As Brasileiras escrita por Felipe Chemim


Capítulo 2
A Sofrida De Salvador


Notas iniciais do capítulo

Uma história onde uma mulher acaba sendo vítima das próprias brincadeiras...
P.S: peço desculpa se ofendi alguém, SE ofendi, não foi minha intenção...



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/215638/chapter/2

Brasil... Nordeste... Bahia... Capital: Salvador. Terra de povo arretado, como a heroína de hoje, A Sofrida De Salvador (Um dia ensolarado e quente como se deve ser no Nordeste começa)
Rute(acordando e bocejando): Ahhh...
(Rute: morena.)
(ela levanta e se arruma para o café da manhã)
(ao chegar à cozinha, que não era muito grande, abre as janelas e começa a fazer o café)
(alguns garotos passam e acenam, ela acena de volta. Quem passa também é Janice, a melhor amiga de Rute. Janice tinha os cabelos claros.)
Janice: Oi mãinha...
Rute: Janice...
Janice: Vamos depois lá na feira?
Rute: Oxente! Vamos sim... Quero comprar umas verduras...
Janice: Nos vemos daqui a poco, então...
Rute: Pode dexar...
(Rute termina de tomar seu café e começa a se arrumar para o passeio com a amiga quando vê que ao lado da cama há uma carta, provavelmente jogada pela janela)
Rute sabia que quando recebia uma carta, ou vinha sacanagem, ou declaração de amor.
Rute(lendo): “Para o meu amor com todo meu amor, um bom dia, continuarei te esperando todo dia mais e mais. Admirador...”. Mãinha... Mais uma carta escrita com letras de revistas.
Rute costumava a fazer isso na infância, escrevia cartas de amor com letras de revistas, só que em nome de outra pessoa, destruindo e construindo amores e ódios.
Rute: Quem será que fica mandando isso?
Depois de pensar meio segundo, ela se lembrou que sairia com Janice, então se apressou, colocou uma saia e uma blusa florida, arrumou seu cabelo encaracolado e saiu de casa, deixando a carta na mesa.
(alguns minutos depois, na feira...)
As duas olhavam as mercadorias, Janice falava igual uma gralha e Rute parecia que estava como uma sonâmbula.
Janice: Daí não sei se faço peixe ou carne...
Rute: Carne seria bom...
Janice: E de bebida um suco ou refri...
Rute: Refri seria bom...
Janice: Ou se eu viajo para Marte ou Plutão...
Rute: Plutão seria bom...
Janice: Rutínha! Preste atenção em mim mulhé!
Rute: Que que foi Janice?
Janice: Você não presta atenção em mim!
Rute: Presto sim senhora...
Janice: E o que foi que eu disse que faria no almoço?
Rute: Éh... Arroz...
Janice: Ah!
Rute: Deixa para lá...
Janice: Mas o que foi? Cê tá tão abatida desde manhã...
Rute: É um negócio que tá acontecendo mãinha...
Janice: Mas fale!
Rute: É que tô recebendo umas cartas de amor...
Janice: E isso é ruim?
Rute: Sim! Pelo menos para mim...
Janice: Mas quer dizer que alguém te ama!
Rute: Mas eu não sei quem é!
Janice: E daí...
Rute: E daí que pode ser qualquer um! Até...
Janice: Até o que?
Rute: Nada! Vamos ver aquelas toalhas de mesa...
Tentando fugir do assunto, ela acaba disparando para a barraca, só que não sabia que do outro lado das toalhas estavam quem não deveriam...
Raquel(falando baixinho): Olha, é Rute e Janice...
Alice: Vamos ver que elas tão dizendo?
Raquel: Agora...
Elas ficam abaixadas ouvindo a conversa de Rute e Janice, como urubus procuranco carniça, só que nesse caso, eram duas mocréias procurando fofocas.
Janice: Mas quem você acha que pode ser?
Rute: Eu não sei... Talvez o Beto seja esperto e descubra alguma coisa...
Janice: Com seus três neurônios...
Rute: Ele não é tão mal...
Janice: Mas eu sei que você ia dar um palpite naquele “Até”...
Rute: Não ia não...
Janice: Eu te conheço! Fala logo!
Alice e Raquel de dedos cruzados pela fofoca, e Janice ainda atiçava...
Rute: Foi só uma ideia loca e sem sentido...
Janice: Você é sem sentido... Vai... Talvez eu possa ajudar!
Rute: Não! Você vai rir...
Janice: Faça logo criatura!
Rute: Eu achei que podia ser uma mulher, sei lá...
Janice: Que isso mãinha?!
Rute(imitando um homem): É que mulher é bom sabe...
Alice(com a mão na boca): Oxente! Então Rute é...
Raquel: Vamos espalhar!
(elas saem correndo)
Janice: Que isso mulhé?!
Rute: É brincadeira! Mas sei lá... Tem que se duvidar de todos nessas horas...
Janice: Credo mãinha... Cê me deu um susto!
Rute: Não é para tanto...
(elas começam a andar)
Rute: Olha, esse alface tá bom...
Janice: Ai vou levar!
Enquanto Janice levava o alface, Alice e Raquel levavam a fofoca, e se dependesse delas, seria para Salvador inteiro!
(no dia seguinte, onde Rute morava...)
Rute: Ô, gente, hoje o dia amanheceu tão bonito... Acho que vou dar uma volta por aí...
No caminho todos olhavam tortos para Rute...
Rute (pensando): Porquê todo mundo tá me olhando assim?
(ela continua a andar pela rua, ao passar pela casa de uma senhora amiga dela, a mulher olha de cara feia e fecha a janela)
Rute (pensando): Que estranho, o que deu nas pessoas hoje?
Uma grande amiga de Rute passa por ela junto com sua filha...
Rute:Como cê vai Lene?
Lene(falando de pressa):Bem!Mas agora não posso falar estou com  muita pressa!
(e sua filha fica olhando pra Rute...Mas Lene a puxa rapidamente)
Rute: Oxente, porquê todo mundo tá esquisito hoje?
(ela chega até o calçadão da praia pra dar uma andada)
Rute : A praia tá meio vazia...
(ela se senta num banco de madeira, curtindo a brisa vinda do mar)
Rute: Ah... Que brisa gostosa...
(ela começa a ouviu passos ao longe, pelo calçadão. Se vira e vê um grupo de jovens, mal encarados, e roupas de malandros)
Eles cochicham algo como “É ela?”, “Será que é ela?”. Rute ouviu e ficou se sentindo a rainha da cocada preta, mais seu trono não durou nem cinco minutos, quando o grupo se aproxima dela e pergunta:
Garoto 1: Você que é a Rute?
Rute(com voz um pouco tremida com medo deles): Sim... Por quê? Querem alguma coisa?
Garota 1: Você quer as garotas?
Garota 2: Ou seja, nós duas?
Rute: Não entendi...
Garoto 2(pegando um pedaço de pau jogado na areia):Vamos ver se com isso você entende... (ele começa a dar batidinhas na sua mão).
Rute percebeu que ali não era negócio de fama ou nem que ficaria famosa, a não ser que fosse no álbum de homicídios.
Rute: Acho que não sou a Rute que procuram...
Garoto 3(já com uma barra de ferro): Tanto faz...

*** (as duas garotas e os três garotos se aproximavam, prontos para acabar com ela)
Garoto 1: Vamos acabar com sua raça!
Rute(andando para trás e com medo): Raça? Somos todos iguais...
Garota 2: Nananinanão...
Garoto 3: Você é diferente...
Garoto 2:Muito diferente...
(Rute tropeça numa pedra e cai na areia, um garoto iri lhe dar um chute, se não levantasse)
Sem pensar duas vezes, Rute saiu pulando mais do que público em show de Ivete Sangalo em festival de verão em Salvador.
(ela chega em casa, sem fôlego e tranca a porta)
Ela nunca havia ficado tão feliz em chegar em casa.
(Rute liga pra Janice)
Rute:Oxi amiga!Vem pra cá agora!
Janice: Tem certeza?
Rute: Vem logo! Eu to campada! Completamente campada...
Janice:Tá bem...Chego aí em alguns minutos... Suspeito do que seja...
Rute:Suspeita é?Mas vem logo ...Té.
(Janice chega no local onde Rute mora)
Janice :O que que ouve amiga?
Rute: Não dizia que suspeitava?
Janice: Mas...
Rute: Enfim, quase levei uma surra no calçadão...
Janice: Vixe Maria! Por quê?
Rute: I eu lá sei! Só disseram que eu era diferente e quase me paularam!
Janice: Meu Deus... Deve ser pelo que tá rolando...
Rute: O que que tá rolando?
Janice: Bom... Chegou uma fofoca aos meus ouvidos que você é...
Rute: Sou?...
Janice: Que você faz tchantchantchan com mulheres... Pronto falei...
(Janice se senta na cama, enquanto Rute se levanta indignada)
Rute: Como é que é?
Rute nem Janice sabiam, mas a fofoca aumentava lá fora.
Raquel(no telefone): Isso mesmo Alice! Acabei de ver Janice entrando na casa dela... Aposto que tão no telecoteco!
Alice(no telefone): Aposto... Vou ligar para Débora!
Raquel(no telefone): E eu para Alinne!
As duas desligam-se uma da outra, mais com as outras.
Raquel: Você não vai acreditar, a Janice e a Rute...
Alice: Sim! A Raquel viu... As duas... E estavam de mão dadas!
Raquel: Derão até beijinho no rosto! Que pouca vergonha...
Toda vez que mudava de fofoqueira, ocorria um novo fato...
(na casa de Rute)
Rute: E o pior é que as pessoas estão se afastando de mim! A  Zuzu, Lia... Até o Betão! Eu liguei para ele e ele me ignorou mãinha!
Janice: Vixe, a coisa tá preta...
Rute: Preta é poko... Tá pior que preta! E a fofoca deve ter se espalhado!
Janice: Bom mãinha... Vou ter que ir indo... Fique com Deus! Tudo vai melhorar...
(ela vai saindo)
Rute: Amén...
(ela se ajoelha num altarzinho)
Rute: Nossa Senhora Contra As Fofocas... Tire esse mal da minha vida, por favor...
Depois de rezar, foi se deitar para dormir... Como se conseguisse...
(na manhã seguinte)
(o barulho do telefone toca e Janice corre atender)
Janice: Alô?
Rute(voz abatida): Oi amiga...
Janice: Vixe! Que foi mãinha?
Rute: Não preguei o olho... Fiquei com medo de alguém invadir a casa...
Janice: Vixe mãinha... Não fica assim não...
Rute: Você diz isso porque não viu o jeito daqueles marginais no calçadão...
Janice: Ô amiga...
Rute: E todo mundo continua a me ignorar...
Janice: Marquei um encontro com o Beto naquela praça...
Rute: Eu sofrendo e você se aproveitando!
Janice: Não boba! Você vai no meu lugar, assim conversam...
Rute: Boa ideia! Que horas você marcou?
Janice: A tarde, ao pôr do sol...
Rute: Brigada então...
(horas mais tarde na pracinha. Rute vê um homem sentado num banquinho de pedra)
Rute(chegando perto): Beto...
Rute não era boa nem em seu planos mais aperfeiçoados, mas deu um susto em Beto e não tinha planejado...
Beto(surpreso): Rute?
Rute: Surpreso em me ver, né?!
Beto: É que...
Rute: Você não me esperava?
Beto: É, poraí...
(ele levanta, para tentar ir embora)
Rute(um pouco triste): Ei Beto... O que foi?
Beto: É que eu fiquei sabendo do que estão dizendo sobre você... Junto com a Janice...
Rute: Epa epa epa! Que estavam falando de mim eu sei... Mas o que a Janice tem haver?
Beto: Tão falando que vocês estão... Estão juntas!
Rute: Ai... Cada vez piora... Deve ter sido aquelas duas fofoqueiras
Beto:Bom... Acho que vou indo...
Rute: Não! Espera!
Beto: É que eu tô atrasado... Aproveite com a Janice...
Rute(agarra sua mão): Não!
(ambos se olham com olhos brilhantes e apaixonados. Beto tira sua mão da mão de Rute)
Beto: Quem é você? O que é você?
Rute: Nessa altura nem sei mais...
Beto: Então vou indo até que você se descubra...
(Rute abaixou a cabeça e lágrimas ameaçaram cair de seu olhos)
*** Beto estava de costas, pensando se andava ou não, quando Rute viu que Alice e Raquel observavam de longe, boba nem nada, resolveu matar dois coelhos com uma cajadada só...
Rute: Beto! Eu sei quem eu sou!
(ela agarra seu braço e o vira)
Beto: O que?
Rute(com as mãos no rosto de Beto): Eu sei quem eu sou, sou uma pessoa que te ama...
Beto: Eu também te amava...
Rute: Vixe! Amava? No passado?
Beto: É... Depois da fofoca eu acabei me apaixonando e te esquecendo...
Rute quase chorou novamente, mais tinha que levantar seu muro do respeito e não custava arriscar.
(Rute o agarra e o beija, ele retribui o beijo)
Beto: Eu menti quando disse que não te amava mais e que te esqueci...
Rute: Eu não menti que te amava...
Na altura do campeonato, Alice e Raquel estavam de queixo caído e dentes pendurados. Óbvio que correram para suas casas e para espalhar o jornal de fofocas.
Raquel: Zuzu! Você vai cair para trás! Eu vi Rute e Beto se beijando...
Zuzu: Mas ela não era...
Raquel: Parece que não! Vai agora contar...
Alice: Alinne minha filha! Rute estava se esfregando em Beto lá na pracinha! É... Em cima do banco!
Alinne: Queria que fosse eu em cima do Beto...
Alice: Conta para as outras!
Raquel: Alô? Débora? Rute e Beto, atrás da árvore na pracinha! É! Fazendo isso mesmo...
Enquanto rolava a fofoca, Rute e Beto rolavam na cama, enquanto ele verificava a geografia de Rute.
(no dia seguinte...)
Beto(beijando-a): Bom dia...
Rute: Han... Bom dia...
(Beto se levanta e começa a se vestir)
Rute: Onde você vai? Não vai tomar café da manhã comigo?
Beto: Não... Foi bom, mas acho que não vai durar...
Rute: Oi?
Beto: Oxi... A gente era amigo... Pelo menos quero continuar a ser... Mas sei lá... A gente desenvolveu um amor por amizade, não por amor...
Rute: Acho que no fundo você tem razão...
Nossa deusa começou a ficar triste, mas lembrou-se que talvez tivesse se livrado do preconceito e das fofocas alheias... Podia ganhar a fama de piriguete, mas não apanharia...
(Rute se arruma, toma o café da manhã e resolve passear)
(ela começa a descer a rua onde morava. Passa a casa de Janice e lhe cumprimenta, também passa onde mora Zuzu, que lhe solta um sorriso e acena. Ela acena de volta e sorrie, assim faz com todos os outros)
Rute(pensando): Como o povo é preconceituoso com os “diferentes”... E fofoqueiro sendo que não sabe direito do que se trata...
(ela caminha até o calçadão, antes, passa por onde Beto trabalha, ele está concertando o carro na oficina mecânica. Também passa por um half onde estão os garotos que queriam lhe bater. Eles a vem, ficam um pouco envergonhados, mas acenam. Ela também acena e vai embora. Os garotos começam a brincar de skate. Ela se senta no mesmo banquinho onde estava e sente a brisa do mar...)
Rute(pensando): Como é bom... Tudo normal...
(à sua frente passam dos homens caminhando, de sunga, fortes, malhados. Um de óculos e moreno abaixa os óculos para lhe ver. Ele morde o lábios inferior e continua a andar, junto com o amigo não bronzeado, que antes de ir pisca para ela. Ela sorri...)
E assim Rute ficou de uma certa forma famosa... Não por homicídios, talvez por sem vergonhice... O futuro dela e de Beto ainda não está bem decidido, mas nada vai atrapalhar o que ela sabe: que vai viver feliz, talvez não para sempre, mas o quanto durar...

Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

No próximo episódio:
Linda, misteriosa e sem revelar muito de seu passado para os outros, Lúcia vivia feliz até começar a ficar... Louca?! "Não!" ela garante... Mas ver pessoas e objetos voando e quando abrir os olhos estiverem no lugar não é normal... Ou é? Essa é a história de Lúcia, "A Assombrada Do Pantanal".



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "As Brasileiras" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.