Quando A Caça Vira O Caçador escrita por Padalecki, Samuel Sobral


Capítulo 5
Quatro - Mason


Notas iniciais do capítulo

Espero que vocês conheçam um pouco mais sobre mim nesse capitulo. (Sam)



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Tudo bem. Talvez, só talvez, eu não estivesse ficando louco.

Mas eu não disse que era verdade. Nada me provava que o conteúdo daquele livro era verídico. Que aquela coisa, o ghoul fosse real.

O livro só me dizia que eu não havia inventado aquilo. Nada mais.

Então, por que eu sentia como se o peso do mundo tivesse sido tirado das minhas costas?

Talvez pelo fato de que mais alguém (exceto Jenny) tinha visto aquela coisa. Talvez por saber que eu não tinha inventado aquilo. Pelo menos não só eu.

Mas eu sabia que, na realidade, era porque finalmente eu tinha algo para me firmar, algo no qual eu poderia buscar respostas. Mesmo que fosse algo tão... Inacreditável.

Bem, era isso ou aceitar a loucura.

Mas aquilo não fora o fato mais surpreendente daquela tarde. Essa coisa de monstros ficou sem importância, comparada aos outros fatos estranhos do dia. Outros fatos que eu teria que responder.

Como eu ter ouvido a mãe da Jenny chegando, por exemplo. Aquilo havia sido quase tão assustador quanto descobrir aquelas coisas, ou ouvir a Jenny chorar.

É, eu ouvi ela chorando. E a parte molhada na descrição do ghoul só confirmou minha hipótese. E aquilo era assustador porque eu nunca, nunca mesmo, havia visto ou a ouvido chorar.

Por que assustador? Porque a Jenny nunca, nunca mesmo, chorava. E eu estava contando a vez em que ela caiu de uma árvore à cinco metros de altura, quando ela tinha nove anos. E aquela vez em que a mãe dela resolveu contar a verdade sobre o pai dela (que desapareceu misteriosamente há alguns anos).

Ela xingava, gritava, batia, arranhava, mas nunca chorava. O momento em que ela chegou mais perto de chorar foi quando soube do desaparecimento do pai. Ela recostou-se no meu ombro e ficou calada por duas horas. Foi o mais genuíno momento de amizade que nós tivemos. Ela era a pessoa mais durona que eu conhecia, depois do meu pai.

Então, o que a fez chorar?

Aquela era uma das perguntas no topo da minha lista de “Para Responder”. Ao lado daquela audição aguçada, é claro. Aquilo era estranho demais para ser qualquer coisa ligada à puberdade, o que quer dizer que as coisas estavam fugindo ao natural.

E eu estava me convencendo cada vez mais disso. Não apenas sobre a minha “super audição”, mas sobre tudo. No início, eu queria achar alguma explicação lógica para aquilo.

Mas agora, depois de descobrir tudo aquilo, estava mais difícil de acreditar que havia, de fato, uma explicação lógica. E estar ouvindo cada ruído ao meu redor era uma influência de peso para isso. Chegava a ser perturbador.

Bati a porta atrás de mim no momento em que cheguei em casa. Os sons que eu havia ouvido no atravessar da rua estavam abafados, o que diminuiu a minha forte dor de cabeça, que havia começado quando os sons ficaram excessivamente altos.

O silêncio era tão agradável que eu não ousei me mover por alguns minutos. Quando mexi a perna para um passo, foi quando notei que estava tremendo.

Então eu notei o quão sobrecarregado eu estava. Todas aquelas informações estavam tendo um efeito maior do quê um simples atordoamento.

Estavam mexendo comigo, um cético de carteirinha.

Você deve estar se perguntando: Ele lê história de mitologia, por que é tão difícil de acreditar nessas coisas?

E eu respondo: Porque eu nuca as levei a sério.

Isso mesmo. Mesmo que meu pai sempre fizesse o máximo que podia para me mostrar todas as histórias possíveis, eu sempre assumi que ele fazia isso por ter sido historiador. Eu não esperava que um Minotauro pulasse das páginas de um livro e me atacasse.

Ou ver um ghoul no meu quintal.

Tentei clarear a mente, chacoalhando a cabeça. Ok, eu realmente vi aquela coisa. Mas, se eu aceitasse isso, eu estaria colocando tudo no qual eu acreditava em perigo.

Eu precisava descobrir o que estava acontecendo. O mais rápido possível.

Antes que eu pudesse descobrir como, um som inundou meus ouvidos. Não como os sons perturbadores que eu havia ouvido lá fora, tão desorganizados e agonizantes. Era grave, porém suave.

Meu pai estava praticando arco e flecha.

E eu não precisei da “super-audição” para descobrir isso. Era um som familiar. Eu havia crescido ouvindo aquele som. O som majestoso da corda vibrando, um zunido baixo e uma batida.

Maravilhoso.

Todos os meus problemas diminuíram para quase nada, enquanto eu atravessava a sala para ver meu pai. Mas então outro conjunto de sons passou pelos meus ouvidos. Um arfar e passos rápidos no assoalho.

Eu só descobri que se tratava de Rigle quando ele me derrubou.

Do ângulo em que fiquei, o máximo que eu vi era uma imensidão branca e felpuda. Não que ele fosse diferente de outros ângulos.

Esforcei-me para retirá-lo de cima de mim. Quando o fiz, tratei de saudá-lo, afagando seus pêlos. Então me lembrei do meu pai e seu arco e flecha.

Afaguei os pêlos de Rigle como uma despedida, mas, quando eu o deixei, ele me seguiu.

E aquilo era mais uma coisa estranha para se preocupar. Por que? Porque, mesmo que ele gostasse de mim, ele passava os dias inteiros com meu pai, tirando à noite, quando ele dormia comigo.

Mas ele estava ali, me seguindo, como se eu fosse seu dono.

Cheguei ao quintal, a tempo suficiente para vislumbrar um tiro perfeito de flecha a dez metros de distância do alvo.

Olhando para ele agora, com o arco e toda aquela imponência, era impossível qualquer comparação entre mim e ele.

E aquilo era algo que eu nunca havia conseguido entender.

Meu pai era atlético, fisicamente perfeito. Uma mira anormalmente ótima. Extremamente confiante, ele nunca ligaria para a opinião dos outros para se sentir bem. Ele simplesmente sabia que era bom em todo o que fazia.

Eu, por outro lado, era o exato-oposto. Tinha um corpo raquítico, fino e desengonçado. Uma postura vergonhosa. Uma mira tão ruim quanto. E, para piorar, minha autoconfiança era tão ruim que eu fui capaz de me abalar inteiramente por causa da opinião de uma falsa amiga.

Mas ela havia pedido desculpas...

Aquilo não importava mais. Pelo menos não agora, com tantas coisas importantes para resolver.

De súbito, meu pai se virou. Ele parecia assustado.

E aquele era o indício de que coisas realmente estranhas estavam acontecendo. Meu pai, assustado?

– Ah, é você. – Ele melhorou o semblante. Não que tenha ficado convincente. – Como foi seu dia?

Aquela pergunta fora tão poderosa quanto um soco na cara, no olho. Eu gostaria de contar a ele tudo de estranho que estava acontecendo. Todas as dúvidas que estava massacrando a minha mente. Pedir ajuda a ele, uma coisa que eu sempre fazia, e que ele gostava de me dar.

Mas eu não podia.

Meu pai sempre foi um cara legal. O tipo de pessoa que te ajudaria mesmo que fosse seu pior inimigo. E ele acreditava em coisas “inexplicáveis”. Mas eu achava que ele poderia não reagir tão bem a isso. Tirar a paz do meu pai com algo que podia ser claramente loucura estava fora de cogitação.

Foi por isso que eu respondi:

– Bom. – Simples assim.

– Nenhum valentão ou coisa parecida?

Meneei a cabeça negativamente.

– Ótimo! – Ele sorriu. Não parecia espontâneo. – Onde você estava?

– Hmmm... – Eu não sabia o quê dizer. Aquilo poderia ser relevante? – Na casa da Jenn. – Resolvi contar a verdade, dessa vez.

– Fazendo as pazes?

– Hmmm... – Aquilo havia me pego de surpresa. – É, algo assim.

– Isso é muito bom mesmo, Mason. – Ele sorriu, genuinamente. Aquele sorriso fez com que eu me perguntasse o porquê dele querer tanto assim que eu e a Jenny fôssemos amigos.

Mais uma coisa para responder.

– E como foi o seu dia? – Eu não precisei “fingir” essa pergunta. Era algo que eu perguntava com freqüência.

– Difícil. – Havia qualquer coisa sombria no seu rosto agora. – Tive um probleminha com... Animais selvagens.

Por que era tão difícil acreditar nele? Eu não deveria não acreditar em meu próprio pai. Aquilo estava errado. Mas também havia minha estranha intuição entando em ação. Eu podia sentir, na sua voz, que ele estava omitindo algo.

– Que tipo de animais? – E eu iria descobrir o que era.

– Ah, você sabe... – Ele estava tão surpreso quanto embaraçado. – Ursos.

– Ursos? – Eu poderia estar enganado, mas eles tinham entrado na época de hibernação há algumas semanas.

– É, ursos. – Ele parecia nervoso, mas conseguiu forçar uma cara de cansaço enquanto se espreguiçava. – Cara, estou cansado. Esse treinamento foi de matar. Quer comer alguma coisa comigo?

– Não, estou bem. – Eu me forcei a sorrir. Mas, por dentro, eu estava estarrecido. Meu pai estava na defensiva?

Pelo menos foi o que pareceu.

Enquanto eu estava envolto nos meus pensamentos, meu pai passou por mim, entrando pela porta dos fundos, na cozinha. Como da outra vez, Rigle não o seguiu.

Aquilo estava começando a me perturbar. Qual seria o motivo daquela afinidade comigo?

– Rigle? – Meu pai chamou, da cozinha. – Você vem?

O Husky ficou imóvel aos meus pés.

– Eu tenho queijo quente! – Meu pai cantarolou.

Rigle finalmente mostrou sinal de querer ir. Mas seus profundos olhos azuis se voltaram aos meus, e eu pude sentir que ele estava pedindo a minha permissão.

– Rigle? – Eu me agachei perto dele, confuso. Na dúvida do que realmente estava acontecendo, eu disse: – Pode ir, garoto.

Espantosamente, ele finalmente foi ao encontro do meu pai.

Ok, agora ele obedece minhas ordens. O que estava acontecendo com Rigle, afinal de contas? Será que as coisas não poderiam ficar mais estranhas?

Sim, poderiam.

Eu descobri isso quando visualizei o arco do meu pai jogado na grama. A madeira dele estava com um brilho fraco de cinza, o que deixava ainda mais sedutora. Tão sedutora que eu me peguei indo em direção a ela.

Mesmo consciente dos meus movimentos, era difícil de controlar. Meus dedos finos se esticavam em direção ao objeto.

Eu cedi ao impulso.

Num rápido movimento, eu agarrei o arco na grama fria. Assim que o toquei, senti uma pequena onda de arrepios se espalharem pelo meu corpo, levando consigo um forte déjà vu.

Era como se eu já tivesse feito aquilo milhares de vezes. E, ao mesmo tempo, como se meu corpo estivesse esperando por aquilo por toda a minha vida.

Eu segurei o arco na posição de ataque, como se eu estivesse disposto a atirar em alguém.

A sensação de déjà vu veio mais forte ainda dessa vez. Eu não segurei o meu mais novo impulso, que era de pegar uma flecha largada no gramado. Eu endireitei a seta no arco, mirando o centro do alvo, só de brincadeira.

Como se eu fosse tão bom assim, caçoei de mim mesmo.

Sem nenhum comando de minha parte, eu disparei.

Minha primeira surpresa foi ver que a flecha havia deixado o arco, coisa que nunca acontecia. Mas a maior surpresa foi quando eu atingi o alvo. No centro.

Imediatamente, eu larguei o arco.

Aquilo não podia estar acontecendo. Eu? Acertar um alvo? Não, definitivamente as coisas não poderiam ficar mais estranhas.

Minhas mãos tremiam. Dentre todas as coisas estranhas que haviam acontecido, aquela era a mais difícil. Eu corri dali, passando pelo meu pai, rumo ao meu quarto.

A sensação de estar enlouquecendo estava começando a me consumir. Eu não conseguia achar uma explicação para tudo aquilo. Não que eu achasse que houvesse uma, mas eu precisava dela.

Respostas, o mais rápido possível.

Mas eu não havia sido o único que havia visto aquela coisa semi-invisível.

Jenny.

Será que ela também estava passando por isso?




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