Harry levantou-se rapidamente e ficou encarando Snape que ainda permanecia parado ao lado da janela, algo estranho passava no rosto de Snape, uma sombra diferente de tudo que Harry já vira nesses anos que estudou com o mestre de poções. Algo que não combinava com ele.

            - Eu não quero conversar com você – Disse Harry entre os dentes.

            - Essa não é uma questão de querer ou não, é questão de precisar.

            O grifinório sabia que não poderia fugir, uma hora ou outra Snape o obrigaria a ter essa conversa, teria que ouvir o que o professor tinha para falar, caso contrário Dumbledore acabaria interferindo como sempre fazia.

            - Então fale logo.

            Snape respirou fundo para agüentar a grosseria do menino, sabia que Harry não seria receptivo com aquela descoberta, nem mesmo ele acreditava ainda e era difícil entender o por que foi até o quarto do menino já que poderia falar com ele no dia seguinte. Muitas coisas confundiam a cabeça de Snape e brigar com Harry no momento não era uma coisa boa de se fazer.

            - O senhor sabe que essa noticia é nova tanto para o senhor quanto para mim – Começou – Então diante das circunstâncias, teremos que nos acostumar com a presença um do outro. Pelas regras da ética eu não serei mais seu professor de poções, o senhor terá aulas particulares com o professor Flitwik

            - Algo mais? – Perguntou Harry ferinamente incomodando-se mais pelo fato de Snape estar falando civilizadamente com ele do que com o que ele estava dizendo.

            - Sim – Respondeu Snape colhendo toda a paciência que podia para continuar a falar e não sair daquele quarto – Nas férias o senhor ficará em minha mansão.

            - Mas eu tenho uma casa.

            - Tinha. Black não é mais seu padrinho. O pai é quem escolhe o padrinho, sendo assim Black já não é mais o seu, aquela casa não é sua. É claro que o senhor pode querer passar as férias na casa de seus tios, eles são seus parentes por parte de mãe, então é de sua escolha...

            - Eu quero – Disse Harry sem nem ao menos prestar atenção ao que estava desejando para si mesmo.

            - Se assim deseja.

            Snape saiu do quarto deixando Harry com mais raiva ainda. Por que Snape estava agindo daquela forma com ele? Harry esperava que o professor o maltratasse, o ignorasse ou até mesmo agisse como um pai que não deseja o filho. Mas Snape estava agindo como quem não sabe como agir, não era o Snape que conhecia, era outra pessoa, era um homem vulnerável, estranho.

            Harry sentou-se na cama e ficou pensando em cada palavra que Snape tinha dito e a primeira coisa que veio em sua mente era Sirius. Ele não era mais seu padrinho, mesmo que ainda o chamasse assim, ele não era nada mais que um amigo, uma pessoa que considerava demais. Já era tarde quando Harry deitou-se novamente e pegou no sono.

            O dia da chegada dos alunos demorou para passar. Harry permaneceu em seu quarto tentando evitar encontrar o mestre de poções, por mais que soubesse que teria que vê-lo uma hora, iria encontrá-lo pelos corredores do castelo, ou até mesmo falar com ele em algum momento.

            Rony e Hermione foram ao dormitório ver o amigo, pois não o encontraram no grande salão esperando pelo banquete. O encontraram vestido em sua cama. Não se mexia e não respondeu quando os amigos o chamaram. Hermione aproximou-se e se ajoelhou em sua frente o fazendo olhar para ela.

            - O que houve Harry?

            Harry demorou um pouco para conseguir falar, mas finalmente, quando sua voz saiu, ele pôde contar tudo a alguém, contar como estava se sentindo diante da noticia sem que dissessem a ele que ele tinha que se acostumar com isso, como todos os professores disseram.

            - E ontem ele me informou que não terei mais aula com ele.

            - Isso é lógico – Disse Hermione sentada ao lado do amigo.

            - Como assim?

            - O feitiço que foi feito é um feitiço muito poderoso, ele não apenas mostrou quem é seu pai, ele os ligou de uma forma única. Snape não pode lhe dar aulas, pois não pode lhe dar uma bronca a não ser que seja totalmente necessário.

            - E daí, era só não me dar a bronca quando eu não fizer nada.

            - Exatamente. Todos pensariam que ele estava facilitando para você, fazendo com que você tire boas notas. Ele sempre foi injusto com você e se depois que souberem que ele é seu pai ele começar a te tratar diferente, isso pode dar uma grande confusão.

            - Seria grandioso – Disse Rony – Pensa só, Harry não perderia mais pontos.

            - É, seria, mas outro fato importante que Snape não lhe disse Harry, é que agora ele sente necessidade de ficar perto de você, vê-lo, protegê-lo, por isso ele ficou estranho quando estava aqui com você, era essa necessidade começando a crescer nele.

            - Aquele urubu quer ficar perto do Harry? – Perguntou Rony – Urgh

            - Rony, o professor Snape é o pai de Harry, dê-lhe um pouco de respeito.

            - Mas ele tem razão Hermione – Disse Harry – Se esse feitiço faz isso mesmo, ele vai ficar atrás de mim o tempo todo.

            - Entenda Harry, Snape não fará isso por que quer, é uma ligação que ele não controla.

            - Como você sabe de tudo isso?

            - Pelo amor de Deus Harry, estamos falando da Hermione – Disse Rony – Com certeza ela viu isso em algum livro da área reservada da biblioteca.

            - Exatamente e para você ver que não estou mentindo eu quero que me diga, com sinceridade, como está se sentindo no momento.

            - Não sei, acho que triste e com raiva, mas é estranho, pois não sei exatamente a razão.

            - Eu sei, primeiro você está assim por que está mesmo sentindo tudo isso, e segundo por que Snape está triste. Você não consegue ver essa diferença entre o seu sentimento e o dele, mas Snape consegue saber tudo que você sente, ele é mais experiente e um bruxo muito desenvolvido, ele sabe separar essas coisas e se você está com raiva, ele também sente sua raiva, se você está triste ele sente a sua tristeza e a dele em níveis diferentes, mas ele sabe diferenciar as duas.

-         Nossa, que complicado – Comentou Rony

-         É complicado mesmo, é um feitiço muito antigo e esses efeitos que você está sentindo só passam quando ambos estiverem em harmonia como pai e filho devem ficar. Para você ter uma noção de quão poderoso esse feitiço é, às vezes esses sentimentos podem doer fisicamente nele e se você se machucar ele vai poder sentir também.

            Harry baixou a cabeça por um momento tentando arquivar tudo que amiga falou. Era difícil não acreditar em Hermione, era a aluna mais inteligente da escola, a primeira em todas as matérias. Mas o mais difícil era saber o significado de cada palavra. Se era verdade, Snape estava sofrendo também, pois sentia dentro de si que toda aquela tristeza não era somente sua, era dele também.

            - Ele deve estar triste mesmo, triste de me ter como filho dele, triste de saber que está ligado comigo.

            - Harry, não é assim.

            - Como não é assim? Hermione, Snape me odiou por muitos anos.

            - Não diga o que não sabe Harry. Você já julgou muitas pessoas esses últimos anos e se arrependeu amargamente, não fale o que não pode saber. Você jamais esteve no corpo de Snape para saber o que há com ele para agir assim, e se não me falta a memória, você o inocentou com aquelas lembranças, você viu tudo que se passou com ele. Então não seja tão hipócrita assim.

            Harry se manteve em silêncio e Rony continuava deitado na cama brincando com o pomo de ouro do amigo. Hermione acariciou seu rosto e pediu desculpas.

            - Vamos para a festa, estão esperando por nós.

            Desceram juntos para o grande salão. Harry permaneceu em silêncio, esse já havia se tornado seu grande amigo, e só abriu a boca para falar novamente quando estava entrando para o banquete. Sua cabeça chegou a doer com o barulho das palmas dos muitos alunos que gritavam e batiam palmas para os três. Depois de muito cumprimentar os amigos de escola os três conseguiram sentar e foi então que Harry olhou para ele.

            Estava sentado em sua cadeira de sempre ao lado do diretor. Nada falava e nem ao menos tocava em sua comida. Parecia mais magro e suas olheiras estavam proeminentes. Como não vira aquilo em seu dormitório? Parecia sofrido, doente. Os olhos negros pareciam presos nos seus verdes. Mas não estavam ameaçadores como sempre, estavam vazios, assim como Harry começou a se sentir.

            - Você viu que legal? – Perguntou Rony quando o amigo se sentou – O seu pôster no alto

            Somente quando o amigo apontou que Harry viu uma grande foto sua acima da cabeça do diretor.

            - Por que meu nome está apenas como Harry? – Estranhou o menino já que seu titulo era sempre Harry Potter, o menino que sobreviveu.

            - Lupin me disse quando entrei no salão que seu nome mudou para Harry Thiago Snape, mas o professor Snape disse que era para chamá-lo de Harry Potter. Era assim que você gostava de ser chamado, então era assim que deveria ser o seu nome, mas à regras no ministério que não podem ser quebrada, um bruxo não pode usar o sobrenome de outro se não estiver ligado à sua família, então Snape pediu para deixar apenas como Harry

            Harry sentiu um bolo em sua garganta quando olhou novamente para o professor que continuava com os olhos vazios petrificados nele.

            Durante todo o banquete Snape não tocou em sua comida, não falou quando era chamado e não se moveu.

            - Ele está realmente me irritando – Disse Harry

            - Dá um tempo para ele Harry.

            - Dá um tempo para o Harry também Hermione, sendo pai ou não, Snape é irritante.

            Hermione ficou no salão aproveitando a festa e os meninos subiram conversando sobre as férias curtas que tiveram. Muito depois Hermione subiu para seu dormitório esperando encontrá-los acordados, mas os dois já roncavam em suas devidas camas.