A revelação da alma está em cada palavra sussurrada pela intensidade de um olhar, pelo brilho de uma certeza, revelando tantos e tantos segredos que as palavras proferidas mentem. A exuberância emocional nos trai pelo espelho da nossa alma, do nosso ser, do errante bater do nosso coração.

A mestria de um olhar revela no corpo o magnetismo de dois corações unidos pelo amor e separados pelos erros, erros que nos transformam e nos ensinam. Aqueles que nos faz percecionar a vida de uma forma mais verdadeira e direta, conforme o nascer de cada dia. Assim se olhavam e se percebiam, assim se veneram e se adoram esses dois corações que ali, naquele momento, se revelaram.

- Desculpe, eu… - Disse a primeira coisa que passou na sua cabeça.

- Eu… - Engoliu em seco, tentando decidir o que fazer. – Eu senti a sua falta. – Concluiu por fim, Edward.

- Eu também senti falta disto, afinal eu adoro o que faço. – Disse desviando o assunto, não acreditando no sentido que o seu coração queria dar aquela simples frase.

- Bella… - Chamou tocando suavemente em seu queixo, fazendo-a olhá-lo. – Você sabe que não falo de trabalho, não do seu profissionalismo. Eu falo disto! – Disse, colocando a sua mão em seu peito.

- Edward, por favor… - Ela sussurrou demasiado desacreditada da realidade daquele momento.

- Diga olhando em meus olhos, diga que não sente o mesmo. Diga que aquilo que vivemos foi esquecido, diga e eu afasto-me. – Disse com sua voz rouca e intensa, jamais largando o olhar dela.

- Sin…to, eu… - Gaguejou, desviando do olhar dele.

- Não sei se é certo ou não, não consigo pensar direito, não consigo ser coerente! Não quero pensar no amanhã, só quero fazer o que desejo desde aquela festa. – Disse aproximando-se, pousando suavemente uma mão em sua cintura e puxando-a para si.

- Ed… - Disse perturbada com a proximidade, com aquela respiração tão desejada tão próxima.

A proximidade dos seus rostos e o encosto dos seus corpos intensificou a chama que perdurava nos seus corações. Então, sem qualquer aviso, Edward colou seus lábios aos de Bella num toque singelo, mas de grande significado. Afastando-se poucos milímetros e percebendo Bella tão entregue como ele, seus lábios voltaram a encontrar-se, agora com mais exatidão, mas ainda timidamente… descobrindo o terreno que tantas vezes percorreram e que parecia tão desconhecido, matando a saudade. Contudo, a saudade e o desejo falou mais alto, tornando o beijo tímido em algo mais forte, voraz.

As mãos de Bella cruzaram o pescoço de Edward entrelaçando os dedos nos seus cabelos, sentindo a grandiosidade daquele ato, ele suspirou em meio ao beijo. Assim como ela, quando as mãos másculas e fortes dele a prendiam pela cintura e passeavam por suas costas. Os dois estavam em extasse e nenhum deles queria quebrar aquele beijo, no entanto a necessidade humana de respirar prevaleceu. As respirações estavam alteradas, seus olhos ainda fechados e suas testas coladas, o silêncio fazia as palavras mudas parecerem claras.

Aquele era o momento perfeito dos dois depois daquilo que viveram, mas parecia que o destino conspirava contra eles, pois as luzes do grande hall foram acesas do nada e um segurança de grande porte apareceu.

- Oh! Desculpem-me, eu estava a fazer a ronda noturna e percebi movimentação aqui. Peço imensa desculpa, jamais imaginei que os senhores estariam por aqui. – Disse atrapalhado.

Durante alguns segundos, o silêncio reinou naquele ambiente, Edward não queria terminar aquela aura que acontecia segundos antes. Aquela aura que o preenchia, mas a realidade não lhe permitia e foi com um suspiro frustrado que respondeu.

- Não se preocupe, normalmente a esta hora ninguém está por aqui mesmo. Hoje foi uma exceção. – Edward disse tentando descansar o funcionário que somente cumpria o seu papel.

- Se me dão licença. – Disse retirando-se.

Somente naquele momento, os dois perceberam as mãos unidas e trocaram um breve olhar, sendo quebrado por Bella que se largou dele e rumou a sua sala, tentando fugir. No entanto, Edward agiu alcançou-a e segurando seu braço, colocou-a de frente para ele.

- Não fuja, Bella. – Pediu em tom suplicante.

- Eu… Edward… - Respirou fundo, tentando ser coerente. – Eu preciso pensar no que acabou de acontecer, eu… - Pausou numa tentativa frustrada de segurar suas lágrimas. – sonhei tanto com isto. Tudo parece irreal demais.

- Não é irreal, Bella. Nós estamos aqui, eu estou aqui. – Disse voltando a aproximar-se.

- Eu sei. – Disse tocando suavemente seu rosto com as pontas dos dedos, fazendo-o fechar os olhos. – Somente preciso de tempo, preciso pensar, digerir. Nada tem sido fácil para mim desde a sua volta, tente entender. – Suplicou, enquanto as lágrimas ainda escorriam por seu rosto pálido.

Edward não sabia o que responder, ele sentia-se no meio de um furacão. Ele sentia-se o remoinho que devasta o que na sua frente encontra, o seu coração batia acelerado e calmo a cada lembrança, a cada desejo, a cada sonho e, principalmente, a cada olhar. Os olhos chocolate que refletia o espelho da alma de sua amada era um labirinto imperceptível e tão translucido. O eixo do seu chão rodava na mesma rota que sua mente o levava e agora ali, enquanto os olhares transmitiam mais que palavras e as lagrimas corriam desnorteadas pelas bochechas coradas de sua menina/mulher.

O mesmo acontecia com Bella, ela estava mais perdida que imigrante no meio de uma cidade desconhecida, ela tentava processar todas as palavras, todos os toques, todas as sensações que Edward lhe provocou. A verdade daquele momento era cogitado pela mesma, tudo parecia aqueles sonhos que ela tinha diariamente, ela não se podia iludir. Os muros de betão que criou à sua volta estavam ruindo e isso era a sua destruição, assim tudo era um sonho que terminaria ali.

- Até amanhã. – Disse desenvincilhando-se das suas mãos e nunca o olhando.

- Tudo bem. – Murmurou em um suspiro de desânimo. – Até amanhã.

Edward permaneceu no mesmo sítio vendo Bella entrar na sua sala, pegando a mala e saindo apressada. Ela estava a fugir da realidade, ele sabia perfeitamente, mas jamais poderia culpa-la por tal ato. O que aconteceu no passado feriu-o de forma avassaladora, mas ela com toda a certeza sofreu muito mais.

***

Rose estava em casa com Emmett em um jantar romântico e delicioso, quando a campainha de sua casa toca. Os dois se entreolharam achando estranho a uma hora dessas tocarem em sua casa. Quando Rose abre a porta fica surpresa, mas alarmada vendo o rosto da amiga banhado em lágrimas, uma figura que já não vi-a há muito tempo.

- O que aconteceu Bella? – Perguntou preocupada.

- Eu não se devia ter vindo, mas não consigo ir para casa… - Disse suspirando cansada.

- Claro que devia. – Disse abraçando a amiga e guiando-a até o grande sofá.

- Bella? – Chamou Emmett. – O que aconteceu? – Perguntou alarmado.

- Emmett? Ah, eu não devia ter vindo. Desculpe-me, desculpem-me incomoda-los. – Disse levantando-se para ir embora.

- Pode parar por aí, Bella. Você não incomoda de jeito nenhum e não vai embora. Vou fazer um chá e você vai-me contar o que aconteceu para estar desse jeito. – Disse Rose olhando suplicante para Emmett.

- Eu acho que vou indo e deixar-vos à vontade. – Disse Emmett aproximando-se de Rose e dando-lhe um beijo simples nos lábios. – Liga-me depois. – Sussurrou.

- Emmett me desculpe pelo incómodo, eu não queria… - Ele aproximou-se dela abraçando-a e dando-lhe um beijo carinhoso na testa.

- Não importa amiga, eu só quero que você fique bem. Pode ser? – Ela assentiu.

- Obrigada. – Agradeceu a sua compreensão, a sua amizade.

Bella ficou sentada no sofá da sala, enquanto Rose preparava um chá na cozinha. A sua mente vagueava pelas lembranças do passado e do presente, a atitude de Edward tinha sido estranha, o que teria mudado? O que aconteceu nesse tempo que ela esteve de férias? Estas perguntas surgiam na mente dela, a deixando ainda mais confusa.

- Bella? – Chamou Rose suavemente, vendo que a amiga estava perdida em pensamentos.

- Oi?! – Disse olhando-a e percebendo a chávena de chá estendida em sua direção, pegando-a de seguida. – Obrigada.

- O que aconteceu para você estar assim? – Perguntou Rose observando cada gesto de Bella.

- O Edward me beijou… - Disse sussurrando, colocando um sorriso aberto no rosto de Rose.

- Aleluia! – Gargalhou. – Finalmente, eu pensei que nunca mais isso ia acontecer. Parece que as minhas palavras o fizeram acordar para o mundo. – Disse séria, pensando.

- As suas palavras? Como assim? Não estou entendendo. – Perguntou com a testa errogada em desconfiança.

- Quando você fugiu dele e tirou suas férias…

- Ei, eu não fugi! – Protestou.

- Não? – Sorriu. – A quem você quer convencer, a mim ou a você mesma? – Bella baixou o olhar. – Nesse tempo, eu percebi que os dois não conseguem ver um palmo à frente com o assunto é o sentem um pelo outro. Você foge e ele anda completamente perdido, sem ouvir sequer o que os outros dizem.

- Rose… o que você me está a tentar dizer? Eu não compreendo. – Disse olhando-a retoricamente.

- Na sua ausência ouve um pequeno problema que tinha que ser tratado com o aval do Edward, ele andava carrancudo e mal-humorado naquela semana e ninguém queria falar com ele. Eu tomei a frente e fui falar com ele, mas quando entrei na sala dele me surpreendi, ele estava com olheiras profundas e com o olhar desfocado. Ele estava ali a trabalhar em corpo, mas o seu pensamento e a sua alma não o acompanhavam. Eu o confrontei e ele não teve como mentir.

- O motivo? Que motivo? – Perguntou Bella, atenta à conversa.

- Você! – Suspirou. – Os sentimentos dele não mudaram, Bella. Ele é tão apaixonado por você como você por ele, mas assim como você, ele tem medo. Eu até entendo o motivo disto tudo, mas vocês têm que conversar, vocês têm que se entender. Não falo só como vossa amiga, mas como profissional. Ele tomou a iniciativa e se aproximou, a beijou e você? Eu aposto que fugiu disso que você quer, por isso o choro, a confusão, desespero.

O silêncio revelador se instalou por alguns minutos naquela sala, Rose observava Bella absorver as suas palavras como um mantra. Ela sabia que tinha sido direta e um pouco fria em suas palavras, mas ela queria que Bella abrisse os olhos e olhasse o futuro. O passado jamais deixaria de ser passado, a vida não é guiada pelo passado, mas pelo futuro. Ali residia a sua vontade, os seus desejos e por muito que fugisse, ninguém tira o sentimento que carrega no peito.

- Fugi por medo de mim, por medo dele. – Começou. – Eu não consigo esquecer a dor que me consumiu no passado, a dor que somente acalmou quando vi aquele sorriso rasgar na sua face, naquela festa. Eu tive medo ali, acho que entrei em pânico! Eu queria voltar a vê-lo, mas a sensação de querer e ver concretizar é totalmente diferente. Nas férias, eu fugi de tudo e de todos. Eu estava a começar a encarar tudo sabe, mas quando vi Jane e a intimidade que eles tinham, tudo voltou com força. Tive receio que tudo se repetisse. – Pequenas lágrimas transbordavam sua face. – Hoje tive todo o dia ansiosa por o ver e conforme as horas foram passando, eu fui ficando frustrada. Convenci-me que não seria hoje, não era para ser. Então o encontro do nada e por acaso, ele me fala tudo que eu desejava ouvir e me beija. – Parou durante alguns minutos, tentando recuperar o folego e controlo. – E voltar a senti-lo, a ama-lo pelo simples toque, por um simples beijo… isto foi algo que me superou e voltei a fugiu, com medo de o perder novamente ou de tudo não passar de um sonho. – Confessou.

- Não se prenda por algo que nenhum dos dois conseguirá mudar, Bella. Encara o sentimento que vos continua a unir como um futuro e acredite, ele depende somente de vocês. Corra atrás da sua felicidade antes que seja mesmo tarde e você se prenda para sempre naquilo que poderia ter sido e não foi! – Disse enquanto abraçava a amiga. – Seja feliz amiga, corra atrás dele.

- O que eu faria sem você, Rose? – Disse sorrindo verdadeiramente.

- Não sei não, mas se prepare porque você têm uma outra amiga que a vai azucrinar. – As duas riram.

- Alice será sempre Alice.

***

O dia amanheceu cinzento e fresco, Edward levantou-se ainda sonolento e rumou ao banheiro. A água que escorria agora pelo seu corpo levava consigo a preguiça e a sonolência, mas jamais as imagens daquele beijo. O sorriso banhou-lhe o rosto por longos minutos, ele queria-a para si novamente. Contudo, a reação dela o deixou apreensivo. Internamente a esperança e o ceticismo duelavam entre si.

Na confeitaria em frente à empresa, Edward tomava o seu pequeno-almoço quando Emmett apareceu e se sentou com ele.  

- Bom dia. – Disse Emmett alegre.

- Bom dia.

- Então você ontem decidiu agir, alelui irmão. – Edward olhou-o confuso. – Em relação a Bella, finalmente você fez alguma coisa!

- Como você sabe?

- Ela apareceu em casa da Rose completamente transtornada ontem. Saiu de lá tarde e Rose me ligou contando o porque daquela reação dela. – Explicou.

- Eu queria tanto aquilo que não pensei muito, só reagi. Aqueles poucos minutos foram como se nada se tivesse passado, como se estivéssemos bem e felizes. No entanto, ela acabou por fugir novamente e agora você diz que ela estava transtornada. – Disse com a voz sofrida.

- Ela precisava entender, digerir o que aconteceu. Acredita que ela corresponde ao que sentes, mas o medo falou mais alto. Dá tempo ao tempo. – Disse confiante.

- Sabe de alguma coisa que eu não sei? – Interrogou desconfiado com a alegria empregada nas palavras do amigo.

- Eu não, vamos é trabalhar. Até mais tarde.

Os dois pagaram e seguiram para os seus trabalhos. Edward subia no elevador pensando nas palavras de Emmett, aquilo tinha sido estranho. Deu bom dia à rececionista e entrou na sua sala, seguindo para sua secretária. Somente quando estava de frente para ela é que a viu, prostrada no seu sofá a observá-lo.