Harry narrando:

Olhei ao redor. O quarto era ótimo, mas eu tinha que voltar à realidade, à merda da realidade. Suspirei. Peguei minhas malas e desci até a recepção. Dei um sorriso pra recepcionista que eu tinha transado ontem e entrei no carro. Talvez ela estivesse tão envolvida no meu sorriso que nem me chamou de volta pra pagar. Aproveitei e fui embora.

Logo que pisei em casa o telefone tocou. "Talvez eu devesse ter esperado mais um pouco pra voltar" pensei. Atendi sem ânimo nenhum.

- Alô.

- Harry? Harry?! Porra seu viado! Por que não atendeu antes? - Lorena falava, desesperada.

- Porque eu não estava em casa...

- Pra onde você tinha ido? Tava todo mundo preocupado!! Eu to indo pra aí, você...

-Não! - eu a interrompi - Ninguém vai vir pra cá. Eu só precisava de umas férias, relaxa. 

- Mas...

- Rotina normal, Lolô - respondi, desligando o telefone.

Deitei no sofá e fechei os olhos. Foda-se tudo. Iria fingir que nada tinha acontecido. Fiquei pensando nisso até pegar no sono. Fui acordado com batidas na porta.

- MAS QUE MERDA LORENA, EU FALEI QUE... - abri a porta e vi Aline, pequenininha, parada na minha porta. - O que ta fazendo aqui? - perguntei, surpreso.

- Que bom que voltou - ela respondeu, ainda do lado de fora.

- É...

Ela sorriu, daquele jeito que me deixava bobo. Eu sorri em resposta e fiquei olhando pra ela, tentando guardar cada detalhe.

- Bom... Só isso, desculpa incomodar.

- Tudo bem. - Eu não iria mandar ela entrar. Não tinha condições pra isso.

- Er... Eu sei que é estranho, mas posso entrar? To com sede - Droga!

- Claro - respondi rápido demais, me odiando.

Ela sorriu e entrou. Sentou-se no sofá, observando tudo. Percebi que nunca a tinha convidado pra vir em casa. Me senti mal por um momento, mas logo tirei isso da cabeça. Fui até a cozinha, peguei um copo com água e levei pra ela.

- Esta com pressa? – ela perguntou, percebendo meu desespero.

- Na verdade sim - respondi sem pensar.

- Hm... Eu pretendia conversar com você.

- Sobre?

- Nós.

- Não existe "nós", Aline. - falei, com um nó na garganta.

- Poderia existir.

- É,mas você preferiu que não existisse, preferiu um “nós” com o Zayn. – Ela pareceu ter levado um soco ao ouvir isso.

- Nós terminamos – ela respondeu e parou pra pensar - na verdade, eu nem sei se tínhamos alguma coisa.

- Tinham o suficiente pra transar. – falei, me arrependendo depois.

- Você faz isso com todo mundo. - ela respondeu, franzindo o cenho, como se odiasse aquilo.

- Não faço com sentimento.

Ela parou, talvez pra pensar sobre minha resposta, e voltou a falar.

- Se fosse comigo, seria com sentimento?

Me senti desconfortável. 

- Talvez...

- Harry, eu to falando sério! Seria com sentimento? - Ela se levantou do sofá e ficou nas pontas dos pés pra olhar nos meus olhos.

- Eu teria que fazer pra saber - respondi, ignorando se ela poderia se magoar ou não. Mais magoado do que eu, ninguém ficaria.

Ela ficou parada me olhando. Parecia se decidir se continuava ou não a conversa. Por fim, se virou para a porta.

- Eu achei que você...

- Que eu ficaria pra sempre sendo o Harry fofo? Não! Não dá! E sabe o porque? Porque quando você é fofo, quando você ama alguém, você se fode! É muito mais fácil só beijar, só... – comecei a falar, soltando tudo o que estava na minha mente durante esse tempo.

- HARRY! - Nós dois estávamos perdendo a cabeça, falando sem pensar. - EU VIM AQUI PRA TE DIZER QUE EU E O ZAYN NÃO TEMOS NADA, QUE NÃO CONSEGUIMOS TER PORQUE O TEMPO TODO EU SÓ PENSEI EM VOCÊ. MAS RELAXA, SE VOCÊ QUER SER O PEGADOR, SEJA, EU NÃO LIGO! IGUAL VOCÊ TEM DE MONTES POR AÍ! - ela gritava, com lágrimas escorrendo pelo rosto.

Fiquei sem ter o que falar. Respirei fundo pra não me xingar e abri a porta. Ela saiu de cabeça baixa.

Fechei a porta em silêncio. Eu era um completo idiota! De fato, eu não devia ter voltado. Tudo o que ela falou voltava na minha cabeça. O choro dela e depois o sorriso. Era tudo minha culpa. Eu tinha que concertar isso.