Meu mundo parecia estar desabando, as coisas agora não pareciam ter sentido nenhum. Eu sentia as lágrimas quentes passando pelo meu rosto, enquanto eu ficava muda no telefone. Debrucei sobre a cama do Lanza, enterrando minha cabeça no travesseiro dele... Ah, aquele cheiro era tão bom...

- Manu, tá tudo bem aí? - O Lanza apareceu na porta.

- Tá sim... - Tentei disfarçar minha voz, fungando.

- hm... Tudo bem então. - Ele sentou do meu lado. - A pizza tá acabando, quer o último pedaço? - ele tirou o cabelo do meu rosto.

- Não, não quero. - Meu estômago tinha se embrulhado totalmente. 

- Tem alguma coisa errada com você. - ele pegou minhas mãos. - Mas não vou persistir. Senão ganho uma voadora de resposta. - Ele disse, sorrindo.

eu dei uma risadinha rouca.

- Bom, vou ir lá jogar videogame com os garotos. - Ele se levantou. - Se quiser pode vir também. - Ele ia para a porta. - E se quiser mecher no meu macbook a senha é 1234. 

- Quanta originalidade. - Eu disse com um tom brincalhão, mas com a voz rouca.

Ele se retirou, e eu me peguei sorrindo em cima da cama dele. A presença dele me fazia tão bem... Eu também me pegava sorrindo na cama do hospital, quando lembrava  desses dias que passei com ele. Aquele adolescente bobo. Bom, eu também era uma adolescente boba e ele um bebê que se esqueceu de crescer mentalmente.

Eu não sei quanto tempo continuei chorando, com a cabeça enfiada no travesseiro fofo do Pedro. Só acho que adormeci em algum momento pois quando abri os olhos novamente, estava tudo claro.

Olhei para baixo e lá estava ele. Ultimamente eu tenho tirado todas as camas dele, tadinho. Me levantei com cuidado, arrumando a coberta em cima dele, que estava quase indo para o chão.

Fui para o banheiro, e olhei para a minha cara vermelha, inchada. Droga de pele branca! Sempre foi assim quando eu chorava. Minha pele ficava MUITO vermelha. Deixei outra lágrima escapar, e outra, e outra... Logo ouvi alguém abrindo a porta. Droga!

- Manuella, desculpa! - Lanza foi pra trás. - Não percebi que você estava aí.

- Tá tudo bem... - Eu disse, tentando disfarçar minha voz chorosa.

- Escuta Manuella. O que aconteceu? - Ele me puxou pelo pulso para fora do banheiro, me levando para seu quarto.

- Nada! - Livrei minhas mãos.

- Escuta. - Ele me sentou na cama. - Você tá toda vermelha, com voz de choro, toda estranha! - Ele olhava para dentro de meus olhos. - Me diz o que aconteceu depois que você foi atender essa porra de celular. - ele se irritou.

- Tudo bem... - Eu não conseguia mais guardar nada. Minha mãe no hospital, a morte dela... - Minha... Minha mãe morreu. - Deixei lágrimas escorrerem por todo meu rosto.

- Mas como assim? Do nada? Algum acidente? - Ele estava em choque.

- Olha, eu vou contar do começo. - minha voz falhava. - Minha mãe estava internada no hospital particular, eu não conseguia mais pagar... Por isso que hoje eu estou aqui com você. Eu não queria que ela fosse para a área pública. - peguei muito ar. - E ontem me ligaram dizendo que ela faleceu... - Desabei em lágrimas, encontrando como abrigo o peito do Lanza.

- Escuta, quando eu tinha dez meses, meu irmão, Marco, morreu. - Ele suspirou. - Tudo bem, eu era muito pequeno para me lembrar de alguma coisa relevante. Mas eu cresci vendo o sofrimento dos meus pais.

Por um momento, pensei que o Lanza, ou melhor, Pedro Gabriel, era uma pessoa como eu. De repente deixei todo meu ódio por ele escapar.

- Mas alguém sabia disso? -Ele me abraçava

- Só a Alícia... E o Thomas. - Suspirei.

- Ah Thomas! Sempre o Thomas! - Ele me largou. - Ás vezes penso que você quer tirar ele da Alícia.

- Cala a boca Pedro! Ele é só meu amigo! - Gritei, esquecendo que tinham mais pessoas naquela casa.

- Eu não vou calar a boca! - O Lanza subiu o tom de voz também.

- Ah, vai calar sim. - Fiz um tom sarcástico.

Sem pensar, fui para cima do Lanza. Quando percebi, meus lábios estavam nos dele.