Born To Be Together - Parte 2 escrita por Julia A R da Cunha


Capítulo 9
Jodelle, Sorciére e Amber


Notas iniciais do capítulo

Gente, eu sinto muito a demora pra postar. Eu estava fazendo um capítulo aí percebi que pulei uma coisa que tinha pensado, e tive que adicionar um capítulo extra, que é esse, e depois eu meio que perdi inspiração. E pra ajudar nisso, eu tive uma semana com duas provas e um simulado na escola e uma prova no curso de inglês antes de entrar de férias. Então, desculpe muito a demora, mas finalmente, aqui está. Vou tentar não demorar mais assim.



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{Sorciére}

De forma sorrateira adentrei a floresta, sentindo-me culpada pelo fato de não ser “normal” como os outros. Estava com a postura ereta e o semblante de estupor.

— Por que serei a vilã de tudo? Não poderia ser normal? — Sussurrei, mordendo a língua para segurar os soluços que estavam por vir.

As palavras “ser normal” pareceram ainda assim ecoar pelo local. As sombras se agitaram na floresta, um vento frio soprou. E então, lá estava ela. Os cabelos longos mais escuros do que a mais profunda noite, assim como seus olhos. Pele clara, corpo alto e escultural. Ela arqueou uma das sobrancelhas perfeitas enquanto me olhava.

— Normal, minha jovem? Parece que não sabe distinguir o que é bom e ruim. — E de repente ela estava quase gritando. — Eu te ensino que esses campistas aqui não são bons exemplos, sua família explica, e você não ajuda!

Ela fez uma pausa, certamente para respirar. Passou uma das mãos pela cabeça, retirando da frente do rosto madeixas de seus cabelos. Novamente olhou para mim.

— O que você está pensando a seu respeito? — Murmurou Nix chegando mais perto de mim. Meu corpo ficou rígido com a proximidade entre nós. Eu podia sentir o poder emanando dela, a sua força divina antiga e primordial, com certeza diferente do que se sentia nos deuses menores, olimpianos e até titãs. —Diga-me!

Os murmúrios das sombras me deixavam levemente confusa, apesar de não ter o intuito de me atacarem, e nem a Amber, que estava enfiada em algum lugar dessa mata. Uma lágrima solitária escapou por meu rosto.

— Você não sabe de nada! — Vociferei. — Você nunca nem ligou para mim! E se você quer saber o que penso a meu respeito... Fugir vai dizer que você nunca quis desaparecer? Que nunca quis deixar todos pra trás, e começar tudo de novo, tudo do seu jeito? Nunca cansou da mesma rotina e das mesmas pessoas te dizendo como agir, e o que fazer. Nunca quis ir embora, fugir, para qualquer lugar, para qualquer tempo. Esquecer de dias, pessoas e momentos. Sumir por alguns dias, pra fazer aquela pessoa notar a sua ausência. Escolher um caminho, viver sem se preocupar com os problemas e as consequências... Mãe, eu cansei de ser seu boneco para acabar com os meus amigos! Eu cansei!

E no fim de tudo, fui realmente surpreendida. O tapa fora com tremenda força que fez minha face esquerda realmente arder, mais do que qualquer tapa que eu já tenha levado na minha vida.

— Como ousa dizer que não ligo para você?! Estou apenas tentando livrar-lhe desses germes que chama de amigos... Você entenderá no futuro, e me agradecerá por tudo o que lhe mandei fazer. Você não tem força para fazer nada no momento, apenas aceite as ordens e pronto.

{Amber}

Agora estava acabada. Finalmente, depois de toda aquela luta e tentativa de resistência. A Caçadora de Ártemis, chamada até aqui por Jodelle, certamente já no mais profundo desespero pela falta de proteção do acampamento, estava agora, morta.

Na verdade, ainda tentava respirar um pouco, mas quando comecei a cortar o seu pescoço, ela começou a engasgar com o próprio sangue. Os sons dos engasgos eram como música para mim. Depois de esforço e muito sangue, enfim, sua cabeça estava fora de seu corpo.

Dei um sorriso com o resultado. Então, ainda com o punhal em mãos, parti para seu braço, fazendo o mesmo. Depois para o outro, as mãos, as pernas, os pés. Quando terminei, coloquei tudo em um saco de lixo que havia arrumado e fui para a segunda parte do plano.

Já era tarde da noite e ninguém agora era estúpido demais para ficar fora de seus chalés, e como não houve gritaria alguma, seria fácil de prosseguir com minha surpresinha sem ser notada. E se fosse, tenho certeza de que eu estaria ferrada, pois logo chamaria todos os outros. Certo, eu não era fraca, mas o número de campistas aumentou nos últimos dias, especialmente no chalé de Ares.

Saí do chalé de Ártemis e olhei em volta. Acho que alguém vai se assustar de manhã...

{Jodelle}

Acordei em um susto. Mais um pesadelo. Eles estavam sendo mais do que constantes ultimamente, inclusive depois daquela mensagem de Íris que recebi de um filho de Hermes. “Jodie...” pensei, mordendo o lábio inferior e esforçando-me para não chorar mais uma vez. E outra coisa me deixava preocupada. Repassei toda a conversa que tive com o garoto na minha mente, ainda com um aperto no coração.

— E Gale? — Perguntei depois de um bom tempo em silêncio, entre uma pausa e outra dos soluços.

O garoto baixou o olhar e suspirou, passando as mãos sobre um curativo improvisado em seu braço que já estava quase cheio de sangue.

— Eu não sei. Ninguém sabe. Ele... Ele simplesmente saiu daqui e não deu mais notícia nenhuma... Sinto muito. — E como se quisesse me poupar de qualquer sofrimento, ele abanara a mão sobre a imagem e a mensagem foi encerrada.

Se eu estava preocupada com ele? Mais do que nunca estive desde que saiu. Eu sabia muito bem o que poderia acontecer com qualquer um deles, mas o simples fato de saber que realmente aconteceu dói muito mais do que o esperado, apesar da consciência da situação. Sempre há aquela esperança, de que apesar dos perigos, poderiam todos voltar. Sorciére voltou. Gale sumiu. E Jodie está morta.

Suspirei. Tudo parecia estar desmoronando. Era como se...

— AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHH!

Dei um pulo na cama. O grito fora alto, estridente, e eu conhecia aquela voz: Sophie. Logo comecei a ouvir alguns murmúrios dos outros campistas se aproximando. Alguns outros gritinhos de algumas meninas, exclamações de outros, e jurei ouvir a voz de Jack e deu melhor amigo Trevor, de Dioniso, expressando sua surpresa com palavras como: “Puta merda!”. Logo depois veio a voz de James, irmão mais novo (e praticamente uma cópia física mais baixinha e com cara de menino) de Jack: “Que porra é essa?”.

Levantei-me, ainda de cabelos bagunçados e camisola e fui até a porta do chalé. Abri, deparando-me com quase todos na mesma situação que eu, e não entendi o que acontecia por uma fração de segundo, até eu pisar em alguma coisa. Abaixei os olhos e retirei o pé dali, ainda não preparada para aquilo que eu via.

Um braço. Um braço, ainda deixando um pouco de sangue. Olhei para a sola de meu pé, agora vermelha pelo líquido, e meu rosto se contorceu em uma careta. Levantei os olhos e observei os outros chalés. Na porta de cada chalé havia um membro diferente. A perna esquerda no chalé de Zeus. A direita no de Hera. A barriga, Poseidon. O tórax, sem os seios, no de Deméter. O seio esquerdo no de Ares, e o direito no de Atena. A mão esquerda no chalé de Apolo, a direita no de Hefesto. O pé esquerdo no de Afrodite, o direito no de Hermes. O braço esquerdo no de Dioniso, e o direito no meu. A cabeça, na frente do chalé de Ártemis.

Fechei os olhos e inspirei fundo. Mais uma vítima de Amber. Só então percebi que havia palavras escritas no braço aos meus pés. Peguei o braço e comecei a ler.

“Essa foi apenas mais uma dos que morreram pelos primordiais; o silêncio da noite consumirá todos quando menos esperarem. E a guerra enfim terá seu início com a morta da filha dos espíritos.”

Engoli em seco. Eu sabia muito bem o que aquilo significava. A guerra começaria subitamente, quando menos soubéssemos, uma invasão provavelmente. O silêncio da noite é Amber. E a filha dos espíritos, a próxima vítima, sou eu.

{Sorciére}

Meus passos continuavam. Eu não sabia bem o motivo daquilo tudo. Eu estava desesperada, essa era a verdade. Depois de observar os pedaços do corpo da garota na porta dos chalés há alguns dias, e ver Jodelle e Sophie (com quem eu não me dera muito bem desde o principio) juntando aquilo e limpando o sangue da porta de cada chalé.

Comecei a andar mais depressa e mais depressa, penetrando cada vez mais na floresta. Então, quando estava próxima de um riacho, acabei por gritar:

— Isso é tudo um receio mentiroso!

E depois, um som e um vulto chamou minha atenção. Virei-me para a direita, encarando a imagem de Amber na beira do riacho, fitando-me de olhos arregalados.

— Caramba, Sorciére! Você me assustou! Pensei que tinham me achado! — Suas mãos, braços, rosto e alguns fios de cabelo estavam molhados, então suponho que deveria estar possivelmente se lavando ou algo assim. Ela se ajeitou, levantando-se e indo até a irmã. — É o certo a fazer, irmã. Você viu minha mensagem nos chalés. Agora, é a hora de escolher a que lado realmente vai servir.

Franzi o cenho para ela, levantando os olhos e encarando os dela. Minha expressão contrariada com tudo aquilo.

— O que você acha que está fazendo? Só porque voltou quer dizer que pode sair pelo acampamento fazendo sua carnificina? — Perguntei ríspida. Fazia aquilo com o propósito de irritar Amber. Tomei força na voz, falando aquilo com a maior vontade do que jamais falei algo: — E se quer saber qual é o meu lado, é o deles! Foi com eles que passei maior parte da minha vida e não com esses deuses primordiais e se quer com nossa mãe! — Concluí arqueando uma sobrancelha para Amber. — E só pra constar, para acabar com esse acampamento, terá de acabar comigo também! Se quiser acabar com tudo isso, terá de acabar com um membro de sua família!

Amber ficou parada, olhando-me, tentando disfarçar a falta do que poderia dizer com um olhar de desdém. Por fim ela apenas se aproximou mais, passando a mão por meus cabelos.

— Você me enoja. — Respirou fundo. — É uma traidora. Pois bem, não há outro modo de tratar traidores. Lembra-se de Ian, filho de Eurínome, a rainha dos primordiais? Ajudou Jack Brown e Bethany Bloom... Você viu o que ela fez com o filho, não viu? Ou perdeu a visão de seu corpo decapitado no portão de entrada? Tsc, tsc, tsc. São todos um bando de traidores, é o que são.

E então com força, ela puxou meus cabelos. Tentei me soltar de seus dedos, mas ela era forte, e continuou puxando e puxando, até que um punhado de fios haviam se soltado, entrelaçados em seus dedos finos. Foi só então que percebi como sua pele estava pálida, e como podia as veias em seu corpo. Os dedos tremiam, e só então, lembrando-me do nome do filho de Ares, o acontecimento recente me veio em mente. Apenas me afastei e dei uma gargalhada.

— Você é uma de minhas últimas preocupações, Amber. Daqui a pouco estará caindo em pedaços, pelo o que sei. — Fiz uma leve pausa. — Sophie Blanc Campbell, a de Afrodite, e Jack Brown envenenam as suas armas. E se não me engano, teve um pequeno duelo com Brown recentemente, não é, querida? Cheia de ferimentos com a adaga dele.

Peguei meu punhal e comecei a andar em volta dela, já que estava na defensiva. Mas eu ainda tinha aquele sorriso em meu rosto, pois afinal de tudo, ela estava mais fraca pelo veneno de Jack.

— Não me importo! E afinal, até isso aqui realmente fazer um efeito grande em mim, os planos de minha mãe já estarão realizados. — Eu sabia que ela falara de propósito, já não me considerando mais como da família. Não me importava na verdade, pois também já estava cansada daquela família. — E será fácil me livrar de você?

Ri.

— Será tão fácil passar por mim? Afinal, eu sou a única “de vocês” que mantém uma boa relação com os campistas. Mesmo com tudo isso, não vão me matar assim. — Parei, ficando cara a cara com ela. — Não é?

— Claro que será fácil. E quem precisa desses amigos que diz, quando se faz parte do exército mais poderoso? Com ou sem amigos, não sobrará nada de vocês. Eles estão chegando. E afinal, onde é que estão os seus amigos, hein? — Ela riu. — Nada virá te salvar, irmã.

{Jodelle}

Precisava correr, ou então seria tarde demais. Eu mesma já havia descoberto tudo tarde demais, e agora, poderia perder mais uma de minhas melhores amigas. Os galhos da floresta passavam cortando em meus braços e pernas, mas eu não me importava. Apenas segurava a espada com força, colocando nela toda a minha motivação. A espada de bronze celestial com traços negros de ferro estígio que meu pai me dera.

Eu estava perto, podia ouvir as vozes delas. E era agora que usaria de minha habilidade. Como começava a anoitecer, misturei-me em meio as sombras, utilizando o movimento e os caminhos da mesma para chegar lá mais rápido e sem ser notada.

— Não sei como nós somos parentes. — Dizia Sorciére. — Pode ficar com sua... Mãe, e ver os seus fracassos doravante! Eu irei ficar do lado deles, e não temo nem você e nem sua mãe!

Amber rodou o punhal em suas mãos e chegando perto para atacar, bati a lâmina de minha arma na sua e meti-me na frente de Sorciére, saindo das sombras.

— Ah não, Amber. Com certeza não! Pode atacar qualquer um desse acampamento sem que eu veja, mas Sorciére você não mata!

Olhei para Sorciére, e vi que ela queria sorrir, mas não com os lábios, e sim com o olhar. Retribuí e voltei-me para sua irmã. Vi que ela estava pronta para abrir a boca e falar algo, quando bati o pé com força no chão, fazendo-o tremer e calando-a. Um rachado havia se aberto a partir de meu pé até alguns metros adiante. E então, mãos esqueléticas começaram a sair, até que três soldados-esqueleto estivessem ao meu lado, com armas prontas para ataque.

— Queria dizer alguma coisa, querida? — Perguntei sarcástica.

Amber ficou um tempo parada, olhando-nos. Depois de um tempo, ela apenas deu mais um de seus sorrisos loucos e disse:

— Vamos acabar logo com isso.

E então tudo escureceu à nossa volta. Não podia ver a um palmo de distância, mas não me incomodei. Afinal, sombras na verdade me ajudavam, e creio que Amber, nada inteligente pelo visto, ainda não havia entendido tal fato tão óbvio.

Misturei-me nas sombras, podendo assim sentir melhor o que havia nela. Pude sentir Amber andando por elas. Era engraçado. Eu não bem via, mesmo de olhos abertos, e não era bem sentir. Era como se eu visse em minha mente e sentisse passando por mim, ela andando por mim, movendo-se no meu corpo. E o que eu via na mente era como um espectro, um vulto, um flash, não ela em si.

Amber correu e destroncou um dos meus soldados. Direcionei parte de minha força para ele, dando impulso para que as sombras o ajudassem a se reconstituir, afinal, ele já estava morto mesmo.

Havia algo errado. Sombras se moviam ali, sombras diferentes. Eram os vultos que andaram causando problemas por aqui, os vultos que Sorciére colocara aqui dentro, agora controlados por Amber. Eles estavam a atacando. Mentalmente, mandei que os soldados ajudassem Sorciére, enquanto eu cuidava de Amber.

Segui até estar atrás dela e sussurrei em seu ouvido:

— Bu. — Logo depois comecei a desferir golpes por todo o seu corpo. Em um dos golpes, percebi que retirei dois dedos de sua mão direita. Depois um corte grande e profundo em ambas as pernas, o que a fez cair.

Antes que pudesse fazer algo, mudei de posição, e ao perceber que ela tentara mesmo assim me atacar onde eu estava antes, percebi que fiz certo. Continuei andando rapidamente em volta dela enquanto falava:

— Sabe, Amber, uma coisa ruim em você é que você sempre se achou melhor do que todos. Isso em uma luta é crucial para sua derrota.

E voltei a correr, batendo a espada em seu corpo algumas vezes. Mas então ela acertou um chute em minha perna que me fez cair, e essa desconcentração me deixou visível novamente, fora das sombras. Amber avançou contra mim, acertando-me com o punhal no primeiro lugar que conseguisse, e fincou-o em minha coxa esquerda e descendo até perto do joelho.

Quase que de imediato, com a perna direita dei-lhe um chute, sendo que meu joelho acertou sua boca, fazendo-a cair para mais longe de mim. Girei o corpo para o outro lado, tentando me levantar, algo que custou minha dor, e fiquei apenas ajoelhada.

Amber se levantou, pegando o punhal com a outra mão e limpou a boca que agora sangrava.

— Aquela mensagem em seu chalé, Jodelle, ainda acontecerá. Até lá, você verá algumas surpresas pelo acampamento.

E sem dizer mais nada, ela se infiltrou nas sombras novamente, e partiu. Aos poucos o local foi clareando, mas não muito, e eu deduzia que ela estava indo para longe. Olhei para Sorciére, que tinha um toco de madeira nas mãos e um ferimento no tórax.

— E-Eu... Vou até a enfermaria. Esse ataque suicida não foi muito esperto de minha parte. — E finalizou virando-se e começando a andar.

Fiquei parada por uns momentos, e logo falei:

— Ah, claro, tudo bem. Pode ir, enquanto eu tento ir com essa perna manca, mas tudo bem! — E tentei segui-la, mancando mais do que Hefesto.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado, apesar de ser grandinho, e mais uma vez, sinto muito pela demora.