A ninja de cabelos róseos estava num impasse, por um lado se aceitasse a proposta de Kamuya corria o risco de ser enganada, o que daria grande vantagem à ninja ruiva que estaria completamente curada e teria grandes chances de vencer Sakura que já estava esgotada devido a tantas lutas, causando ainda mais problemas. Por outro lado se recussasse colocaria em risco a vida de Daichi.

Kamuya apenas observava a kunoichi na expectativa, ela também não tinha muito tempo, precisava se curar o mais rápido possível, só assim poderia rever sua irmã novamente. Ela e Tayuya eram muito unidas, ambas ficaram órfãs muito cedo e foi sua irmã, sendo dois anos mais velha que agiu como a responsável por sua pequena família.

A kunoichi ruiva por um breve momento fechou seus olhos, deixando sua mente viajar, de volta ao passado, para um dos dias mais triste de sua vida.

Seus pais eram simples agricultores e viviam em um simples vilarejo, todos do lugar gostavam deles. Pois eram pessoas pacíficas que nunca se rebelaram contra ninguém, mas mesmo assim foram mortos sem dó nem piedade por um terrível grupo de ninjas renegados que passaram pelo vilarejo saqueando casas. Eles não se importavam com o fato das pessoas serem pobres e não terem nada de valor para ser roubado a não ser pelos alimentos que serviam de sustento para as famílias.

E naquela fatídica tarde quando os últimos raios do Sol iluminavam o pequeno vilarejo, Kamuya e Tayuya voltavam para casa, carregando gravetos que serviriam de lenha para a famosa sopa de legumes de sua mãe. Mas quando chegaram à porta de sua modesta cabana presenciaram uma terrível cena.

Seu pai caído, com o rosto voltado para o chão de madeira envolto em uma poça de sangue, e sua mãe sendo segurada por seus longos cabelos negros por um homem mascarado de intensos e cruéis olhos verdes. Lágrimas saiam dos olhos da mulher. Tayuya com seus 8 anos de idade empurrou a irmã caçula e correu de encontro ao homem que segurava sua mãe.

Ela deu um chute certeiro em sua canela que fez o homem gemer e soltar a mulher, que olhava para a filha com um misto de surpresa e terror. Com raiva o ninja apanhou a menina pela blusa e jogou-a com violência. Tayuya caiu no chão, machucando seu braço e perna, mas já fazendo menção de se levantar para voltar a atacar o homem, sua coragem era admirável.

Kamuya amedrontada observava a cena, o medo havia paralizado seu corpo e as lágrimas não paravam de sair de seus olhos. Percebendo que a menina ruiva voltaria a atacá-lo, o ninja pareceu sorrir por detrás de sua máscara e apanhou uma kunai de sua bolsa ninja prepando-a para acertar Tayuya assim que ela se aproximasse o suficiente.

Mas a mulher de cabelos negros vendo a intenção do terrível ninja apanhou sua filha em seus braços e virou-se, usando seu corpo para protege-la. Nesse momento a lâmina afiada perfurou suas costas. Da boca dela saíram gotas de sangue que caíram sobre o rosto desesperado de Tayuya que olhava para sua mãe. A mulher sorriu para a menina, dirigindo seu olhar para Kamuya e o mesmo sorriso carinhoso.

Então ela levantou-se com dificuldade, seu semblante tornou-se mais sério, ela fitou Tayuya e uma única palavra saiu de sua boca “Fuja”.

A intenção da menina era continuar ao lado de sua mãe, mas lembrou-se da promessa que havia feito de proteger sua irmãzinha. E a última coisa que ela queria era que alguma coisa de mal acontecesse a ela também. Então com grande pesar ela correu de encontro a Kamuya que chorova compulsivamente, Tayuya olhou uma última vez para a mãe que havia pulado sobre o homem, lutando pela vida de suas meninas, ela não queria acreditar que essa seria a última vez que veria sua mãe.

Então ela pegou sua irmã pela mão e correu com ela pelo vilarejo a procura de ajuda, mas o que encontraram foram pessoas agonizando, corpos e ninjas mascarados saqueando casas e tirando mais vidas.

A única escolha das meninas foi se esconder na floresta.  No dia seguinte quando tudo parecia calmo as duas voltaram ao vilarejo que pouco lembrava seu lar. Muitas casas estavam queimadas e havia vários corpos espalhados pelo chão.

Tayuya puxou a irmã e ambas correram na direção de sua casa, e o que a menina mais temia havia acontecido. Sobre o chão de madeira se encontrava sua mãe, imóvel e sem vida ao lado do pai que se mantivera na mesma posição do dia anterior.

As meninas choraram copiosamente, mas não havia nada a fazer e sem ter para onde ir elas se refugiaram na floresta, onde viveram por alguns meses.

Kamuya nunca iria esquecer aqueles dias em que para não morrerem de fome, Tayuya tivera que aprender a caçar, ela não era nada má, tinha bons reflexos e preparava boas armadilhas, que aprenderam com seu pai que quando tinha oportunidade caçava, eram as únicas vezes que a família poderia contar com carne na mesa.

De sua casa as meninas pegaram poucas coisas, como dois cobertores, algumas roupas, uma panela e uma flauta simples de madeira que pertencia à sua mãe, que Tayuya aprendera a tocar com maestria, tocando as músicas que a mãe costumava tocar à noite, embalando o sono das meninas.

Kamuya por sua vez cozinhava o que a irmã caçava, unindo a refeição com algumas plantas silvestres que encontravam na floresta. A menina sempre ajudara e observara sua mãe a preparar o almoço, o único momento em que elas ficavam sozinhas, aguardando a chegada de Tayuya e seu pai.

E assim as irmãs sobreviveram sozinhas na floresta, apesar de serem momentos difíceis, elas tinha uma a outra. Para Kamuya sua irmã era sua amiga, protetora e única família, uma pessoa muito preciosa.

No entanto certo dia elas encontraram um jovem de cabelos prateados analisando o corpo de um pequeno coelho marrom que havia caído em uma das armadilhas de Tayuya. Ele olhou para as meninas com seus olhos negros encobertos por óculos de aro arredondado e sorriu.

- Qual de vocês fez essa armadilha? – perguntou ele calmamente.

- Meu pai me ensinou. – respondeu Tayuya observando-o com desconfiança.

- Vejo que aprendeu bem. – disse ele amavelmente -  E onde ele está?

Tayuya se manteve em silêncio. Nesse momento o sorriso do jovem se acentuou, ele levantou-se e dirigiu-se à menina.

- Por que não vem comigo? – perguntou ele dando um sorriso sugestivo – Estive te observando por alguns dias, você tem boas habilidades, seria de grande valia ao senhor Orochimaru.

- Quem é ele? – perguntou Tayuya desconfiada.

- Um poderoso ninja que está recrutando crianças habilidosas como você para ajudá-lo em troca de um teto e proteção. – respondeu ele calmamente – Se vier comigo receberá um bom treinamento e se tornará uma grande ninja.

Tayuya se surpreendeu com a proposta, ela nunca pensara nem sonhara em se tornar uma ninja, mas lembrando-se do que acontecera com seus pais e as pessoas do vilarejo, desejou se tornar mais forte, só assim poderia proteger sua irmã e vingar a morte de seus pais.

- Minha irmã também? – perguntou ela seriamente.

- Sim, mas ela também terá que treinar duro. – respondeu o jovem desviando seu olhar para a pequena menina ruiva que segurava o braço de sua irmã, observando-o timidamente.

- Por que devemos confiar em você? – perguntou Tayuya duvidando do estranho.

- Porque eu sei como é estar sozinho, sem ter alguém com quem contar. – respondeu o jovem seriamente - O destino de crianças órfãs pode ser muito cruel. – disse ele com certa dor em seu semblante.

Sentindo sinceridade em suas últimas palavras e sem ter outra opção, pois a menina sabia que elas não poderiam viver assim para sempre, Tayuya aceitou a proposta do jovem e assim a vida das irmãs nunca mais foi a mesma.