A Outra Chance escrita por Pandora Imperatrix


Capítulo 12
Veredicto




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/217329/chapter/12

Disclaimer: Sailor Moon não me pertence.
Essa fic se passa três anos após Stars.
Guia para os esquecidos:
Kunzite = Sabakuno Kotei
Zoisite = Saitou Izou
Jadeite = Ishino Midori
Nephrite = Sanjouin Masato

Não betado, os erros são todos meus.

A Outra Chance

Capítulo XII – Veredicto

“Meu corpo é uma jaula
Nós temos o que nos é dado
Só porque você esqueceu
Não quer dizer que foi perdoado”
Arcade Fire – My Body Is A Cage

– Por aqui, – Helios os instruiu, e ainda atordoado, o grupo o seguiu em direção a uma enorme construção de puro cristal, cheia de pilastras tão altas que parecia nunca alcançar o céu num cerúleo tão brilhante e nuvens em tons de magenta e dourados, não surreais que só poderiam parecer parte de um céu de um mundo de sonhos – Os magistrados, também conhecidos como, Oráculo os esperam para o julgamento no Palácio de Justiça.

Mamoru e Usagi deram as mãos quase inconscientemente ao entrarem na construção.

– Achei que o julgamento aconteceria no Palácio Dourado, – comentou Izou com fingida indiferença.

– Não, meu senhor Ziosite, – o homem de cabelos dourados sentiu uma sensação estranha ao ouvir o antigo nome ser dito sem nenhuma nota de mágoa, raiva ou cinismo – faz muito tempo que ninguém vai até lá – ele parou e fez um gesto respeitoso tocando a própria fronte ao passar em frente a uma estátua religiosa, Mamoru subitamente se lembrou de que Elysion era um local sagrado, de algum lugar ao longe era possível ouvir as sacerdotisas entoando cânticos, sinal de que o templo que visitam durante a crise com Nelehenia não deveria estar muito ao longe.

– Porque não? – perguntou Jadeite.

– É um local vazio sem seu verdadeiro herdeiro, – ele lançou um olhar para Mamoru – diz à lenda que ele também ascenderá quando a Terra e a Lua se unirem.

Ninguém mais fez perguntas até que eles chegassem numa enorme porta com figuras desenhada em autorelevo em seu cristal, parecendo contar uma história, parecendo também ser muito, muito antiga. Ami notou que embora todo o palácio fosse de cristal era impossível ver o que se passava através das paredes.

– Os réus vão entrar por esta porta, - Helios explicou, gesticulando em direção aos Shitennou e depois de virou para as Senshi – vocês me acompanharão por este corredor, o príncipe e sua consorte por aquele – ele fez um gesto na direção contrária – boa sorte para todos os envolvidos, que seja feita justiça em nome da verdade e da vontade dos deuses.

Dizendo isso ele se afastou sinalizando para que as Senshi o seguissem. Usagi assistiu a cena com o semblante angustiado, Mamoru mantinha uma expressão estoica, mas segurava a mão da princesinha com firmeza. Antes de desaparecer pelo corredor, Minako tentou mandar a sua senhora um sorriso confiante.

– Quem vai abrir a porta para vocês?

Kotei sorriu, o que era uma coisa realmente estranha de vê-lo fazendo e ainda mais estranha numa situação como aquela.

– As paredes e, por consequência, portas desse lugar estão revestidas de mágica, princesa. Creio que se abrirão sozinhas, em seu momento certo.

Mamoru engoliu em seco.

– Nós deveríamos ir para nossos lugares, Usa.

Ela fez um gesto afirmativo com a cabeça, mas largou a mão de Mamoru que, de repente, se sentiu invadir por uma sensação de impotência e abandono. Mas, a sensação passou rápido, pois sua noiva o deixou para abraçar com força o líder de sua guarda. O general demorou em retribuir o abraço, também surpreso, mas quando o fez, por nenhum momento deixou de fazer contanto visual com o príncipe. Isso continuou até mesmo quando a princesa se soltou e abraçou os demais Shitennou.

Vagarosamente, Mamoru se sentiu invadir por uma confiança diferente da baseada em fé e resignação que normalmente associava a Usagi e sua presença. Por alguns segundos, aquela sensação, não exatamente nova, mas não habitual o invadiu por inteiro, e ele se sentiu levado a uma vida anterior. Uma versão mais jovem da voz do homem a sua frente lhe dizendo que não deveria ter medo, que o vigiaria a todo instante, o sol morno em seu rosto, a respiração compassada do animal embaixo de si, o cheiro de couro e grama fresca. A primeira vez que montara sozinho! Como pode se esquecer!

Ele sorriu, Kunzite lhe retribuiu o sorriso.

– Usako, vamos?

Ela ainda estava abraçada a Midori que lhe sussurrava alguma coisa que a fazia rir, mas quando se soltou do general loiro, o fez limpando uma lágrima.

– Vai dar tudo certo, – ela disse. E quem teria coragem de duvidar dela?

O casal voltou a dar as mãos e deram as costas aos quatro generais celestiais. Ao sumirem pelo corredor, não demorou muito para a enorme porta dupla se abrir e uma voz feérica os convidar a atravessá-las.

oOoOo

A sala era imensa e de um branco faiscante, o grupo de quatro homens em vestes pomposas parecia extremamente pífio no meio dela. Não havia lugar para sentar, somente quatro estruturas parecidas com púlpitos no exato centro da sala nos quais os quatro, como se recebessem uma ordem muda, se prostraram atrás de cada um respectivamente.

Em estilo arena, mas em formato retangular, em seus estremos a sala exibia exageradamente altas estruturas do que parecia ser mármore onde se apertassem os olhos, os Shitennou conseguiam enxergar as Senshi e o príncipe e princesa em laterais opostas, no fundo da sala, sentados à cima de todos, estavam figuras fantásticas. Altas, poderiam ter mais de dois metros, mantos diáfanos envolviam seus corpos destruídos de gênero, sua pele negra como a mais escura das noites parecia refletir tão bem a luz quanto à parede lapidada de cristais, de forma que dependendo de como os olhassem pareciam ser prateados.

Somente a central das três criaturas falou, mas de alguma forma os quatro generais sabiam que a voz vinha de todas elas.

– Eu sou o Oráculo.

– Eu vejo tudo o que é.

– O que foi.

– Que virá a ser.

– Não há mentira que eu não possa desvendar.

– Não há segredo que meus olhos não possam ver.

– Não há intenção que eu não possa prever.

Dizendo isso, as três entidades que até o momento mantinham os olhos fechados, fixaram o olhar prateado, sem íris ou pupilas, nos quatro réus. Usagi soltou uma exclamação muda quando terceiros olhos se abriram das frontes do Oráculo e desses saíram uma luz prateada que se unificou, para depois se dividir em feixes que atingiram cada um dos Shitennou.

– Para esclarecimento e justiça.

– Para a absolvição dos pecados.

– O Oráculo traz de volta o passado.

Os quatro gritaram, e faltou pouco para que as Senshi não os imitassem. Usagi abraçou Mamoru que segurava a sacada com tanta força que os nós de seus dedos estavam brancos. Do outro lado da sala, só quando notou algo molhado cair em sua luva, Venus percebeu que estava chorando.

Nephrite foi o primeiro a falar. Seu corpo enrijeceu, a expressão de dor desapareceu, mas seu rosto continuava retorcido no que parecia ser puro desespero.

– Quem é você? – perguntou o Oráculo.

– Sou Lord Nephrite, encarregado da América do Norte. Filho mais velho do Imperador Tizoc.

– A quem você serve, Lord Nephrite?

Os olhos de Nephrite permaneceram enevoados, mas sua expressão demonstrava dúvida.

– Eu jurei lealdade a vossa alteza real Principe Endymion, mas fui levado a crer que esse havia traído o seu próprio povo, família, irmãos…

– A quem você serve agora? – não havia impaciência na voz do oráculo. Não havia sentimento algum.

– Acreditei que servia a uma mulher, uma serva, Beryl – ele deixou escapar um gemido de dor – mas ela estava sendo controlada por um monstro. Não compreendo, porque serviria a uma serva?

Ele soltou um uivo de dor. Do alto da sala, as lágrimas de Usagi caiam livremente e o rosto de Mamoru estava congelado numa expressão de dor.

– Onde você está neste momento, Lord Nephrite?

– No campo de batalha na Lua. Meu príncipe está morto, meu filho… Eu o matei no ventre de minha amante... – ele agarrou o próprio cabelo em agonia – O QUE EU FIZ?!

Makoto soluçou, as outras Senshi a abraçaram pelos ombros.

– Acalme-se, Lord Nephrite, tente se lembrar. Porque você serve a Beryl?

Ele arfou.

– Eu… As estrelas desapareceram, o céu se cobriu de negro, Beryl nos fez acreditar que o príncipe havia nos abandonado e que as deusas estavam nos castigando por tentar ser como elas.

O grito que ele soltou a seguir congelou o sangue de todos, o corpo dele tremeu e ele caiu molemente sobre o púlpito.

Mars sentiu gosto de bile, mas não esboçou nenhuma reação. Jupiter saiu do abraço de suas irmãs.

– Eu preciso ver se ele está bem.

Dois jovens usando vestes parecidas com as de Helios juntaram as mãos formando uma barreira cintilante obstruindo a passagem.

– Sinto muito, milady, a arena está bloqueada por mágica, somente o Oráculo e os réus podem entrar lá.

Antes que ela pudesse protestar, ouviu-se mais um grito vindo lá de baixo, desta vez era Zoisite. A coisa se repetiu, quase exatamente como da primeira vez.

– Quem é você? – perguntou o Oráculo.

– Sou Lord Zoisite, encarregado da Europa. Filho do meio da Rainha Boadiceia.

– A quem você serve, Lord Zoisite?

– Minha lealdade não tem mais valor algum. O príncipe, traidor ou não, está morto.

– E Beryl?

– Nunca jurei nada a ela.

– Por que luta então, Lord Zoisite?

– Por vingança.

– De quem você deseja se vingar?

– Dos deuses que, indiferentes, nos observam do alto definhar e desaparecer. Da bruxa que corrompeu o coração de meu príncipe e das falsas deusas que contaminaram a minha e a mente de meus irmãos.

– Lord Ziosite, onde você está agora?

– Eu caminho para o alto, a Lua será destruída e Beryl reviverá o príncipe e a família real com o Cristal de Prata. Tudo voltará ao norm… – a fala dele foi interrompida por um grito de dor e surpresa. O corpo inteiro do Shitennou entrou em convulsão, seus olhos se reviraram e assim se mantiveram quando ele caiu como seu irmão há instantes atrás.

A cena fora chocante demais para que qualquer um deles esboçasse qualquer reação, Mercury se sentia a ponto de passar mal.

O Oráculo voltou a perguntar pelo próximo Shitennou, suas faces impassíveis como sempre.

– Se homens mortos possuem nomes, eu atendo por Lord Kunzite, último Sultão do Oriente Médio, filho de Sultão Orhan. Em vida servi somente ao Golden Kingdom, era líder dos Shitennou. Meu mestre era vossa alteza real Príncipe Endymion… – ele respirou fundo – Em morte minha lealdade é inválida. Meu corpo a mim não mais pertence, somos fantoches de uma entidade malígna. Meus subordinados acreditam serem meus rivais, nós fomos torturados pela bruxa, suas mentes foram envenenadas… Eu… – ele respirava com dificuldade, parecia sufocar com alguma coisa – eu consegui ter autocontrole o suficiente para expulsar o príncipe desta terra amaldiçoada… Amanhã, se é que há amanhãs nessa escuridão sem fim, serei um fantoche também. Eu espero que ela me ame o bastante para me matar antes que eu cause um mal irreparável.

Os olhos de Kunzite se fecharam, ele tossiu, e caiu para frente.

Por fim os olhos de todos se voltaram para Midori, ele parecia tão mais jovem que era, as linhas se seu rosto quase invisíveis naquela luz.

– Quem é você?

– Eu era Jadeite do Extremo Oriente, mas minha descendência não importa mais. Sou um traidor e meu pai me estriparia de meu nome se tivesse vivo para fazê-lo.

– A quem você deve lealdade, Lord Jadeite?

– Traidores não devem lealdade a ninguém, neste momento meu único objetivo é fazer o que sempre fiz: lutar até o final, é não é como se eu tivesse escolha de fazer qualquer coisa diferente – ele sorriu e Mars nunca pensou que um sorriso poderia ser uma coisa tão horrível – Ela está vindo!

– Onde você está agora?

– No campo de batalha, mentira, chamar isso de batalha seria ridículo. Eles não tinham a menor chance, Metalia é forte demais e a princesa está morta. Os fantoches feitos dos corpos e almas de meus irmãos estão lutando assim como eu. Ela acabou de matar Nephrite, mal posso esperar!

Ele sorriu mais abertamente, mas o sorrido morreu e por entre seus dentes saiu um grito de pura agonia. Mars fechou os olhos com força, se lembrando de seus braços em volta do corpo de seu antigo amante, do fogo consumindo a ambos.

Após Jadeite finalmente se silenciar, as três entidades conhecidas como Oráculo se levantaram.

– Shitennou, ergam-se.

Os corpos foram erguidos por um tipo de força mágica, os quatro pares de olhos pareciam focados novamente, mas ainda havia medo neles.

As Senshi mal perceberam que estavam de mãos dadas, como se rezassem. Do outro lado Usagi escondia o rosto no ombro de Mamoru, murmurando repetidamente que não queria ver o que iria acontecer.

– Vocês foram julgados pelo tribunal sagrado de Elysion.

– Da verdade não puderam fugir.

– Seu passado voltou a ser presente.

– E no presente receberão seu veredicto.

– Lords do Planeta Terra.

– Pelos pecados cometidos em guerra.

– O Oráculo os declaram: Culpados.

– Não! – exclamou Mamoru, sua garganta apertada num nó seco, uma mão invisível esmagando deu coração.

Puro desespero e derrota estampavam os rostos dos réus.

– Porém.

– Pelo crime de alta traição

– Eis sua sentença:

– Inocentes.

A pesar de não haver nenhum presente, ouviu-se o som de um pesado martelo bater. O oráculo voltou a se sentar e fechar os olhos, as enormes portas de cristal se abriram.

Usagi sentiu o corpo de Mamoru relaxar em volta do seu, ele abaixou o rosto em direção a ela e a beijou com força, ela o abraçou, aliviada. As lágrimas ainda continuavam a molhar as vestes do príncipe, mas ele não poderia se importar menos, sabia que não eram de tristeza.

Os quatro Shitennou não conseguiam acreditar na própria sorte e do alto do púlpito até mesmo Rei parecia aliviada.

Kunzite ergeu os olhos, a distância era absurda para se ter certeza, mas ele sabia que estava fazendo contato visual com a líder das Senshi.

oOoOo

O sol artificial brilhava por entre os galhos da floresta encantada. Fadinhas cantavam e dançavam felizes por entre as flores. Usagi rodopiava entre suas irmãs, que não conseguindo resistir à felicidade que sua princesinha exalava por todos os poros, sorriam para ela.

A canção que ouviram ao chegara parecia esta mais alta e num ritmo mais alegre.

Mamoru observou seus guardiões caírem de joelhos a sua frente um por um.

– Eu, Lord Kunzite.

– Eu, Lord Nephrite.

– Eu, Lord Jadeite.

– Eu, Lord Ziosite.

– Juro lealdade eterna e irrevogável ao único e verdadeiro herdeiro e imperador do planeta Terra. Principe Endymion, meu copo e minha mente, minha espada e minha honra, ofereço a vós, a agora e para sempre.

Fim

Curiosidade: Os nomes dados aos pais dos Shitennou são de governantes reais dos locais de onde cada general nasceu respectivamente.

N/A: Em fim, o fim! Eu sei, e sei, nenhum ship resolvido, mas não surtem, haverá one shots!

Eu só precisava terminar essa fic como base, já tenho uma Jade/Rei quase pronta, uma Neph/Mako rabiscada e já sei o que fazer com Mina/Kunz e Ami/Zoi.

Nossa tem três anos que as fics da Purple e Anita me fizeram abrir Pandora de Anne Rice em busca de um prompt para um drabble de Senshi/Shitennou e essa fic surgiu. Engraçado terminá-la nas vésperas do meu aniversário!

Foram ótimos anos mesmo com os bloqueios, fiz amigos novos por causa dessa fic, tantas coisas aconteceram! Anime novo, mangá sendo finalmente publicado em terras tupiniquins! Tudo muito bom pra ser verdade.

Muito obrigada por todos que mandaram comentários e que me acompanharam até aqui, vocês são o máximo!

Até a próxima!


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "A Outra Chance" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.