Brisas suaves balançavam o cabelo dela, e angelicamente ela sorria enquanto trocávamos olhares discretos nos portões do colégio. Só que ela não estava sorrindo para mim, e sim para as amigas que a cercavam. E ela também não estava olhando para mim, estava olhando para o alto e mais-bonito-do-que-eu namorado dela, que estava bem do meu lado conversando com uns amigos. Mas sim, o cabelo dela estava voando com o vento. Passaram-se 2 segundos e o namorado dela foi até ela e tascou um beijo que era capaz de fazer uma cachoeira com tanta saliva. E claro, eu fiquei hipnotizado com aquilo. Foi até meio constrangedor. Depois disso eles foram embora de mãos dadas para um lado, e eu fui embora sozinho pro outro. Cheguei em casa e joguei minha mochila em cima da cama. Corri pro computador e qual foi a primeira coisa que eu fiz? Óbvio, fui stalkear ela. E sonhar sobre como seria o nosso namoro. Mesmo sabendo que seria impossível a possibilidade de ela terminar com o namorado galã dela pra namorar comigo. Quer dizer, mesmo se ela não namorasse ninguém ia ser impossível ela namorar comigo. Ah, se pelo menos a vida fosse como no The Sims. Seria tudo mais fácil.

No dia seguinte, enquanto eu estava sentado na minha carteira esperando a aula começar, ela veio até mim e disse: "Você sabe se tinha lição de matemática?". Eu fiquei sem reação e acho que eu disse uma coisa parecida com "dksaljdklajsdklda". Mesmo assim aquele foi um momento mágico na minha vida. Nossa primeira "conversa". Claro que depois disso ela deve ter achado que eu sou retardado. Junto com todas as testemunhas situadas no local do acontecimento. E comigo também. Mas o importante é que ela sabia que eu existia. Depois de mais ou menos um mês, o professor foi sortear os grupos para apresentar seminários. E por pura obra do destino, eu e ela caímos no mesmo grupo. Ela veio até mim perguntar sobre a organização do trabalho e outras coisas. Outro momento mágico na minha vida. Ela nunca tinha trocado mais de duas frases comigo. Dessa vez eu não pareci tão retardado e disse "Eu-e-ééééé... Não sei". Foi ridículo. "Ok, então vamos ficar até mais tarde na escola quarta-feira tudo bem?", disse ela. Eu fiz "sim" com a cabeça e quase tive um surto parecido com uma fangirl quando sabe que sua banda favorita vai tocar do lado da sua casa.

Os dias se passaram e finalmente quarta-feira chegou. E como combinado, nós ficamos até mais tarde na escola. Mas para minha decepção total, ela levou o namorado junto. Fiquei mais sem-graça do que não-sei-o-quê. Comecei a falar sobre o trabalho (como uma pessoa normal pelo menos uma vez na vida), mas ela só ficava se esfregando no namorado dela e dando beijos todo santo minuto, como se não estivesse nem ouvindo o que eu estava dizendo. Continuei falando e tentando ignorar aquilo, mas chegou uma hora que não pude mais aguentar me sentir um peso morto falando com as paredes. Simplesmente levantei e fui embora.