Eu a observava. Não estava quebrando a promessa porque, de certa forma, eu estava distante dela. Mais distante até que alguns metros apenas. Olhei enquanto ela segurava um violão, que provavelmente teria pegado com os filhos de Apolo. Ela tentava tocar as notas, mas logo desistia e voltava seu olhar para a clareira a sua frente. A nossa clareira. Mas eu não poderia estar lá com ela… Não podia nem sequer chegar perto dela. Quem quer que tenha sido o culpado por nossa separação era poderoso o suficiente pra machucar qualquer um de nós. Não que eu me preocupasse comigo mesmo, mas tinha medo do que podiam fazer. Da mesma maneira que colocaram fogo em seu chalé. Aquilo não era pra dar errado. Eles queriam que ela estivesse lá dentro… Mas quem eram “eles”? Eu ia descobrir. Mas não parado a onde estava.

     Senti uma movimentação vinda da floresta atrás dela, e antes de ver quem era eu já estava em meio a escuridão me transportando de volta ao Mundo Inferior.

    POV- Emily Mitwey

     Eu não devia estar ali… Eu queria sair desse sofrimento e talvez me distanciar de todos não ajudasse. Mas eu não podia encarar o Acampamento. Não conseguia ver as pessoas me olhando como uma coitada. Mas era isso que eu era, não? Uma coitada que foi usada e humilhada pelo cara que amava…

     Fechei os olhos quando vi as flores morrendo. Tentei manter a calma e respirei fundo

     Peguei o violão novamente, mas logo o larguei no chão. Escutei passos, mas não me virei. Sabia quem era. E por mais que a amasse e fosse agradecida por isso, eu estava odiando todo esse cuidado.

     Agatha se sentou ao meu lado e sem falar nada me ofereceu um bombom. Neguei com a cabeça e ela suspirou. Ficamos em silencio por um longo tempo. Parecia que ela nem estava ali.

     Mas é claro, ela teve que tocar em algum assunto.

     - Já faz duas semanas.

     - E?

     - Você mal come, não treina, vem pra esse fim de mundo e fica aqui o dia inteiro. Daqui a quatro semanas vamos voltar pra casa! Aproveita o tempo!

     - Eu estou. – Respondi.

     Ela olhou para o violão ao meu lado.

     - Então você esta dizendo que usou essas duas semanas enfiadas na floresta pra algo… Produtivo. Toca alguma coisa.

     - Não.

     Monossílabas… Amo vocês!

     A verdade era que eu sabia tocar violão, pelo menos as notas, mas não conseguia acompanhar nenhuma musica.

     - Vai me tratar feito cachorro? – Agatha gritou.

     Olhei pra ela com os olhos esbugalhados.

     - Não, é isso, Agatha. Eu só… Não quero conversar. – Respondi tentando ser educada.

     - Então, vamos cantar. – Ela pegou o violão e tocou uma nota. Depois me olhou como se eu fosse uma assassina. – Você não foi nem capaz de afinar o violão?!

     É, eu até consegui sorrir com esse comentário. Ela afinou o violão e começou a tocar Rock God, da Selena Gomez. Eu ri enquanto ela cantava, por que a musica me fazia lembrar coisas divertidas que nós duas fazíamos.

     - Viu? Não é tão difícil. – Ela disse no final.

     - O que?

     - Sorrir. Eu sei o que você esta passando Emily, nem por isso acho certo você ficar aqui, enfurnada na floresta quando tem um acampamento inteiro te esperando. Desculpa falar isso, mas é que eu quero minha irmã de volta! – O tom de voz dela começou a subir. – Esta fazendo exatamente o que querem que você faça: Você esta se tornando uma garota que foi humilhada e não consegue superar. Quando briguei com o Jake, eu queria fazer a mesma coisa que você: Sentar e chorar o dia inteiro! Mas eu percebi que eu só estaria mostrando as pessoas que eu sou uma fraca! E nós não podemos ser fracas. Eu venho aqui todo dia tentar te tirar disso… Agora quem esta cansada sou eu! Eu sei que não é fácil, mas ficar chorando não vai trazê-lo de volta ou apagar o que ele fez a você! O jeito é SEGUIR EM FRENTE. Não se prender a um pote de chocolate e um violão que não sabe tocar! Sinceramente, você esta agindo como uma fracassada! Por mais que eu te ame e entenda o que você esta passando, aqui não vai ser um lugar especial que vai te tirar do sofrimento. Daqui a menos de uma semana é seu aniversário e você quer passa-lo aqui? Sofrendo? Sua mãe te colocou no mundo mesmo sabendo que Hades iria querer matar vocês duas, então, faça o sacrifício dela valer a pena, ok?

     Ela se levantou depois desse tratamento de choque e saiu pisando fundo.

     - E mais uma coisa! – Ela falou. – Você não esta sofrendo sozinha, sabia?

     Então, ela foi embora. Me deixando sozinha com um monte de coisas corroendo meu cérebro.

   POV Agatha Mitwey

     Sim, talvez eu tenha sido um pouco rude com Emily. Eu sabia o que ela estava passando, entendia, mas queria ajuda-la; não quero que ela passe seu aniversário sofrendo pelo idiota do Nico que não merece nem o pão que o pai dele amassou!

     Caminhei com passos duros até meu chalé e bati a porta com força. Acho que chamei a atenção do Acampamento inteiro. Fechei as janelas e as cortinas e peguei uma roupa minha que estava em cima da minha cama e entrei no banheiro. Tomei um longo banho tentando não pensar em maneiras de matar o Nico por ter feito isso com minha irmã.

     Me enxuguei e quando ia me vesti vi que tinha pegado apenas um short.

     - QUE DROGA! – Gritei aumentando um pouco a raiva que eu sentia dentro de mim, porque esquecer a roupa não é algo que te deixe com tanta raiva.

     Bati na porta do banheiro e saí segurando a toalha no corpo. Assim que abri a porta do banheiro vi um vulto perto da porta de entrada. Fiquei estatelada enquanto via a porta se fechando. Resisti ao impulso de abrir a janela, já que estava de toalha, para ver quem era e esqueci aquilo indo pegar uma peça de roupa no closet.

     - Agatha!

     - AAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHH! – Soltei um grito estridente com o susto.

     - Por que ele estava…? – Jake começou a perguntar, mas sua voz morreu quando ele viu como eu estava. Ele sacudiu a cabeça enquanto eu ria e continuou. – Por que ele estava aqui?

     - Ele quem, criatura? – Perguntei confusa.

     - O ANDRÉ, AGATHA! NÃO SE FAÇA DE BOBA! E VOCÊ AINDA ESTAVA DE TOALHA?! – Os olhos azuis de Jake estavam transbordando incredulidade.

     Franzi o cenho. Era o André?

     - Era o André que estava aqui? – Perguntei surpresa.

    Jake bufou e balançou a cabeça.

    - Não era o meu pai! – Ele respondeu rude.

    - Ainda bem porque seu pai quer me matar. – Eu falei nervosa. Então, continuei. – Eu briguei com a Emily e vim tomar banho, mas esqueci de levar a roupa, então vim pegar uma e vi que tinha alguém aqui. Eu só não sai correndo porque ESTAVA DE TOALHA!

    Jake me olhou pensativo e depois deu de ombros.

    - Desculpa! É que eu vi aquele idiota saindo daqui e… Eu vou mata-lo. – Jake riu e se virou.

    - Jake!- Gritei e ele se virou pra mim. – Deixa que depois eu resolvo. Não posso ir visitar você na enfermaria e preciso de você inteiro.

     - Por quê?

     - Não posso querer meu namorado vivo? – Perguntei. Ele continuou me encarando e eu continuei: - Vou fazer um aniversário para a Emily e como esse Acampamento nunca viu festa, quero que seja histórico.

     - E você acha que a Emily vai gostar? Ela não esta…

     - Triste, humilhada, cansada, magoada, emotiva e revoltada? Sim, ela esta. Mas dei um choque de realidade nela, e ela provavelmente vai estar aqui em alguns minutos.

     - Ah, serio? – Ele sorriu maliciosamente enquanto vinha em minha direção.

    Eu sorri de volta e nos beijamos. Mas interrompi cedo demais quando me afastei dele e fui me trocar.

     - Por que a pressa? – Jake gritou.

     - Eu preciso ir rápido falar com a Melissa.

     - No que ela vai ajudar?

     - Ela é filha de Afrodite. Vai saber me ajudar.

     Me troquei rapidamente e sai do meu chalé correndo deixando Jake triste no meu quarto.

     Corri até o Chalé de Afrodite e encontrei Melissa saindo.

     - Melissa! – Chamei.

     - Oi, Agatha. Posso ajudar? – Disse histérica.

     - Sim. Eu preciso da sua ajuda com uma coisinha….