Chá E Vinho escrita por Lana Snakebald


Capítulo 2
Vinho


Notas iniciais do capítulo

Gente! Muito obrigada pelos reviews e por todo mundo que leu a fic. Tem um pouco de anti-usuk nesse cap, mas... >.< Não levem pro lado pessoal, ok? Eu precisava de uma trama, mas que fique anotado que eu A-DO-RO o Alfred (não tanto com o Arthur, mas gosto XD). Enfim... Espero que curtam a fic o/



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Chá e vinho (parte II)

Por mais que as grossas gotas de chuva que rebatiam em seu rosto estivessem geladas, a raiva que sentia inflamando dentro de si as estava tornando insignificantes.

                Inglaterra corria afundando seus pés nas poças de lama. A sensação era de que ele havia corrido desesperadamente por horas naquela chuva, ele sentia-se cansado e arfava muito, ás vezes era necessário parar e olhar envolta para se nortear pelas ruas da cidade. O que lhe servia de combustível eram os flashes que explodiam na sua cabeça daquele dia agitado.

                Durante mais de uma semana. Todos os dias, ás cinco horas em ponto ele esperara França no jardim para o chá. A mesa branca devidamente arrumada. Ele nunca aparecia. E mesmo assim, sempre que amanhecia Inglaterra o esperava prontamente. Não atendia ao telefone, não ligava, nenhuma carta, nenhuma satisfação. Sentindo-se um idiota por esperar aquele francês estúpido, ele deu um soco forte na mesa que derrubou um açucareiro e sua xícara de chá. “STUPID!” gritou. Ele mesmo não sabendo se estava xingando á si ou ao francês.

                Foi então que viu a folha de jornal que se encharcava com o chá derramado. E a notícia nela.

                Aquele maldito França! Se estava com problemas financeiros porque não pediu ajuda? Ele já havia passado por esse tipo de coisa antes, não é? E ainda por cima, numa situação dessas foi arrumar briga com o América!

                A raiva borbulhava em sua mente enquanto ele corria. Raiva do França, raiva do América, raiva de si mesmo... E com a raiva vinha a lembrança do que acontecera naquela manhã:

“O britânico chegara à reunião das nações um pouco mais cedo do que esperava. Ansioso para falar com o França e brigar com ele por não ter comentado nada sobre sua crise econômica. Por isso que ele estava tão sério e cabisbaixo da última vez que se viram. Aquele francês estúpido estava sempre lhe trazendo preocupações. E no entanto, ele apenas não apareceu.

                Foi então que descobrira de sua briga com o América.

- Aquele besta do França roubou três carregamentos de bolos de dia dos namorados que eu estava mandando para o Japão! – dizia o americano de boca cheia, mastigando compulsivamente um hambúrguer. – E depois disso vendeu tudo pro Itália!

- Isso é um absurdo! – gritou o Alemanha. – Você não tem provas.

- O próprio Itália contou. – disse o América apontando pro Itália. – Ele também contou que queria dar um bolo de dia dos namorados pra você.

- Buáááá! – esperneava o Itália durante a reunião. – Desculpe irmãozão França!

                Alemanha debruçou-se na mesa e escondeu a cabeça entre os braços. A decepção e vergonha pairando sobre ele enquanto murmurava “Você é péssimo Itália.”.

- Por isso! – continuava o América enquanto ainda mastigava seu hambúrguer. – È claro que eu tive que dar uma surra nele!

                A última frase do América atravessou o Inglaterra como um relâmpago. O que antes era só uma preocupação pela briga de dois países com os quais ele tinha uma história profunda, transformou-se em raiva, medo e desespero. Principalmente porque ele sabia como o América se transformava de um completo idiota pra um guerreiro violento quando estava zangado. E ele ficava muito zangado quando alguém lhe tirava algo que era seu.

                Mas o América não era o problema. Com certeza não. França já estava fragilizado por sua crise econômica. “È claro que eu tive que dar uma surra nele!”, essas palavras ecoavam no interior do Inglaterra como um gongo. E como ondas, as imagens do França sendo espancado pelo América vinha em sua cabeça. Imaginava os chutes no estômago do francês, o soco no rosto, chutes no peito. O França não tinha força pra combater o América daquele jeito... O França...

                Enquanto todos continuavam discutindo como sempre, Inglaterra repentinamente se levantou e começou a caminhar até o América.

                A reação repentina do Inglaterra silenciou á todos e só o que se ouvia era a sola de seus sapatos batendo no chão da sala de reuniões. Ao seu redor formou-se uma atmosfera silenciosa e tensa.  Russia voltou seu olhar para o britânico e começou a sorrir.

- Alguém está sentindo o sopro do vento siberiano? – riu o russo.

- Onde ele está? – perguntou Inglaterra em voz baixa, diante do América

- Hã? Inglaterra? Ei você não sabe que eu é quem estou conduzindo essa reunião? Você não pode vir aqui na frente! Espere sua vez para...

                Foi rápido demais para que alguém pudesse fazer alguma coisa. Mas, depois que aconteceu todos os países pareceram congelar.

‘Ele bateu no América!’ Sussurrou um dos países menores.

                América simplesmente não conseguia acreditar. Se via no chão, os óculos pendiam tortos na ponta do nariz. Ele levou a mão lentamente até o rosto, a área vermelha onde recebera o soco.

- Pára de brincar comigo, seu moleque! – gritou o Inglaterra furiosamente. – Diz uma vez onde está o França!

                América ergueu-se do chão. Uma sombra pairava em seu olhar, e só o que se via era o reflexo da luz que batia em seus óculos, nos quais ele delicadamente assentou sobre o nariz.

                As armas foram sacadas praticamente ao mesmo tempo. América e Inglaterra se ameaçavam com o cano de suas pistolas apontadas uma pro nariz do outro.

- Tsc! Esqueceu com quem está falando Inglaterra?

- Esqueceu quem te criou, América?

                O americano riu e apanhou um milkshake em cima da mesa, colocou o canudo na boca e começou a beber.

- Você está sendo grosseiro. Isso não faz nem um pouco o seu estilo. – ele engatilhou a arma. – E só por isso vou te perdoar.

                Inglaterra também engatilhou a arma. Normalmente ficaria com raiva da prepotência daquele garoto. Fazendo seu lanche enquanto tinha uma arama apontada para si. Mas, no momento o paradeiro do Franca era o mais importante.

- Onde ele está?

                América deu um suspiro e falou com uma voz chorosa.

- Poxa! Que olhar é esse? Não fique me encarando desse jeito! Eu não queria atacar ninguém. Mas, veja bem, eu fiquei chateado por ele ter roubado meus bolos, sabe? Aquilo era importante pra mim. Eram os meus sentimentos para o meu amigo Japão! Por isso eu não posso mais fazer comércio com o França e nem com nenhum amigo dele.

                O clima na sala ficou ainda mais pesado do que quando o América havia sacado a arma. Um lampejo pareceu atingir todos os países.  Mesmo o Rússia pareceu sorrir menos.

                Inglaterra trincou os dentes. Sabia que o que estava por fazer era assinar sua sentença de morte. Qualquer país que parasse de comercializar com o América acabaria falido...

                O britânico refletiu um pouco, e baixou sua arma. E então jogou sua arma na mesa. Voltou o olhar verde banhado em determinação para o América.

- Você já sabe minha resposta. Prefiro perder pra você... Do que... – ele cerrou os punhos.

- Tudo bem. – disse o América olhando para o Inglaterra, um pouco preocupado. Uma sensação incômoda o fez parar de tomar seu milkshake. – Ele ainda deve estar na casa dele. Eu discuti com ele lá.

                Inglaterra não esperou nem mais um instante. Disparou para fora da sala de reuniões e foi correndo na direção da casa do França.

                América e os outros países o viram partir. Então um murmúrio crescente começou na sala de reuniões. Alemanha e Itália se levantaram dizendo que se o comércio com o França seria bloqueado, eles também ficariam ao seu lado. Japão e Lituânia defenderam a posição do América. Todos os países começaram a discutir. Bolar alianças e escolher lados.

                Entre os murmúrios, um Rússia muito animado e feliz cantarolou:

- Isso está ficando interessante... Estou sentindo o cheiro de outra guerra fria? – ele gargalhou baixo e uma aura negra começou a se formar sobre sua cabeça.

                América massageou as têmporas e voltou seu olhar para a porta por onde o Inglaterra havia saído.

-Ah-ah! Veja o que você fez! Agora estou parecendo o vilão. Porque todo mundo gosta de me fazer parecer o vilão hein? Eu sou o herói!

E as discussões se intensificavam na sala de reuniões.”

                A chuva parecia estar ficando cada vez mais forte.  Inglaterra atravessara os portões de metal ainda abertos da casa do França e subia apressadamente as escadas que levariam ao pátio principal do jardim. Todos aqueles sentimentos borbulhando dentro de si.

                Seu pé escorregou nos degraus molhados e ele caiu de joelhos. A chuva forte tamborilando como um chuveiro em suas costas.

                Por algum tempo ficou ali. Sem se mover. Cansado. Exausto por ter percorrido aquele longo caminho correndo. O ar que saia ferozmente de sua boca formando nuvenzinhas em contato com o ar frio. Seu rosto estava gelado, mas sentia suas bochechas quentes pelo calor do corpo em movimento. Ele fitou seus pulsos e os cerrou.

                Estava acabado. Sem comércio com o América, nenhum país seria capaz de sobrevier por muito tempo. Bem ou mau aquele garoto era uma potência. Não duraria muito tempo sem sua amizade. Iria falir. Ele e o França. Os dois iriam acabar falidos.

- Seu idiota.... – sussurrou. Os dentes trincados. – Olha só a situação em que você nos meteu. De todas as burradas que podia fazer. Por que roubar justamente do América? Por que quando foi na minha casa você não me pediu ajuda? Por que estava agüentando isso tudo sozinho? Você não confia em mim, é isso? Eu pensei... Eu pensei...

                Então a lembrança do sorriso do francês veio em sua mente. E o beijo que dera em sua testa antes de partir.

“Au revoir, Arthur.”

                Inglaterra levantou a cabeça. Ergueu-se e continuou a correr subindo os degraus.

“Eu pensei que era especial pra você... Isso não era verdade?” pensou o inglês.

                Ao chegar ao pátio principal, Inglaterra sentiu um nó formando-se em sua garganta. A porta da casa ainda estava aberta. França padecia no meio do pátio deitado em uma poça de água. As gotas de chuva lavando o sangue que escorria do canto de sua boca e do supercílio, encharcando a blusa social branca que grudava em seu corpo. As mexas dos cabelos loiros escapavam de um rabo de cavalo frouxo que ele havia prendido com um laço azul.

                Inglaterra ofegava. Tinha medo de se aproximar e descobrir que ele não respirava.

                Então um gemido baixo. Todo o corpo do francês tremeu, ele apertou os olhos e os abriu lentamente. E aquele olhar cor de lápis-lazuli voltou-se para o Inglaterra. O esboço de um sorriso torto ameaçava se formar em seu rosto ferido.

- Ora...Se não é o Inglaterra. – falou o França em voz baixa.

-Francis... – o britânico sentiu o cenho frisar as lágrimas se formando em seus olhos. Ele correu e se deixou escorregar de joelhos no chão puxando os ombros do francês e ajudando-o a se levantar. – Francis! Seu idiota! O que você tinha na cabeça? Qual o seu problema? Arranjando uma confusão dessas e ainda levando uma surra!

                França se levantava com dificuldade. O corpo ainda doía por causa da luta, ele gemia baixo a cada fisgada que sentia em seus músculos machucados. Lentamente se sentou e conseguiu apoiar-se nos ombros do Inglaterra. Mesmo machucado ele ainda mantinha seu sorriso típico e seu tom divertido.

- Surra? Do que você está falando? Não é como se... Eu fosse fraco ou algo assim. Ele me pegou desprevenido.  Hoje é domingo. Deus provavelmente está descansando e por isso, isso aconteceu.  – ria o francês enquanto encostava a cabeça no ombro do outro.

                Inglaterra amparava-o. Não tendo mais certeza se a água que escorria por seu rosto era chuva ou suas lágrimas. Ele estava trêmulo e num ímpeto se viu abraçando o França. Ele o abraçava cada vez mais forte seus punhos agarrando com força a camisa branca.

-Você ainda consegue ficar de brincadeiras num momento desses? Seu idiota!  Você perde pro América e ainda diz que não é fraco? Por que você roubou dele? Por que não me contou sobre sua crise econômica?

                França suspirou.

- Eu... Nem sei direito como essa crise começou. Quando dei por mim a inflação estava absurda e eu estava quase quebrado. E então o Itália ligou pra mim dizendo que queria fazer uma surpresa pro Alemanha. Daí tivemos aquela idéia.  – o francês riu fracamente. – Foi uma idéia bem boba não foi? – França sentiu o corpo pequeno e trêmulo de Inglaterra contra o seu, e as mãos agarrando forte a roupa em suas costas. Seu sorriso desapareceu. Da maneira que pode, levou a mão á nuca do inglês e o apertou contra seu corpo tentando ampará-lo. – Eu não te contei porque não queria parecer fraco pra você. E eu não queria te trazer problemas e ficar dependendo de você.

- Você me trouxe um problema maior com o que você fez! – ele empurrou o França bruscamente para trás se afastando dele e encarando-o de frente. – Por sua causa o América ficou chateado! Ele não vai mais comercializar com você! E agora que eu vim aqui, ele também não vai mais fazer negócios comigo. Sabe o que isso significa? Sem o apoio do América nós vamos falir! Sem dúvida!

                França baixou o olhar.

- È mesmo? – disse ele tristemente. – Entendo... Pardón moi Angleterre...

- Mas...

                A mudança de tom na voz do Inglaterra surpreendeu França. De repente ele não parecia mais tão zangado. De certa forma, parecia quase feliz.

- Mesmo que o América isole agente. Não tem problema. – O inglês falava de cabeça baixa e os ombros encolhidos. As bochechas de seu rosto queimando de nervosismo. – Eu e você podemos formar uma aliança. E nós dois juntos conseguiremos no virar. Como era no tempo antes daquele moleque crescer tanto e começar a conquistar tudo. O que tiver que enfrentar, eu enfrento... O que me deixa com raiva.... – ele cerrou os punhos e trincou os dentes. – O que me deixa com mais raiva. È que você não confiou em mim! E você saiu da minha casa fazendo parecer que estava tudo bem e não estava! COMO EU POSSO FICAR COM VOCÊ SE VOCÊ NÃO CONFIA EM MIM?

                Aquelas palavras fizeram França esquecer das dores de seu corpo. Ele fitava o Inglaterra com os olhos arregalados e sem fala. Inglaterra nunca demonstrara seus sentimentos pra ele daquela forma. E de certo, o França nem tinha certeza se o que ele sentia pelo inglês era realmente correspondido. Até aquele momento.

                Inglaterra sentiu toda sua raiva e sua angustia serem despejadas naquelas palavras. Ele não sabia bem ao certo o que estava sentindo. Um turbilhão de sentimentos. E ele não entendia porque se sentia assim. Mas, tinha acabado de perceber que sempre havia se sentido daquela forma perto do França. E a única coisa do qual tinha certeza naquele momento, é que ele não queria que o francês se afastasse tanto dele. Nunca mais.

                O inglês sentiu as pontas dos dedos gelados do outro deslizando em seu rosto, passando perto de suas orelhas e infiltrando-se em seus grossos cabelos molhados. Ele o sentia se aproximando e inclinando-se em sua direção, apesar de não vê-lo. Estava com os olhos fortemente fechados e a cabeça baixa.

                França inclinou-se pra frente , as mechas finas do cabelo loiro que se soltavam do rabo de cavalo escorriam para frente emoldurando seu belo rosto. Ele se aproximou bem do rosto do inglês roçando seus lábios em sua bochecha, o suficiente para que ele sentisse sua respiração quente contrastando em sua pele molhada, fazendo sua respiração descompassar.

- Mon Angleterre... – sussurrou a voz suave do Francês.

                Inglaterra abriu os olhos ao ouvir aquelas palavras. Ele sentiu como se elas o aquecessem da chuva. Ele ergueu a cabeça lentamente e encarou os olhos lápis-lazúli do França.

- Francis... – dizia ele, surpreso consigo mesmo por perceber o que estava sentindo. E o que queria.

                O francês beijou-o suavemente. Um beijo macio e rápido, e manteve os lábios próximos ao do inglês. Inglaterra mantinha os olhos e os lábios entreabertos o rosto voltado para o de França, esperando algo a mais. Mais um beijo curto apenas em seus lábios inferiores. O inglês levou uma de suas mãos ao pescoço do outro segurando-o e a outra a gola de sua camisa, puxando-o para si.

                França amparou a cabeça do inglês com as duas mãos e colou os lábios nos dele beijando-o intensamente, pressionando seus lábios com força. Enquanto fios de água se misturavam ao beijo dos dois, o francês massageava os cabelos do britânico com a ponta dos dedos. Um beijo com um pouco do gosto metálico do sangue francês, que tocava a língua dos dois.

                O tempo que ficaram juntos não importava. E nem um dos dois também parecia se importar com o que iria acontecer depois. Nada mais existia naquele pátio. Naquele momento, no mundo, só haviam dois países: França e Inglaterra.


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