Capitulo onze

Mathews

-Patins?

Vou contar uma coisa para vocês, pessoas não tão espertas quanto eu, quando Juliet tiver uma ideia absurda, nunca apoie ela.

-Não me olhe com essa cara, dessa vez a ideia nem foi minha.

Disse amarando meus patins, estávamos sentados em umas cadeiras coloridas enquanto calcávamos os patins. O dia hoje seria muito divertido, incluindo óculos escuros, perucas fora de moda e estocagem.

Eu já estava acostumado a vir nesse lugar na verdade, quando eu namorava a Linda - uma péssima experiência na minha vida se você quer saber - ela adorava vir ao Rockey Club Patins, passávamos horas andando de patins e até havia karaokê às vezes. Do qual com toda certeza eu era o primeiro a participar, não que eu precise citar a vez que eu cantei “Viva la vida loca” e levei um tombo no meio de todo o clube, depois disso, Linda nunca mais quis ver minha cara de novo.

-Não estou te olhando de jeito nenhum – Juliet diz e então leva seu olhar para a pista de patinação, sigo seu olhar de safira e vejo Kathy de mãos dados com um garoto meio emo – Acho que estou começando a me arrepender de ter vindo espiar o encontro da minha irmã.

-Esse não é aquele DJ da festa em Orlando?

Da qual ela me fez ter a melhor e a pior experiência da minha vida?

-Levi. Ele é um bom garoto, mas não confio nele.

-E em que garoto você confia, docinho?

Se você acha que eu tenho esperanças de que ela diga meu nome... Você está completamente certo.

-Garotos têm muitos hormônios, Math. Vai que ele tenta passar dos limites com a minha garotinha?

Riu e levo meu olhar para a pista de patinação de novo.

-Acho que a sua garotinha já está bem grandinha.

Digo apontando para a pista, Juliet segue meu olhar e quase tem um AVC ali mesmo, me perguntei em quantos minutos eu consigo levá-la para o hospital. Bem, se a enfermeira perguntar qual foi a causa do AVC, eu acho que posso dizer que foi por ela ter visto o tal Levi dando um simples beijo na irmã dela, e olha que aquele beijo nem teve língua! Imagina se tivesse?

Juliet já estaria morta.

-Ai meus olhos, acho que meu coração vai derreter!

Ela exclama me fazendo rir, seguro Juliet pelos ombros e a puxo para a pista de patinação, está tocando “Domino” e eu danço no ritmo da música, Juliet balança a cabeça rindo, se recusando a entrar na pista enquanto eu não parar de dançar.

-Sua peruca vai cair Math – ela me avisa – assim vai estragar o disfarce.

-Agora me diga se eu não pareço o Bob Marley?

Pergunto piscando para ela, a peruca estilo reggae quase caindo da minha cabeça.

-Em uma versão 10.0?

É impressão minha ou ela acabou de me elogiar? Ai, que emoção.

-Claro, nenhuma teteia resiste ao meu charme, docinho.

E é ai que Juliet cai no chão de tanto rir, acho que minha jogada de cabelo não fez muito bem para a cabeça dela. Vou tentar não ser tão irresistível da próxima vez, juro.

-Vamos para a pista, docinho- disse pegando Juliet pela mão – Está ouvindo? A pista está chamando por nós dois.

Ela olhou para seus pés, se eu não conhecesse a Juliet, diria que ela estava com um pequeno medinho de cair.

-Hum, eu não posso ficar sentada ali não, Math?

-E perder toda diversão? – perguntei – Chegamos até aqui Campbell, vamos até o final.

Juliet passou a mão pelos cabelos, mas assentiu e me deixou guia-la pela pista. Quer dizer, não por muito tempo, por que no próximo minuto ela estava jogada nas barras de ferro se segurando para não cair.

-É impressão minha ou você tem medo de cair?

-Eu não sei andar de patins, babaca.

Ela disse com raiva tentando se equilibrar, sem muito sucesso.

-A grande Juliet Campbell, redatora chefe do jornal da escola, radialista principal e provavelmente uma das garotas mais lindas que eu já vi não sabe andar de patins?

Ela mordeu o lábio inferior, quase me fazendo ter um ataque epilético ali mesmo.

-Há muitas coisas que eu não sei fazer.

-O que, por exemplo?

-Hum – ela demorou para responder – jogar basquete.

Um sorriso iluminou meu rosto e se Blake estivesse ali diria que foi o acaso, mas eu sei, no fundo do meu ser, que ela estava dando em cima de mim. Eu sei!

-Isso eu te ensino.

Peguei Juliet pela mão e guiei-a pela pista de dança, alguém começava a cantar no karaokê, levantei minha cabeça para ver que era aquele cara que estava saindo com a minha cunhada.

-Que música vamos cantar, Levi?

Kathy perguntou ao microfone, ela estava parecendo uma boneca com aquelas meias coloridas e listradas até os joelhos.

-Que tal “A little piace of heaven”?

-Hum, não. Prefiro... – ela olhou a lista de músicas, sabe, até que juntos eles fazem um casal bem bonitinho – Prefiro “Eight Days a Week”.

Levi balançou a cabeça negando e deu mais um beijinho em Kathy, fazendo a garota rir.

-Vamos chegar a uma concordância e cantar “Fix You”.

Ela sorriu e logo estávamos começando a ouvi-los cantando a musica do Coldplay. Juliet parecia inconsolável ao meu lado.

-Qual o problema, docinho?

Ela suspirou enquanto eu a rodopiava pela pista de patinação.

-O problema é que eles se gostam, de verdade. Tá nos olhos deles.

-E isso é um problema?

Juliet leva seus olhos para mim e eu to quase tendo outro ataque por esse momento lindo, romântico e completamente gay.

-Quando é a prova que eu estou errada? Acho que sim...

Claro que a cena romântica não ia durar muito tempo, não enquanto existisse uma rampa e não enquanto Juliet estivesse desatenta. Ela deslizou pela rampa e eu que estava de mãos dadas com ela, consequentemente fui puxado junto. Acabou todo mundo rindo, ela caída em cima de mim e Kathy e Levi parando de cantar.

-Acho que alguém levou uma queda Levi.

Disse Kathy falando ao microfone, ouvi passos, risos e logo depois a cabeleira negra de Kathy apareceu na minha frente.

-Juliet? O que você está fazendo aqui?

Obrigada por esquecer-se de mim, Kathy. Eu sabia que eu era insignificante, ainda mais com a Juliet em cima de mim. Quantos quilos essa garota tem? Sem querer ofender, mas ela precisa começar a fazer uma dieta e ficar magrinha como a irmã mais nova.

-Eu? Nada.

-Eu não acredito que você veio espiar meu encontro.

Disse Kathy, eu sabia que ela não estava com raiva e que só estava fingindo, mas a gordinha em cima de mim não parecia pensar o mesmo...

-Eu nem ao menos sabia que você estava aqui – disse Juliet me empurrando e se levantando - Eu vim aqui para... Para...

-Fazer uma apresentação!

E mais uma vez o grande Math salva o dia. Sério, que garota não ia querer um super homem lindo e agradável como eu?

-É, isso! – ela concordou sorrindo e depois me olhou confusa - Espera, o que?

-Apresentação? Essa eu pago para ver.

Disse Levi e Kathy concordou, fazendo um hi5 com ele. Bela dupla eles faziam, um dia aprontando para cima da irmã mais velha, no outro roubando um banco e assim vai...

-Você não podia ter inventado alguma desculpa melhor não?

Ela sussurrou me olhando de lado enquanto o casal de namorados ia se sentar em uma mesa.

-Por que você não me agradece, hum?

Disse puxando a mão de Juliet e indo até o meio da pista onde havia o karaokê. Peguei um microfone e dei o outro a Juliet.

-Pronta para fazer um show?

-Se eu estou pronta para pagar o maior mico da minha vida? É, acho que sim.

Olhei a lista de músicas e peguei o controle, encolhendo uma música. Começou os primeiros acordes dançastes e eu me mexi no ritmo, fazendo Juliet rir.

-Não acredito que você vai me fazer cantar essa música!

-I made it through the wilderness. Somehow I made it through. Didn't know how lost I was until I found you.

Disse pegando Juliet pela cintura, ela riu e me empurrou, fingindo que estava rasgando minha blusa. Nossa que garota safada.

-I was beat, incomplete. I'd been had, I was sad and blue, but you made me feel- Juliet se fingiu de triste e rodopiou, dançando nos patins pelo salão - Yeah, you made me feel shiny and new.

Ai, meu Deus, essa garota só pode estar querendo me matar do coração.

-Like a virgin. Touched for the very first time

-I can’t beliave I’m singing this!

Ela cantou no ritmo da música e eu continuei no “like a virgin”.

-Like a virgin, when your heart beats next to mine...

Claro que a música não tinha acabado, ainda faltava uma boa parte, mas quando Juliet soltou um sorriso e eu me aproximei dela cantando “next to mine”, como se nossos corações realmente tivessem perto...

Não pude segurar a vontade de beijar Juliet, ela ali, tão perto de mim. A boca vermelha, sem ela nem mesmo ter passado batom e ainda mais com aquele sorriso estampado em seu rosto?

Talvez Blake esteja certo, talvez eu realmente esteja apaixonado por Juliet. Apaixonado não pelas suas curvas, não pelas suas qualidades, mas por seus defeitos, seu jeito de sorrir, sua maneira de ser chata e arrogante. Isso é meio piegas, eu sei, mas não posso controlar, é como aqueles filmes de ação, onde no meio de toda a confusão surge um romance.

E os problemas. Sei que Juliet odeia garotos, sei que ela odeia meu melhor amigo, sei que ela não quer nada comigo, como se eu fosse um daqueles retardados do clube de xadrez que não pega nenhuma garota.

E é, Blake está certo de novo, eu pareço um cachorrinho perto dela, e não, eu não vou levar isso para o lado ruim, nunca me senti assim com garota nenhuma, eu sempre fui o pegador, o cara que as garotas queriam estar em uma noite de domingo e agora pareço um daqueles garotos românticos e fofos. Se Juliet pode fazer isso comigo, eu também posso fazer isso com ela.

Beijei Juliet.

Se eu fosse uma garota com certeza descreveria esse momento, diria o quão incrível é sentir o beijo dela, como maravilhoso é poder colocar minhas mãos na cintura dela, como é bom sentir seu cheiro de perfume Dolce & Gabbana que é parecido com o da minha mãe. Mas não sou uma garota e não vou dizer isso, não, de jeito nenhum, me recuso.

Juliet se afastou aos poucos de mim, não tinha sido um beijo de tirar o fôlego como o da boate, tinha sido doce e lento na verdade e eu tinha aproveitado todos os minutos.

-McGreen, você tem que parar de fazer isso.

Foi estranho o fato de eu nem ao menos ter notado o silêncio que se instalava no Rockey Club Patins.

-Por quê? Você prefere que a gente vá mais com calma?

Ela suspirou e olhou para minha camisa, acho que ela também gosta do The Doors...

-Por que se você continuar me beijando assim – ela disse corando – eu provavelmente vou arrancar suas roupas e fazer coisas perigosas com você.

-E não é essa a intenção?

Perguntei levantando os ombros e Juliet bateu em mim. Por que eu sempre me esqueço do quanto ela é forte?

-Mathews!

-Ok, ok, eu só estava checando.

Ela riu e foi então que eu soube que Juliet teria de verdade um AVC. Principalmente quando notasse que o microfone estava ligado e que todos ali estavam escutando nossa conversa pervertida.

-É melhor desligar o microfone, docinho.

Ela olhou para o microfone e corou até a raiz dos cabelos, deixando-o em cima da bancada.

-Meu Deus, agora esse com certeza é o maior mico da minha vida.

-Acho que isso significa que não somos namorados, não é?

Juliet revirou os olhos para mim enquanto tirava os patins e saia da pista.

-Sonha, McGreen.

É, acho que vou ter que ficar sonhando mesmo.