- Onegai, se afastem!

O jovem Hokage corria pelas ruas de Konoha, contorcendo-se, num misto de terror e confusão, os olhos tomados pela fúria da besta que rugia em seu interior, querendo tomar o corpo de seu recipiente. Por momentos caía ao chão, exausto, tentando em vão lutar contra o monstro selado dentro de si, mas a força deste era milhares de vezes maior do que o seu, além de seus limites e forças. Depois de tantos anos, o sinal do selo parecia falsear, a prisão da Kyuubi parecia enfraquecer numa velocidade impressionante, impossível de conter. Em seu esforço sobre-humano ele tentava, a duras penas, sair da vila que amava para não piorar a situação em que se encontrava.

O chacka demoníaco aumentava de tamanho, tornando-se uma grande bola avermelhada em torno do corpo de Naruto, enquanto raios deste eram atirados para todos os lados, acertando pessoas e residências, misturando assim estilhaços de pedras e corpos num mesmo golpe. A terra temia violentamente com a demonstração de poder que a raposa fazia ao tentar se libertar daquele jugo de tantos anos imposta pelo falecido Yondaime, ela urrava cada vez mais alto dentro do loiro, forçando ainda mais o selo parcialmente quebrado.

O Uzumaki tentou se concentrar apesar da dor, tinha que fazer algo ou todos na vila sofreriam por sua causa, teria que ser mais forte do que nunca. Pensou em chamar alguém que pudesse selá-lo de novo, que refizesse a barreira contra a fera e a colocasse novamente em seu devido lugar, mas sabia que essa era uma possibilidade remota, já que grande parte dos shinobis mais experientes haviam perecido anos atrás, na luta contra Pein e a Akatsuki.

Até mesmo a Godaime perdera parte daquela habilidade natural dela, e agora mais aconselhava do que lutava, então não haveria ajuda no seu caso. Mas aquela dor provocada pela Kyuubi era bem menor que a que queimava seu peito, as lembranças doloridas ardiam como brasas incandescentes sobre a pele, o medo de causar dor a outros era evidente em sua face e ações.

“Praticamente todos os que eu amava se foram...

Não conheci meus pais...

Perdi o Oji-san naquela batalha dele contra o desgraçado do Orochimaru...

Meu melhor amigo abandonou a vila em busca de vingança...

Meus mais queridos senseis foram arrancados de mim por aquele Pein maldito...

E agora, tudo o que me restou foi um sentimento escondido...

Um doce segredo que nunca tive coragem de revelar...

E que me motivou mesmo sem eu o saber...”

Seu amor por Konoha era mais forte que o do Biju de Nove Caudas, isso ele tinha certeza absoluta. Um raio perpassou pela mente do Rokudaime, uma idéia de formou naquela cabeça antes tão oca e ele de repente já sabia o que fazer...

oOoOoOoOo

Noutro canto da cidade, Hinata desde cedo estivera treinando junto com seu time, ela logo deixaria de fazer parte deste e não queria perder um segundo sequer da companhia dos amigos. Estava mais animada que o normal, tivera um sonho extremamente bom e acordara renovada naquela manhã. Sentia que aquele seria um dia especial, inesquecível. E realmente seria, mas não como ela planejara.

- Hinata, hoje você está muito melhor que o normal, mais concentrada, mais ágil. Parabéns!

Kurenai estava orgulhosa do desenvolvimento de sua aluna, sentia-se recompensada pelos longos e cansativos dias de treino extras que gastara motivando e treinando com a Hyuuga, seu sucesso lhe fazia bem e lhe trazia uma paz infinita, além do sentimento de dever cumprido.

- Arigatô, sensei...

Hinata realmente se tornara uma kunoichi de valor, e embora suas faces ainda se tingissem de escarlate ao ouvir o elogio da mestra, sua voz saiu firme, sem o gaguejar costumeiro, alegre por estar realizando um de seus sonhos: ser melhor a cada dia.

- Hum, Hinata, antes que você nos abandone definitivamente eu tenho que fazer aquela proposta de novo...

O domador de cães tomou sem licença a mão da jovem de olhos perolados, que desta vez sorriu, já sabendo do que se tratava. Depositou um cálido beijo sobre a bochecha do amigo, que pela primeira vez na vida ficou rubro, tal qual ela ficaria em outras situações.

- Arigatô, Kiba-kun... Mas você sabe bem que não posso aceitar...

- Deixe de incomodar a Hinata-chan com estas bobagens, Kiba. Você, melhor que ninguém, sabe que ela não pode te corresponder...

Embora quase sempre ficasse quieto, Shino costumava ser bem direto e realista em tudo o que falava. Seu olhar observador conhecia bem a amiga e seus sentimentos, e por diversas vezes tinha criticado o Inuzuka por sua insistência em querer namorar a companheira de time. Era óbvio o amor que a Hyuuga sentia pelo novo líder de Konoha, assim como era óbvio o aparente desconhecimento disso por parte deste, e não havia motivos para forçar a menina a sofrer ainda mais, com um pedido absurdo do colega.

- Não enche, Shino.

Rosnou Kiba, encarando por um momento o shinobi dos insetos. Odiava a verdade, aquela verdade tão dolorida que o separava da moça de olhos perolados, mas não havia como negar os fatos. Beijou a mão da amiga, enquanto piscava maroto, tentando disfarçar sua tristeza num sorriso amarelo.

- Estarei sempre aqui, Hinata, para o que precisar.

Deu uma ênfase especial a esta frase, piscando para ela, que involuntariamente ficou com as faces em chamas. Amava muito o amigo, e queria que este fosse feliz, mas seu coração já era de outro naquele momento, o que lhe trazia uma certa dor ao saber que o amigo sofria mesmo sem demonstrar. Tentando aliviar um pouco o ambiente, Kurenai chamou os três para revelar a surpresa tão aguardada.

- Queridos, olhem só quem eu trouxe para visitar vocês...

Ela carregava no colo um garotinho de quase dois anos de idade, grande e robusto, com belas bochechas rosadas e olhos negros brilhantes.

- Hina, Hina... – A criança desceu do colo da mãe numa velocidade impressionante, abraçando as pernas da kunoichi de olhos perolados, enquanto a encarava com um belo sorriso no rosto. Hinata também sorriu, e estendeu os braços para pegá-lo no colo.

- Mas o Itooshi já está deste tamanho? Cara, eu estou ficando velho...

Kiba passou a mão na cabeça, não acreditando que já se passara tanto tempo desde a morte de Asuma e do posterior nascimento do fruto do amor dos dois senseis. O shinobi de óculos pôs a mão em seu ombro, dando leves batidas nas costas do amigo.

- Todos nós estamos, meu amigo. Os anos passam rapidamente, não vê... Nossa Hinata será em poucos dias líder de seu clã, eu talvez me torne também do meu e você... Você correrá pelas ruas como sempre fez, ignorando os momentos preciosos que perde nessa vida...

O Inuzuka fez que não ouviu, ignorando por completo o colega de time. Enquanto os dois continuavam com aquela briga silenciosa, a herdeira Hyuuga se divertia ao ver o pequeno filho de Kurenai brincar com seus longos cabelos, imaginando como seria se ela mesma se tornasse mãe. Seus sonhos de menina eram muitos, mas nenhum deles ultrapassava o de conquistar certo shinobi de olhos azulados...

De repente, um grande estrondo se ouve vindo do outro lado da vila, acompanhando de um sério tremor de terra, rachando o chão em duas partes, abrindo um abismo no meio da rua em que estavam. Mais que depressa, o time 8 da vila da Folha Oculta saltou para um lugar mais seguro, tomando o cuidado necessário para não cair num dos diversos buracos que se formaram com o terremoto. Itooshi começou a chorar, para desespero de Hinata.

- O quê, por Kami-sama, foi isso?

- Hinata, onegai, verifique o que está acontecendo do outro lado da vila. – Kurenai pediu enquanto pegava o filho de volta e tentava, em vão, acalmá-lo.

-Hai! – Hinata fechou os olhos, juntou as mãos fazendo os sinais necessários para concentrar seu chacka mais rápido, abrindo os orbes perolados logo após, mostrando seu kekkei genkai ativado. Sua visão foi passando rápido pelas ruas de Konoha até encontrar uma cena que lhe tirou os sentidos por alguns instantes, fazendo-a desmaiar e cair ao chão, sendo amparada por Shino num reflexo.

- Hinata-chan, onegai, diga alguma coisa!

A menina abriu lentamente os olhos, percebendo onde estava, nos braços do amigo. Tentou levantar-se, mas a tontura que a tomava era muito grande e não conseguiu ficar de pé. Amparou-se nos braços dos companheiros de time, ainda fraca pelo que vira.

- Então, Hinata, o que você descobriu? Estamos sendo atacados? – Kiba já estralava os dedos, prevendo as batalhas, que tanto estavam fazendo falta para seu espírito selvagem.

- Iie... – Ela respirou fundo, tentando coordenar os pensamentos. – O problema é outro Kiba, bem pior... Um de nossos amigos está lutando... Consigo mesmo...

E nisso, reunindo o resto de suas forças, sumiu num shinshin, deixando os companheiros sem nada entender.

“Naruto-kun está em perigo... Preciso ajudá-lo...”

Fim da Segunda Parte do Primeiro Capítulo