Born To Be Together - Parte 2 escrita por Julia A R da Cunha


Capítulo 10
Jodelle


Notas iniciais do capítulo

Um acontecimento muito esperado por quem lê chegou nesse capítulo. Espero que gostem, e me digam se gostarem, hein. Review u-u



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Meus passos estavam sem rumo algum. Aonde eu estava mesmo? Nem tinha ideia. Era simplesmente alguma parte do Acampamento Meio-Sangue. A espada jazia em minha mão direita enquanto a esquerda se encontrava parada no meu braço direito.

Minha situação estava até mesmo estranha... Ou não. Depende de seu ponto de vista. Depois de ficar dias trancada em meu chalé, a luz do sol, mesmo que precária pois já havia se posto, apenas estava começando a escurecer, doía-me aos olhos. Eu não estava comendo direito, mas isso não era um choque para mim depois de minha infância moribunda. Meus cabelos estavam despenteados, os olhos despertos e alertas, parecendo até mesmo que estava sob o efeito de alguma droga. Não sei o que dera em mim, pois em certo momento insisti em maquiar meus olhos todos os dias e dormir do mesmo modo, e tomava banho, até chorava mas não retirava a maquiagem, e agora, eu mais parecia a personagem de um filme de terror.

Apesar de tudo isso, um sorriso preenchia meu rosto. Um sorriso diferente, como se eu risse de coisas que vinham em minha mente, coisas que somente eu sabia, que somente eu via, que somente eu entendia e sentia. E a cada momento eu começava a rir e repentinamente.

Por fim, andando e andando, acabei por sentar-me na frente da quadra de vôlei. Só depois de me sentar, olhei para o lado e vi que Suzannah Simon, filha de Hécate estava lá, com uma bola nas mãos.

— Suzannah! Quanto tempo! E como vão seus feitiços, hein Bruxinha? — Seus olhos caíram sobre mim. É claro que estava reparando no modo em que eu estava.

— Jodelle! Quanto tempo mesmo, hein... Mediadora — Sorriu.

E eu fiquei somente calada, parada, encarando-a. Até que como uma criança pequena que se perdeu da mãe, eu avancei contra ela e passei os braços em volta de seu corpo, segurando-me nela com força.

— Senti saudades de falar com você — disse. Suzannah estava sendo bem mais amiga do que Sorciére nesses últimos dias.

Ela apenas retribuiu meu abraço, mas parecia mais uma espécie de consolo para mim.

— Também senti.

E tudo ficou quieto. Algo retornou em minha mente nesse silêncio, algo que eu havia descoberto por um tal de Ian O’Shea, filho de Eurínome, rainha dos primordiais. Ele conhecia Bethany Bloom, de Zeus, desde pequeno, e por ela, só por ela, não queria de todo ajudar os primordiais. Agora, ele estava morto. Depois de nos ter ajudado e não completado sua missão, a própria mãe matou o filho chamando-o de traidor. Eu consegui contato com ele no Mundo Inferior. Como uma última ajuda que pudesse dar, ele revelou algo crucial.

Seremos invadidos. O Acampamento Meio-Sangue será invadido.

Não sabemos quando, o que piora tudo. Agora, ainda mais com Amber por aqui, a ordem seria treinamento dia e noite, com todos, para todos. Também deveriam aprender a manusear outras armas sem ser as que possuíam, para casos em que precisarem usar outras armas no meio da guerra que acontecerá.

— Vamos todos morrer — falei ainda agarrada à Suzannah. Havia uma certa empolgação na minha voz, algo vívido, até mesmo maníaco. — Vamos todos morrer. Vai tudo acabar. São fortes demais para nós. Vamos morrer, vamos morrer, vamos morrer.

Senti a mão de Suzannah acariciando-me na cabeça e murmurando um “Shh”. O outro braço em minhas costas, também acariciando-me.

— Calma, Jodelle. Calma — dizia ela. — Não... Não vai acontecer isso. Vai dar tudo certo, só... — Uma pausa. Eu sabia o que aquela pausa significava. Ela sabia que seria o contrário do que estava dizendo, não sabia mais que palavras usar para me consolar.

Comecei a querer chorar. Eu sabia que tudo de mal estava por vir, e que minha previsão daria certo. Tudo acabaria, acabaria, acabaria.

— Jodelle?

Virei-me rapidamente. Aquela voz. Firme, forte, acolhedora. Encontrei aqueles olhos claros. O sol atrás dele deixando os cabelos louros parecendo brilhar como ouro. Os braços fortes me fazendo sentir falta de um abraço. Todas as trevas em minha mente pareceram se dissipar, como se enfim isto parecesse minha verdadeira casa.

E então eu pude perceber seus olhos sobre mim. Ele estava reparando no modo em que eu estava, no meu jeito exaltado de falar, no meu olhar aceso, em tudo. Não sei porque exatamente, mas comecei a sentir uma certa vergonha de mim mesma com isso. Mas logo depois então ele estava abrindo um sorriso simples e verdadeiro para mim.

— Gale! — Exclamei. — Onde você estava? Eu... Eu soube sobre Jodie... Eu... Sinto muito.

O olhar dele tornou-se triste por um momento. Eu não deveria ter mencionado ela. Ainda era muito recente, e com certeza, ainda doía muito nele. Mas logo ele pareceu mais sereno como antes.

— Obrigado... — Ele respirou fundo. — Eu estava vindo para cá, só isso. O caminho era meio longo.

Dei uma risada olhando para o lado e depois virei-me para ele novamente. Apesar de estar rindo, não estava lá alegre, e ele sabia bem disso.

— Podia ter avisado, não é?

Ele pensou um pouco, arqueou as sobrancelhas, balançou a cabeça um pouco e deu de ombros. Segurei-me para não dar um sorriso olhando-o. Eu queria uma resposta, e era isso. Deveria ter expressão que o fizesse me levar a sério, mas estava quase difícil, tanto que balancei um pouco a cabeça para o lado, mordendo a unha do polegar para disfarçar e tampar a boca.

— Queria fazer uma surpresinha. — Brincou.

— Então — Era a voz de Suzannah. Por um momento esqueci que ela estava ali conosco. —, eu vou dar uma volta por aí. Podem conversar à vontade. — Ela deu um sorrisinho e acenou para ele com a cabeça. — Até alguma hora.

Ela passou por nós, e quando estava atrás dele, virou-se para mim e arqueou as sobrancelhas rapidamente com um sorriso malicioso no rosto. Revirei os olhos e ela apenas riu antes de seguir seu caminho para algum lugar do acampamento.

Ficamos então em silêncio por um bom tempo, sem um assunto para dar, e não sei porque, evitando olhar muito nos rostos e olhos do outro.

— Quer... andar por aí? — Perguntou.

Abri um sorriso e assenti.

— Sim, claro.

Ele sorriu, e eu abaixei a cabeça para que não me visse corar. O trajeto fora todo em completo silêncio, e andávamos sem um rumo certo, apenas andávamos. Eu já estava ficando apreensiva com a falta de som, mas não tinha simplesmente nada a dizer, e continuei andando.

Apenas prestei atenção em onde estava andando quando senti a textura do chão mudar abaixo de meus pés. Areia. O som das ondas penetrou em meus ouvidos e o cheiro de água salgada preencheu minhas narinas.

Paramos de andar diante da praia, e logo eu senti o medo, o pavor, a malícia, a escuridão, tudo havia voltado. Abri a boca para respirar melhor, e percebi que estava ofegante. Meus dedos tremendo. Os olhos foram se enchendo de lágrimas.

— Soube do que vai acontecer? — Perguntei com a voz trêmula e com um tipo de empolgação maníaca.

Gale virou-se para mim, novamente com aquele olhar no jeito em que eu estava. Quieto, esperando que eu falasse.

— Vão invadir. Vão entrar aqui. E ainda somos fracos demais. — As lágrimas começaram a escorrer. — Vamos perder.

Fui surpreendida por seus braços passando em volta de mim, envolvendo-me em um abraço. Sem hesitar, apoiei minha cabeça em seu peito.

— Tudo vai dar certo — falou. — Vamos treinar, melhorar as armas, e tudo dará certo. Fique calma.

Eu ainda tinha medo. Eu ainda estava chocada. Eu ainda tinha receio, e ainda chorava.

— Se eu ficasse louca... — Parei, respirando fundo. — Você fugiria?

Um silêncio se estabeleceu entre nós por alguns instantes que pareceram décadas. Podia sentir sua respiração, inspira e expira, e podia quase senti-lo pensando. Por fim, sem nem mesmo olhar, pude perceber que ele sorria.

— Não. Eu te protegeria.

Ele se afastou um pouco, olhando-me com um sorriso travesso no rosto. Abaixou-se e só então pude ver o quão perto da água estávamos.

— Nã...

Um jato d’água em meu rosto. Dei um grito, começando a rir.

— Então é assim, é? — falei juntando água com meu braço e jogando nele, que tinha pouco tempo para se levantar, e isso resultou em seu rosto todo molhado.

Um novo jato d’água em minha direção, e tudo começou a se tornar uma guerra de água até ficarmos encharcados. A “guerra” continuou até quando acabei tropeçando, e eu caí em cima dele.

Continuamos rindo, até certo momento, quando nossos olhos se encontraram. Sua mão estava ao lado esquerdo do meu rosto, passando a ponta dos dedos de leve em minha pele e em uma mecha de cabelo. Os olhos ainda focados nos meus, fazendo várias memórias se passarem em minha mente. O dia em que cheguei, encontrando-o em meio à multidão de semideuses. Assistindo ao seu treinamento com treze anos. A luta com Amber, quando nos atacava e ficamos lá, juntos. Meu aniversário de dezoito anos pouco antes de me levantar na toalha. Aquela mesma noite quando estávamos na praia, fugindo da festa.

— Gale...

— Sim. Eu sei. — Sua mão parou em meu rosto, ele levantou o corpo, até que pudesse deixar seus lábios alcançarem os meus.

Parecia que eu havia levado um choque em todo o meu corpo, principalmente no cérebro, fazendo-o derreter, e no coração, fazendo-o acelerar e passar o resto dos choques pelas veias, para todo o corpo novamente. Eu precisava dele. Nós precisávamos um do outro.

Quando nos separamos, não ousamos ir muito longe, ainda podendo sentir sua respiração em meu rosto.

— Eu te amo.

Suspirei, e abri um sorriso, tão grande e verdadeiro, de modo que nunca ocorreu antes.

— Eu também te amo.


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