Laços Fraternos: Megera escrita por MyKanon


Capítulo 36
XXXVI - Fugindo novamente




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Novamente, Renan empurrou a prima e abriu a porta. Encontrou Lorrayne com o rosto quase encoberto pela água. Assustado correu a fechar a torneira enquanto chamava:

_ Lorrayne!!! Lorrayne acorda! Lorrayne! O que você fez?

_ Cala a boca, Renan! Isso tem que parecer um acidente! Se alguém nos encontrar, você também vai se dar mal!

_ Você é louca! O que você acha que está fazendo?

_ Chega! Cala a boca! Você não percebe que foi um acidente? Ela foi tomar banho, escorregou e caiu!

_ Foi você! Você que fez isso!

_ Como você vai provar? Como vai fazer pra não te culparem? – Layane mostrou as luvas escondidas em seu bolso – Suas digitais estão na torneira...

Renan ficou paralisado por um instante. A única saída por enquanto era concordar. Disse:

_ Vou chamar o resgate!

Agitado o garoto saiu do quarto. Bateu na porta do irmão:

_ Eduardo! Eduardo abre logo!

_ Qual é, heim? – perguntou Eduardo mal humorado.

Renan entrou no quarto e pegou o telefone, explicou enquanto discava o número:

_ Lorrayne foi tomar banho, escorregou e caiu! Ela está desmaiada e sangrando!

_ O quê?!

_ Alô? Preciso de uma ambulância...

Eduardo foi até o quarto de Lorrayne. Ao encontrar Layane, perguntou:

_ O que você fez agora?

_ Nada! Foi um acidente! Ela caiu!

_ Você não tem limites, não é?

O garoto aproximou-se da banheira. Perguntou:

_ E que água é essa? Você tentou afogar ela?

_ Já disse que não! Ela ia tomar banho! Era de se esperar que tivesse água na banheira!

Eduardo destampou a banheira para que a água escorresse pelo ralo. Murmurou:

_ Lorrayne, agüenta firme. Você vai conseguir!

***

Lorrayne piscou repetidamente até habituar-se à claridade. A enfermeira a observou por alguns segundos, então perguntou:

_ Você está bem?

_ Estou com dor de cabeça...

_ Então está bem. Eu estranharia se não estivesse... Posso permitir que sua mãe entre?

_ Minha mãe? O que aconteceu? Que dia é hoje? – Lorrayne apalpou a faixa que enrolava sua cabeça tampando seu olho esquerdo.

_ Hoje é quarta-feira e ontem você deu uma pancada muito forte com a cabeça. Posso permitir que sua mãe entre? Ela está bastante aflita.

_ Não. Na verdade eu podia ficar aqui o resto da vida?

_ Como?

_ Nada. Esquece. Acho que a pancada me deixou louca. Pode deixá-la entrar.

_ Certo. Ela só poderá ficar alguns minutos.

_ Tá bom. Obrigada.

A enfermeira afastou-se. Logo Martha entrou no quarto. Abraçou a filha afetuosamente. Perguntou:

_ Você está bem? Fiquei tão preocupada! Está melhor?

_ Eu estou bem. Sério.

_ O que aconteceu com você?

_ Não sei... Eu estava no banheiro...

_ Você toma banho naquela banheira todo dia! Como foi cair e se machucar feio desse jeito?

_ Eu não estava tomando banho...

_ Estava fazendo o que?

_ Eu estava procurando o que Layane tinha feito de errado no banheiro... E encontrei.

_ Lorrayne! Não comece com essas histórias novamente!

_ Mas é verdade...

_ A Layane está aí fora, preocupada como todos nós!

_ Tá! Tá bom! Quem mais está aí fora?

_ Nós.

_ Você falou com a minha mãe Catharina?

_ Por que eu deveria falar?

_ Por que você não deveria falar?

_ Porque Catharina está vivendo a vida dela, bem longe daqui, e não tem nada a ver com o que acontece na nossa vida!

_ Mas eu quero vê-la!

_ Lorrayne, parece que você está bem melhor...

_ Por quê? Você não queria que eu melhorasse?

_ Não comece! Posso deixar Layane entrar?

_ Não. Não quero vê-la.

_ Lorrayne, você não acha que é um bom momento para fazerem as pazes?

_ Não quero vê-la.

_ Lorrayne, seria melhor você começar a se dar bem com a sua família. Você quer passar o resto da sua vida assim?

_ Logo isso vai acabar. Não se preocupe.

_ Não sei mais o que fazer.

_ Não faça nada. Tudo vai se resolver. A senhora vai ver.

_ Espero.

Lorrayne permaneceu quieta. Queria que Martha deixasse o quarto o mais rápido possível. Para sua sorte, a enfermeira voltou ao quarto e pediu:

_ Bom, agora a senhora tem que deixar sua filha repousar. Ela não está totalmente recuperada.

_ Ah, claro! Tudo bem. Vejo você amanhã, querida.

Martha beijou a filha e deixou o quarto. Lorrayne perguntou à enfermeira:

_ Que horas são? Faz muito tempo que ela está aí? Quem mais está aí fora?

_ São três e meia da tarde. Sua mãe ficou o dia inteiro ontem, mas foi pra casa, e voltou hoje cedinho. Sua irmã e seus primos só vieram hoje depois do almoço.

_ Meus primos? Os dois?

_ Os dois. Agora tome esse comprimido e durma. Toma.

Lorrayne tomou o comprimido. Ainda perguntou:

_ Até quando vou ter que ficar aqui, hein?

_ Se você estiver bem, o médico pode te dar alta amanhã mesmo. Mas só se você seguir direitinho o que pedirmos. E agora estou pedindo para que você descanse.

_ Mais? Estou cansada de descansar! Onde vou arranjar tanto sono?

_ Esse remedinho vai te ajudar a dormir.

Lorrayne suspirou e calou-se. Pediu:

_ Eu posso pelo menos ver meu primo?

_ Você tem que dormir.

_ Mas eu preciso! É urgente! Por favor! Se você não deixar, não vou conseguir dormir!

_ Você vai dormir de qualquer forma.

_ Mas vou ter pesadelos! Por favor...

Cedendo à pressão, a enfermeira suspirou e disse:

_ Rapidinho!

_ Obrigada! É o Eduardo. Cuidado, não vai confundir com o Renan!

Insatisfeita a enfermeira saiu. Eduardo entrou no quarto já dizendo:

_ Fique sabendo que a tia Martha não gostou nada disso.

_ Tenho que ser rápida! Tenho pouco tempo! – Lorrayne bocejou - Quero ver a minha mãe.

_ Pra quê?

_ Quero ver ela. Você tem que me ajudar.

_ Você só vai levar mais preocupação pra ela.

_ Por favor, preciso da sua ajuda. Eu preciso ver a minha mãe. Preciso falar com ela. Eu preciso ao menos uma vez me sentir segura. Vai me ajudar ou não?

Eduardo refletiu por um momento. Perguntou:

_ Como eu te ajudaria?

_ Da mesma forma que o Marco.

_ Mas ele não conseguiu.

_ Ele conseguiu. Eu é que não consegui. Dessa vez eu vou fazer tudo certo.

_ Não sei.

_ Amanhã. Antes de a Martha vir. Durante a sua aula! Vou estar te esperando!

_ Mas eu não disse se vou ou não.

_ Você vai.

_ Como você vai fugir no nariz da tia Martha?

_ Chegue antes dela...

A enfermeira voltou ao quarto e anunciou:

_ Tempo acabado. Agora, o rapazinho pode sair. Rápido.

 Lorrayne sentia as pálpebras pesarem. Logo caiu em sono profundo.

Acordou no dia seguinte com a enfermeira trazendo outro comprimido:

_ Tome, outro remedinho. Vou tirar seu soro.

Enquanto a enfermeira tirava a agulha do braço de Lorrayne e cobria com um pedaço de esparadrapo, a garota observava o comprimido e perguntou:

_ Você quer que eu volte a dormir? Você quer me colocar em um coma induzido?

_ Não. Este não é pra dormir.

Mais satisfeita, Lorrayne tomou o remédio. Perguntou:

_ A minha mãe está aí?

_ Hoje ela disse que passava aqui mais tarde.

_ Só queria confirmar.

A mulher desenrolou a cabeça de Lorrayne, deixando apenas um curativo na testa. Perguntou:

_ Você tem problemas com a sua mãe?

_ Por quê?

_ Me pareceu que você tem... Podemos conversar com algumas assistentes sociais que podem te ajudar a resolvê-los...

_ Não. Está tudo bem. Não tenho problema algum.

_ Então tudo bem. Se precisar de qualquer coisa, toque a campainha.

_ Ah, que horas são? Meu primo já chegou?

_ Não, ele não chegou.

_ Que horas são?

_ É cedo.

_ Tô na mesma. Preciso de números.

Resmungando a enfermeira constatou as horas;

_ Sete e meia.

_ Assim está melhor. Quando ele chegar, você podia, por favor, me avisar?

_ Contanto que agora você se aquiete.

_ Tá. Prometo!

Logo que a mulher deixou o quarto, Lorrayne pulou da cama procurou pela sua roupa. Ao encontrá-las, vestiu-se.

_ Assim estou mais decente! – disse pra si mesma.

Ficou a dar voltas pelo quarto. Ligou a TV, assistiu por uns minutos, voltou a desligá-la. Observou as ruas movimentadas através da janela. Assustou-se quando a enfermeira entrou no quarto perguntando:

_ O que faz fora da cama?

_ Nada. Só estava esticando as pernas...

_ E por que está trocada? Você não vai sair daqui até o médico dar alta!

_ Eu não ia sair... Eu só queria me sentir bem, porque, sinceramente, essa camisolinha, ninguém merece!

_ Volte pra cama.

_ Mas eu estou cansada...

_ Volte.

_ Meu primo chegou?

_ Chegou. Mas não vou deixá-lo entrar enquanto não se deitar!

_ Ihhhh, vai começar...

Lorrayne voltou pra cama contrariada. Perguntou:

_ Pronto! Agora posso falar com ele?

_ Não saia daí!

_ Tá bom, tá bom!

Assim que a porta se fechou, Lorrayne pulou da cama novamente. Quando Eduardo entrou, a garota reclamou:

_ Você demorou.

_ Nem vou responder. Anda logo. Toma, coloca.

_ Boné nunca foi uma das minhas peças preferidas...

_ Tá certo, se você acha que ninguém vai te conhecer quando sairmos, beleza...

Lorrayne tomou o boné da mão de Eduardo. Enrolou a cabeleira, Eduardo a auxiliou a colocar o boné. Sussurrou como se falasse consigo mesmo:

_ Você fica linda de boné.

Inconscientemente, Lorrayne perguntou:

_ É?

_ De qualquer forma você fica.

Eduardo puxou Lorrayne para perto de si e a beijou. Lorrayne contribuiu o beijo com todo amor que sentia. E mais uma vez, sua paixão foi interrompida quando Eduardo comunicou:

_ Não podemos perder tempo.

_ Não podemos. – repetiu a garota ruborizando.

Lorrayne seguiu o primo pra fora do quarto. Andava de cabeça baixa para evitar o reconhecimento. E para evitar que Eduardo visse seu rosto vermelho.

Desceram até o estacionamento pelo elevador. Eduardo indicou o carro, e entraram simultaneamente. O rapaz que dirigia perguntou:

_ Então essa é a Lorrayne?

_ É. – respondeu Eduardo vagamente.

_ Ela é realmente parecida com a irmã!

_ Essa é a minha cruz... – lamentou-se Lorrayne tirando o boné – Mas não sou o mesmo nojo que ela. Estou admirada de você ter conhecido Layane. Como conseguiu?

_ Ela seguiu o Eduardo até a minha casa, pra ter certeza que ele não estava fazendo nada errado... E eu caí na besteira de dizer que ela era a maior gatinha... A garota virou bicho! Ameaçou até chamar a polícia!

_ Não ligue. Ela é louca. Bom, você provavelmente não sabe onde estamos indo, não é? Só seguir para o centro de São Paulo.

_ Beleza.

_ Ah, você é o...

_ Fábio.

­_ Prazer Fábio.

_ Prazer Lorrayne. Escuta, você tem namorado?

_ Esquece Fábio. – Cortou Eduardo.

Lorrayne sentiu-se vitoriosa. Se Eduardo não estivesse com ciúmes, por que faria aquilo? Espírito protetor?

Assim que chegaram, Lorrayne correu até o interfone e o tocou:

_ Quem é?

_ Sou eu, mãe!

_ Lorrayne? O que faz aqui? Entre!

A garota subiu as escadas, seguida de Eduardo. Catharina já estava a sua espera. Disse:

_ Eu já estava de saída...

E perguntou assustada ao constatar o curativo:

_ Mas o que aconteceu? O que é isso?

_ Mãe, eu tô bem! Eu só caí na banheira... Estou voltando do hospital, mas estou bem. De verdade.

_ Sério? Como você veio do hospital? A Martha te trouxe ou você veio sozinha? Ela sabe que você está aqui?

_ Mãe, olha só, esse é o Eduardo, meu primo. Eu vim com ele. E com o amigo dele que está lá em baixo esperando a gente...

_ Vem, entrem, precisamos conversar direito!

Continua


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