PDV – Edward.

Em algum momento da sua vida você estará aproveitando a paz, o amor e a felicidade. Dizem por ai que verdade absoluta não existe, essa mesma pessoa poderia também ter chegado a conclusão de que felicidade absoluta também não. Devo admitir, com meus 17 anos ainda não vi muito da vida, mas pude chegar a algumas teorias.

Felicidade, paz e amor não são sentimentos duradouros. Você querendo ou não em algum momento eles irão se esgotar e não tem nada que você possa faze para mudar isso. Em algum momento sua felicidade irá se transformar em tristeza, a paz irá dar lugar para a guerra e o amor... O amor irá acabar talvez ele de lugar ao ódio, mas é um sentimento tão masoquista que ás vezes irá apenas continuar ali, escondido bem no fundo do seu ser a espera de voltar e acabar com todas as suas esperanças de esquecer completamente.

Mas não podemos nos enganar, aquela antiga história de que um raio não cai duas vezes no mesmo lugar não passa de uma historia para assustar as pessoas, sou a prova viva disso. A felicidade me abandonou quando vi o estado de Bella pela primeira vez, o ódio tomou conta de todo o meu ser contra mim mesmo, a paz que eu sentia entre meus amigos, entre todos aqueles que eu achava que me faziam uma pessoa melhor foi para o espaço e tudo se resumiu a brigas entre eu e qualquer pessoa que aparecesse no meu caminho. E o amor? Ele não passou, não mesmo, ele cresceu cada vez mais, mas poderia ter acabado com uma enorme facilidade.

Então, me encontro na mesma situação de novo. Apesar de ter passando tanta coisa com Isabella em tão pouco tempo não tinha ainda me dado conta que em nenhum momento deixei de ser feliz ao lado dela. As dificuldades são normais e necessárias em qualquer relacionamento, mas na maioria das vezes não são motivos suficiente para fazer com que você deixe de ser feliz com aquela pessoa. Com isso chego à conclusão de que apesar das dificuldades – dependendo muito da situação – uma pessoa pode ser feliz.

Sentia-me feliz, completo e realizado. Como não estar nesse perfeito estado de espírito tendo uma namorada maravilhosa? Amigos que sempre me apoiavam e uma família que esta pronta para me ajudar em qualquer momento? O que eu ainda não tinha percebido é que existia uma pessoa – uma pequena pessoa com um enorme coração – que também era motivo para essa felicidade.

Era inconsciente, mas sentia vontade de estar com Carlie como não sentia com ninguém. Ela é uma criança, indefesa e desprotegida que precisa de cuidados. Todos me avisaram que não poderia me apegar a nenhuma das crianças e também deveria evitar que elas se apegassem a mim, mas ninguém me avisou que isto é algo que acontece sem sua vontade. Isto é amor.

Nunca pedi para amar ninguém. Nunca pedi para amar Bella, apesar de ter levado esse amor comigo por muitos e muitos anos, não foi algo planejado simplesmente aconteceu. Assim como meu amor por meus amigos, meus verdadeiros amigos como Rosálie e Emmett que entram na minha vida no pior momento dela, mas permaneceram. O amor é assim; repleto de dificuldades, regado de desafios e parceiro do acaso.

As lágrimas já escorriam pelo meu rosto a algum tempo. Deveria estar sendo forte por Bella e principalmente por Carlie, mas algo que nunca tinha passado na minha cabeça agora me dominava de forma arrematadora. Eu amava Carlie. Edward Cullen estava amando uma criança como se fosse sua própria filha. Não existia outra explicação, era tão obvio que nunca percebi, nunca admiti, nunca falei em voz alta, nunca falei com tanta verdade!

Carlie fazia parte da minha vida, meus dias sem ela eram completamente chatos e sem emoção. Rosálie uma vez me disse que eu estava me apegando a ela mais do que deveria e é verdade. A garotinha de cachos castanhos que me fazia brincar de boneca, pular amarelinha e ainda levá-la em qualquer lugar de “cavalinho”. A menina que praticamente ninguém sabia a historia, abandonada em um orfanato por pais irresponsáveis que não a queriam, sozinha no mundo sem uma família descente para cuidar dela. Carlie, a pessoa que tinha medo de se relacionar, mas entregou se coração e sua atenção em minhas mãos e nas de Bella.

Carlie... A garota que agora pertenceria a outra família.

Talvez por ter passado tanto tempo com ela já a considerava minha sem ao menos ter consciência disso. Já era rotina visitá-la quase todos os dias depois de aulas cansativas, era rotina abrir um sorriso quando estava com sua presença ao meu lado brincando com meu cabelo, era rotina colocar ela para dormir, pois ela estava fazendo pirraça. Era rotina estar com ela.

Talvez por tentar deixar esse assunto de lado cada vez mais, por tentar fingir que isto era algo distante e praticamente impossível de acontecer, por ter ignorado toda vez que tentava me preparar para este momento foi uma bela surpresa quando o casal disse que queria levá-la. Quando eles afirmaram que queria pegar minha Carlie para eles. Quando o inevitável aconteceu.

Passei tempo demais refletindo, sem reação, completamente perdido em pensamentos que mal percebi o que estava acontecendo ao meu redor. Não conseguia me mexer, abrir os olhos ou falar alguma coisa. O choque ainda estava circulando por todas as minhas veias, o medo estava dominando todo o meu ser. Como ser forte e ajudar Bella neste momento se nem conseguia me ajudar? Soltei um suspiro alto, fazendo uma força maior do que a necessária para abrir meus olhos. Parecia que eles tinham ficado fechados por horas, a claridade me incomodou, pisquei algumas vezes para me acostumar, meu rosto estava banhando em lágrimas, mas consegui limpar elas rapidamente.

Olhei para o lado e encontrei o casal parado na mesma posição que estava antes, mas algo havia mudado eu não precisa ver para saber disso, estava estampado no rosto deles. Talvez medo, talvez surpresa não me importei muito e olhei na direção que eles estavam encarando.

Bella já não estava mais sentada brincando com Carlie, esta já estava em seu colo e eu podia ver algumas lágrimas descendo por seu rosto. Kate – uma das donas do orfanato que estava com o casal – conversava com ela que se agarrava cada vez mais em uma Bella que estava chorando.

Emmett e Rosálie também estavam ali observando a cena sem saber o que fazer. Rose tinha algumas lágrimas em seu rosto também, Emmett tentava consolar ela sem deixar de olhar para as minhas duas garotas.

Resolvi fazer alguma coisa e ver o que estava acontecendo. Lentamente andei até onde Bella estava e logo Carlie se jogou nos meus braços. Abracei-a sem ter a certeza se esse seria ou não um de nossos últimos abraços e logo ela estava chorando compulsivamente em meus braços. Isso pareceu tirar todos que estavam presentes na cena do transe. Rose correu até Bella e a abraçou o que fez minha namorada começar a chorar tanto quanto Carlie. Emmett ficou ao meu lado encarando Kate que parecia chocada com o que estava acontecendo. O casal se aproximou de nós.

– Alguém poderia me explicar o que está acontecendo? – Perguntou Kate que parecia já ter perdido sua paciência. – Falem, por que a garota está chorando tanto?

Por mais que quisesse manter a aparência de “pessoa bondosa com todos” sempre soube que Kate tinha seu lado irritado e ignorante de ser. Ela parecia estar a ponto de explodir, claro, não é pra menos ela queria que Carlie fosse adota assim como qualquer uma das outras crianças, afinal, esse era o objetivo dela ter construído esse orfanato.

Tentei manter a calma por todos. O desespero parecia ter tomado conta de todos nós. Passei as mãos pelas costas de Carlie e depois acariciei sei cabelo em uma tentativa falha de fazê-la parar de chorar.

– Ninguém vai me responder? Não tenho o dia todo. – Kate parecia estar realmente irritada com toda a situação e antes que a situação piorasse resolvi responder, mas fui interrompido por Carlie que olhou fixamente para a mulher em sua frente.

– Eu não quero ir com eles. – Sua voz saiu fraca devido ao choro. – Quero ficar com Bella e Edward.

Kate nos encarou por um instante e ficou em silêncio. Ela parecia estar processando a informação que Carlie tinha lhe dado. Depois de algum tempo ela não parecia tão irritada e sim completamente surpresa.

– Oh... Temos um problema. – Sussurrou. – Um grande problema. – Kate encarou o chão. – Vocês poderiam esperar alguns minutos lá fora? Preciso conversar com Bella e Edward a sós. – Ela olhava para todos os presentes naquela sala.

– Claro, eu acompanho os senhores. – Emmett utilizou toda a educação que tinha e saiu com o casal.

– Vocês vão ficar bem? – Bella e eu assentimos, mas Carlie grudou ainda mais em mim. – Vamos bebê, tia Rosálie não vai deixar você. – Rose abriu um grande sorriso em meio a lágrimas.

– Posso ir, Ed? – Carlie perguntou hesitante.

Com medo de a minha voz falhar assenti. Antes de estender os braços para Rose, Carlie me deu um beijo na bochecha e repetiu o gesto com Bella. Sorri com isso. Observei Rosálie saindo com minha pequena no colo e só isso me fez ter vontade chorar. Bella parecia estar pensando na mesma coisa que eu, um sorriso fraco tomava conta de seus lábios, mas as lágrimas tomavam conta de seus olhos. Passei minha mão por sua cintura e logo ela encostou sua cabeça no meu ombro.

Neste momento eu tive mais uma certeza: Novamente teríamos uma recaída e desta vez não seria fácil a fazer ela superar apenas com palavras. Suspirei.

– Podemos conversar? – Kate perguntou nos encarando. Assentimos. – Tudo bem... Alguém me explica, por que isto aconteceu?

Olhei para Kate sem saber o que falar, mas Bella foi mais rápida do que eu. – Como assim?

– Tudo bem, não fui tão clara. Quis dizer, por que vocês se apegaram a garota? Toda vez isto acontece, toda vez! Quantas vezes nós temos que dizer para vocês voluntários “Não se apeguem as crianças, não criem esperanças”.

– Não foi algo planejado, Kate. – Ela bufou. – Não precisa agir assim, ninguém aqui é criança.

– Mas estamos tratando de uma.

– Mas nós não somos. Temos responsabilidade o suficiente para arcar com as conseqüências.

– E ela, Edward? E a garota como fica nesta história toda? Em nenhum momento vocês pensaram nela. – Revirou os olhos como se fosse algo obvio.

– PARA KATE. – Bella gritou assustando tanto Kate quanto eu. – Para com tudo isso, ok? Nós sabemos que foi e é errado. Sabemos que ela vai sofrer, mas você não vê que eu estou sofrendo com isso também? VOCÊ NÃO CONSEGUE VER ISSO, KATE? OLHA NOS MEUS OLHOS E VÊ SE EU ESTOU LEVANDO TUDO ISSO COMO UMA BRINCADEIRA! – Bella se descontrolava gritando em meio ao choro. Já esperava essa reação, mas não esperava que ela fosse tão firme em suas palavras. – Kate eu sei muito bem como é não ter mãe e não ter pai. Sei como é sonhar com seus pais de verdade e sei como é não ter esperança nenhuma de encontrar eles! Sei de tudo isso. E quer saber a verdade foi por isso que vim trabalhar aqui. Se eu puder colocar um sorriso no rosto dessas crianças assim como colocaram no meu rosto quando eu era menos, ficarei eternamente feliz e grata por ter tido esta oportunidade. Entende? Eu sabia que não poderia me apegar, mas aconteceu. E quer saber? To pouco me fodendo, se Carlie não quiser ela não irá ir! Se ela quiser ficar conosco iremos arranjar um jeito.

Ficamos todos em silêncio e Bella continuava a chorar em meus braços. Só então algo que Rosálie me disse uma vez voltou a minha mente. Se fosse um desenho animado uma lâmpada estaria acessa em minha mente. Um sorriso tomou conta do meu rosto. Kate percebeu minha mudança de humor e me encarou interrogativa.

– Bella está certa Kate e repito nada foi planejado, por que o amor não se planeja...

– Edward vocês não amam essa garota, vocês não tem nem idade para ter um filho muito menos ficar se apaixonando por crianças de um orfanato.

– Nós temos! E quer saber mais? Nós temos idade o suficiente para ter um filho e é isto que vai acontecer. – Falei determinado.

Já tinha feito a minha decisão, sabia que Bella iria me apoiar. Apesar de ser loucura - talvez a maior loucura que eu cometa na minha vida - sabia que daria certo e seria a melhor solução. Uma coisa que Bella falou me impulsionou a decidir isso, ela estava certa, ninguém iria forçar Carlie a nada. Ficaria muito feliz se ela aceitasse ficar conosco de qualquer forma e também iria arranjar um jeito de ficar feliz se ela quisesse ficar com este ou qualquer outro casal, mas ela precisava saber que tinha opções.

Por mim, por Bella e por Carlie finalmente eu tomei minha decisão. Baseando-me em todas as minhas teorias sobre felicidade e amor percebi que eles poderiam andar lado a lado. Não iria deixar a tristeza tomar lugar desta felicidade que Carlie me proporcionava, não iria deixar que a levassem contra a sua vontade. Não iria deixar Bella sofreser de novo.

A decisão foi tomada só faltam as consequencias. 

– O que? – Bella perguntou me olhando assustada.

– Nós vamos adotá-la.