The Hudson-Berry Baby escrita por Carol Dias


Capítulo 2
Capítulo 2




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O celular de Rachel tocou uma, duas, três, quatro vezes. O toque de ‘Don’t rain on my parade’ embalava seu sono e era como se fizesse parte de seu sonho, sendo impossível despertá-la. Até que de tanto vibrar, o celular caiu do seu criado mudo causando um enorme barulho e a acordando. Pegou o iPhone do chão e viu que tinham 14 chamadas não atendidas de Finn. Olhou pro lado. Ele não devia estar lá? Respirou fundo e clicou no nome dele para retornar as ligações, o que não foi necessário pois, mais uma vez, Barbra entoou sua voz e ela atendeu:

“Desculpa, Rach”, disse Finn, do outro lado da linha.

“Por que eu devo te desculpar?”

“Eu tive que te deixar aí sozinha, eu não queria, de verdade. Mas eu tinha uma reunião importante às 14:00, fiquei com muita pena de te acordar, até me atrasei um pouco por causa disso”

Espere. Ele tinha uma reunião às 14:00? Ela olhou no relógio e já passavam das 15:00.

“Não, sem problemas. Mas no fim das contas, você me acordou de qualquer jeito”

“Jura? Rach, desculpa, eu não queria. É que só agora eu tive tempo de te ligar” Ela pôde ouvir a respiração dele “Olha, sobre ontem...”

“Finn”, Rachel o interrompeu “Nada aconteceu ontem, okay? Eu não me lembro de nada, você deve esquecer”

“Mas eu não quero esquecer, Rachel! Ontem foi incrível, por favor, você não pode me pedir pra esquecer”

Rachel também não poderia esquecer, seria impossível. Ela se lembrava de cada detalhe, de cada toque, cada gemido, cada suspiro, de cada sarda do corpo dele.

“Finn, nós entramos num acordo de que não iriamos tocar nesse assunto novamente. A sua amizade é muito importante pra mim, não quero que esse pequeno detalhe atrapalhe tudo o que nós temos. Por favor, eu não saberia viver sem ter um amigo como você do meu lado”

Finn prestou atenção em cada palavra que ela disse e resolveu dar razão a ela. Ele presava demais a amizade deles e amava tudo o que eles construíram como amigos.

“Tá bom Rachel, prometo não tocar nesse assunto novamente, eu só quero que você saiba que eu nunca vou conseguir esquecer isso” disse Finn, e Rachel ouviu que alguém o chamava “Eu tenho que voltar para a reunião agora, quando eu voltar a gente se vê, beijos”

“Vai lá, Finn”

Rachel desligou e ficou encarando o nada por alguns minutos. Seu quarto ainda tinha o cheiro dele. Ela ainda tinha o cheiro dele. Respirou fundo e reparou que seu nariz não estava tão entupido como estava antes. Por fim, talvez o whisky tivesse mesmo algum efeito benéfico. Resolveu tomar um banho para tirar todos os vestígios de Finn do seu corpo, lavar a alma. Foi ao banheiro, tirou a camisa – que era dele – e se olhou no espelho. Notou que havia uma grande mancha deixada por um chupão na sua barriga e outra no seu pescoço. Aqueles eram vestígios de Finn que nem a água iria tirar.

–-

Rachel estava largada no sofá assistindo a reprise do último capítulo de Grey’s Anatomy quando a campainha tocou, devia ser Finn, ela não queria vê-lo naquela hora, mas como queria que as coisas continuassem a ser como eram antes, ela se levantou, colocou um sorriso amigável no rosto e caminhou em direção à porta.

“Anda, Rachel. Eu preciso ir ao banheiro”, era a voz de Kurt, que dizia impaciente, não Finn.

Ela abriu a porta e ele nem chegou a cumprimenta-la, correu diretamente para o banheiro no caminho já conhecido. Rachel viu que na porta ele havia deixado três malas enormes e, de repente se lembrou que Kurt passaria a semana inteira em seu apartamento enquanto trabalhava num editorial em Nova York.

Kurt conhecia Rachel desde que eram meros fetos nas barrigas de suas mães, - Shelby e Elizabeth frequentavam a mesma aula de hidroginástica para grávidas – os dois nasceram com 15 dias de diferença, Kurt era o mais velho e sempre usava isso como desculpa nas discussões mais inúteis. Aos três anos brincavam juntos na caixa de areia do parquinho, aos cinco  faziam festa do chá com as bonecas de Rachel, aos nove, quando a mãe de Kurt se foi, Rachel foi o ombro em que Kurt chorou e aos dezesseis, ela foi o ombro em que ele se apoiou quando ele assumiu sua homossexualidade. Os dois eram inseparáveis até o dia em que Burt, o pai dele, casou-se com uma mulher chamada Carole Hudson.

Flashback

Burt e Carole tinham acabado de dançar a primeira dança deles como marido e mulher, ‘(I’ve had) The Time of My Life’ tinha dado lugar a ‘Faithfully’ do Journey e a prima de Kurt o puxou para dançar, deixando Finn sozinho com Rachel.

“Hm, você quer dançar?”, ele perguntou.

“Ahn? É, é claro”, respondeu e Finn a puxou para um lugar não muito longe do meio da pista de dança.

“Na verdade, eu esperava que você não aceitasse, só perguntei por educação”

Ah, certo. Ela achava que Finn devia ser arrogante, devido a sua enorme popularidade. Mas não esperava que ele fosse ser assim, tão indelicado.

“Então não precisa, eu...”

“Não, não, não é nada disso. É que eu sou um péssimo dançarino, não quero que você saia ferida daqui”

“Não precisa de muita coisa, é só balançar pra lá e pra cá no ritmo da música”

“Mas não é o cara que deve conduzir a moça?”

“É, mas eu não quero sair ferida daqui, Finn”

“Como você sabe meu nome?”

Ela riu, “Quem não sabe seu nome? Além disso, eu sou melhor amiga do filho do noivo, o nome do meio-irmão do Kurt é o mínimo que eu deveria saber”

“Você está certa, Rachel” Ele frisou o nome dela “Eu também sei o nome da melhor amiga do meu novo meio-irmão”, disse ele, com um sorriso galanteador.

Ela abriu um sorriso enorme e ficou perdida na imensidão dos olhos dele, naquela hora ela nem se lembrava mais de Jesse, seu namorado, até que um pisão no seu pé a acordou para a realidade.

Fim do Flashback

Naquele dia Kurt perdeu Rachel para Finn. Ela ainda era amiga dele, é claro, mas sabia que grande parte da atenção dela, desde então era direcionada para seu meio-irmão. Kurt, mesmo sendo muito possessivo, não sentia nenhum pingo de ciúme dos dois, sabia que tinha algo maior do que amizade ali, eles é que eram tolos de mais para notar, ele também sabia que mesmo assim, Rachel sempre estaria lá para ele quando precisasse, então não havia motivo algum para ficar enciumado.

Hoje em dia, Kurt morava em Londres, era editor chefe da Vogue UK. Tinha dinheiro o suficiente para ficar hospedado no hotel mais caro de Nova York, ou até mesmo para manter sua própria casa lá, mas fazia questão de passar o pouco tempo de sua estadia no apartamento da amiga.

“Porque tem uma camisa de homem no meio das suas roupas sujas?”

Merda, merda, merda – Pensou “Porque você está vasculhando minhas roupas sujas?”

“Meu Deus! Quem esteve aqui? Ele era bonito? Vocês transaram? Qual o número do sapato dele?”

“PARA, KURT! Além do mais, essa camisa é do Finn”

Kurt arregalou os olhos, jogou a camisa nela e começou a surtar “Eu sabia, eu sabia, eu sempre soube que isso ia acabar acontecendo. Me conta tudo, TUDO, só me poupe dos detalhes constrangedores. Mentira, pode falar tudo, AGORA”

“Não aconteceu nada, Kurt. Tira essa ideia pervertida da cabeça. Ele estava aqui, nós tomamos vinho, eu derramei o meu na camisa dele e fiz questão de lavar”

“Você não sabe tirar mancha de vinho...”

“Google”

“Mas a camisa não tem nenhuma mancha” Bingo! Ele começou a rir escandalosamente “Rachel Barbra Berry, você não me engana”

Kurt tinha acabado de coloca-la contra a parede, mas foi salva pelo gongo. O alarme do seu celular tocava, indicando que estava na hora de tomar seu antibiótico.

“Espera só um minuto, vou tomar meu remédio e já volto”

“Você não me escapa, Rachel”

Enquanto pegava um copo d’água na cozinha, a campainha tocou. Rachel não se apressou, pois viu que Kurt já se adiantara em atender a porta.

“Finn, você por aqui?”, ouvir Kurt dizer da sala.

“Oi Kurt, cadê a Rach?”

“Eu estou aqui. Oi Finn”

“Oi” ele sorriu ao vê-la e Rachel notou que ele estava com a voz fanha e fungava “Você está melhor?”

“Um pouco, pelo visto eu passei minha infecção nasal pra você”

“Ah, só um pouco, isso acontece, não foi nada demais”

“O que vocês andaram fazendo para que a infecção dela passe pra você, Finn?” Kurt se fez presente, quando já havia sido esquecido.

“É-é deve ter sido por que eu bebi no mesmo copo de whisky da Rachel” Rachel assentiu, confirmando o que Finn acabara de dizer.

“Certo, o mesmo whisky que ela derramou na sua camisa que manchou... Espere... Não era vinho?”

Rachel arregalou os olhos e ficava olhando de Finn para Kurt e de Kurt para Finn.

“Se vocês não quiserem me contar, tudo bem, eu respeito vocês dois. Mas quando quiserem abrir o relacionamento de vocês para o mundo, eu quero ser o primeiro a saber”

“Nós dois não temos nada Kurt”, disse Rachel “Somos apenas grandes amigos, como sempre fomos e sempre seremos, nada mudará isso”

“Eu vou fingir que acredito” Kurt olhou para Rachel como quem dissesse ‘Você vai me explicar tudo mais tarde’, “Vou tomar um banho que eu ganho mais”

Rachel fez questão de ter certeza de que Kurt não estava mais a vista e se dirigiu para Finn: “E então?”

“E então o que?”

“O que você faz aqui?”

“Ah, é que eu vou ter que viajar pra Chicago agora e só volto daqui a três semanas e quis me despedir de você”

“Tá bom, agora você já pode ir. Boa viagem e mil desculpas por ter te infectado, Tchau”

“Espera, só isso?”

“Só. Esperava mais o que?”

Finn não disse nada, só a abraçou por um longo tempo e deu um beijo na testa dela.

“Vou indo, se cuida, tá? Diga ao Kurt que eu disse ‘tchau’”

“Pode deixar. Tchau, Finn”

Rachel fechou a porta e ficou encostada nela por um tempo. Talvez fosse melhor ficar um pouco afastada de Finn, foi difícil vê-lo agora e controlar a vontade de pular em cima dele e arrancar sua roupa, mesmo com a presença esquecida de Kurt ali.



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Notas finais do capítulo

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