POV’s Neji

Ser ANBU não é fácil, mas é algo de que eu me orgulho muito, deste modo mostro meu valor para aqueles insuportáveis shinobis da Souke que, mesmo sabendo dos meus talentos e habilidades, me olham com desprezo, apenas por eu não fazer parte da família principal. Depois da batalha que tive com o Uzumaki no Chuunin Shiken não valorizo tanto estas tradições impostas a mim, aprendi com aquele cabeça-oca que nós fazemos nosso destino, que o temos em nossas mãos e que não devemos deixar que nada ou ninguém nos impeça de alcançar os nossos sonhos e aspirações. E eu sei que não fui o único que aprendeu com aquele hiperativo que se tornou Hokage. Havia mais uma pessoa que usou seu exemplo para melhorar e se tornar mais forte...

Ela...

Eu a odiava por ser da Souke e por eu não ser também. A odiava com todas as minhas forças, já que odiar o pai dela não adiantava nada, ele era mais forte e eu pequeno. A odiava porque ela era tão frágil e indefesa, e mesmo assim todos tinham que respeitá-la por pertencer à família principal, enquanto eu, que era um “gênio”, por assim dizer, tinha que agüentar as piadinhas dos pirralhos da Souke por causa do selo em minha testa. A odiava simplesmente por ela ter a vida que eu queria, um pai, uma mãe, uma irmã... E eu era o sozinho, que teve que se tornar forte para se fazer respeitar.

Mas depois da minha experiência com o Uzumaki, comecei a olhá-la de outra forma. Percebi afinal que ela também sofria como eu, embora por outros motivos, e tinha suas próprias batalhas para travar. Ela era tão vítima de nosso clã quanto eu, mas não culpava ninguém por seus infortúnios. Admirei sua força de vontade, sua gentileza para os mais fracos e desprivilegiados, sua determinação em ser cada vez mais digna de sua posição no clã, e aos poucos me senti na obrigação de defender e proteger um ser tão bondoso da maldade alheia...

Foi meu pior erro, pois, aos poucos, fiquei preso numa teia de sentimentos antes desconhecidos para mim. E o que antes eu fazia por admirar sua coragem, eu comecei a fazer apenas pelo prazer de vê-la sorrir, mesmo sabendo que o coração dela... Já tinha um dono há muito tempo...

Sim, ele mesmo. O Rokudaime de Konoha, mais conhecido como Uzumaki Naruto.

Que ela o amava, isto era um fato confirmado há muito tempo, desde a academia ninja que eu percebia os olhares sonhadores dela dirigidos para aquele ser atrapalhado. Ele tinha crescido, se tornado sábio e inteligente, governava bem a vila e eu não nutria nenhum rancor contra ele, embora eu sempre me perguntasse como ele não percebia os sentimentos dela, eram tão óbvios quanto esperar que o falecido Copy Ninja chegasse no horário certo para qualquer coisa.

Para mim não havia esperança, então tratei de me conformar em ser apenas o guarda-costas e em certos momentos confidente desta. Agradava-me estar perto de Hinata, ela era agradável e gentil, além de inteligente, e eu torcia com todas as minhas forças para que ela fosse logo declarada a nova líder dos Hyuugas, ela merecia depois de todo o esforço nestes anos.

Cheguei a comentar com Hiashi sobre isso uma vez, durante um dos treinos dela numa manhã de sol. Ele me olhou meio estranho por alguns momentos, analisou o desempenho da filha e depois de muito pensar concordou comigo com um leve balançar de cabeça, virando em seguida para olhá-la mais uma vez. Percebi, no entanto, que mesmo com toda a seriedade do patriarca do clã havia um brilho de orgulho em seu olhar. Ele começava a valorizar a filha que tinha, e não demorou muito para ele indicá-la para o seu cargo no futuro.

Neste dia eu me senti o mais feliz dos mortais, pois ela veio correndo me contar, lançando-se aos meus braços de uma forma tão linda que eu quase não consegui me conter.

- Neji-nii-san!!! Você não vai acreditar!!! Meu otou-san me indicou para ser a nova líder do clã!!!

Ela estava por demais emocionada, me abraçando de um jeito tão carinhoso que não consegui manter minha máscara de frieza e seriedade, tudo o que consegui fazer foi abraçá-la em resposta e acariciar seus longos cabelos azulados.

- Você merece, Hinata-sama... Sei que será a melhor líder que os Hyuugas já tiveram...

Nisso, ela se virou para mim e me presenteou mais uma vez com um daqueles sorrisos tão cálidos e belos, mirando os orbes perolados diretamente para o fundo dos meus próprios e depositou um suave beijo em minha bochecha. Por um segundo fui ao céu e voltei, a tempo suficiente de vê-la desaparecer rapidamente, não antes de ouvi-la mais uma vez:

- Arigatô, Neji-nii-san...

Saí dali com esperança, como se tivesse ganhado um presente dos deuses, talvez eu estivesse sendo um idiota completo ao esconder tão bem aqueles sentimentos todos. Mas foi só percorrer algumas ruas que eu me deparei com uma das piores cenas que eu já havia presenciado com estes olhos abençoados com o Byakugan: ela estava ao lado dele, sim, ao lado do Naruto, bem em frente ao Ichikaru Lamen, com o mesmo sorriso de antes, acrescentado daquele brilho especial nos orbes perolados que ela só tinha quando estava perto dele. Estava animada, nem parecia aquela garota tímida de sempre, e ele parecia estar tão feliz quanto ela, gesticulando e gritando alto aquele clássico “Dattebayo!” que era marca registrada dele, mesmo depois de tanto tempo.

- Neji-taichou, graças a Kami-sama que te encontrei. Shikamaru-san quer falar com você. É urgente. – Um ANBU com máscara de Tatsu apareceu bem a minha frente, tampando minha visão dos dois pombinhos. Melhor assim, uma missão agora cairá muito bem, preciso estancar esta ferida aberta no meu peito. Realmente, para um ‘gênio’, eu não sou nada esperto...

- Hai... Estou indo...

E o segui, dando as costas para o mal que me corroia como um ácido feroz. Deixei a vila por algumas semanas, numa missão especial no País da Terra, mas nada me fazia esquecer dos olhos alegres dela, do seu sorriso sincero e suave... Era quase uma tortura, mas eu não podia deixar que isso afetasse meu desempenho como capitão. Preenchi meus pensamentos o melhor que pude e fiz o que tinha que fazer, abafando o que se passava dentro de mim. Sempre escondi bem o que eu realmente sentia, desde a infância, e isso nunca me matou. Bom, pelo menos, até agora.

Depois de alguns dias em missão recuperei os pergaminhos roubados e encaminhei os ninjas ladrões para o Ibiki-san fazer a sua ‘mágica’ e descobrir o mandante deles. Eu ainda estava na sala de interrogatório quando senti a terra tremer e ouvi as explosões do lado de fora. Chamei alguns dos meus companheiros de esquadrão e fomos descobrir o que estava havendo.

O som que vinha ao longe parecia ser o da Kyuubi, então ativei meu kekkei genkai, visualizando o que acontecia no outro lado da vila. Para meu horror, eu vi Naruto tomado pelo chacka demoníaco, destruindo tudo a sua volta. Num momento, porém, percebi outra pessoa se aproximando e imediatamente reconheci Hinata em meio aquela destruição toda, abraçando-o e tentando domar a fera no interior do Uzumaki. Depois, tudo foi muito rápido. Senti a força da raposa diminuindo rapidamente, o corpo dele pender ao solo, sendo amparado por ela, que pouco depois também desmaiou.

Meu desespero foi maior que minha razão, e não me importando com os demais que me seguiam corri com todas as minhas forças, pedindo a Kami que não fosse o que eu achava que era. Quando me aproximei a vi mais uma vez ao lado dele, desmaiada sobre o corpo inerte e já sem vida do Rokudaime. Ajoelhei-me ao seu lado, rogando aos deuses para que ela estivesse bem.

Tomei-a em meus braços, chamando os demais para verificarem o estado de Naruto enquanto eu buscava sentir a pulsação da razão da minha vida. Sim, por um momento eu não conseguia respirar, tão preocupado fiquei, nada mais me importava a não ser a segurança e o bem estar de Hinata. Só pude ficar tranqüilo ao sentir os fracos batimentos dela e sua respiração irregular, mas mesmo assim fiquei assombrado com a extensão dos ferimentos que ela exibia nos braços, concluí que deviam ter sido causadas pela Kyuubi descontrolada. Amaldiçoei internamente aquela fera que fora capaz de ferir a alma mais pura e generosa de Konoha.

Senti a morte de Naruto também, mas o estado dela não me permitiu verificar pessoalmente e lamentar a perda deste. Outra hora eu rezaria por sua alma e faria as homenagens devidas.

Não havia tempo a perder. Dei rápidas instruções para os ANBU’s que estavam comigo para que levassem o corpo do Hokage para o prédio principal e para que chamassem tanto os medinins responsáveis quanto a antiga Godaime. Pedi também para que chamassem a Haruno para o distrito Hyuuga, pois tinha uma missão especial para ela. Já quanto a mim, eu tinha um destino diferente. E num sunshin, eu desapareci da vista de meus companheiros, com aquela preciosidade nos braços e o meu coração na mão.

Ao avistar Hiashi, eu percebi: tanta seriedade e aparente falta de carinho para com a filha mais velha não era nada mais que uma velha e manjada máscara. Num minuto ordenou que as medinins do clã viessem imediatamente para atendê-la. Nosso clã é cheio de segredos, e um deles é que somos especialistas não só na arte de guerrear, mas também temos os melhores e mais eficientes remédios, que curam desde um simples corte no dedo até mesmo os maiores ferimentos de batalha. Bom, pelo menos, até agora.

Sakura-san não tardou a vir e também a examinou. Concluiu que os ferimentos eram graves e necessitariam de tempo para se curarem. Sua maior preocupação, ela me disse, era a alta febre que Hinata estava tendo, ela poderia ser fatal se não fosse detida nas próximas horas. Resolvi me oferecer para cuidar dela, afinal eu não conseguiria dormir sabendo que ela ainda corria perigo de vida, e a Haruno me explicou o que era necessário fazer para normalizar a temperatura. Pediu desculpas por não ficar e ajudar, mas havia muitos outros pacientes feridos no hospital, todos por causa do “ataque”, como a Godaime achou melhor explicar para os habitantes da vila o que havia acontecido. Um ataque inimigo, e não o descontrole do monstro que havia dentro de seu líder. Concordei com a decisão dela, alartear a verdade não era a melhor solução naquele caso, haveria pânico e descrença entre a massa, e todos perderiam com isso.

Assim, fiquei cuidando de Hinata. Aos poucos a febre cedeu e pude então perceber a pele pálida se tingir novamente daquele rosado claro natural de suas faces. Fiquei velando seu sono durante toda noite e também parte da manhã, quando Hanabi me substituiu na minha vigília, já que eu precisava reportar algumas coisas para Shikamaru-san. Agora ele era o chefe da ANBU e principal líder de estratégia da vila, um cargo de honra que fora lhe dado com muita propriedade pelo antigo Hokage, e havia muitas coisas da missão que eu precisava deixá-lo a par. Deixei minha flor aos cuidados da irmã desta e saí do quarto, ainda relembrando os momentos que a tivera em meus braços.

Seu perfume delicado e suave de lavanda ainda estava impregnado em meu kimono, e eu quase conseguia sentir seu corpo leve em meus braços mais uma vez. Eu ia do céu ao inferno em menos de um segundo ao pensar em tudo o que havia acontecido, e eu sabia que não seria justo demonstrar meus reais sentimentos por agora, o baque que ela havia sofrido havia sido muito intenso e sofrido. Mas como eu queria poder consolá-la, cuidar dela, limpar toda dor que devia estar corroendo seu íntimo... Resolvi ser, mais uma vez, apenas o primo guardião e protetor, ainda que o meu eu interior me mandasse tomá-la em meus braços e esquecer tudo o resto. Não, eu precisava manter meu controle, ela necessitava de meu apoio e conforto, mais do que nunca.

Tomei a direção do prédio principal da vila, buscando esquecer, pelo menos por hora, a paixão que ardia em meu peito, enquanto me ocupava com os detalhes da missão já cumprida.

Continua na Próxima Parte...

(Agora, só Sexta-Feira, quando vou viajar um pouquinho, hehe... Até lá!)