Alvo POV

Pouco depois de eu tirar minha camisa, tentando ao máximo não parecer desesperado, Serena tirou sua gravata. Isso era bom, certo? Quer dizer, se ela tirou a gravata, ela queria.

E agora?

Mal tive tempo de pensar e a porta foi aberta violentamente, assustando a Serena e a mim. Meus companheiros de quarto, John e Chris encontravam-se parados olhando para nós. Devido ao nosso extremo constrangimento (Se adquiriu rapidamente um tom extremamente vermelho e mordeu o lábio inferior, tentando esconder seu rosto atrás do meu), a porta foi rapidamente encostada, com ambos do lado de fora.

- Desculpe atrapalhar. – disse Chris por trás da porta.

- Entrem. Esquece isso. – falei, apesar de não ser minha vontade. Mas como poderíamos continuar o que quer que fosse depois de sermos interrompidos desse jeito? John colocou a cabeça para dentro do quarto, olhando diretamente para mim, acredito que para evitar maior constrangimento. Ele parecia confuso. – o que vocês iam fazer?

- Dormir, mas acho que...

- Durmam, já está tarde. Nós saímos daqui. – tentei manter a calma, apesar de minha frustração. Pedi para Serena ir à frente, poupando-a de mais vergonha. Abotoei novamente minha camisa, desamassei-a, e desci para o salão comunal.

- Foi mal, cara. – comentou John.

- Tudo bem, a culpa não é sua.

Serena POV

Eu provavelmente nunca senti tanta vergonha em minha vida. Saí do quarto com o rosto ardendo, e chequei meio milhão de vezes se minha roupa não estava amassada antes de encarar meus amigos.

- O que houve? – perguntou Ella. Olhei brevemente em volta, particularmente para Thi, e pensei muito antes de responder.

- Nada demais, eu juro.  – um sorriso malicioso estampou-se na face de todos. Inclusive Luke. Após alguns segundos, Al chegou.

- Qual é, não precisam fazer esse tipo de coisa para despistar. – disse Gerald – somos seus amigos. Podem sair do quarto ao mesmo tempo. Não vamos julgar.

- Não fizemos nada. – Al falou breve e firmemente.

Ninguém mais tocou no assunto aquela noite, e devido ao clima tenso que ficou após tais comentários, aos poucos todos foram dormir, e o salão comunal se esvaziou. Éramos os únicos que sobraram (como de costume) quando Ella foi dormir, deixando eu e Al novamente sozinhos.

- Foi constrangedor. – comentei, baixo.

- Minha culpa. Sinto muito. – Al acariciou de leve meu rosto ao responder.

Deitei minha cabeça sobre seu ombro. Estava morrendo de sono, assim como eu, mas continuamos trocando carinhos. Nossos olhos se fechavam cada vez mais, até que, ao sentir que ia adormecer, a única coisa que tive tempo de dizer foi:

- A culpa não foi sua.

Acordei somente no dia seguinte, realmente cedo, com Alvo me acariciando de leve.

- Tive medo de ir e te deixar aqui sozinha. Ainda são cinco e meia, acho que o ideal seria voltarmos para nossas camas e dormir mais um pouco. – mesmo estando atordoada por acabar de acordar, senti-me culpada quando ele esfregou as costas, contraindo o rosto. Minhas costas também doíam.

- Você não precisava ter ficado aqui comigo. – falei, beijei sua cabeça, fiz um breve cafuné em seus cabelos e fui terminar minha noite de sono em minha cama.

- Bom dia, classe. – disse Malfoy com seu sorriso galanteador. Primeira aula do dia. Eu estava particularmente cansada, pois além de ter ido dormir tarde tive meu sono interrompido. Notei que um dos companheiros de quarto de Al, um magricela ruivo, de dentes grandes, fazia DCAT conosco. Ótimo. Tenho quase certeza de que enrubesci, e então me encolhi na cadeira. Al pegou em minha mão, quase que lendo meus pensamentos, pois sua expressão dizia “esqueça isso”.

A aula de hoje era sobre patronos, como muitas outras. A verdade é que a maioria dos alunos tinha extrema dificuldade com isso, e sendo um feitiço de defesa muito importante, boa parte das aulas era sobre o feitiço.

Eu tinha facilidade com o patrono, sendo vítima de muitos elogios. Na realidade, a primeira vez que tentei o feitiço foi ótima para um começo: o patrono era corpóreo, apesar de um pouco borrado e ter durado pouco. Agora, que treinei muito mais, era o melhor da sala.

No começo, me envergonhei um pouco dele, por ser um filhote de panda, e, apesar de bonito, não demonstrar força ou confiança. Mas agora acho especialmente fofo, principalmente se comparado aos muitos lagartos, cavalos, e até um pombo, que vi por aí.

- Então é isso, até amanhã. – ouvi a voz de Draco, e todos levantaram para sair. Quando fiz o mesmo, ele me segurou pelo braço, firme, porém com delicadeza. – você fica.

Isso provocou um olhar ciumento de Al, e um preocupado de Ella, mas como resposta eu assegurei-os de que ia ficar tudo bem com um tímido sorriso.

- O que foi? – perguntei preocupada, assim que meus amigos se foram.

- Ah, nada de mais, só um pouco de saudades. Porque não senta um pouco para conversar? – ajeitou o cabelo, e por mais que eu achasse um pouco estranho esse pedido repentino, eu o fiz.

- Eu te conheço. – organizei minhas ideias e então prossegui – você nunca me chamaria para “sentar um pouco para conversar” por “nada de mais”. – isso fez com que ele abrisse um sorriso que eu há algum tempo não via.

- Me conhece muito bem, mocinha.

- E então, o que foi?

- Eu não queria ser tão direto ao dizer isso, mas... Bem, eu estava com saudades. Muitas. É só que... Eu não acho que depois de passar pelo que nós passamos, se duas pessoas não estão brigadas, elas deixam de ser amigas. E mesmo a gente sendo professor e aluna, podíamos tentar. Você é mais legal e interessante que a maioria dos adultos e das pessoas com as quais eu tenho contato. – percebi que ele estava um pouco sem graça ao dizer isso, porque sabia que eu amava meu namorado, e não queria soar sugestivo.

- Você também é mais legal que muita gente que eu conheço. – comentei com um sorriso.

- Menos que Alvo, eu tenho certeza. – essa frase me lembrou de seus ciúmes em relação a Thi. Lembrou-me do passado e de tudo pelo que nós passamos.

- Não vamos mudar a conversa de rumo.

- Desculpa, eu não pude evitar.

- Podíamos começar comendo bolo e chá amanhã no café. Eu acordo um pouco mais cedo e vou até sua sala. Que tal?

Malfoy pareceu pensar muito, e se o conheço bem, estava tentando desvendar o que havia por trás de minhas palavras. Um grande pote de amizade, eu diria.

- Claro. Pelos velhos tempos. – nós dois sorrimos, e antes de eu sair da sala, eu apenas disse:

- Não em todos os sentidos, é claro.