Quando A Caça Vira O Caçador escrita por Padalecki, Samuel Sobral


Capítulo 9
Oito - Mason


Notas iniciais do capítulo

Bem, esse é um capítulo no qual eu me esforcei para expressar as emoções do Mason. Diferentemente da Jenny, ele vai ter uma reação diferente a todas essas verdades. Aversão, talvez. Mas a minha intenção é demonstrar dois pólos nessa história, então... Espero que gostem dos resultados. Uma música que eu recomendaria para esse capítulo é a "Was It Dream", do 30 Seconds To Mars. Muito boa. Bem, nos vemos lá embaixo!



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Respostas.

Aquela era a única palavra que meu cérebro podia processar agora. A única coisa importante na qual eu podia pensar. A única coisa que eu queria.

Não sabia se era ansiedade ou curiosidade, mas eu não conseguia conter. A mera sensação de finalmente estar próximo da verdade era alucinante, mesmo que eu não tivesse certeza do que viria a seguir. De repente, o olhar tranqüilizador de Jenny não estava fazendo mais efeito.

Então, por um momento, minha mente viajou para ela. Se ela já havia recebido suas respostas. E como ela estava reagindo. Se ela estava bem.

Então toda aquela confusão voltou com força para a minha mente. Todas aquelas coisas estranhas que eram capazes de desafiar meus conceitos finalmente iriam ser respondidas. Mesmo assim, eu estava um caos, tanto mental quanto fisicamente; eu podia sentir a fisionomia do meu rosto.

Era como se as próximas palavras que saíssem pela boca do meu pai pudessem alterar o futuro da minha vida, mesmo que meu pai não parecesse que fosse dizer algo importante.

Desde que deixamos a casa de Jenny e Megan, ele tinha o seu semblante mais confuso de todos. Eu podia ver milhares de expressões viajando no seu rosto, mas nenhuma conseguia ficar muito tempo; as mais freqüentes eram as de preocupação e de irritação. Mesmo assim, eu pude perceber que ele não estava demonstrando nada por minha causa. Ele queria que eu estivesse o mais calmo possível.

Ou seja, ele precisava de um Mason calmo para conversar. Meu pai sabia muito bem quando não deveria começar uma conversa comigo.

E não seria ali. Sem aviso algum, após se certificar da localização do arco e da aljava na grama, meu pai saiu em direção à cozinha, dando-me apenas um olhar de “siga-me”. Ele adentrou pela porta dos fundos e eu o segui.

Assim que entramos, ele sinalizou uma cadeira na mesa, e eu sentei nela. Era um ritual comum quando tínhamos uma conversa séria. Ele me mandava fazer coisas estranhas, para eu distribuir minha atenção mais nele do que no assunto que íamos tratar. Seja lá o que viesse a seguir, seria forte. Ele não faria um esforço tão grande assim para me acalmar se não o fosse.

Enquanto isso, meu pai vasculhava os armários em busca de algo. Eu pensava que talvez seria algo ligado ao que fôssemos falar, algo que facilitasse o meu entendimento. Eu tinha certeza de que iria precisar.

Eu estava obcecado em manter a calma, pelo menos externamente. Por mais que minha mente estivesse dividida em milhões de pedaços, cada um tentando desvendar alguma coisa, eu tinha um pedaçinho dela focado em apenas ouvir. Se aquela era a única forma de descobrir o que eu queria, seria assim. Tudo por uma informação.

Meu pai sentou-se à minha frente, por fim. Havia uma xícara de café na sua mão direita, que estava pousada de leve sobre a mesa. Fiquei meio surpreso por ele ter procurado café num momento como esse, mas eu pude perceber que isso era apenas um modo de fazer minha mente ficar menos centralizada.

O olhar de Robert finalmente estava no meu, e não estava com múltiplos sentimentos. Era apenas a boa e velha preocupação de sempre.

A conversa estava prestes a começar.

– Filho... – Ele disse, limpando a garganta logo que percebeu que sua voz estava rouca. – Existem muitas coisas que eu poderia lhe dizer sobre... Bem, sobre tudo o que eu acho que está acontecendo com você. Mas, eu poderia deixar sua mente mais confusa do que já está, então... O que você quer saber?

Eu não esperava por essa. Esperava por uma introdução, uma deixa, ou uma explicação esfarrapada qualquer, que me forçasse a pesquisar mais depois, mas por essa não. Quer dizer, durante todo esse tempo, eu tinha descoberto coisas sem ajuda alguma. De repente, vem alguém e me oferece todas as respostas que eu queria de bandeja. Minha mente não podia estar mais confusa agora.

Mas pelo menos eu tinha certeza que meu pai sabia de algo agora.

E aquilo era tudo que eu tinha certeza agora, aliás. Receber a oportunidade de saber tudo o que eu queria havia deixado minha mente num branco sem precedentes. Era como se não houvesse pergunta alguma. Aquele gesto do meu pai havia tirado qualquer reação que eu poderia ter.

Eu não podia perder aquela oportunidade, apesar disso. Não mesmo. Num rápido esforço mental, eu formei a primeira pergunta que veio à minha cabeça:

– Isso é real? – Perguntei. Só depois de ter dito, percebi o quão vaga aquela pergunta era. Complementei logo em seguida: – Quer dizer, tudo isso que aconteceu, que está acontecendo... É de verdade?

Meu pai encarou-me de um modo estranho, quase caçoando. Então ele percebeu minha seriedade, e mudou seu semblante também.

– Sim. – Ele respondeu, com um ar de tristeza. – Infelizmente.

Suspirei inconscientemente. Metade da minha mente estava simplesmente vazia agora, a parte que procurava alguma explicação lógica. Infelizmente, a parte das perguntas começou a borbulhar loucamente agora.

Se tudo aquilo era verdade, eu queria que fizesse sentido. Quer dizer, descobrir que tudo aquilo era real não passava de metade do problema.

Preparei minha mente para o que viria a seguir. Eu sentia, agora, que seria algo que poderia, de fato, alterar o rumo da minha vida. Algo que talvez excedesse a lógica. Algo que eu precisava acreditar, não importa o quão ridículo aquilo fosse. Fiz uma pergunta curta e objetiva, simples, aproveitando que meu pai não estava usando rodeios agora:

– O que está acontecendo? – Vendo o semblante inseguro do meu pai em resposta, eu continuei: – Não precisa “enfeitar” nada, pai. Você... Você não sabe tudo o que eu passei para finalmente encontrar alguém que pudesse me explicar. Simplesmente diga. Eu vou tentar te acompanhar.

Por um segundo, eu vi orgulho nos olhos do meu pai. Um orgulho forte, porém aconchegante. Ele sentia orgulho de mim. Da minha postura. Eu estava decidido a acreditar agora.

– Tudo bem, então. – Ele sorriu um pouco. – Mas eu só acho que... Que talvez você me ache louco.

– Não mais do que eu me achei. – Sorri. – Pode mandar.

– Não estou dizendo que não vou te contar, só estou tentando dizer que... Que talvez isso seja demais para você. – Seu rosto voltou a ser sombrio. – Você quer mesmo isso?

– Mais do que qualquer coisa. – Naquela resposta eu tive a certeza de que eu estava realmente ali, naquele momento, prestes a ouvir a verdade.

– Ok... – Ele estava muito surpreso agora. Orgulhoso também, mas um pouco espantado. – Antes de tudo, quero que você saiba de algo muito importante.

– E o que é?

– Que todas aquelas histórias que você e eu lemos juntos, sobre heróis e monstros... – Ele respirou fundo. – Eram reais.

Travei. Por um segundo, eu travei. Meu cérebro parou de processar o que havia ao me redor. De repente, não havia mais o chão quadriculado da cozinha, ou as paredes manchadas, ou o balcão logo atrás do meu pai, ou a própria cadeira onde eu estava. Nada. Apenas aquela afirmação.

Meu pai, dizendo-me que contos de fadas eram realidade. Que tudo no que eu acreditava estava errado. Que havia algo além do que eu julgava ser a realidade. Então, minha mente levou-me para todos os eventos estranhos que precederam este momento.

O ghoul, que eu tinha certeza que tinha visto. E que Jenny também havia visto. O ghoul que estava num livro na casa de Megan. Meus sonhos, dos quais eu tinha absoluta certeza de que foram reais. Todas as descobertas que eu havia feito. Meu pai realmente sabia de tudo o que estava acontecendo. Ele e a mãe de Jenny sabiam. E, finalmente, o lobo gigante que nos perseguiu. Aquela era a lembrança mais vívida que eu tinha daquilo tudo.

Que todos aqueles eventos, que desafiavam meu cérebro, minha lógica, realmente ocorreram. Eventos indiscutivelmente reais, e que mesmo assim eram sobrenaturais. Meu pai não estava mentindo, também. Eu sentia, naquela circunstância, no olhar dele, que era impossível mentir agora.

Depois de processar tudo isso, eu estava convencido de que a afirmação do meu pai estava carregada de toda a sinceridade do mundo.

– Ok... – Suspirei meio aliviado, meio atordoado. Por mais que aquela informação fosse desgastante, eu tinha que continuar. Era como se aquele momento no qual eu podia perguntar tudo o que eu quisesse fosse escapar por meus dedos. – Eu... Eu realmente não sei o que dizer.

Aquela frase havia saído involuntariamente. Meu cérebro estava carregado, pesado. Eu me sentia dissolvido. Meu pai percebeu isso.

– Você não precisa dizer nada. – Ele arrastou a cadeira até estar ao meu lado. – Apenas pergunte. Sei que é difícil, mas você é forte. Eu confio na sua força. Saiba tudo o que tem que saber agora. Tire suas dúvidas.

– Certo. – Respirei fundo novamente. Minha respiração estava ofegante. Num rápido impulso, dado pelo apoio do meu pai, eu fiz a pergunta: – Se tudo isso é real... – Ainda era difícil pensar nisso. – O que eu... Nós temos a ver com isso?

– Tudo. – Ele respondeu, firmemente. Eu sentia como se aquela fosse a pergunta que ele queria que eu fizesse. – Nós fazemos parte desse mundo. O mundo das histórias, dos contos. Nós somos os que mantêm tudo em ordem. Somos os caçadores.

Minha mente pareceu pesar muito mais agora. Eu senti meu cérebro processando aquela frase do meu pai muito lentamente. Tentando processar. Vendo meu semblante, que eu não sabia muito bem como é que estava agora, meu pai continuou.

– Se lembra da Chapeuzinho Vermelho?

Minha mente deu uma guinada agora. Chapeuzinho Vermelho era a história que meu pai mais me contava, por mais infantil que fosse. A história que ele menos me explicava, mas a que mais me contava. Era como um hino para mim. Uma rotina até alguns meses atrás, quando eu decidi que escutar história antes de dormir era “criancice”.

– Sim. – Respondi, ainda meio grogue.

– Então você se lembra que o lobo-mau ia ganhar. Que ele iria comer a vovó e a garota e sair dali satisfeito. Que ele iria sair impune dessa. – Ele pausou, rápido o suficiente para que minha mente soubesse o que viria a seguir.

– Se não fosse pelo caçador. – Completei.

– Exato. – Ele estava ficando cada vez mais empolgado. – O caçador. O único cara que pôde lutar contra o lobo. O único que teve coragem para isso. Mas... E se ele não tivesse feito isso? E se não houvesse ninguém para salvar a garota?

– O lobo iria ganhar. – Meu cérebro voltou à sua atividade. – E iria fazer aquilo de novo. E de novo.

– Agora você entendeu? – Ele notou que eu não estava mais tão perturbado agora. – O mundo sempre vai precisar de alguém para lutar contra o lobo-mau. Alguém que lute contra coisas que um ser humano comum não teria coragem de lutar. Alguém que impeça o lobo-mau de fazer atrocidades. – Então, numa pausa muito rápida para pegar ar, ele completou: – Esse é o nosso trabalho. Lutar contra coisas que ninguém mais tem coragem de lutar.

Minha mente estava muito confusa. Muito mesmo. Era diferente de quando meu pai havia dito que coisas além do natural existiam. Agora, eu realmente não conseguia acreditar. Aquilo simplesmente não fazia sentido. Não havia nada que pudesse ligar os fatos estranhos àquilo. Pelo menos, aparentemente.

Mas ainda estava vindo do meu pai. O homem que não poderia estar mentindo. O homem que minhas sensações diziam que estava falando a mais pura verdade.

Eu tinha que sair dali. Minha mente estava prestes a explodir caso aquilo continuasse. Rapidamente, eu me levantei da cadeira. Eu precisava de um lugar calmo, para refrescar as idéias. Para saber no que acreditar.

Mas meu pai segurou minha mão antes que eu fizesse isso. Havia um misto de decepção e tristeza no olhar dele. Um misto de emoções que me prendeu ali, esperando para o que ele diria a seguir.

– Mason, essa é a verdade. – Ele disse, suplicando no olhar para que eu acreditasse. – Você precisa acreditar nela.

– Pai, isso não é a verdade! – Explodi. – Isso são apenas as histórias que você me contava quando eu era pequeno! Nem ao menos existe algum nexo... Nenhuma prova!

Eu continuaria, mas ver a boca do meu pai se abrir fez com que eu me calasse. Depois de dizer tudo aquilo, eu me sentia mais leve, porém um pouco... Culpado. Eu nunca contestei meu pai antes.

– Ah, então você quer provas? – Ele respondeu, sua voz tão rude quanto a minha tinha saído. – Seu corpo está mudando. Você está sentindo coisas que nunca havia sentido antes. Você se sente mais disposto, mais poderoso. Você sente que está sendo observado a todo o momento, sem falar nos pesadelos. Isso é uma prova convincente para você?

Fiquei calado. Minha mente estava ocupada demais pensando no que meu pai havia dito para criar palavras, ou ao menos alguma resposta que deixasse o que eu havia ouvido menos convincente.

Mas era impossível. Desde que tudo aquilo havia começado a acontecer, não houve um momento em que eu não estivesse procurando uma resposta mais... Real. Porém, agora, isso era simplesmente impossível. Meu pai juntou tudo o que eu havia presenciado, de forma que não pudesse ser simplesmente “coincidência” ou “ignorável”. Não. Havia realmente alguma coisa além, olhando dessa forma.

Meu cérebro não encarou isso muito bem, por mais que minha mente já estivesse assimilando aquilo tudo. Eu desvencilhei a mão do meu pai, mais forte do que eu pretendia, e subi as escadas com um misto de revolta e descrença no que acabara de ouvir.

– Você não me respondeu. – Meu pai disse, fazendo-me parar de subir as escadas. – É convincente ou não?

Eu apenas o encarei. Seus olhos não continham sarcasmo, como eu pensei. Continha certo triunfo, por ter dito o que queria, e certa expectativa de como eu iria reagir. Mas aí é que estava o ponto: eu não sabia como reagir. Não sabia o que dizer, o que pensar.

Havia uma nova realidade ali, na minha frente, que desafiava tudo o que eu julgava estar certo. Uma realidade mirabolante, mas que poderia explicar tudo o que eu não conseguia explicar. Bastava eu decidir acreditar ou não.

E foi com esse pensamento que eu me virei, voltando a subir as escadas. Eu não podia responder para o meu pai algo de que nem eu mesmo tinha certeza.

A próxima lembrança que eu tive daquele exaustivo momento vou bater a porta com violência atrás de mim e me jogar na cama. Minha mente não conseguia pensar em apenas uma coisa; eram milhões de perguntas, circulando ao mesmo tempo pelo meu cérebro, enquanto as informações que eu havia recebido tentavam ser absorvidas.

Mas, em toda essa confusão, meu cérebro conseguiu se acalmar assim que eu me lembrei de Jenny. A essa altura, eu tinha certeza que a mãe dela já havia contado algo parecido com o que meu pai me contara. Será que ela estava reagindo da mesma forma que eu?

Essa pergunta fez com que uma luz se ascendesse no caos em que se encontrava minha mente. Tudo aquilo era real. E eu não estava sozinho nisso tudo, havia a Jenny. E eu finalmente havia recebido uma resposta em que valesse a pena pensar. O que me cabia agora era escolher... Se eu acreditaria naquele novo mundo, onde o sobrenatural era a realidade, ou se eu deveria continuar procurando uma resposta que fizesse mais sentido. Em ambas as opções, eu poderia ficar louco no processo.

E, no meio de toda essa confusão, eu conseguia ter alguma certeza.

Aquilo tudo era real.



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Notas finais do capítulo

Então, será que rolam alguns reviews? Pergunta: Como você reagiria a essa informação?