou de cara fechada e braços cruzados enquanto esperava a boa vontade de seus convidades. Com um estrondo, uma porta foi aberta revelando um atordoado Ronald Weasley. Se possível, ele parecia mais vermelho que o comum, mas irritado que o comum. Talvez Draco não fosse o único desconfortável com a situação. Logo após o patriarca, sua esposa e filho desceram com uma mulher tão ruiva quanto um Weasley poderia ser.

— Senhor Malfoy? – Max chamou a atenção do mais velho. – Gostaria de agradeçer por tudo o que senhor está fazendo por nós. – disse assim que o loiro o olhou. – Saiba que terei uma divída eterna com o senhor.

E então a coisa mais inesperada aconteceu. Draco Malfoy sorriu para o garoto e o abraçou.

— Você não me deve nada, filho. Apenas cuide-se, vai ser o suficiente para mim. – disse quando o soltou.

Astória se postou ao lado do marido e ambos olharam com admiração o neto que tanto sonharam e ter e que ganharam da pessoa de quem menos esperavam.

Atrás de Maximillian, um vermelho Ronald esperava para cumprimentar o anfitrião. O Weasley apertou o ombro do neto e estendeu a mão para Draco. Ali, naquele gesto, o ruivo pedia desculpas por todas as ofenças trocadas, as ameaças e rogava que construissem uma aliança pelo bem de suas familias. Quando Draco apertou a mão do Weasley, ele pedia a mesma coisa.

Interrompendo o momento, o piloto disse que estava tudo pronto se desejassem partir naquele instante. Mais que depressa todos começaram a embarcar. Scorpius ficou por ultimo, esperando que todos se acomodassem primeiro. Quando estava prestes a entrar ouviu um grito fino chamando seu nome. Um homem alto e loiro vinha correndo pelo hangar com um pequena valisse nas mãos. Scorpius apertou os olhos para ter certeza do que via. Correndo para alcaçá-los, Luke Knight, seu primo, batia todos os recordes olimpicos.

— O que você está fazendo aqui? - perguntou o mais velho.

— Sou o advogado de Thomas Everdenn. Você não sabia? – Luke respondeu por cima do barulho das turbinas sendo ligadas.

Ele passou a frente do primo e adentrou o jato dos Malfoy, deixando para trás um estupefaço Scorpius.

A decolagem foi tranquila e um pavoroso silencia recaia entre os tripulantes, exceto por dois loiros que conversavam baixinho o fundo da aeronave. Rose permanecia ao lado do filho, fazendo carinho na cabeça cansada de Max. A sua frente, Lillian e Hugo permaneciam em completo silencio, apenas observando as quietas lagrimas rolarem pelos olhos da ruiva mais velha.

Há uma distancia segura da Weasley, seus pais sentavam-se frente a frente com Draco e Astória Malfoy. Nenhuma palavra havia sido trocada, mas Hermione já planejava tudo o que iria dizer. Ela não havia dito a seu marido quem Scorpius na vida de sua filha e muito menos o que ele era para Max. Mas minutos antes da ligação de Rose abalar suas emoções, Ronald havia adentrado a biblioteca exigindo saber o que a filha tinha na cabeça para deixar seu único neto andar na companhia de um Malfoy. Cansada de guardar segredos do marido, Hermione apenas apontou para a revista de fofocas que seu marido expremia entre os dedos e disse: “Basta olhar para os dois e você vai saber”. Desde aquele momento Ronald estava quieto, pensativo e muito vermelho. Principalmente agora, frente a frente com a outra parte da família de seu neto.

Hermione abriu a boca para proferir as palavras, mas com um sorriso amavél Astória disse:

— Nós sabemos.

A senhora Weasley suspirou audivelmente. Não queria ser a responsável por uma notícia tão forte quanto aquela. Ronald apertou a mão da esposa que repousava em sua perna.

— Acho... – ele limpou a garganta. – Acho que ele é mais importante do que qualquer ideologia ridícula que nos separa.

— Eu concordo. – Draco disse.

— Ele ainda não sabe. – Astória falou olhando na direção do neto. – E não está pronto para descobrir.

— Quando ele estiver preparado, Rose contará. – Hermione reafirmou.

— Mas acho que ele tem fortes desconfianças... – a senhora Malfoy suspirou.

A aeromoça serviu chá aos quatro. Depois de um longo silêncio, Draco disse:

— Quero prepará-lo para assumir os negócios. – fez uma pausa. – E acredito que você queira o mesmo. - Ronald afirmou com um leve movimento. – Gostaria de transformar nossas companias em uma só, uma associação. Lucros igualmente divididos, mesmo poder de decisão. Não quero que meu neto sinta que deve escolher um lado.

Ronald estava sem reação. Desde o momento que olhara para aquela maldita foto e percebera que Max e Scorpius eram tão parecidos quanto ele e Hugo, sentiu um medo terrível. Os Malfoy iriam querer tomar seu garoto, fazê-lo escolher com quem ficar, com quem morar, quem amar... Ele não suportaria isso! Ron nunca se recuperaria daquela perda. E já estava preparado para lutar por seu único neto, mas como o grande estraga prazeres que Draco sempre foi, destruiu o medo que começava a ficar mais forte no coração do Weasley. Ali estava ele, depois de anos de brigas e rivalidade, dizendo que abriria mão de seu orgulho pelo bem de Maxmillian. De fato, que abriria mão de tudo por ele. Assim como Ron faria se fosse preciso... A vida deles teria sido tão mais fácil se soubessem desde o começo! Poderiam ter tido tanto tempo juntos.

— Porque eles nunca nos disseram nada? – o ruivo questinou a esposa.

— Scorpius não sabia até uns meses atrás. – ela contou. – Rose teve muito medo de que ele tomasse Max dela.

— Porque ela nunca me disse nada? – perguntou novamente, desesperado. – Eu sou o pai dela!

— O que você faria se ela dissesse que carregava um Malfoy no ventre? – Hermione questionou o marido, mas não esperou um resposta. – Você teria começado uma guerra, teria pedido que ela tirasse a criança...

Draco fechou sua mão. Sabia que se estivesse no lugar de Ronald, teria pedido o mesmo.

— Mas você mudou, querido. – a senhora Weasley disse. – Todos nós mudamos. – completou olhando para os Malfoy.

— E vamos continuar mudando e melhorando por nosso neto. – Astória falou.

A viagem durou menos do que esperavam, chegram em menos de seis horas de voo. Muitas decisões foram tomadas, destinos traçados e duvidas esclarecidas naquele curto intervalo de tempo. Depois que Max entrou em um profundo sono, Rose usou o telefone por satélite que Draco havia lhe oferecido para pedir informações sobre Thomas e sua mãe. Soube que, infelizmente, os rostos não pediram ser reconstruídos; o velório aconteceria com os caixões fechados. Descobriu que Cath estava em como induzido, que havia passado por uma cirurgia e que estava estável. Providenciou duas vagas em um belissímo cemitério com vista para o mar, a capela onde fariam suas despedidas e suas lápides.

Rose nunca havia se sentido tão vazia quanto naquele momento. Não poderia deixar que sua tristeza tomasse conta de seu corpo, Thomas precisava dela. Imaginou como outras pessoas nessa mesma situação deveriam se sentir. Você perde alguém que ama incondicionalmente e não pode sofrer por ela; você precisava fingir que não te incomoda o fato de que ela partiu, que está bem e é capaz de lidar com tudo. Era horrível! Pediu a todas as forças superiores que levassem seu grande amigo em segurança e que confortassem seu filho. Quando pudesse desmoronar, sabia que haveria conforto.

Olhou para o homem sentado do outro lado do corredor. Scorpius estava alerta a tudo. Não parava de conversar com Luke, mas sempre que ela suspirava lhe oferia um sorriso Rose sentia que tudo ficaria bem. Ela amava aquele homem com todas as forças de seu coração e não entendia como conseguiu passar tantos anos longe dele. Olhar para aquele rosto, sentir o calor de seu corpo, suas mãos àsperas acariciando seus ombros... Aquilo era tudo o que Rose desejava. Havia uma música que ela sempre ouvia quando sentia saudade do loiro. Ela dizia que só vale a pena viver se alguém te ama e que estar na presença dele era estar no Paraíso. Rose se sentia dessa forma perto de Scorpius. Ela poderia fazer absolutamente tudo se tivesse seu filho e aquele homem ao seu lado. Sentia-se invencível.

Quando desceram do avião, muitos fotográfos estavam espalhados na area de desembarque. Rose nunca se preocupou com eles, nunca foi presente em colunas sociais. Mas já imaginava que cobririam tudo sobre o acidente. Agarrada a Max e protegida por Scorpius, ela foi escoltada rápidamente até um dos carros que havia solicitado por telefone. Sem ao menos perceber, já estavam a caminho de casa.

Selene estava sentada em um dos bancos ao livre de Hogwarts aproveitando pouquissímos raios de sol que escapavam das nuvens. Estava ansiosa para ver Max, havia se aproximado muito do garoto nos últimos meses. Em alguns momentos pensava que estava apaixonada pelo loiro, mas então percebia que era apenas algo fraternal. Independente do que seria, a morena não conseguia fazer nada sem dizer a ele e Max parecia agir da mesma forma. Por isso estava ali, esperando por ele. Havia saído de casa há algum tempo e não respondia as mensagens. Talvez não fosse nada demais, contudo, algo a incomodava.

Teve certeza que alguma coisa estava errada quando seu pai parou ao seu lado com um semblante muito sério.

— Pai? – ela disse surpresa.

— Precisamos ir, querida. – ele falou lhe estendendo a mão.

— Ir? Para onde? – ela o questinou já de pé e o acompanhando até a entrada da escola. Um carro já os esperava.

— Vamos dar uma carona ao Primeiro-Ministro e sua familia para a Austrália. – Eric disse olhando para fora da janela.

Automaticamente, lágrimas brotaram nos olhos da garota. Ela sabia, sabia que algo havia acontecido com Max. Sentia em seus ossos que ele não estava bem. E agora estavam a caminho da Austrália! O que isso poderia significar? Durante todo o caminho até a pista de decolagem particular de seu pai, Selene não conseguia parar de pensar o que aquilo poderia significar. Não incomodou o pai com perguntas, apenas se consetrou em ficar calma e tranquila para o poderia encontrar quando descessem do avião. Sem contar que Harry Potter, o Primeiro-Ministro, estaria no mesmo avião que ela. Selene precisava manter o decoro. Se portaria como uma dama, sempre sorrindo de forma gentil apesar de sentir que estava morrendo aos poucos.

Enquanto esperava a família Potter, fez uma rápida trouca de roupa. Seu pai havia lhe entregado uma sacola com um vestido tão azul que chegava a ser preto. Mais lágrimas escorriam por seu rosto enquanto se trocava no pequeno banheiro do avião. Colocou meias pretas que iam até sua coxa e um casaco preto. Quanto terminou, seus olhos estavam inchados e vermelhos. Não conseguia pensar em nada além da dor que sentia pesar cada vez mais pesada em seu coração. Lavou o rosto com àgua gelada e penteou o cabelos, tirando-os do rosto com uma tiara preta. Estava pronta para um velório e pensar naquilo estava matando-a pouco a pouco.

Selene era forte e controlada. Foi instruida durante toda a sua vida a passar por situações onde precisava engolir as emoções e demonstrar apenas empatia. Se as pessoas ao seu redor estivessem tristes, ela seria compreensiva; se estivessem felizes, sorriria nos momentos adequados. Por isso postou-se ao lado de seu pai na espera pelos convidados. Não sorriu e não chorou. Apenas interpretou o papel que todos esperavam que ela incorporasse.

Estava tão perdida em pensamentos que não notou o tempo que se passou entre a chegada dos Potter e a decolagem. Quando percebeu, preparava chá para servi-los, já que a aeromoça não foi avisada a tempo. Com a ocupação, Sel não percebeu que se preparavam para pousar. Contudo, quando desceu, ficou tão aflita que desejou desesperadamente voltar para casa. Não estava preparada para descobrir porque estava na Austrália com os parentes de Max, não estava preparada para descobrir que poderia ter perdido seu único verdadeiro amigo. Ela não queria estar preparada.

Com o passar dos minutos, o desespero só cresceu. Pensou que iria desmaiar quando percebeu que estavam a caminho de um cemitério. Era um lugar lindo, cercado por àrvores e o mar ficava logo ali; carros e mais carros estavam estacionados e muitas pessoas de preto andavam pelos jardins. Sentia sua cabeça leve e seus musculos pareciam gelatina. Não queria se mover, não aceitava ir até lá e descobrir que Max nunca mais sorriria para ele, que nunca mais ia olhar em seus profundos olhos azuis e dizer tudo aquilo que pensava, que nunca mais ia sentir-se envergonhada das coisas que ele gostava de dizer sobre ela... Naquele momento, quando imaginou que nunca descobriria como os lábios dele eram, como seus braços poderiam confortá-la, como seria sentir seu calor por baixo das roupas, como seria acordar todos os dias e olhar para aqueles expressivos olhos; naquele momento, Selene soube que o que sentia por ele não era nada fraternal. Tinha sede de saber como era o corpo de Max, seus beijos, ser o motivo de seus sorrisos... Ela estava tão apaixonada que pensou que jamais se sentiria daquela forma por outra pessoa.

Se Maximillian estivesse morto, Selene morreria um pouco todos os dias. Por isso ela se preparou para o que viria quando desceu do carro alugado e caminhou lado a lado com o pai para uma capela repleta de pessoas chorando e conversando com expressões arrasadas. Pediu a todos os deuses que poderiam existir que não fosse Max, ela nunca mais sentiria medo ou deixaria sua vida ser controlada por outras pessoas. Ela só queria abraça-lo uma ultima vez, olhar em seus olhos, dizer que estava apaixonada. Por favor, ela pediu, não me deixe.

Quando os Potter foram até Rose Weasley e sua família, procurei por todo o salão. Haviam dois caixões e estavam fechados. Ela não sabia quem estavam neles, por isso se ateu ao seu último fio de esperança e procurou ao redor por Max. Eram tantos os homens loiros que estavam ali que ficou perdida, mas um em específico olhava para ela. E ali estava toda a esperança que ela precisava. Maximillian Weasley, vivo, lindo e caminhando na direção dela. Quando se alcançaram, Selene o abraçou forte. Ele era tão alto!

Aliviada, ela deixou algumas lágrimas escaparem.

— Eu pensei que era você. – disse baixinho. – Ninguém me disse o que tinha acontecido, eu pensei...

— Está tudo bem. – ele disse apertando o abraço.

Max se afastou dela e viu estampado no rosto da garota a angustia. Se ele tinha dúvidas sobre a importância de Selene em sua vida, naquele momento elas foram embora. Secou as lágrimas do rosto frágil dela e pegou sua mão, guiando-a até onde sua mãe estava. Naquele momento, tudo o que ele queria era estar perto de quem amava.

Foram horas difíceis. Os familiares de Rose e Max fizeram tudo o que podiam para que ficassem confortáveis enquanto recepecionavam os amigos e conhecidos e Thomas e Martha. Lanches e bebidas foram servidos durante todo o dia e quando a noite chegou, muitas pessoas foram para casa. O enterro aconteceria nos primeiros raios de sol do dia seguinte, pois muitos parentes de Thomas não haviam chegado. Scorpius, Rose, Max, Selene e Eric foram os únicos que passaram a noite toda acordados, sem jamais vacilar. Estavam ali para dar o suporte necessário a quem mais estivesse sofrendo pela perda de duas pessoas tão queridas.

Quando a madrugada começava a ir embora, a capela ficou lotada novamente. A hora do adeus final chegava. Max desejou que o sol demorasse, desejou desesperadamente que ele nunca mais aparecesse. Não estava preparado. Quando vieram buscar os caixões, sentiu Selene apertar fortemente sua mão. Tudo ficaria bem, ele sabia. Thomas viveria eternamente em sua memória. Ele abraçou a mãe quando a última pá cobriu o túmulo do pai. Rose não poderia ter escolhido melhor horário. O sol começava a nascer, lançado raios alaranjados por sobre a mensagem que haviam escolhido. “Brilhando eternamente em nossas memórias”. Era assim que Max lembraria daquele homem, como uma força da natureza que sempre brilharia para afastar quando tristeza e insegurança. Porque Thomas era assim, um raio de alegria que contagiava qualquer um ao seu redor.

O sol agora brilhava fortemente no horizonte. Maximillian continuava de pé, observando onde seu pai e sua avó descansavam. Sua mãe conversava com uma das poucas pessoas que haviam passado toda a noite durante o velório. Ele era um pouco baixo, mas muito bonito. Ele parecia tão abatido quanto sua mãe enquanto se aproximavam de onde ele estava.

— Querido, este é David. – ela disse apresentando o homem. – Ele era o namorado de Thomas.

Max não soube como reagir a descoberta. Não era novidade para ele a sexualidade de Thomas, mas como sua mãe poderia saber que ele sabia? Ela agia de forma tão natural, como se conhecesse David a muito tempo. Talvez o conhecesse, como ele poderia saber? Todos guardavam segredos dele.

— Você está bem? – Max perguntou ao homem. – Tem algo que possamos fazer por você?

David pareceu supreso com o tratamento que o rapaz lhe deu. Podia notar a sinceridade em sua voz.

— Eu vou melhorar com o tempo. – o moreno respondeu olhando a lápide de Thomas. – Eu gostaria que ele tivesse completado a viagem, haviam tantas coisas que seu pai gostaria de lhe dizer...

— Ele não precisava. – o loiro respondeu prontemente. -  Eu sei o quanto ele me amava e sei que ele sabia o quanto eu o amava. Isso é suficiente.

Rose sorriu para o filho. Não poderia estar mais orgulhosa dele. Sempre quis que ele entendesse a importancia de Thomas em suas vidas.

— O advogado gostaria de conversar conosco ainda hoje. Existem coisas que precisam ser feitas. – a Weasley disse com toda a delicadeza possível.

Juntos os três caminharam na direção do único homem que havia ficado para trás. Max estranhou Luke ali, parado com alguns papéis na mão. Seria ele...? Quando pararam embaixo da cobertura de uma enorme arvore, Luke lhes entregou três cópias do que parecia ser o testamento de Thomas Everdenn.

— Sinto muito pela perda de vocês, Thomas foi um homem honrado e acredito que viveu feliz durante esses anos. – Luke disse. Ele afrouxou a gravata antes de continuar: - Quando Rose e Max voltaram para Londres, Thomas me contatou. Ele queria um novo testamento e achou que um advogado do circulo de antigos colegas de Rose fosse uma boa ideia. No antigo testamento, tudo era divido entre Rose, Thomas e Martha, sua mãe. Quando ele me procurou, foi irredutível. Fez de Maximillian o herdeiro legal de todos os seus bens, exceto por um apartamento e algumas ações que ele possuía. Essas passaram a dois meses para o nome de David McIntosh.

— O que?! – David exclamou surpreso. – Eu não... Eu... – ele disse olhando entre Rose e Max.

— Aceite. – o loiro mais novo disse depois de algum silêncio. – Thomas queria seu bem.

Lagrimas brotaram dos olhos do homem. Ele parecia querer fugir dali, mas Luke continuou:

— Um documento foi deixado para Rose Weasley. – ele disse. – Aqui, Thomas renega a paternidade de Maximillian e deixa bem especificado que ele deve ser registrado pelo verdadeiro pai.

Um silêncio perturbador tomou conta do ambiente, podia-se ouvir apenas o leve balançar das folhas nas árvores. Então é verdade, Max pensou enquanto observava quão verdes eram as folhas daquelas árvores.

— Max...? – sua mãe o chamou.

O garoto não conseguiua olhar para ela, por isso pediu que o Knight continuasse.

— Você continua sendo o único beneficiado pela herança, existem tramites legais que amparam os desejos de Thomas. Ele pede que toda assistência seja dada a senhorita Catherine até que ela possa conseguir um novo emprego e pede enfaticamente que suas pranchas de surfe sejam doadas a quem não possuí condições de comprar uma.

Luke fez uma pausa para limpar a garganta.

— Ele também deixou algumas cartas. Pediu que fossem entregues pessoalmente a seus respectivos remetentes. Aqui estão as de vocês. Por enquanto é tudo o que tenho a dizer. – e depois de um constrangedor silêncio, se foi.

Max olhava a perfeita caligrafia de Thomas no envelope branco em suas mãos. Perdê-lo e logo depois ter a confirmação que ele não era seu pai o deixaram abalado; tinha medo do que poderia estar naquela carta. Tinha medo de descobrir quem ele realmente era, de quem era seu pai, porque não o quis, porque deixou sua mãe grávida e sumiu de suas vidas. Sentia que era um peso morto, por isso o pai biológico não o quis. Poderia ter sido isso? Porque Rose nunca disse nada, ele teria entendido. Quem mais sabia? Todos sabiam...? Scorpius sabia? E então lembrou-se da discussão na manhã passada. Pela primeira vez desde que Thomas havia sido enterrado, Max voltou a chorar.

Achava que nunca descobriria quem era seu pai sozinho, mas havia conseguido. Ele morava do outro lado do corredor e o levava todos os dias para a escola. Como pode ser tão cego? Ele procurava alguém do passado de sua mãe, ela e Scorpius pareciam se conhecer muito bem desde a primeira vez em que se encontraram no prédio. E ele conseguia fazer Rose se dobrar as vontades dele quando se tratava de alguma coisa que Max queria. Como quando foram aquele coquetel... Porque? Porque eles estavam fazendo isso? Porque fizeram isso? Deixam ele no escuro por tanto tempo e de repente bagunçavam todo a sua vida.

— Filho, por favor, deixe que eu explique... – Rose pediu.

Ele a olhou, mas fez que não com a cabeça.

— Eu preciso de um tempo sozinho, por favor. – disse se afastando da mãe.

Max foi na direção oposta a saída do cemitério, pulou um pequeno muro e desceu um barranco até seus pés tocarem a areia branca. Tirou os sapatos e caminhou por alguns metros, precisava sentir que ainda estava ligado ao chão, porque sentia que estava perdendo os sentidos. Depois de alguns tempo, sentou-se no praia e abriu a carta que Thomas Everdenn havia deixado para ele.

“Maximillian,

Não sei quando você vai receber esta carta. Pode ser que sua mãe já tenha lhe contado, mas aqui vai... Eu não sou seu pai. Me entenda, eu te amo. Muito! Você foi o sol na minha vida durante todos os anos em que vivi, mas ainda assim, eu não sou seu pai. E acredito que não vou ser capaz de suprir algumas necessidades em sua vida. Sua mãe sempre me disse como você se parecia com ele, seu pai biológico, e eu pensei que era exagero. Porém, vocês o são. E acredito que não só na aparência. Vocês estão ligados por uma sintonia que nunca consegui encontrar; eu nunca poderia (e nunca quis!) tomar o lugar dele. Sempre quis que Rose te contasse a verdade, mas ela tinha muito medo da sua reação. Não sei como está seu relacionamento com minha rosinha, mas, por favor, entenda que ela fez isso porque te amou desde o momento em que descobriu que você estava na barriginha dela.

Gostaria que você vivesse plenamente, Max, meu garoto. Eu o amo demais para imaginar que você teve medo de fazer alguma coisa ou que não o pode por alguma dificuldade. Por isso, vou deixar cada centavinho que eu possuo para você. Tenho um medo tão grande de que sua família o deserde quando descobrir quem sei pai é... Esse sempre foi o medo de sua mãe e agora entendo.

Espero que saiba que tenho muito orgulho de você, sempre tive. Quero que estude, quero que se dedique a sua arte e quero que seja feliz. Todo seu futuro acadêmico já foi pago em Hogwarts, a mesma escola que seus país frequentaram. Faça bom uso das oportunidades que você tem, nem todos têm essas chances. Agarre-se a ela. E depois encontre uma linda garota (ou garoto, eu não me importo) e construa um futuro ao lado dela. É tudo o que posso pedir.

Aproveite sua vida (e meu dinheiro!).

Com carinho,

Um de seus pais.”


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Ours Secret" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.