Quando A Caça Vira O Caçador escrita por Padalecki, Samuel Sobral


Capítulo 3
Dois - Mason


Notas iniciais do capítulo

Aproveitem.



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Louco.

Essa palavra ficou martelando minha cabeça durante toda a festa. E depois dela, também.

Mas eu podia jurar que havia visto aquela coisa. E podia jurar que a Jenny havia visto, também. Mas ela não importava agora.

Para ser sincero, nenhum fato naquela noite foi mais assustador do que quando ela disse aquilo tudo. Eu sempre pensei que fôssemos amigos. Mas, naquele momento, eu percebi o quanto ela estava certa.

Eu era um nerd. Um nerd bobão o suficiente para acreditar que ela, a garota mais popular da escola, iria continuar como minha amiga. E eu era idiota demais para acreditar nisso. E pensar que eu ainda nutria sentimentos por ela. Mas esses sentimentos sumiram, junto com minha vontade de pensar nela.

Então, eu só tinha algo mais para me importar naquela noite. A criatura semi-invisível.

É claro, minha mente estava ocupada demais quebrando meus sonhos que eu havia me esquecido dela durante a festa. Eu só olhava para Jenny, esperando que ela soubesse que finalmente havia um sentimento recíproco entre nós.

Repulsa.

E esse sentimento iria continuar ali para sempre, no que dependesse de mim. Mas eu também tinha outras coisas para pensar, como na floresta. Talvez, se eu pudesse ver aquela coisa de novo...

A festa acabou. Fora o pior aniversário da minha vida. Mesmo que eu tenha ganhado todos os livros que pedi, e todo o amor incondicional que um parente poderia me dar. A raiva que eu sentia de mim mesmo estragou tudo.

Meu pai e eu arrumamos a casa depois disso. Nada demais, só a sujeira dos meus primos menores e papéis de bala jogados embaixo do sofá.

Eu estava muito pouco empenhado em terminar aquilo. Exatamente como o meu pai. Ele estava pensando em qualquer outra coisa que não era o pedaço de bolo caído no chão que ele estava limpando.

E isso havia acontecido durante a festa toda. Durante o dia todo, aliás. Ele parecia bastante nervoso quando foi para o trabalho esta manhã. E bastante disperso durante a festa.

Até que a mãe da Jenny chegou. Aí meu pai pareceu se importar com alguma coisa. Eles começaram a conversar inesperadamente, como se fosse algo que eles estivessem esperando o dia inteiro.

Nenhum dos dois parecia calmo.

Mas, agora, ele havia voltado ao estado de inércia. Que, convenhamos, não era o seu melhor estado, comparado ao Rob de sempre.

Meu pai sempre fora um homem ativo. Ele fazia muitos exercícios físicos e mentais, o que o ajudavam em sua profissão de guarda-florestal. Sempre de bom humor, ele me ensinou várias histórias sobre lendas de uma forma tão animada e dinâmica que eu peguei o gosto por isso logo depois. Seu passatempo preferido era arco e flecha.

Então, chegamos a uma parte estranha sobre meu pai. Ele tem um arsenal de flechas no sótão, que ele nunca quis que eu descobrisse. Não é à toa que ele sempre trancou o lugar desde que eu tinha visto o seu conteúdo. Talvez isso explique por que ele sempre vai ao trabalho depois de passar lá.

Mas, ser estranho não é o defeito dele. O defeito dele é querer que eu seja um atleta. Tudo bem, eu sou a adolescente mais baixo e fraco da escola, menor até que a Jenny, o que é no mínimo anormal, mas ser um atleta não está em minhas prioridades.

Mesmo assim, eu tenho que fazer uma “corrida matinal” toda semana, com Rigle nos meus calcanhares. Ah, quem é Rigle? Então, vamos falar do meu “bichinho” de estimação.

Rigle é o cachorro do meu pai. E do pai dele. E, segundo meu pai, do pai do pai dele. Não que eu acredite que um cachorro possa viver tanto, mas essa é a história que meu pai me contou quando eu era mais jovem. Acho que ele acreditou que eu levaria a sério.

Eu não apostaria que ele é um cachorro, também. Ele tem a altura de uma criança de cinco anos, mais ou menos no meu abdômen. Branco, como todo Husky Siberiano deveria ser, na minha opinião. Olhos azuis profundos. Adicionando seu corpo tonificado, seus supersentidos e seus dentes afiados, ele era, bem...

Uma máquina de matar.

Uma máquina de matar que ama queijo-quente e que dorme comigo todos os dias. E, também, o incentivo do meu pai para eu correr.

Todo sábado ele coloca a fera que é o Rigle na minha cola, para me “motivar”. É incrível como o Rigle se torna um assassino em potencial quando meu pai dá os comandos.

Então, voltamos ao meu pai, que continuava apático varrendo pedaços de comida. Eu não o via assim desde que eu pedi para ele falar da minha mãe, que supostamente morreu durante um assalto a banco aqui, em Weston.

É, pouco convincente, mas eu também não gosto de falar sobre ela. Chorar sempre me fazia sentir-me patético.

Eu terminei minhas tarefas pós-festa e subi para o meu quarto. Eu sabia que não iria ganhar nada tentando desejar “boa-noite” a ele naquele estado.

Quando cheguei ao quarto, encontrei um Rigle pronto para morder meus sapatos. Mas então eu notei a baba escorrendo deles, e aceitei que já era tarde demais. Eram bons sapatos.

Ignorando a baderna em que se encontrava meu quarto, eu fui direto para o computador. Enquanto este ligava, eu saltei da cadeira e fui até uma das minhas estantes, pegando o máximo de livros sobre mitologia que minhas mãos conseguiam suportar. Rigle parou de morder os sapatos e ficou me olhando correr de um lado para o outro, como em uma partida de tênis.

Finalmente, eu já tinha todos os artefatos necessários para a minha pesquisa – um bloco de notas, lápis, borracha, lapiseira e alguns livros. Talvez um pouco exagerado, mas eu precisava ocupar minha mente em algo que não fosse a Jenny.

Computador ligado, eu cliquei duas vezes para abrir o navegador. Enquanto a página não carregava completamente, eu resolvi abrir primeiro dos livros. A internet daqui era péssima.

Meus dedos voaram para a seção “Fantasmas e Aparições” do livro. Mesmo que eu não tivesse certeza do que era aquilo que eu havia visto, era o mais aproximado.

Infelizmente, nada pareceu combinar. Os fantasmas translúcidos que procurei não continham relatos sobre foices, e os que usam foices não eram, segundo os relatos, translúcidos.

Eu percebi a janela de internet aberta em meu site de pesquisas favorito. Digitei a frase que pudesse representar o que eu vi.

“Seres Translúcidos que se escondem em florestas”.

Tudo bem, foi muito generalizado, mas foi o que consegui escrever. Infelizmente, ainda havia muitos sites para pesquisar.

Voltei meus olhos para outro livro. Agora, eu parei quando encontrei “Sobrenatural”. Li toda essa parte, mas não encontrei nada, também.

Então se passaram as duas horas de estudo mais frustrantes da minha vida. Considerando minha leitura dinâmica, eu estudei pra caramba.

Deitei na cama, sentindo meus olhos arderem. Rigle se deitou ao meu lado, arfando. Eu estava com várias cãibras por ficar tanto tempo movimentando apenas os braços. E estava com sono, também.

O relógio apitou a meia-noite. Rigle se estremeceu ao meu lado, no exato momento em que eu senti todo o meu corpo formigar. Era uma sensação estranha, como quando eu comi açúcar demais. Só que era revigorante.

Então, Rigle uivou. Era algo como um aviso, um anúncio. Como se ele estivesse se vangloriando por alguma coisa. E, antes que eu tentasse descobrir o que era, um sono arrebatador se apoderou de mim.

E, com ele, um sonho.

Eu via tudo como uma visão. Panorâmica, como se eu estivesse filmando uma cena de um filme.

Um filme de terror.

Havia criaturas. Seres que eu jurava só existirem nos livros. Eu pude identificar um minotauro, sombras vivas, e até alguns duendes. Pessoas extremamente pálidas com presas levantavam vigas enormes, utilizando-se da ajuda dos monstros. Todos pareciam trabalhar no que parecia ser uma construção.

Havia um homem no centro, coordenando tudo. O que ele vestia – retalhos escuros – não parecia ser muito confortável. Ou quente. Mas, se ele estava ali com todas aquelas coisas sem se importar, frio era a menor das suas preocupações.

Algo foi na sua direção. Era quase invisível, com algumas partes refletindo o luar. Uma foice pendia no que parecia ser sua mão. Duas esferas vermelhas pareciam ser olhos.

A criatura que eu havia visto mais cedo.

Eu gritaria, se eu não estivesse sem voz. Mas a parte mais assustadora foi quando a coisa semi-invisível resolveu falar.

– Mestre. – A voz do invisível era doentiamente rouca. – O garoto ascendeu. O processo de Transição se iniciou.

– Ótimo. – O homem gargalhou. Sua voz era harmônica. – Agora, nosso próximo passo é reunir um exército. Avise aos Quatro Grandes. Os anciões não podem fazer mais nada agora. A missão deles foi passada.

Ok. Eu vi um ser invisível que não consta nos livros. Eu estava sonhando com ele, e várias outras atrocidades. E eu senti que ele estava falando de mim.

Eu estava ficando louco mesmo.

Mas então, tudo começou a dissolver, como uma pintura molhada, até que eu estava acordado.

Rigle lambia meu rosto com fervor, como se isso fosse algo que pudesse salvar minha vida. Meu pai estava olhando para mim, da beirada da cama, seu semblante se suavizando.

Ele me abraçou. Um abraço que eu nunca havia recebido antes. Cheio de alívio e amor.

– Que bom que você está bem. – Sua voz era sincera e trêmula, como se ele estava disposto a chorar.

– Eu estou bem, pai. – Confirmei, estranhando aquilo tudo. – Você pode me soltar agora.

Ele pareceu perceber o quão estranho aquilo estava ficando.

– Oh, claro. – Ele se levantou, passando as mãos pela roupa. Ele nem sequer tinha se trocado. – Eu... Eu só... Queria desejar um feliz aniversário.

Aquilo me pegou de surpresa, como um soco na barriga. Ele não havia dito isso ontem. E eu não havia percebido. Mesmo que ele tivesse esquecido, eu me sentia mal por não ter falado muito com ele ontem. Mesmo assim, resolvi não chorar.

– Obrigado. – Era uma palavra que não incitava minhas glândulas lacrimais.

– Ainda não. – Ele voltou ao seu tom irônico. – Eu tenho um presente para você.

Ele tirou algo do bolso. Era um colar prateado. No meio do cordão, um círculo se destacava. No centro dele, uma flecha em pleno vôo. Eu já tinha visto aquele colar. Ele era do meu pai. E falta de embrulho me disse que ele resolveu me dar agora.

– Você já é um homem. – Ele disse. – Por isso merece isso.

Eu peguei o colar. Foi a minha vez de abraçá-lo, não ligando para as lágrimas fujonas.

– Tecnicamente, – Eu disse, rindo. – Eu só vou “me tornar um homem” daqui a um ano.

– Em Esparta não. – Ele respondeu, arrancando algumas gargalhadas de mim.

Depois, ele saiu. Inesperadamente, Rigle não foi aos calcanhares dele essa vez. O cachorro estava plantado ao meu lado, como se cada movimento meu tivesse que ser catalogado por ele. Meu pai teve que chamá-lo de algum lugar lá embaixo. Aquilo nunca tinha acontecido antes. Então, o Husky se arrastou para fora do quarto, como se isso fosse torturante.

E eu estava sozinho de novo.

O silencio dominava o quarto. O colar parecia quente em minhas mãos. Por que eu me sentia tão emocionado? O que havia de diferente ali?

Eu realmente não sabia. Mas eu me sentia revigorado, disposto. Quase feliz.

E não era por causa do presente.

Tudo bem, talvez, só talvez, eu tenha ficado ainda mais alegre por causa disso. Mas era como se algo dentro de mim estivesse gritando para que eu corresse por aí, me exercitar, e curtir.

Eu não sabia de onde aqui havia vindo. Não era meu tipo.

Eu me levantei. Apalpei o criado-mudo, procurando meus óculos. Quando os coloquei, minha mente ficou mais confusa do que já estava.

Tudo estava embaçado. Turvo, em algumas partes. Eu retirei os óculos, contemplando o mundo ao meu redor em alta definição.

Aquilo foi tão estranho quanto a disposição que eu tive enquanto me preparava para a escola. Até mesmo a água fria estava mais legal hoje. Decidi levar os óculos na mochila, por via das dúvidas.

Antes de sair, pude perceber a porta do porão aberta. Não na sua definição de aberta, mas na minha. Aquela porta sempre estava amarrada com correntes. Meu pai deixou-as assim desde quando eu havia entrado lá, com quatro anos, e presenciado as flechas que ele escondia lá. Por que ela estava assim agora?

Mas aí minha mente viajou para Jenny.

Eu ainda não entendia por que ela fez tudo aquilo comigo. Sempre achei que, mesmo tão distante, ela ainda era minha amiga. E, mesmo assim, por que ela disse aquilo daquela forma? Eu não ligaria se ela quisesse acabar com a amizade, mas, assim?

Quando eu finalmente consegui apagar ela da minha mente, a escola estava a passos de distância. Eu ignorei os garotos colocando suas mãos em L na testa, um dos vários modos de chamar alguém de perdedor.

E assim foi a minha manhã: Evitando valentões, fazendo tarefas, lendo nos intervalos das aulas, e, acima de tudo, evitando a Jenny.

Eu cruzei com ela basicamente durante todo o tempo entre as aulas. Mas eu não estava me lixando para isso. Além de ela ter se mostrado uma traidora, eu tinha coisas mais importantes para fazer.

Mesmo assim, ela acabou me achando.

– Mason! – Ela me chamou na hora da saía. Eu fiquei surpreso ao perceber que ela não estava entupida de amiguinhas ao redor. – Ah, que bom que achei você.

Eu bem que tentei sair, mas ela se interpôs entre mim e o portão.

– Nós precisamos conversar. – Ela disse.

– Não, você já disse tudo ontem. – Eu simplesmente não queria ser tratado como um mané de novo. – O que você quer, estragar meu dia duas vezes seguidas?

– Eu... – Ela parecia surpresa. – Eu só queria pedir desculpas.

Eu a encarei. Ela não parecia estar mentindo.

– Desculpas por mentir? Por ser falsa? Por me tratar como um idiota? – Eu estava cego de raiva. – Não, obrigado. Mas, se você quiser me deixar feliz, fica longe de mim.

Eu não esperei uma resposta.

Saí pisando forte pelos portões da escola, deixando uma Jenny incrivelmente surpresa.

Infelizmente, a raiva não afastou a súbita sensação de estar sendo observado.

***

A tarde fora tão improdutiva quanto a manhã, na escola.

Eu procurei em todos os livros da casa. Na biblioteca da cidade, também. E descobri que nem mesmo havia lendas do tipo que eu havia visto para a floresta. Mesmo assim, era como se apenas eu, em toda a história da cidade, do mundo, tivesse conhecimento dele.

Como se eu estivesse criando um mito, uma lenda urbana.

A imagem de mim mesmo andando por aí dizendo “Um mostro terrível está vindo, escondam-se nas montanhas!” se formou na minha mente. É, talvez eu estivesse louco.

Eu precisava de uma nova fonte de livros, algo que pudesse me dizer, exatamente, o que eu vi ontem. Algo que me dissesse “Ei Mason, você não foi o único em toda a História que viu aquilo!”.

Espera aí, eu não fui o único.

Jenny também viu. Ela disfarçou, fingiu, mas eu a conheço. Seu semblante estava assustado. Ela estava tensa.

Mesmo assim, ela pareceu saber tanto quanto eu. Eu não poderia descobrir nada com ela.

Poderia?

Eu me lembrei da vez em que fomos ao galpão que havia no fundo da casa dela. Só por pirraça, estávamos sem nada para fazer. Mas, ao invés de lixo ou lugares legais para se esconder, nós encontramos uma biblioteca enorme, com diversas estantes de livros.

Claro, nós saímos de lá por achar uma chatice, mas agora, talvez aquilo fosse útil.

Pedir ajuda à Jenny?

Aquilo poderia ser ridículo, se eu pensasse nisso hoje de manhã, mas agora era uma questão de subsistência. Era isso, ou aceitar que eu estava ficando louco.

***

Eu toquei a campainha, ajeitando a camisa logo em seguida.

Eu havia me arrumado durante uma boa meia hora só para vê-la. E realmente me sentia ridículo por ter feito isso. Como se colocar jeans escuros, uma camiseta de botões branca ¾ e Converse fosse seduzir Jenny para ela me deixar entrar em sua casa.

Mas a ausência dos óculos me deixou mais confiante, postura ereta.

Ela abriu a porta, ficando surpresa alguns instantes depois. Um rock alto e cantado por uma mulher encheu meus ouvidos, provavelmente sua banda preferida: The Runaways. Jenny estava de roupão rosa, pantufas de coelhinhos, e um balde de sorvete em uma das mãos.

Por que raios alguém comeria sorvete em Weston?

Ela encheu o peito para começar a falar, mas eu fui mais rápido.

– Sua mãe esta em casa? – Perguntei. Quando ela assentiu negativamente com a cabeça, a cortei novamente. – Olha, eu sei o que você vai dizer. – Eu começei. – E eu sei que eu mereço uma resposta feia tanto quanto você mereceu o que eu te disse. E eu estou tão feliz em estar aqui quanto você por me receber. – Eu tomei impulso, sentindo as palavras certas fluírem, sem gaguejar. – Mas é importante. Eu sei que você viu aquela... Coisa, ontem. O que quer dizer que eu não me iludi. E eu quero descobrir o que é. E você tem livros aí que podem me ajudar.

– E por que eu te ajudaria? – Eu fiquei surpreso ao não ouvir uma ofensa. O tom da sua voz tinha certo interesse.

– Porque você está tão curiosa quanto eu. – Eu acertei na mosca.

Ela apenas deu espaço para que eu entrasse pela porta como resposta.

Depois que eu já estava dentro da casa e ela havia desligado o rádio, a mesma resolveu falar.

– Mesmo que você esteja certo sobre eu estar curiosa e tudo mais, onde estão esses livros? Que eu saiba, aqui nessa casa não existem livros desse tipo aqui.

– Sua mãe fez alguma mudança no galpão?

Eu não havia perguntado aquilo só por perguntar. Jenny semicerrou os olhos e bateu na própria testa.

– Como eu não havia pensado nisso? – Ela soou aliviada. – Você sabe o quão perto da loucura eu fiquei, pensando sobre aquela coisa ontem? Eu tentei pesquisar sobre ela na internet, mas não achei nada.

– Somos dois. – Eu sorri.

Foi aí que nós percebemos o quão amigável aquela conversa estava sendo. Nós não éramos amigos. Eu só estava lá para clarear minha mente, apenas isso.

– Vamos. – Ela disse, retomando o tom duro.

Nós passamos por vários cômodos até finalmente sair pelos fundos. A grama verde brilhava por causa da água da última chuva. Sob o céu escuro, elas pareciam não ter vida.

Um galpão avermelhado se destacava no meio do gramado, apenas uma porta, e essa estava fechada. Algumas casas se destacavam atrás da construção desgastada. A brisa soave parou de circular.

Quando chegamos mais perto, eu pude perceber que o quê impedia nossa entrada não era nada preocupante: apenas um pedaço de madeira servia como empecilho para os invasores, como eu e Jenny.

Mesmo assim, algo gritava, junto ao farfalhar das folhas em algum lugar, que não se devia entrar ali. Pelo estremecer que eu pude ver em seu corpo, Jenny também ouviu.

Eu retirei o pedaço de madeira, e Jenny cuidou de abrir um lado da porta dupla.

Nós nos encaramos.

Ambos sabíamos que era isso ou aceitar a loucura. E nós dois sabíamos que o que podia estar ali, em um dos livros, poderia ser algo que nós não deveríamos descobrir.

Eu esperei que ela desse o primeiro passo, e então imitei.

O ar quente e mofado de lá parecia nos puxar para dentro, como o hálito da morte.



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Notas finais do capítulo

Como que fica hein? Comentários são lindos gente (: