POV Emily

Eu e Nico estavamos sentados, abraçados na cabine do trem, e Jake e Agatha estavam a nossa frente. Jake finalmente tinha voltado a sua cor normal, e junto com isso, voltou a ser o cara ameaçador que era. (Sinta a ironia nesta ultima parte.) Ele apenas ficava batendo os pés no chão com os olhos vidrados na paisagem que escorria pelo lado de fora.

 - No que ele esta pensando? – Sussurrei curiosa para Agatha que estava deitada no colo dele.

 - Em várias maneiras de matar o André. – Ela respondeu normalmente.

 Jake saiu de seu transe e encarou Agatha.

 - Você vai me julgar por isso? – Perguntou.

 - Não. Estou pensando a mesma coisa em relação a minha mãe. Alguém quer ir comigo até o Palácio do vovô? – Ela sorriu sonhadora.

 Nico bufou.

 - Jura que você mantem essa ideia maluca de pé?

 - Jura que você também não tem vontade de fazer isso com seu pai? Sei que compartilha desse meu ódio paternal, Nico. Não adianta mentir. – Minha irmã falou rindo.

 Me afastei de Nico e o encarei.

 - Por que ela disse isso? – Perguntei gentilmente.

 - Sabe que eu não faço ideia. – Nico respondeu olhando acusadoramente para Agatha.

 Minha irmã não se importou com o olhar malado de Nico.

 - Some dois mais dois, Emily! – Agatha se sentou, irritada com minha lerdeza.

 - Não sei nem do que esta falando, Agatha! – Revidei estressada.

 - Você puxou a lerdeza do papai. Podia concorrer até com o Percy em “Semideus Mais Lerdo Do Acampamento”.

 - Para de ser malvada com ela! – Jake mandou com cara fechada.

 Agatha parecia feliz demais para se importar.

 - O que posso fazer se estou de bom humor?

 - Você esta é possuída! – Eu disse de cara amarrada.

 Agatha me encarou com um sorriso sincero nos lábios e eu não aguentei e comecei a rir. Claro, ela me acompanhou.

  - Não entendi. – Nico falou.

 - Isso me lembrou uma vez em que Emily fingiu estar possuída. – O rosto de Agatha se fechou. – Eu percebi que era brincadeira dois segundos depois, mas foi um susto tão grande que quebrei o vaso não sei o que do papai e ele me deixou de castigo por duas semanas.

  - Era um vaso persa, Agatha. – Suspirei.

 - Não me interesso por isso.

 - Nossa, que novidade!

  Agatha bufou e voltou a se deitar. Nico me abraçou de lado e eu coloquei a cabeça em seu peito, escutando seu coração bater. Era tão bom ficar em seus braços novamente. Era completamente perfeito. Eu me sentia exageradamente protegida, segura, amada…

 - Estou com saudades dele. – Agatha me tirou de meus devaneios.

 Eu demorei a perceber de quem ela falava. Até que finalmente a ficha caiu e eu comecei a ter aquele sentimento irritante dentro de mim.

 - Bem, daqui a uma semana iremos vê-lo, não é? Eu também estou com saudades.

 Por um momento ficamos em silencio. Reparei numa troca de olhares confusa entre Jake e Nico, mas não comentei nada. Só percebi o porquê disso minutos depois: daqui a uma semana estaríamos em casa. Eu e Agatha estaríamos na nossa casa. Resolvi não abrir a boca. Apenas deixar acontecer.

 Jake começou a contar sobre sua aventura e parecia até um filho de Hermes de tanta piada sem graça que fazia. Nico não parava de rir e Agatha acabou dormindo durante o resto da viagem. E naquele clima feliz nós chegamos a Nova York.

 Bem, aquele clima feliz não durou dois segundos após nossos pés tocarem o solo mágico do Acampamento.

POV Nico

 Era bom estar de volta. Mesmo com todos me olhando e querendo partir pra cima de mim. Emily que ficava gritando dizendo “esta tudo bem” e Agatha “vão caçar o que fazer, bando de manés”. E isso fez com que eu chegasse sem nenhum ferimento a Casa Grande.

 Bem, como eu disse… Eu cheguei a Casa Grande. Junto com Emily, claro. Porém Jake resolveu dar um “passeio” antes e Agatha foi acompanha-lo. Digamos que eu estava tão a fim desse passeio quanto Jake. Então, eu os segui.

 Em algum momento antes de chegarmos a Arena, um grupo de filhas de Afrodite começou a berrar e apontar para nós.

 - Ta parecendo que vocês fazem parte de uma banda famosa. – Agatha murmurou debochada. Mas assim que uma das garotas gritou o nome do Jake ela fechou a cara. – Sim. É o Jake e a namorada dele! Problema? – Ela se virou para nós novamente. – Bando de…

 - Nada de palavrões , Agatha. – Emily a repreendeu.

 Todos nos olhavam extremamente espantados e quase ninguem tinha ação. Cheguei a ficar um pouco sem jeito.

  Mas qualquer vestígio de sentimento humano em mim se foi assim que vi aquele covarde na Arena. Larguei a mão de Emily na mesma hora e me aproximei dele. Eu podia ouvir meu coração batendo e a pressão do sangue em minha cabeça me deixava quase surdo. Sem nenhum cuidado empurrei o garoto que lutava com André. Aproveitando que ele estava totalmente sem ação, fechei a mão em punho e lhe dei um soco no rosto.

 - Não pensei que veria vocês aqui de novo. – O traidor falou limpando o sangue que escorreu por seus lábios. Em vez de revidar, ele apenas encarou a mim e Jake.

 - Pra trás, garotos, não queremos que ninguém se machuque. – Agatha disse aos campistas. Qual é o problema dela?

 - Jake, temos menos de três minutos antes de Quíron chegar. Ele é todo seu. – Falei.

 Ao meu lado um garoto gritou dizendo que Jake estava me ajudando e que eu tinha ressuscitado ele dos mortos. No momento em que vinha pra cima de mim, uma parede de gelo se ergueu e afastou todos.

 - Quer saber? – Agatha se aproximou de nós. – Acho que eu mereço também.

 Ok. Acho que um tapa não era bem a cara de Agatha. Acontece que tipo… A mão dela estava envolvida de gelo. E digamos que ela não é nenhuma fracote. Causou um estrago e tanto.

 - Por que você fez isso? – André gritou se levantando. Pois é, ser nocauteado com gelo maciço pode te jogar no chão. Agatha levantou a mão outra vez, mas André a segurou com força e virou seu braço rapidamente. Agatha chutou sua barriga e se desvencilhou dele.

 - Nunca mais apareça na minha frente, seu filho da mãe. – Ela disse entre dentes. Eu estava vendo a hora em que aquele lugar ia virar pista de patinação. - Agora estou feliz. – Agatha se virou displicente e voltou a ficar ao lado de Jake. – E aí? Como vai ser? Congelar, espancar, prender, torturar…

 Então, a barulhada começou. Acho que a ficha dos campistas finalmente caiu. Duas fugitivas, um traidor e um morto espancando um garoto que não tinha nada a ver. Pelo menos era assim que eles viam. A única parte verdadeira era a das duas fugitivas.

 - O que esta acontecendo aqui? – A voz de Quíron aquietou todos e fez Jake parar em seu lugar antes de ir espancar André.

 - Meu deus, não acredito que me meti nisso! – Emily arquejou. – Eu sempre fui uma aluna exemplar no colégio…

 - Pena que ninguém seguia seu exemplo. – Agatha revidou rindo.

 - O que esta acontecendo aqui? – Quíron repetiu. – Um possível traidor, um semideus morto e duas fugitivas. Por que eu acho que a explicação pra isso é terrível? Se é que existe uma.

 - É bom te ver, Quíron. – Jake falou na cara de pau. – Sabe… Olha, o Nico não nos traiu. E eu não morri… Bem, foi uma armação.

 - Argh! – Agatha rosnou e chamou a atenção de todos. – Você tem que ser mais espontâneo, meu amor. – Ela se virou para Quíron – O negocio é o seguinte: André é quem nos traiu. Nós achamos que foi o Nico por causa do Chalé da Emily pegar fogo e tal, mas foi uma armação. Como descobrimos isso? Bem, após o Jake ser dado como morto, resolvi ir falar com ele. – Todos abriram a boca em choque e fizeram um coletivo “o que?!”. Agatha suspirou irritada. – Pois é, fui falar com ele no Mundo inferior mesmo, me orgulho disso! – Ela se virou novamente para Quíron. – Lá encontramos Nico e ele riu de mim e disse que Jake não estava morto. Então, mesmo o clima entre ele e Emily estando tenso e misterioso ele foi nos ajudar a encontrar Jake já que ele também era seu melhor amigo. Então, eu descobri que Jake tinha sido capturado pela minha mãe e dada a Helius pra ele se vingar de nós. E com a ajuda de quem? Sim, do André. E eu ouvi da boca dele isso, então, nem adianta virem falar que essa informação foi distorcida. Nós derrotamos Helius, salvamos Jake e ele não esta bravo comigo por eu ter dito que o odiava! Na verdade eu só falei isso porque o André mexeu com minha cabeça, então, eu continuo amando meu namorado… Voltando ao assunto, nós destruímos Helius, a Emily desmaiou por ter usado muito seu poder, Nico levou ela embora num ato sensato já que eu e Jake precisávamos de um momentos a sós, os dois se acertaram e cá estamos nós nos vingando do André. Mudando de assunto alguém sabe onde fica o Palácio de Bóreas? Preciso bater um papo com minha mãe.

 Ninguém respondeu. Silencio completo. Eu mordi os lábios tentando não rir e Emily ao meu lado fez o mesmo. Agatha conseguia fazer de tudo!

 - Quíron, alguma declaração? – Emily perguntou.

 - Muitas. – Ele respondeu. – Os cinco venham comigo.

 - Ah, como vamos fazer isso com o…

 A voz de Agatha morreu quando eu convoquei dois esqueletos para segurarem André. Assim ninguém se machucava e não tinha como ele fugir. Além de nossas confissões não haviam provas concretas contra André, então, não podíamos mata-lo ainda.

 - Ah, tá. Vamos logo com isso. Vai que tem que marcar hora pra falar com minha mãe. – Agatha disse menosprezando meus coitados esqueletos.

 - Você não vai falar com sua mãe. – Jake passou por Quíron indo em direção a Casa Grande. Agatha o seguiu.

 - Claro que vou. Nem tente me impedir!

 Eu entrelacei meus dedos nos de Emily e ela sorriu instantaneamente. Como era bom ver aquele sorriso em seus lábios novamente. Ainda mais sabendo que eu o provocava mesmo depois de tê-la feito chorar daquela maneira.

 - O que eu fiz pra merecer isso? – Quíron indagou cavalgando de volta a Casa Grande.

 Eu comecei a andar e atrás de mim André veio gritando dizendo que ele era inocente, que não tinha feito nada daquilo e blá bla bla.

 - Bem, a acusação que esta sendo feita é um pouco grave, não acham? – Quíron disse a nós.

 - Claro que é! Eles são traidores, estão mentindo… - André falou enquanto era jogado no sofá por meus esqueletos.

 Emily criou plantas que o grudaram ao chão e Agatha congelou suas pernas.

 - Vocês iram pagar por isso! – André urrou. – Estão me humilhando!

 Infelizmente para ele, Jake não é do tipo que gosta de escutar defesas idiotas. Felizmente para nós, André ficou com um olho roxo.

 - Dá próxima vez que ele falar eu calo a boca dele, ok? – Murmurei para Jake.

 - Ok.

 - Garotos. – Quíron nos chamou. – Por que tem tanta certeza disso?

 - Por que? – Agatha gritou. Pois é, gritou. – Por que Helius nos disse…

 - Agatha. – Emily a interrompeu docemente. – Por que não me deixa terminar e salvar nossa pele?

 Ela deu de ombros e deixou que Emily falasse.

 - Quíron, é verdade. Quebramos as regras ao sair do acampamento pra falar com um “morto”…

 - É isso que quer dizer com salvar nossas peles? – indagou Agatha.

 - … Mas Agatha precisava. Eu fui com ela porque é minha irmã, não a deixaria sozinha enquanto ela estava tão perturbada. – Quando Emily disse isso, Jake precisou segurar Agatha para ela não gritar com Emily. – Nico nos disse que ele não estava morto, na hora nós entendemos que isso só poderia dizer que ele estava preso. Helius era o único suspeito, tirando a mãe da Agatha, mas nós descobrimos que foi ela quem entregou Jake. Não demoramos a achar Helius e seus Sarcedotes sedentos por vingança. Conseguimos vencê-los, mas antes Helius disse que quem o ajudava aqui dentro era André.

 - Mentira! Vocês são mentirosos! – André gritou.

 - CALA A BOCA! – Agatha berrou pra ele. – Se não quiser morrer congelado, é melhor calar a boca.

 - Obrigada, maninha. – Emily agradeceu. - Quíron, não estamos mentindo. A prova disso é que Jake esta vivo!

 - Como isso pode ser uma prova? – Sussurrei.

 - Cala a boca. – Emily sussurrou de volta.

 - Desculpa.

 - Então, Quíron. Ele merece julgamento, não acha? – Emily perguntou esperançosa.

 - Sim! É claro que ele merece!

 Com certeza, essa resposta feliz não veio de Quíron e sim de um deus nada legal que apareceu no meio da pequena sala.

 - Apolo? – Indagamos.

 - Prazer. – Ele sorriu exibindo seus dentes extremamente brancos. – Bem, como vocês derrotaram meu querido inimigo, Helius, pela segunda vez e descobriram nosso verdadeiro traidor, me senti na responsabilidade de leva-lo a julgamento. E ele será transmitido pela TV Hefesto no canal 49 às sete da noite no próximo domingo. Foi o único horário disponível no momento. Com o fim do verão há muitas coisas acontecendo, sabe?

 Estavamos todos boquiabertos.

 - Isso é verdade? – Agatha perguntou radiante.

 - Claro, que sim, mini floco de gelo! – Ele a encarou por um longo momento. – Sabe, se sua mãe não fosse a deusa da neve e não me odiasse eu provavelmente pegaria seu telefone. – Agatha corou de forma violenta. Eu me segurei para não rir. Em que mundo ela corava? Jake a abraçou por trás e lançou um olhar mortal a Apolo. O deus, por sua vez se virou para Emily. – Quanto a você, Emily, sua mãe não tem nada contra…

 - Dá o fora, Apolo. – Mandei entre dentes passando o braço pela cintura de Emily.

 Ele suspirou e acenou em um gesto displicente.

 - Tudo bem. Mas lembrem-se, meninas, estarei sempre aqui. Principalmente você, Emily…

 - Apolo. – Quíron o chamou. – Leve o garoto embora logo. E vá com ele de preferencia.

 - Ah, mas eu tenho um hacai para este momento…

 - Apolo! – Quíron insistiu. – Por favor.

 - Ok, então. Adeus semideuses.

 Ele desapareceu levando André junto. Todos suspiraram aliviados.

 - Queria ter batido mais nele. – Falei.

 - Então, somos dois. – Jake sorriu. - É bom te ver, Quíron. Mas agora eu preciso ir ao meu Chalé e ajeitar as coisas por lá. Alguém deixou flores enquanto eu estava “morto”?

 - É bom ver que estar vivo, Jake. – Ele ignorou a pergunta. - Não aguentava mais Percy reclamando da solidão de jogar agua nas filhas de Afrodite. – Quíron sorriu.

 - Ah, Quíron, vou fingir que acredito que é por isso que esta feliz. – Jake sorriu. – Vem comigo, Agatha?

 - Claro, am…

 - Não tão cedo, Senhorita Mitwey. – Quíron a interrompeu.

 Agatha arregalou os olhos.

 - O que foi que eu fiz? – Ela perguntou baixinho.

 - Que sonsa! – Comentei fazendo Emily rir.

 - Cala a boca, Emo! – Agatha revidou.

 - Eu não sou Emo!

 - Vou fingir que acredito, caveirinha!

 - Quer saber, Agatha? – Quíron interrompeu. – Pode ir. Vá e demore a voltar.

 Agatha sorriu.

 - É por isso que eu te adoro, Quíron.

 - Ok, ok! Podem ir descansar. Merecem isso. Derrotar um titã não é pra qualquer um. – O centauro mais legal do mundo nos disse.

 - Pois é. Trabalho em equipe sempre dá certo. – Agatha sorriu orgulhosa.

 - É a primeira coisa que você fala até agora em que eu concordo plenamente. – Eu lhe disse.

 - AH, Nico, você esta extremamente irritante! – Agatha resmungou.

 - VÃO, CRIANÇAS! – Quíron implorou.

 - Tchau, Quíron. – Respondeu Emily. – Nossa, nem parece que esta feliz em nos ver. Eu hein!

 Quíron nos levou até a porta.

 - Estou acredite, mas vocês estão agitados demais.

 - E olha que estamos cansados. – Emily disse lentamente. – Não imagina o que vai ter que aguentar nesta ultima semana.

 - Digamos que não quero imaginar.

 Nós nos despedimos dele e fomos para nossos Chalés ignorando qualquer olhar, murmuro ou qualquer pessoa que falasse conosco. Ambos queríamos apenas uma coisa: Descanso.

Mas duvido que teríamos isso no Acampamento.