Eu estava sentada no sofá com as duas mãos segurando minha cabeça, tentando raciocina a explicação da minha mãe de como ela havia chegada à conclusão de virar funkeira. Ela havia me dito que depois que eu sair, ela pegou o carro e foi direto para o shopping. Ligou o radio na estação de funk e começou a ouvir. Quando chegou em frente ao shopping ela conheceu duas mulheres e acabou desabafando com elas. Resumindo, essas mulheres – funkeiras- mudaram totalmente a minha mãe.

Sinceramente, eu não sabia se ficava feliz ou triste. Eu odiava funk profundamente, mas ver minha mãe feliz e com novas amizades era melhor do que vê-la triste se enchendo de sorvete e chorando ao ouvi Someone Like You.

- Então você saiu por duas horas e voltou... Assim? – Eu a olhei dos pés a cabeça – Sinceramente, estou feliz por te tomado uma atitude. Mas, mãe, vira funkeira não é demais não? Tipo, tem vários outros estilos.

- Eu sei querida, antigamente eu era hippie, mas como a moda agora é funk...

- A moda não é funk – A cortei – Nunca foi e nunca será.

- Você não gostou do meu novo estilo?

- Hã... Não.

- Mas foi ideia sua.

- Isso – Eu apontei para as roupas dela – Não foi ideia minha.

- Já sei! Você odeia funk, só gosta daquela barulheira e daqueles caras gritando.

- Foo não é barulheira – Protestei – É música.

Minha mãe revirou os olhos.

- Querida, eu realmente gostei desse meu novo estilo... E gostaria que você respeitasse.

- Será difícil – Sussurrei para mim mesma.

- O que disse?

- Farei o possível para respeitar – Disse com um sorriso falso.

- Hm, legal... – Minha mãe abriu um largo sorriso – Quem era aquele garoto com você?

- Era o Victor.

- Hm, ele é bem gostoso!

What the fuck? Gostoso? Minha mãe nunca referiu ou falou que um homem era gostoso.  O que havia acontecido com a minha mãe? Tudo nela estava mudado? Não era apenas o visual e o gosto musical. Como aqueles funkeiros de uma figa conseguiram mexer com a cabeça da minha mãe em apenas duas horas?

- Acho que sim – Murmurei sem graça – Enfim, eu estava pensando vamos ao cinema hoje? – Perguntei tentando mudar o assunto.

- Bem que eu queria, mas sairei com a Juju e a Pati.

- Irão para onde?

- Hoje é Noite das Novinhas.

“Mas você tem 45 anos” – Eu queria gritar isso para ela para ver se ela caia na real. Era funkeira nem por um dia e já estava me tirando do sério, já bastava àqueles babacas ouvindo funk na caixinha de som e agora essa.

- Aproveite seu baile funk – Disse entre os dentes.

- Obrigada filhinha – Ela disse ingenuamente e foi para o quarto.

- Que Deus me ajude – Disse olhando para o teto.

**

Minha mãe saiu às dez horas vestindo uma mini saia e um top de estampa de zebra e um salto alto preto.  Saiu dançando e rebolando até o chão.

Fiquei a noite toda vendo filmes de terror e tomando sorvete e olhando para o relógio a cada hora que passava. Duas, três, quatro da manhã e nada na minha mãe voltar. Liguei para o celular dela umas quarenta vezes, mas nada de ela atender, deixei um monte de mensagem e também nada de me responde.

Não consegui dormir de tanta preocupação e eu tinha que dormir, pois tinha aula logo cedo. Horas e horas se passaram, quando percebi que já eram  seis e meia da manhã fui tomar café. Então minha mãe chegou dançando e rebolando.

- Onde você estava? – Gritei raivosa – Eu fiquei a noite toda preocupada. Por que não atendeu o celular? Por que não respondeu minhas mensagens?

- Calma mamãe! – Minha mãe disse sarcasticamente – Eu disse que voltaria tarde.

- Disse, mas não disse que voltaria seis da manhã. Agora eu terei que ir para escola com essa cara de cú. Não dormi a noite toda, sabe como estou cansada?

- Eu não mandei fica acordada, ficou por que quis.

- Não acredito que estou ouvindo isso! – Disse revoltada – Vá para o seu quarto!

- Irei mesmo... E fale baixo por que eu bebi bastante e...

- Você bebeu? – Perguntei nervosa. Meu olho esquerdo já estava piscando descontrolado – Você dirigiu bêbada? Meu Deus... Você é um perigo para sociedade.

- Que porre! Ju, vá para a escola e não encha meu saco, firmeza?

Ela foi para o quarto e fechou a porta.

- Firmeza?