_ Oops... – Layane mostrou uma chave – Acho que fiz uma cópia da sua chave por engano...
Lorrayne suspirou. Nem em seu quarto teria privacidade. Disse:
_ Layane, me dá essa chave.
_ Eu vendo. Afinal, gastei dinheiro nisso aqui...
_ Quer saber? Fique com a chave e com o que mais você quiser. Não me importo. Agora, por favor, vai pra escola. Cadê sua mãe?
Layane olhou as horas, disse:
_ Sei lá. Ela deve ter se atrasado.
Apreensiva, Lorrayne perguntou:
_ Você deu a remédio dela hoje?
_ Dei, já conversamos... Por quê?
Sem responder, Lorrayne correu até o quarto da mãe, seguida de Layane. Bateu na porta:
_ Mãe? Mãe, a senhora está bem?
Layane abriu a porta enquanto dizia:
_ Está aberta, idiota!
Sem dar ouvidos para a irmã, Lorrayne entrou no quarto. Encontrou Martha apoiada em sua penteadeira cobrindo o rosto com a mão. Lorrayne aproximou-se perguntando:
_ Mãe? A senhora está bem? Layane chama um médico, ela não está bem!
_ Eu estou bem, estou bem! Sério. Só tive um ligeiro mal estar. – disse Martha encarando a garota.
_ Mas a senhora está pálida! Layane! Chama um médico! Rápido.
Martha recuou e sentou-se em sua cama. Lorrayne ainda preocupada resolveu chamar um médico por conta própria. Pegou o telefone, mas Layane o tirou de sua mão, ia reclamar quando Martha levantou e disse:
_ Passou. Estou bem. Agora me deixem que eu ainda tenho que me arrumar! Vão, vão logo!
_ Mas mãe, a senhora está pálida...
_ Foi só o efeito colateral do remédio. Isso sempre acontece. Vão, tenho que me arrumar.
Contrariada, Lorrayne teve que deixar o quarto com Layane. Encontraram Renan na porta, que foi atraído pelos gritos de Lorrayne. Perguntou:
_ O que estava acontecendo aqui, heim?
Indignada, Lorrayne pediu:
_ Layane, por favor, para com isso! Você viu? Você vai acabar matando nossa mãe!
_ Cala a boca! Você não sabe o que está falando!
_ Sei sim! E você também! Qualquer dia pode acontecer algo pior! Você tem que parar com isso!
_ Não! Não vou parar com isso! E você sabe por que? Porque estou cansada! – Layane avançava pra Lorrayne, que recuava, para evitar uma investida da irmã. – Estou cansada de você! Você veio pra cá só pra me incomodar! Minha vida era perfeita antes de você aparecer, e agora, tenho que drogar minha mãe pra poder conviver com ela, e tudo isso graças a você! Você é a minha desgraça!
Layane segurou a irmã pelos braços, tentou empurrá-la escada abaixo. Mas Renan pediu:
_ Layane, melhor não!
_ Qual é, Renan! Podemos dizer que ela caiu!
Lorrayne tentou desvencilhar-se das mãos da irmã, mas não conseguiu. Layane a empurrou para a escada. Eduardo que acabara de descer, ao perceber a situação, subiu alguns degraus, impedindo Lorrayne de rolar até o fim. Levantou a garota e perguntou:
_ Tudo bem com você? Se machucou?
Assustada, Lorrayne equilibrou-se e respondeu:
_ Não... Eu estou bem...
_ Você caiu de uma escada, você tem que falar pra tia Martha, e ver um médico...
_ Não! Não precisa!
Layane aproximou-se e disse:
_ Verdade. Ela não precisa de médico algum. Precisa de um psiquiatra. Vem logo Renan!
Renan acompanhou Layane até o carro. Lorrayne continuou parada na escada, disse:
_ Você está atrasado, melhor ir.
_ Tem certeza que não está machucada?
_ Tenho. Estou ótima. Posso até dançar can can. Só não vou dançar, porque você está atrasado!
_ Por que esse terrível bom humor?
_ Depois te conto. Tchau.
_ Tchau.
Lorrayne subiu para seu quarto. Fechou a porta e massageou suas costelas que estavam doloridas.
“Essa foi por pouco. Mais alguns degraus, e meu pescoço já era...” Refletiu. Mas apesar de tudo, estava feliz. Já podia imaginar-se longe daquele tipo de situação.
Ouviu Martha sair. E logo ela estava de volta. Lorrayne já estava pronta quando a mulher chamou. Ao chegar na escola, cumprimentou seus amigos, e após a aula de biologia, pôde curtir o intervalo. Caminhavam pelo pátio, enquanto Lorrayne contava seus casos:
_ ... E eu estava pensando em sair durante a noite. Mas voltar. Tenho somente que falar com a Catharina. Depois, tenho certeza que ela vai me ajudar, então ela me diz o que fazer, e sei lá... Mas já é um passo para eu sair dessa casa...
_ Concordo, mas... Como você vai pra lá durante a madrugada? De ônibus? Pois você sabe que nessa parte do dia o Marco não vai poder te ajudar, ou você acha que a mãe dele vai achar normal buscar uma colega à uma da madrugada?... – lembrou Yshara.
A expressão de felicidade de Lorrayne já se desfazia, quando, vencido pela culpa, Marco disse:
_ Minha mãe pode não me ajudar, mas eu tenho alguns primos muito loucos...
_ Sério?! – exclamou Lorrayne recuperando a alegria.
_ É, mas eu não garanto nada... Minha mãe não gosta muito deles, eu vou tentar... Posso pedir pra ela deixar eu dormir na casa deles, e durante a noite, a gente podia te pegar...
_ Cara, isso seria ótimo. A cada dia que passa, a situação se agrava. Hoje Layane me jogou da escada...
_ O quê?! – exclamaram Marco e Yshara em coro.
_ Minha sorte foi que Eduardo me segurou, senão, acho que não estaria aqui. Bom, ele me devia essa, afinal eu já salvei a vida dele.
_ Se você usou isso para me empenhar na minha missão, conseguiu! – comentou Marco.
Lorrayne já estava mais esperançosa. Bastava torcer para que Marco conseguisse.
Chegou em casa, e agradeceu silenciosamente a Deus por Martha almoçar em casa, teria menos chance de Layane implicar. Já Layane certificava-se a todo o momento, que Lorrayne não mencionaria o ocorrido. Terminando sua refeição, Lorrayne correu para seu quarto. Passou a tarde trancada. Layane não incomodou. Estava muito ansiosa. Pensou em ligar para Marco, mas havia muita gente na casa. Resolveu esperar pelo dia seguinte. Eduardo bateu:
_ Posso entrar?
_ Entra.
O garoto entrou, e sentando-se em uma das poltronas, perguntou:
_ O que você tem?
_ Por que?
_ Está tão estranha.
_ Estou ansiosa.
_ Por que?
Lorrayne aproximou-se e disse em tom mais baixo:
_ Amanhã meu amigo Marco vai me dizer se conseguiu um carro ou não.
_ Isso significa que...?
_ Se ele conseguir, vou até Catharina.
_ Você vai fugir?
_ Não! Vou só falar com Catharina. Ver o que ela vai fazer por mim. Depois eu vou definitivamente, pois eu e ela vamos provar a verdade para o juiz.
_ Você não acha perigoso?
_ Acho. Mas é minha única chance.
_ Quando você vai?
_ Se ele conseguir, amanhã.
_ Espero que consiga.
_ Eu também.
Depois de Eduardo deixar Lorrayne a sós com seus pensamentos, a garota logo dormiu. E acordou antes da hora, tamanha era sua ansiedade.
Na escola só conseguiu conversar no intervalo. Impaciente perguntou:
_ E aí, Marco? Como foi?
_ Bom, minha mãe resistiu...
_ Você não conseguiu?
_ Ela resistiu, mas eu consegui convencer ela. Passaremos na sua casa hoje à noite.
_ Não acredito!
_ Acredite!
Lorrayne gritou e agarrou-se no pescoço do amigo. Ainda o abraçava calorosamente, quando alguém os separou. Ao reconhecer Caroline, levou um tapa no rosto. Marco segurou a garota para que não continuasse com as agressões, e Yshara que presenciou a cena perguntou:
_ Menina, você está ficando louca?
Descontrolada, Caroline exclamava:
_ Essa garota conseguiu me tirar do sério! Você está pensando o quê? Eu suporto vê-la ao lado dele, mas isso já é demais! Será que você não sabe que estamos juntos? Você é baixa, garota!
Lorrayne ainda tonta com a força do tapa, nada respondeu, Yshara que já não suportava a presença da garota, também exclamava:
_ Baixa é você, como você vai agredindo alguém assim! Você é demente!
_ Me larga! Demente é você, sua nojenta!
Caroline soltou-se dos braços de Marco a avançou em Yshara, que agarrou em suas tão bem cuidadas madeixas. Uma multidão foi se formando ao redor das duas garotas que rolavam pelo chão. Recuperada, Lorrayne tentava separá-las, juntamente com Marco. Mas os únicos que conseguiram separá-las, foram os professores Marcos e Paulo, que as levaram diretamente para a diretoria.
Agitados, os alunos voltaram às aulas assim que o sinal tocou. O professor Paulo voltou e deu a aula de matemática normalmente, e Lorrayne estranhou dele não haver feito nenhuma reclamação. A próxima aula, a de literatura, estava vaga. Lorrayne e Marco vagavam longe da turma, e a garota perguntou:
_ O que será que aconteceu, que elas não voltam até agora?
_ Devem só estar ouvindo um sermãozinho...
_ Coitada da Yshara... Foi culpa minha.
_ Você já chegou a levar uma suspensão por nossa causa.
_ Mas não tem nada a ver.
Lorrayne sentou-se na escada que um dia havia se escondido. Marco sentou-se ao seu lado. Lorrayne soltou uma gargalhada e disse:
_ Então você e a Carol estavam mesmo ficando...
_ Mentira dela. Eu já disse.
_ Sei.
_ Acredite se quiser. Mas... Você também não fica atrás...
_ Por quê
_ E esse Eduardo? Qual o lance de vocês?
_ Oras! Pelo amor de Deus! Ele é meu primo.
_ Ainda existem regiões onde é tradição os primos se casarem.
_ Nada a ver. Por que haveria alguma coisa entre a gente?
_ Essa parada de um salvar a vida do outro envolve um certo romantismo.
_ Pára! Isso graças à Layane. Seria a mesma coisa com qualquer outra pessoa.
_ E você não gosta dele?
_ Gosto. Como primo.
_ Essa não cola.
_ Acredite se quiser.
_ Prova?
_ Provo.
_ Então prova.
_ Como?
Surgiu um silêncio constrangedor. Marco aproximou-se de Lorrayne. “Essa não! Ele vai me beijar!” Pensou. Não. Não deixaria...
Enquanto o beijava se lembrou de tudo que tinha para fazer. Não podia ficar com Marco Aurélio, estaria comprando briga com Caroline, e de brinde receberia a bronca com Layane. E o que mais precisava naquele momento, era de um tempo em paz com aquele pessoal, ao menos enquanto resolvia sua situação com Catharina.
_ Não! Melhor pararmos! – Lorrayne empurrou Marco para longe.
_ O que foi?
_ Eu não posso. Pelo menos, não agora.
Lorrayne levantou-se, Marco a seguiu enquanto perguntava:
_ Por quê? Qual o problema? Estamos livres e desimpedidos. E vacinados.
_ Não, não, não dá. Esse é o pior momento para piorar meu relacionamento com a Caroline e sua gangue.
Marco segurou a garota, impedindo que continuasse sua fuga, e novamente lhe beijou. Mais uma vez Lorrayne o repeliu exclamando:
_ Já pensou se alguém vê?! Pára com isso, por favor. – e continuou a andar.
_ Lorrayne, pára com isso você! Não tenho e nunca tive nada com a Caroline. E agora não terei mesmo.
_ Mas ela acha que tem, ou que vai ter, e por enquanto você é propriedade particular dela.
_ Não sou propriedade particular de ninguém, muito menos da Caroline!
_ Mas ela acha que é, por isso, melhor ficarmos por aqui.
_ Você está querendo me dizer que está com medo da Caroline? Ou está me dizendo que tenho que fazer um seminário só porque a Caroline gosta de mim?
_ Das duas, nenhuma. Não estou com medo da Caroline. E você não precisa fazer seminário. Você pode ficar com quem quiser, com exceção a mim.
_ Mas no momento, quero ficar com você.
_ Mas eu não posso! Você já imaginou? Seria um tormento aqui na escola com a Carolina e suas amigas, e com a minha irmã na minha casa. E não quero arranjar mais problemas com ela, pois estou num momento muito delicado, você sabe. Por isso, se você quer me ajudar, melhor esquecermos isso.
Novamente Marco a segurou. Perguntou:
_ Só por enquanto?
Lorrayne desviou o olhar. Não podia dar nenhuma garantia. Disse:
_ Vou nessa.
Continua