(t m o t) Incandescente escrita por Luans


Capítulo 2
(1) Annabeth ✞´




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Eles sabem, pensou Annabeth assim que seu olhar cruzou com os deles. Ela conseguia ver a chama faiscar naquelas íris negras de ódio. Não podia perder tempo ali, então se pôs a correr, sua varinha em mãos. Ela estava preparada para o caso de atacarem. Ela não se importava com o fato do Ministério poder tirar a mesma de si devido à possível quebra das regras. 

A estação estava apinhada de pessoas, e tudo o que ela tinha de fazer era atravessar a barreira. Se o fizesse, estaria na proteção de seus pais e de outros vários bruxos. Puxou o malão rapidamente, sem se importar com os xingamentos de trouxas desconhecidos que tinham seus pés amassados pelo peso do malão dela. 

Faltavam cerca de cinco passos quando algo agarrou seu braço. Ela virou-se rapidamente, preparada para lançar um feitiço, mas assustou-se ao ver uma garota que aparentava ter a sua idade. Seu semblante assustado transformou-se em surpresa, e ela tornou a olhar para trás. Eles ainda estavam vindo, devagar, mas vinham, querendo pegá-la de qualquer forma. Soltou-se do aperto da garota, fazendo com que a mesma caísse no chão, e deu os últimos cinco passos, desaparecendo na barreira.

— Annabeth! — gritou sua mãe, aliviada. — O que aconteceu?

— Eles estavam na King’s Cross, mamãe — respondeu ela. — Me seguiram até aqui, mas eu atravessei logo. E-eu não sei como eles me encontraram. 

— Acalme-se, eles não podem mais te encontrar aqui — Sua mãe acariciou seus cabelos longos e negros, dando-lhe uma sensação de segurança. Vamos, o trem já vai partir. 

— Tem certeza de que é uma boa ideia eu ir para Hogwarts? Não tenho bons pressentimentos sobre isso, e você sabe que meus pressentimentos sempre estão certos...

— Sim, tenho certeza! — A mãe olhou ao redor, verificando se alguém prestava atenção na conversa. — McGonagall a protegerá do que precisar. A sua vida vai estar segura em Hogwarts. 

— Eu não tenho tanta certeza disso...

— Confie em mim — a mulher afagou os cabelos negros da filha, e logo em seguida depositou-lhe um beijo na testa. — Tome cuidado, querida. E, por favor, não estranhe as... Novidades que Hogwarts irá lhe trazer. 

— O que quer dizer com isso? 

— Ahn... Nada. Agora vá logo, antes que perca o trem. Eu te amo, lembre-se disso!

— Eu também te amo, mamãe. Vou sentir saudades — e abraçou a mãe, que devolveu o abraço, e depois a empurrou para dentro do trem.

Annabeth caminhou rapidamente pelo trem, tentando encontrar uma janela em que pudesse lançar um último aceno para sua mãe. Demorou, mas conseguiu, quando alguns garotos saíram da janela somente para deixá-la ver. Ela disse-lhes um tímido “obrigada” e acenou para a mulher que continha as lágrimas, e que ela gostava de chamar de mãe. O trem logo começou a se mover, fazendo com que a fumaça encobrisse todas as lágrimas e acenos das pessoas que continuavam na plataforma, vendo seus filhos serem levados para longe, para um lugar onde eles pudessem aprender, e, o mais importante, onde estivessem seguros.

Quase todas as cabines estavam ocupadas, mas Annabeth conseguiu encontrar uma que estivesse sozinha, onde se sentou e olhou para a paisagem, que desaparecia em um borrão verde. Tocou a janela por um momento, e então, como se não soubesse que ia acontecer, aconteceu.

Ela conseguia sentir a fumaça entrar pela janela, mesmo estando fechada. O ar começou a ficar sufocante, angustiante, e ela se viu jogada ao chão, com uma mão de fumaça a puxando pelo pulso. Seu coração pararia de bater em instantes, e ela se veria nadando na escuridão profunda do pecado de seus antepassados. Ela estaria morta. 

Ou não. 

Ela sempre conseguia voltar a si, soltar-se das garras de seus raptores e fugir. Mas ali era um ambiente fechado, e ela não sabia se conseguiria. Se eles a pegassem... Oh, seria o inferno para todos. É claro que eles precisariam da outra peça do quebra-cabeça, que talvez não tivessem conhecimento sobre, mas se tivessem essa outra peça também, bom, aí todos poderiam implorar por misericórdia. 

Seria o caos. O fim.

Conseguiu obter sua visão novamente e, com todas as suas forças, expulsou a fumaça dali. Eles não iriam pegá-la agora, quando a segurança estava tão próxima. Hogwarts iria ensinar-lhe como se proteger dos perigos que a seguiriam até os confins da Terra até o fim de sua vida, e era o que ela mais precisava. 

— Me solte! — deixou-se gritar, mesmo que não pudesse ouvir o que acontecia do lado de fora da cabine. — Saia daqui! Eu já disse que não! Deixem-me em paz! 

E a porta da cabine se abriu com um estrondo. Um homem estava ali parado, a varinha apontada para a fumaça. Disse algumas coisas, e a fumaça extinguiu-se, e foi como se não tivesse nada ali. Annabeth olhou para cima e viu que alguns alunos estavam atrás do homem, seus olhares curiosos tentando gravar cada mínimo detalhe da cena que acabara de acontecer. O homem, percebendo, entrou e fechou a porta com força, logo fechando também a cortina da cabine, para que ninguém visse.

— Eles estavam aqui? — perguntou o homem.

— O que? Do que está falando? — fez-se de desentendida; ninguém podia saber o que se passara ali.

— Ora, não venha com essa! Eu tenho de lhe proteger, e sei o que aquelas coisas eram — o homem guardou a varinha nas vestes. — Conte-me a mensagem que eles lhe enviaram.

— Mensagem? Do que está falando? – Ela fez uma pausa, respirando fundo. — Olha, eu sei lidar com aquelas coisas muito bem, sempre consegui. Eles nunca mandaram mensagem alguma, só daquela vez, quando quase me levaram. Quem quer que seja que esteja enviando essas coisas, vai entender que eu não vou!

— Criança, entenda, essas coisas não vão embora! Existem dois tipos de criaturas como essa: a que lhe atacou há poucos segundos, e as que, provavelmente, nunca chegaram a ter contato nenhum com você. Por algum motivo a sua alma as afasta, entende?

— Mas isso é bom, não é? 

— De certo modo, não. Você só atrai as criaturas ruins... — Ele fechou os olhos e suspirou. Passou a mão pelos cabelos meio grisalhos e a fitou com desdém. — Sou seu professor de Defesa Contra as Artes das Trevas, Byron Treeville. Eu sei do que falo, criança. Diga-me seu nome, criança.

— Annabeth — respondeu ela, seca.

— Você não tem sobrenome, Annabeth? 

— Tenho sim — fez uma pausa —, e eu gostaria que o senhor não me chamasse de criança. Sou Annabeth Johnson. — Voltou a sentar-se no banco, e arrumou os cabelos que se bagunçaram na queda. 

— Hm, senhorita Johnson... É, é você mesma. Preciso que me acompanhe. Não é... Seguro ficar aqui — gesticulou a cabine e à janela, por onde a criatura havia entrado. Ela confirmou com a cabeça, mas ainda assim hesitando em seguir o homem. 

Enquanto o seguia pelo corredor, sob o olhar de curiosos, ela começou a perceber suas feições. Tinha os traços um tanto quanto idosos, e mancava ao andar. Seus cabelos tinham vários traços grisalhos, contrastando com um cinza escuro. Seus olhos eram muito claros, profundos e irônicos. Seus lábios eram finos, e tinha rugas em vários lugares do rosto. Era um pouco engraçado, até. Usava um terno verde bem escuro com abotoaduras de esmeraldas. Tinha sapatos pretos bem envernizados, e na mão direita segurava uma bengala de madeira escura com várias esmeraldas encravadas no topo. Ele, supôs, devia ter pertencido à Sonserina, devido ao tanto de verde e esmeraldas que usava.

Era só suposição, é claro. Na verdade, ela estava enganada.

Eles caminharam até os últimos vagões do trem, onde quase não havia mais crianças e adolescentes. Ele apontou para uma cabine e entrou; ela fez o mesmo, mas com certa dificuldade, já que seu malão era bem pesado.

— Por que me trouxe para cá? — perguntou ao sentar-se. 

— Porque os outros não podem te ver. Não por enquanto. — Ele deu de ombros. 

— Ora, mas por que não podem me ver? 

— Isso não vem ao caso agora. — Rolou os olhos e colocou a perna para cima do banco. — Fique quieta enquanto eu durmo um pouco. 

Annabeth rolou os olhos, mas ficou calada. O professor fechou os olhos e deixou a cabeça pender para frente, adormecendo em seguida. Não acredito que vou ficar aqui vendo esse cara roncar até chegar à Hogwarts, pensou ela e rolou os olhos. Queria ter ali consigo algum livro para ler, mas esquecera de trazer algum. 

Não tinha absolutamente nada para fazer, então decidiu seguir os passos do professor. Acomodou-se no banco e fechou os olhos. Demorou alguns minutos, mas ela longo se aprofundou nos pensamentos complexos e as ilusões inundaram sua mente. Figuras e palavras se formavam, distorcidas, mas que de certo modo, continham um significado importante. Um significado que ela descobriria em breve.

— Ei, Jas! — uma menina de cabelos negros e longos vinha correndo. Tinha um sorriso com gloss e na cor rosa estampado nos lábios, e seus olhos castanhos estavam bem delineados com a cor preta. Ela acenava igual uma doida.

Annabeth a fitou por um momento, apontando para si mesma e se perguntando um “eu?”. A menina ainda vinha, então Annabeth começou a olhar para os lados, vendo se não era alguém que estava atrás dela, mas não era. 

— Ei, Jas, nossa, finalmente te encontrei! — ela riu. — Por que não ficou na mesma cabine que eu? Fiquei lhe esperando, mas você não apareceu. 

— Você... Você está falando comigo? — perguntou ela.

— Claro que estou bobinha! Tenho tanto para lhe contar... Coisas que aconteceram comigo e com o Henry – ela riu novamente, as bochechas bronzeadas corando. 

— Ahn... Desculpe-me, mas eu tenho que ir — e virou-se, seguindo os outros alunos que iam para as carruagens. 

Quando ela passava, as pessoas lhe lançavam um “oi Jas”, ou “como foram as férias na América, Jas?”. Ela não entendia nada, é claro, então os ignorava. 

As carruagens pararam em fila em frente ao grande castelo de Hogwarts, e assim que pulou da carruagem em que vieira, Annabeth soltou uma exclamação. A escola era muito mais bonita do que imaginava. Os detalhes de sua estrutura eram perfeitos, assim como o efeito que a lua causava ao derramar sua luz no castelo. Era magnífico.

Sorriu instantaneamente, tentando registrar cada milímetro quadrado daquele lugar que conseguia ver. Mas logo foi empurrada pelos outros alunos, que lhe tiraram de seus devaneios. 

— Ei, anda logo — disse uma garota atrás dela. Annabeth não teve escolha, e começou a caminhar para dentro de sua nova morada. 

Ela devia sentar-se à mesa da Grifinória, pois certa vez havia feito uma viagem até Hogwarts pela rede de pó de Flu, e sua seleção fora feita nesse dia. Em seu uniforme a insígnia da casa em que ficaria resplandecia, o que a fazia ter certo orgulho. 

Sentou-se e esperou, olhando os outros, que conversavam animadamente com seus amigos. Ela não conhecia ninguém, o que a fez apoiar a cabeça na mão e esperar. Em certo momento, todos se sentaram e se calaram, mas ela não conseguia entender direito o que estava acontecendo. A diretora falava alguma coisa lá na frente, mas ela não conseguia ouvir. As portas do Salão Principal se abriram, e sua visão começou a tremular. Segundos depois ela só conseguiu ver aquela fumaça sobrevoar acima de si, e depois empurrá-la em direção ao chão. Sua última visão foi a de um homem entrando no Salão Principal com várias crianças atrás.


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Notas finais do capítulo

Reviews? :)



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